Percival suspirou. Não era o ideal passar uma sexta feira a noite, em casa, cercado de trabalho, mas era a única coisa que ele poderia pensar em fazer, embora fosse extremamente entediante.

Ele se levantou e foi até a cozinha, precisava comer alguma coisa e tirar a cabeça de todos os números e planilhas que estavam na tela de seu computador. Ele ama o seu trabalho e não trocaria o seu escritório de contabilidade por nada, mas às vezes todos os números davam dor de cabeça e prazos apertados o irritavam mais do que qualquer outra coisa, porém tinha que ser feito.

Percival arqueou uma sobrancelha quando ouviu o seu celular tocar, notificando-o sobre uma nova mensagem de texto. Ele estava pronto para responder coisas não muito amigáveis para seu cliente, se ele estivesse falando mais uma vez sobre como era importante que ele não perdesse o prazo e que a multa ia ser grande se Percival atrasasse, mas não era o caso. Na realidade, um numero desconhecido havia mandado uma mensagem no mínimo desesperada.

'Eu preciso de ajuda. –N'

Percival analisou a mensagem por diversos minutos e franziu o cenho. Ele não fazia ideia de quem era a pessoa e por mais que ele quisesse ajudar, como diabos ele faria isso? Ele decidiu ignorar a mensagem, porém dois minutos depois chegou uma nova.

'Não me ignore, P. Eu realmente preciso de ajuda! –N'

P? Definitivamente essa pessoa sabia que estava falando com Percival, afinal, quais são as chances de essa pessoa mandar mensagem para o 'P' errado? Percival tentou se lembrar de algum conhecido que tivesse o nome começando com N, mas não se lembrou de nenhum. O mínimo que ele poderia fazer era saber o que estava acontecendo com 'N'.

'O que aconteceu?'

Em menos de um minuto ele obteve a resposta.

'Você aconteceu! Você me fez vir para esse encontro!'

Definitivamente era uma pessoa desconhecida. Percival nunca foi um 'matchmaker' e nunca forçaria ninguém a ir a um encontro onde uma das partes ficaria desconfortável.

'Eu sinto muito...?'

'É melhor você sentir muito mesmo!'

Percival arqueou uma sobrancelha. Essa pessoa estava tirando-o do sério.

'Mas eu ainda preciso de ajuda. Estou quase para ter um ataque de pânico aqui...'

Isso pareceu sério, porém Percival estava dividido. Era realmente verdade ou essa pessoa era dramática por natureza?

'É tão ruim assim?'

'É péssimo! Era pra ser um jantar, mas ele encontrou alguém, um ex-namorado eu acho, que nos chamou para uma festa e como eu poderia dizer não?'

Ele? Ex-namorado? Festa? Isso estava ficando mais confuso ainda. Aparentemente a pessoa saiu com um cara bissexual, ou gay, mas isso significaria que 'N' é um homem. Um homem bem inseguro e antissocial. Ou só dramático mesmo.

'Simples. Dizendo não.'

'O que você está falando? Thomas é seu amigo! Não queria que pensasse mal de mim.'

'N' era inseguro então e não sabia dizer não para as pessoas. Antes que Percival pudesse formular uma resposta, o celular tocou de novo.

'O ponto aqui é: Eu estou em uma festa. Não conheço ninguém. Thomas sumiu. As pessoas estão bêbadas aqui e eu estou particularmente com medo do cara no bar que está me encarando à meia hora.'

Okay, isso pareceu bem serio para Percival. Se fosse ele no lugar de 'N', ele estaria bem desconfortável, embora não aparentasse. Então, ele decidiu falar o mais aceitável. Quem sabe seria o que o verdadeiro P falaria.

'Esquece o Thomas. Vai embora.'

'O cara está vindo. Eu não consigo me mexer.'

Percival arqueou uma sobrancelha e respondeu automaticamente.

'N, vai embora.'

'Eu não posso.'

Percival franziu o cenho e voltou um pouco a conversa. N disse que estava prestes a ter um ataque de pânico e atualmente, isso não parecia drama. N estava tendo um ataque de pânico agora e Percival precisava ajudar.

'Você acha o meu nome estranho? O cara acha.'

Percival não sabia o que responder pelo simples fato de não saber o nome da pessoa. Então ele decidiu responder algo que não pioraria o ataque de pânico.

'Não. O seu nome é muito... Legal.'

'Você acha 'Newt' legal...? Você está bem? Você nunca falou isso antes...'

Newt? Que diabos de nome era Newt? Mas Percival não podia dizer nada, não é como se o nome dele fosse muito melhor.

'Uh, eu deveria ter falado isso antes, mas o seu nome é menos estranho que o meu.'

'É verdade.'

Percival não pôde deixar de pensar como seria o nome do verdadeiro 'P', mas ignorou o pensamento por agora.

'Newt, você está bem?'

'Sinceramente? Não. Eu... Preciso sair daqui, mas eu não posso.'

Percival suspirou, ele precisava ajudar Newt. Então, ele salvou todo o progresso que tinha feito e foi até o closet trocar de roupa.

'Respira e tenta ficar calmo... Você ainda está conversando com esse cara?'

Newt demorou 5 minutos para responder e Percival ficou preocupado com a demora.

'O nome dele é Mats e sim, ainda estou falando com ele. Ele está me perguntando com quem eu estou conversando e se você é mais interessante que ele...'

'Diga que você está falando com Percival Graves. O seu... Namorado.'

Percival arqueou uma sobrancelha para sua própria resposta. Sério? Namorado? Essa foi realmente a melhor coisa que ele conseguiu pensar? Ele não teve muito tempo para se sentir envergonhado, pois Newt respondeu pouco tempo depois.

'Ele não ficou feliz com a resposta e foi pegar uma bebida para mim. Eu estou com medo.'

Isso estava ficando cada vez mais sério. Percival colocou seu casaco e abriu a porta do seu apartamento. Ele iria salvar Newt, mesmo que ele fosse um desconhecido.

'Não beba. Eu estou indo te buscar. Onde você está?'

A próxima coisa que Newt mandou foi uma localização e Percival percebeu que não era tão longe de seu apartamento e decidiu ir andando.

Ele recebeu uma mensagem de Newt quando estava no meio do caminho.

'Onde você está? Mats está me empurrando a bebida e eu... Não sei até quando vou poder recusar.'

'Eu estou perto.'

Percival andou o mais rápido que pode até o endereço que Newt tinha enviado e não pensou duas vezes antes de entrar na casa. Ninguém se importou com o fato de um completo estranho estar entrando na festa e Percival não poderia estar mais feliz por isso.

Quando Percival chegou ao meio da sala, ele percebeu que ele não fazia ideia de como Newt é.

'Eu estou aqui, onde está você?'

Percival olhou ao redor, tentando achar Newt e percebeu um rapaz com o celular na mão, respondendo uma mensagem rapidamente enquanto tentava colocar a maior distancia possível entre ele e o cara ao seu lado.

'Eu não estou te vendo.'

Percival leu a resposta rapidamente e voltou a olhar o rapaz, que olhava em todas as direções como se procurasse alguém. Definitivamente era Newt.

'Achei você.'

Percival sorriu, foi em direção ao rapaz e quando estava perto o suficiente, falou. – Newt.

O menino olhou para ele e pareceu perder totalmente a fala. O sorriso de Percival diminuiu um pouco. Tudo o que ele não precisava agora era que o ataque de pânico de Newt piorasse.

— Quem é você? – O cara ao lado de Newt, Mats, perguntou.

— Graves. Percival Graves. – Ele olhou rapidamente para Mats que arqueou uma sobrancelha, mas pareceu entender que o 'namorado' de Newt estava ali.

Mats bufou enquanto se levantava e ia embora, deixando Newt a sós com Percival.

— Você... É real. – Foi a primeira coisa que Newt disse e Percival riu.

— Sim, eu sou.

— Onde está Tina? – O menino olhou ao redor, procurando.

— Quem é Tina? – Percival disse antes que pudesse pensar melhor na resposta.

Ele desejou que tivesse dito qualquer outra coisa, pois Newt congelou no lugar.

— Quem é você? – Newt perguntou sem folego.

Percival engoliu o seco. Ele precisava acalmar Newt o suficiente para eles saírem daqui sem o rapaz ter um ataque cardíaco.

— Eu sou o cara que está falando com você por mensagem. – Percival disse calmamente.

— Não, eu estou mandando mensagem para a Tina e--

— Você mandou mensagem para o numero errado, mas você parecia tão desesperado que eu precisava vir te salvar. – Percival encarou Newt e suspirou aliviado quando o menino pareceu relaxar um pouco e pegou o celular para verificar a veracidade da historia de Percival.

— Oh, isso é vergonhoso. – O menino murmurou. – Eu sinto muito.

— Tudo bem, vamos sair daqui.

Newt encarou Percival por algum tempo, mas se levantou e começou a caminhar em direção a saída, mas parou na porta da casa, quando percebeu que estava chovendo.

— Hm, isso é um problema. – Percival murmurou enquanto tirava o casaco.

Antes que Newt pudesse dizer qualquer coisa, o casaco estava sendo colocado em seu corpo. Ele olhou para Percival, que simplesmente deu de ombros e saiu da casa, não se importando de estar se molhando na chuva. Newt corou e agarrou firme o casaco, seguindo Percival.

Eles andaram em silencio até a rua principal, onde Percival chamou um táxi para Newt, que devolveu o casaco e entrou no táxi, dizendo para onde iria e logo Percival foi deixado sozinho na rua.

Ele suspirou e caminhou de volta para casa. Precisava tomar um banho e voltar para suas planilhas e números.

Quando ele estava abrindo a porta de seu apartamento, o seu celular vibrou.

'Obrigado.'

Percival sorriu para a mensagem de Newt e digitou uma resposta rápida.

'Por nada.'