Like a Rolling Stone escrita por MrsSong


Capítulo 23
What's my age again?


Notas iniciais do capítulo

1. Blink 182 tem ótimas músicas pra quem tá cansado de ser o adulto;
2. Eu ainda mando aqui então vai ter Blink nessa playlist;
3. Ninguém gosta de você quando você tem 23, que é a idade que imagino eles todos tendo.
É isso!



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Não posso julgar ninguém por achar que sou ruim pelo meu passado, sabe? Eu fui quase tudo aquilo que disseram sobre mim. O quase alcoólatra impulsivo que curtia um psicoativo de vez em quando. 

Mas admito que queria ter o peso de não ser eu no meu corpo, um novo Fabinho. Um cara que não cometeu os erros que eu cometi.

Será que existe uma realidade em que fui essa pessoa? Será que sou um cordeirinho em algum universo?

Será que Giane me ama neste universo?

 

Não importa porque neste em que sou esse Fabinho todo errado ela ama - ou quase. 

Fiquei na loja com Bento e Wesley até a hora de fechar tentando ajudar e aquietar a cabeça porque Giane não entrava em contato. 

— Você sabe muito bem onde as coisas estão aqui. - Bento começou depois que Wesley saiu e ainda esperávamos Giane. 

— Orbito sua sócia, não sabia? Eu não tenho nada para fazer com a minha vida e ela tem uma loja para cuidar... - dei de ombros. - Aí, ajudo na loja.

— Nunca teve um emprego?  -ao perceber meu olhar, emendou - Sem julgamentos, mas você não me parece mais o tipo de cara que fica esbanjando a fortuna do pai.

— Já fui assim, sabe? Queria que o mundo fosse meu parque de diversões particular. - olhei em seus olhos. - Era bom, tudo era brilhante, todo mundo estava sempre pronto para se divertir com você... Até que cansei, porque meu pai simplesmente me ajudava sem dar sermões nem nada, acho que se sentia culpado por não estar por perto. 

— Ele te acobertava? - Bento perguntou assustado. 

— Só uma vez ele me tirou de uma enrascada: a espetacular merda que Fabinho fez. - assumi com uma gargalhada sem humor enquanto  me sentava no chão da loja. Bento se sentou ao meu lado.

— O que você fez? Machucou alguém? 

— Não. Foi engraçado, na verdade. Eu estava responsável, estudando e trabalhando pro Natan... Até que ele roubou uma ideia minha e ainda deu a entender que eu era só um sobrenome importante. - não conseguia encará-lo nos olhos. - Aí peguei um taco de beisebol e redecorei a agência dele.

— Ele não quis te processar? - Bento perguntou confuso. 

— Quis, mas meu pai deu o super jeito dos ricos: pagou o Natan. - a vontade de rir era alta. - Meu pai é o Batman, usa seu superpoder dinheiro para me manter protegido. 

— Pelo menos você tem pai. 

— Você também tem, pelo que a Giane contou. O pai do Érico te criou, né? 

Ele abriu um super sorriso que logo se desfez. 

— Sim, mas eu queria saber da minha origem. 

— Até eu quero, cara. - me levantei e o encarei. - Se vamos ficar nessa história de sofrimento, vamos ficar bêbados e sofrer ouvindo música de corno e fossa. 

— Sua irmã me disse que eu teria que te aceitar... - Bento sorriu e deu de ombros. 

— Nem me lembre da Malu, que ela está precisando de uma vida! - comentei enquanto saíamos da loja. Giane meio que esquecida. 

 

Algumas coisas são iguais a se trabalhar pra máfia, sabe? Estava vivendo uma vidinha pacata - ou quase -, tentando deixar meu passado pra trás, quando ele volta.

Volta com duas mensagens de fantasmas no meu celular: uma do amável Andy que me avisava que faria um pocket show com a banda e estava morrendo de saudade e meu adorável ex-namorado que me apresentou Andy para início de conversa, o dono das fotos para a capa do primeiro álbum do Parsonage:  Caio Cardoso, que queria saber se eu estava bem, porque tinha visto notícias de que eu estava envolvida com Fábio Campana, playboy extraordinário.

Ignorei as duas mensagens e decidi fingir que o meu passado nunca aconteceu, pelo menos por enquanto. 

Porque os deuses sabem que o passado sempre volta para te morder no traseiro. É o karma e o meu é uma vadia de Louboutin com salto quebrado. 

— Quem era, filha? - meu pai perguntou e eu abri um sorriso carinhoso, enquanto o ajudava a entrar no táxi. 

— Amigos, pai. - respondi sem muita animação, o cansaço claro em meu olhar. Meu pai pareceu perceber porque não ampliou o assunto. 

Meu pai, minha única família e ainda assim escondo coisas dele, porque nem todas as histórias são para serem contadas. 

Algumas só podem ser vividas e outras precisam ser esquecidas, reafirmo para mim mesma enquanto vejo o trânsito complicado de São Paulo. 

As luzes me fazem pensar em coisas que não sabia que queria lembrar ou não. Lembro de tardes no flat de Andy vendo jogo de futebol com uma puída camisa do Corinthians e ouvindo ele tocar a guitarra que ele chamava de Giane... Sempre músicas sobre uma garota que ele sabia que não teria no fim, por mais que ele a tivesse aquela noite. 

Como nosso relacionamento, na verdade. Andy podia ter feito a Taylor Swift e composto um álbum chamado "Songs about Giane" e eu o apoiaria. 

Lembro também do primeiro beijo em Caio, após uma sessão de fotos em que ele era o único ser humano decente ali. 

Engraçado que meu David Bailey fosse Fabinho não Caio, mas acho que é porque Fabinho me chamou de Jean Shrimpton e Caio só me chamava de linda. 

Fabinho me dá esperança e medo. Eu o desejo, isso é óbvio, mas...

Fui uma casca para Caio e uma musa distante para Andy... O que sou para Fabinho? Será que posso sonhar em ser somente Giane?

Aperto a mão do meu pai e ele retribui o gesto. Ele é a única pessoa que me ama por quem eu sou, digo a mim mesma ignorando a insistente voz que diz que é porque ele não sabe de tudo. 

Meu celular vibra mais uma vez e meu coração dispara com a mensagem que pode me aguardar, mas parece que dessa vez eu posso agradecer aos deuses porque Renata e meu sobrinho estão bem e isso é motivo de agradecer em pé. 

Antes que eu pudesse compartilhar a boa notícia com meu pai, meu celular vibrou de novo e  vejo Fabinho e Bento cantando Cigana do Raça Negra em uma chamada de vídeo de Douglas. 

Aqueles dois juntos no Cantaí e amiguinhos? Nunca imaginaria isso. 

Giane, estou com medo. Eles estão compartilhando histórias de infância e estão falando em viajar juntos de moto pela Patagônia.— Douglas me avisou e eu massegeei minha testa.

— Quanto eles beberam? - perguntei e meu amigo deu de ombros ao fundo ouvi a voz de Rosemere falando.

Menos do que pode parecer, segundo a Rosemere. 

— Daqui a meia hora devo estar aí mais ou menos. - avisei. - Douglas, se eles cantarem Evidências ou Garçom, filme. Se não, eu te mato. 

A ligação de vídeo cai nesse momento.

 

Eu precisava chegar lá antes que eu perdesse toda a ação. 

 

— Sempre quis declamar Garçom para um garçom. - contei para Bento enquanto ouvíamos alguém cantar uma música que não nos interessava. 

— Podemos fazer isso com o Douglas! - Bento sugeriu e aquilo parecia  melhor ideia de todas. 

E olha que uma das minhas ideias brilhantes incluíram desafiar um russo em shots  de vodka. 


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Notas finais do capítulo

Tem alguém aí?



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