Like a Rolling Stone escrita por MrsSong


Capítulo 13
My Mistakes Were Made For You




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Acordei sentindo um peso em meu ombro esquerdo, abri os olhos e vi a cabeça de Giane. Era madrugada ainda e eu sorri ao puxá-la mais para mim.

Ela não precisava saber que ela estava fazendo minha manhã mais bonita só de babar no meu ombro e se encolher para mais perto do meu corpo.

Ela não precisava saber que minhas brincadeiras tinham fundo de verdade.

Eu realmente implorava para qualquer entidade existente que ela não soubesse. Ou se soubesse que retribuísse com a mesma intensidade.

O sono retornou e eu me entreguei aos braços de Morfeu, enquanto abraçava minha representação de Afrodite. Por mais que eu tivesse certeza de que Giane era Ártemis.

 

— Giane, que merda é essa? - uma voz furiosa gritou e eu acordei assustada.

— Que foi? - perguntei irritada e notei Bento e meu pai na porta do meu quarto.

— Que gritaria de manhã cedo, credo. - Fabinho comentou e eu entendi todo o drama matinal.

— Olha, dá para sair do meu quarto? - pedi massageando as têmporas.

— Giane, esse babaca te seduziu? - Bento insistiu e eu revirei os olhos.

— Não, ela me seduziu e acabamos dormindo de roupas. - Fabinho respondeu por mim, levantando e mostrando a calça que ainda vestia. - Mas acho que não é da sua conta.

Fomos salvos pelo meu pai, que puxou Bento o chamando para um café, visivelmente feliz pelo fato de que Fabinho estava completamente vestido.

Eu não quis lembrar os dois que existia a possibilidade de que ele tivesse se vestido pós-sexo, porque isso só me traria mais problemas. E problemas era uma coisa que eu já tinha para fazer coleção.

— Seu sócio é muito preocupado com a sua honra, garota. - Fabinho comentou olhando meu quarto. - Acho que ele não sabe dos seus rolos com rockstars.

— E por que deveria saber? Você parece mais interessado que ele nos meus relacionamentos, cara. - eu retruquei levantando para ser jogada na cama por Fabinho que me encarava com um sorriso safado.

— Você adora minha atenção, pivete. - ele me disse, dando um toque no meu nariz e saindo do quarto. - Vou tomar café antes de voltar para casa.

Me joguei na cama e mordi meu indicador olhando para porta. Eu ainda tinha que decidir o que vestir para a pré-estreia de Plínio.

 

— Isso são horas de se chegar em casa, Fábio Campana? - Malu perguntou quando eu entrei em casa. Ela tinha um sorriso divertido nos lábios enquanto eu beijava sua bochecha e me jogava no sofá.

— Sou mais velho que você e vacinado, maninha. - retruquei com uma risadinha. - Sem contar que, ao que parece, você sabe muito bem onde e com quem estive.

— E é muito difícil prever? - ela me perguntou revirando os olhos. - Você passa a maior parte do seu tempo orbitando a Giane.

— É né? Deveria arrumar alguma coisa para fazer para baixar a bola daquela maloqueira que se acha. - comentei coçando a nuca.

— Mais uma vez, fez isso sobre ela. - Malu riu. - Mas, conta aqui para sua irmã, esse namoro midiático deixou de ser midiático, é?

— É claro que não, só dormi na casa dela porque estava tarde para voltar para casa. - dei de ombros.

— Isso vindo dos dois seres humanos noturnos que se encontraram de madrugada na rua? - minha irmã parecia ter certeza de que eu estava inventando desculpas.

Ao dizer isso, eu percebi que talvez tanto eu quanto Giane estivéssemos inventando desculpas para passarmos mais tempo juntos.

E eu tinha certeza de que se o pivete descobrisse, nunca admitiria e ainda se afastaria de mim, porque ela nunca daria o braço a torcer que ela gosta de estar comigo.

— Nunca mais te conto coisas da minha vida, você fica aí aumentando atitudes! - fiz beicinho e Malu só me encarou. - E o pai?

— Saiu para verificar tudo antes da pré-estreia, acho. Eu estava trabalhando aqui porque a minha casa está um pandemônio desde ontem.

— O que aconteceu agora? - perguntei me preparando para os dramas dignos de Kardashians da casa de Malu.

— A Verônica descobriu a traição e o Maurício descobriu que eu sabia de tudo e não contei. - ela suspirou cansada. - A única que saiu de inocente foi a Amora.

— Lógico. - então lembrei do meu pequeno golpe em Amora. - Sabia que nossa irmã fruta vai doar sapatinhos pro seu bazar?

— O quê? - ela perguntou confusa e começou a rir.

— Ela contou na Sueli Pedrosa e tudo. - eu disse fingindo seriedade, para depois lhe explicar o que eu tinha feito com a ajuda de Giane.

— Ela vai mandar te matar, Fabinho! - Malu exclamou entre risos.

— Provavelmente, mas você vai poder contar para todo mundo que eu ajudei a salvar um projeto social só com meia dúzia de frases. - zombei.

— Você ajudou dando um beijo numa modelo bonita.

— Eu odeio a minha vida, maninha. - debochei apoiando as mãos na nuca e me inclinando para trás. - Como eu odeio minha vida.

 

— Muito obrigada, volte sempre! - agradeci uma cliente e comecei a encarar as plantas da loja. Wesley estava lá na estufa cuidando das mudas e Bento tinha ido no Casarão dos Paes para ver se podia usar o jardim abandonado deles em mais um canteiro de flores.

Plínio Campana era um homem que eu não esperava ver entrando na Acácia Amarela, mas ele entrava e parecia tenso.

— Que bom que está aqui, Giane. - ele começou e eu percebi que ele queria mais do que algumas rosas para uma namorada. - Eu queria mesmo conversar com você.

— Sobre o quê? Aconteceu alguma coisa? - perguntei preocupada. Já imaginava que o Fraldinha tinha se metido em encrenca.

— Mais ou menos. - ele parecia constrangido de ter essa conversa e eu comecei a ficar inquieta.

— Tem como ir direto ao ponto, Plínio? - perguntei.

— Eu queria te oferecer dinheiro para você se afastar dos meus filhos tão logo esse circo midiático acabe. - ele propôs e eu o encarei sem entender.

— Eu acho que não entendi. - disse fria. - Você está me oferecendo dinheiro para eu me afastar dos seus filhos?

O sangue fervia em minhas veias. Quem ele achava que eu era? O quê ele achava que eu queria com o filho dele?

 

Entrávamos na casa de Malu, rindo depois de fazermos compras juntos. Minha irmã parecia feliz e animada para a pré-estreia do filme, fazia tempo que eu não via Malu tão empolgada.

— Ah, aí estão os dois maiores alcoviteiros que eu já vi na vida! - Bárbara exclamou ao nos observar.

— Bárbara, você devia ser bem mais carinhosa conosco. Graças a nós você ainda recebe dinheiro do nosso pai. - lembrei revirando os olhos e ela me encarou debochada.

— Uma modelinho qualquer te dá bola e já fica cheio de si. - ela deu uma risada forçada e eu a encarei tranquilo.

— Uma modelinho com uma carreira bem melhor que a da sua filha querida. - Malu comentou e ela nos olhou furiosa.

— Eu imagino o que essa garota não teve que fazer para se manter interessante para o mundo da moda… - Bárbara passou o dedo indicador sobre o lábio inferior, suspirando. - Pelo menos, ela vai poder te ensinar vários truques na cama, não é, garotão?

— Olha como você fala dela, Bárbara! - senti meu sangue ferver e queria partir para cima dela, mas Malu me segurou.

— É verdade, Fabinho. Eu já estive numa situação parecida, ter que aturar um homem irritante para conseguir garantir meu quinhão. - ela continuou com uma gargalhada. - Quem chutar quem era, meu querido?

— Uma pena que você, no máximo, conseguiu metade da fortuna dele, não é? - perguntei num rosnado.

— Bastardos com mesmo peso de herança que o filho legítimo, onde já se viu! - ela suspirou. - Maldita a hora que aquela enfermeira favelada veio te entregar pro seu pai!

— A Irene mandou ele ser entregue, Bárbara! - Malu disse irritada, tentando me puxar escada acima.

— Ha! A Irene entregou ele pra casa de crianças do Gilson, para ser criado como o favelado que ele tanto quer ser! - meu sangue gelou e mesmo sabendo da probabilidade alta de Bárbara mentir, eu comecei a acreditar. - E então foi entregue para o Plínio pela enfermeira que te pegou dos braços de uma mãe que nunca te quis… Não a julgo, sabe? Também te entregaria.

Minha cabeça começou a rodar e eu não sabia o que pensar, eu só queria fugir, olhei para a porta e vi Amora ali me encarando com um sorriso predador nos lábios.

— Como você se sente sabendo que nem sua mãe queria que você tivesse uma família? - ela me perguntou e eu corri desesperado pela porta, ouvindo Malu correr atrás de mim.

Eu não queria ninguém por perto. Não podia confiar em ninguém.

Ou será que podia?

 

— Você me entendeu muito bem. - ele me encarou sem nenhum humor na voz. - Eu sei do seu histórico de agressão e meu filho está envolvido demais com você para ver que você não é tudo que ele pensa que você é.

— Você vem na minha loja me insultar, Sr. Campana? O que eu tenho no meu passado não te diz respeito e o que você acha que eu quero do seu filho, eu não preciso. - estava vermelha e furiosa dois sinais de que Plínio Campana podia se tornar mais um dos receptores dos meus socos.

— Então você assume? - ele perguntou continuando a me pressionar.

— O que eu vou te dizer, Sr. Campana, será dito somente uma vez: todo mundo tem um passado, se você revirou meu passado e viu coisas que não condizem com seu comportamento angelical, paciência, mas eu posso viver muito bem com sua reprovação, porque eu sei quem eu sou.

Plínio Campana parecia assustado com o fato que sua atitude me ofendeu. Fiquei ainda mais irritada com ele por esse motivo.

— Seu filho é um homem adulto e eu não estou o usando para nada, disso pode ter certeza. Sua filha está me usando e você sabe disso. - lembrei com um sorriso cínico. Plínio corou envergonhado.

Mas eu não pararia. Eu não podia parar.

— Suas pesquisas sobre mim te falam que eu sou uma vadia agressiva e perigosa e mesmo assim você veio aqui me oferecer dinheiro para sumir da vida do seu filho. Nunca pensei que você era uma dessas pessoas que acreditam que dinheiro podem comprar tudo, Sr. Campana.

Antes que ele me respondesse, seu celular começou a tocar e ele foi empalidecendo cada vez mais conforme o interlocutor falava.

Ao desligar, ele me encarou de olhos marejados e parecia tão angustiado que minha fúria foi se dissipando.

— O senhor está bem? - perguntei e ele me encarou vazio.

— O Fabinho sumiu de novo. - ele murmurou mais para si que para mim. - Ele descobriu tudo.

— Ele volta, deve ter ido espairecer. - tentei reconfortá-lo, enquanto mandava mensagem para Malu vir buscar o pai dela.

— Ele vai embora e nunca mais vai voltar… - ele sussurrava e então me encarou e se ajoelhou na minha frente, os olhos escorriam lágrimas e eu quase o perdoei pelas merdas que ele me disse só de observá-lo tão destruído. - Por favor, traz meu garoto de volta.

Ele me implorava e eu, sem saber o que fazer, assenti enquanto erguia Plínio para levá-lo para os fundos da loja. Eu não podia ter uma notícia que um famoso cineasta surtou na minha loja.

 

Eu sentia o corpo queimar de raiva e da traição dos meus dois pais. Meu pai mentiu para mim a minha vida inteira, me contando sobre como minha mãe estava doente e pediu que a enfermeira que cuidava dela me trouxesse para o meu pai, porque eu merecia uma família.

Nem isso minha chamada mãe achava que eu merecia! Nem crescer perto do meu pai, perto da minha irmã!

— Você está bem? - uma senhora de ar maternal me perguntou, me encarando com carinho. - Quer que liguemos para alguém, meu querido?

— Estou. - respondi seco e percebi que ela estava junto de uma mulher que me lembrava a Irene Fiori da minha imaginação. Quis vomitar. - Não preciso de ajuda, não.

Saí correndo, sentindo meu celular vibrar e tocar, enquanto eu corria. O sangue rugia nos meus ouvidos, mas eu ouvia as gargalhadas de Bárbara, os debochados de Amora.

 

— Pai? Vamos para casa, pai. Você ainda precisa ir na pré-estreia do seu filme. - Malu foi meio arrastando o próprio pai para dentro do carro, antes de me encarar por alguns segundos. - Obrigada por cuidar dele até que eu chegasse.

Não respondi, não queria dizer que não fiz por Plínio e sim por Fabinho. Aquele fraldinha ia acabar me matando mais cedo de tanto drama que me trouxe nessa vida.

Bento entrou na loja e eu sai correndo roubando as chaves de sua mãe, enquanto gritava que depois explicava.

 

— Quer conversar? - ouvi a voz de Giane, enquanto ela puxava a cadeira do meu lado no bar e pedia duas doses da “vodca mais cachorra que tiver nesse lugar, por favor”.

— Como você sabia que eu estava aqui? - perguntei e ela me deu um sorriso esperto antes de se inclinar na minha direção.

— Segredo.

Fiquei encantado com o rosto dela me encarando e me senti tentado a beijá-la ali mesmo. Matar minha sede de Giane e saber que, pelo menos, ela nunca mentiu para mim. Mesmo que ela fosse um completo mistério para mim.

O garçom serviu as doses e ela matou a dela me encarando e eu imitei seu gesto.

— Quer conversar sobre isso? - ela repetiu com mais força e eu encarei as garrafas enfileiradas do bar.

— Não tem muito para falar. - dei de ombros e eu assisti ela comprar duas garrafas do bar segurando elas contra o peito com uma mão enquanto me oferecia a outra.

— Confia em mim? - ela perguntou e eu confiaria.

 

— Onde estamos? - perguntei olhando o imóvel que só tinha um tapete estirado na chão e caixas fechadas por todos os lados.

— Bem-vindo ao meu closet. - ela respondeu com um sorriso de canto e se sentando no sofá. - Bom, onde eu larguei a maior parte dele.

Me sentei do seu lado no tapete, enquanto via Giane abrir a garrafa sem muita preocupação.

— Eu comprei esse apartamento há alguns anos, nunca usei. Quando voltei para casa, não parecia certo morar sozinha.

— Então você largou toda sua vida de modelo num apartamento em bairro nobre e foi viver na Casa Verde? - perguntei, tomando um gole da garrafa que ela me oferecia.

— Por que não? - e parecia uma ideia excelente quando ela disse. - Mas eu quero falar com você, Fabinho. O que aconteceu?

— Eu descobri que a minha mãe tinha me largado no lar de crianças do Gilson, não tinha me entregado para o meu pai como ele me fez acreditar a vida inteira. - ri sem humor e percebi que Giane me encarava segurando a garrafa, peguei de sua mão e dei mais um gole.

— Ele mentiu para você todo esse tempo? - ela me perguntou furiosa tomando a garrafa da minha mão e bebendo um gole generoso.

— Sim. A vida inteira, pensei que minha mãe estava doente e então me entregou para o meu pai para eu crescer com alguma família, mas na verdade… - Giane me interrompeu, tocando no meu braço.

— Tudo bem, pelo menos você pôde crescer com seu pai e sua irmã. - ela me lembrou e eu reparei que estávamos próximos.

— Não graças à Irene Fiori! - gritei e Giane só me observava. - Sabe como dói saber que a minha mãe queria que eu crescesse abandonado tendo família?

— Eu não sei, mas sei que você encontrou sua família e ela que se dane! Olha o que você tem, Fabinho! - ela tentou me convencer e eu ri debochado.

— Giane, nem a minha mãe queria que eu tivesse alguém nessa vida! - eu continuei gritando e dando goladas cada vez maiores da garrafa que estava em minhas mãos. - Não me admira mais que eu não tenho ninguém!

— Você tem alguém! - Giane gritou para mim se levantando e tomando o último gole da minha garrafa.

— Quem? - eu também estava gritando.

— Eu, seu idiota!

Então ela estava me beijando com aquela fúria que só Giane tinha. Não tinha câmeras por perto, não era para salvar ninguém da humilhação pública. Tinha gosto de vodca e não era romântico como eu sempre quis que um primeiro beijo meu fosse.

Eles nunca foram e eu queria que o nosso real fosse.

Pressionando Giane contra uma das paredes do apartamento e com uma das mãos subindo por debaixo da blusa, fui empurrado por ela que me encarou e mordeu o lábio, como se estivesse com medo do que fazia.

Eu não ia perder a oportunidade que a vida estava me dando e, antes que ela começasse um discurso sobre como aquilo estava errado e que devíamos parar, a puxei para mais um beijo desesperado.

Que ela retribuiu com a mesma fome que eu sentia, enquanto me ajudava a remover a jaqueta que eu usava e gemia em meu ouvido.

Não sou um homem que não aceita as bençãos que recebe. Principalmente as vindas de Giane.

 

— Bento disse que a Giane sumiu também, pai. - Malu suspirou e o encarou. - Espero que ela esteja com o Fabinho.

— Eu errei com ela… - Plínio sussurrou e encarou a filha que parecia estar confusa e curiosa.

— Pai, o que você fez? - Malu pressionou e percebeu a culpa nos olhos do pai.

— Eu cometi um grande erro que pode me afastar do seu irmão, Malu. Eu tenho tanto medo de ver o Fabinho machucado que…

— Você acaba machucando sem querer com essa superproteção, pai.


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Notas finais do capítulo

Título do capítulo roubado do título de uma música do Last Shadow Puppets. Eu não sou a Senhora Canção sem motivo, crianças.



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