Aos olhos de alguém - Mudanças escrita por Loressa G M


Capítulo 1
Novos problemas




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Encosto-me na Glicinia rosa, a mesma em que comecei minha vida de verdade, o local onde sempre venho para reconfortar-me.

  Aos quinze anos – ano passado – vim aqui fugida de meu aniversário. Era apaixonada por Roman, um colega de classe, e convidei-o para ser meu par no baile. Acabei indo com Lorenzo. Meu aniversário era logo em seguida, apenas algumas semanas depois, entretanto, nunca pensei que ele fosse pedir para ser meu par. Passei cada segundo daquelas semanas, aguardando, me preparando. Quando chegou o dia, ele foi, entretanto, foi com outra garota, apenas para ela me dizer que uma ratinha de laboratório nunca teria chance.

  Um raio de luz passa por cima das árvores, e o som de algo grande caindo no lago das fadas atinge meus ouvidos. Ben. Corro até meu segundo refúgio, encontrando uma figura loira de asas brancas encharcadas sair do lago, com sua blusa quase translucida marcando seu definido abdome, Benjamim.

  – Davina? – ele se aproxima

  Faz algum tempo que não nos víamos. Desde... desde que nos beijamos.

  Quando estou junto a Benjamim, tudo é diferente. Com Alinpç é como se eu fosse atraída, quando o vejo meu corpo tende a chagar mais perto, e ao mesmo tempo me mantem paralisada, esperando, é como se tudo fosse mágico, irreal. Mas com Ben é diferente, talvez porque só amamos o que não podemos ter. Não que eu realmente possa ter Rafagh, mas com o anjo é pior.

  Algumas semanas atrás, eu e ele estávamos sentados aos pés da Glicinia rosa, conversando, até que... percebi um olhar diferente, uma expressão que nunca vira em seu rosto, como se ele tentasse resistir a algo, e não conseguisse.

  Como agora.

  – Ben... você sabe o que aconteceu da última vez – sussurro. Tenho que confessar que o desejo é reciproco.

  – Eu sei, e me sinto culpado, você...

  Agarro os ombros de Benjamim e o beijo. Ele estava tão perto. Imediatamente começo a sentir as consequências, meus poderes cessam, minha energia começa a ser sugada e transportada pelo corpo do garoto. As penas mais próximas de suas costas passam a ser negras, se espalhando como uma infecção para o resto das asas, seus olhos começam a sangrar um liquido de mesma cor, assim como os meus sangram sangue.

  Nos afastamos.

  – Davina... – Ele olha para mim, seu rosto ainda sujo do liquido preto, assim como a borda de suas unhas

  – Desculpa.

  Me levanto e saio correndo pela floresta, o caminho não é longo, porém cada vez mais se torna turvo, movendo-se no sentido anti-horário. – Benjamim não retira de mim apenas meu poder, parte da minha força vital acaba por o seguir ao corpo do anjo. – Tenho a estranha sensação de não estar mais correndo. O mundo parece se afastar e escurecer. Sinto as folhas secas roçarem meu rosto.

***

  O barulho da televisão me acorda. Estou deitada, sinto pernas abaixo de minha cabeça, um sofá familiar sob o resto do corpo e olhos púrpura me observando.

  – Lorenzo? – Calmamente me levanto e paro em frente a ele – Por que eu estava... como me achou na floresta?

  – Ah, deitada assim? É que eu queria ver quando acordasse, mas ao mesmo tempo queria assistir TV, então assim poderia fazer os dois. – Seus perfeitos dentes aparecem em um sorriso engraçado.

  Conheço aquele sorriso.

  – Como me achou na floresta? – insisto

  – Eu estava te seguindo – confessa o garoto de cabelos caramelo, a vergonha ocupa sua face – Você disse que ia até aquela árvore, e sempre que você vai lá é porque precisa de ajuda.

  Desabo no sofá ao lado dele, lembrando-me do real motivo por ter ido até aquele local. Ramon sumira, assim como Leandro e tantos outros. Eu o queria de volta, mas não posso simplesmente pedir a Alinpç que me devolva, nada é fácil quando se trata deles.

  Há muito pouco tempo, logo após Sânia e Caroline também virarem parte do acervo do kirian de mil anos, Ernesto virou rei do estado Maya, comandando um quarto da ilha e modificando o que achava necessário. Desde então, Tayler mora conosco. Não sobraram muitos das famílias reais, por algum motivo, Rafagh tem uma enorme preferência por eles.

  – Toda a ilha virou um campo de batalha. Ernesto treina todos os adultos e crianças do estado Maya, escravos e milionários. E Alinpç... – Tento segurar as lágrimas que cercam a saída de meu olho enquanto desabafo – ele rouba todos que amo, e o pior é que não sei se um dia vou voltar a vê-los, ou se vou virar mais uma estátua dele quando fizer dezoito anos.

  – Acha que agora sem Ramon o bruxo vai conquistar esse estado também? – Pergunta Lorenzo em um tom estranho a ele, raramente o vejo sério.

  Confirmo com a cabeça e ele me abraça. Mas se tratando daquele kirian dos olhos púrpura, o clima logo se desfaz em um salto dele para fora do sofá.

  – Mas você precisa relaxar, ficar preocupada com o futuro não irá muda-lo. – ele estende a mão direita a mim, fazendo um charme antes. Eu a seguro e ele me levanta. – Como chama aquele país grande para lá do mundo esterno?

  – Estados Unidos? – Pergunto confusa, enquanto ele me dirige para o centro da sala, e faz o sinal de que eu não posso espiar em sua mente.

  – Não. O outro. – Lorenzo se posiciona à minha frente.

  – Brasil? – Qual música ele gosta mesmo... – Ah! “Valsinha”.

  “Um dia ele chegou tão diferente, do seu jeito de sempre chegar”, o kirian dos cabelos caramelados começa a cantar. Tenho que confessar que sua voz é bonita, quando não está me infernizando.

  – “Olhou-a de um jeito muito mais quente, do que sempre costumara olhar”. – continuo a canção, enquanto ele me gira entre seus dedos.

  Lorenzo me solta de repente. Olho para ele, e então ele faz o seu sorriso e estrala os dedos. Um radinho aparece na escada e continua a música. Voltamos a dançar.

  Ele sempre faz isso. Toda vez que precisei de um ombro amigo, Lorenzo sempre esteve lá, me ajudando, fazendo palhaçadas, e até mesmo me fazendo amar músicas. Sempre que me chamavam de ratinha de laboratório, ou quando o mundo parecia estar prestes a desmoronar com mais uma perda, era ele quem intervia, mudando de forma, causando ilusões nos reflexos de outras garotas... e sempre me fazendo sorrir no final. Não quero que Alinpç o leve também.

  A porta se abre, Tayler entra correndo e esbarrando em tudo ao seu redor.

  – Davina! Por favor me ajude. – ele quase cai a minha frente. Ofegante, continua – A Vic... ela...

  – Ela está doente – diz Lorenzo preocupado, olhando para o batente da janela. Ele nunca perdeu tempo para entrar na mente de alguém. – Mais precisamente desmaiada agora.

  Tayler confirma com a cabeça, enquanto usa suas mãos para se apoiar em seus joelhos. Eles deviam estar bem longe de casa.    

  Mas... Vic é uma vampira! Nunca poderia adoecer. O que está acontecendo nessa ilha?


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