O Ninho escrita por Orpheu


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Chega o momento de algumas explicações sobre o Ninho.



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A sala repleta de espelhos parecia não ter fim. Os pés da menina já estavam cansados e a fome apenas aumentava. Não via mais reflexo algum nos espelhos, nem do Goblin e muito menos dela. Em alguns momentos, nos quais culpou o desgaste psicológico, teve a sensação de ver alguns vultos refletidos pelo corredor.

A criatura verde guiava a menina, apesar de aquele longo caminho pela sala branca fosse apenas um corredor reto, sem muitas complicações. Ao olhar para trás, a menina já não podia enxergar o ponto inicial e ao direcionar seu olhar para frente tudo que via era a claridade.

Não conversaram muito durante o trajeto, talvez porque a garota estava mais concentrada analisando os belos entalhes das paredes, algo que jamais vira em seu pequeno vilarejo, e o Goblin, focado em guiá-la.

Depois de um longo tempo ainda não haviam chegado no fim, mas encontravam um obstáculo no meio do caminho. Quando viu a grande bola de carne que impedia continuar, o Goblin bufou de angustia.

A criatura que bloqueava a passagem se encontrava sentada no meio do corredor, possuía uma grande quantidade de massa e gordura, fazendo com que a mesma se espalhasse e obstruísse a passagem.

Sua pele era vermelha, gotas de suor escorriam por todo o longo torso, fazendo com que um odor peculiar fosse sentido pelas narinas da menina. Sua cabeça era desproporcional ao restante de seu corpo. Tinha uma feição muito semelhante a humana, mas seus olhos negros quase não podiam ser vistos devido as grandes bolsas e olheiras, não havia nariz e sua boca estava aberta, mastigando alguma coisa.

Quando a grande criatura viu os dois que se aproximavam se ouriçou todo, balançando seus curtos braços de um lado para o outro e emitindo um som que deveria ser de uma risada, mas acabou parecendo mais como se o ar lhe faltasse.

— Goblin! Meu velho amigo, há quanto tempo não nos vemos – A boca estava cheia de comida, logo, foi o entendimento das palavras foi dificultado. A criatura ignorou a presença da menina ali, que acanhada e intimidada, ficou apenas no canto observando os dois.

— Gordo, você está enorme. Também é bom te ver meu amigo – a criatura verde sorriu, não era um de canto de boca, como estava acostumado, então, não parecia algo natural do Goblin.

— E o que é isto que está te seguindo? – Tentou olhar para a garota, mas a posição em que ela estava era um ponto cego para a grande criatura – Tem cabelos de humano, pelo que posso ver, outro humano no ninho? – gargalhou de felicidade – Há anos não vejo um humano e o ultimo também estava com você. Diria até que é um chamariz para essas pequenas frágeis criaturas.

— Não diga besteiras, Gordo, o tempo que você passa aqui é diferente do restante do ninho. Não faz tanto tempo assim que estive aqui - disse o Goblin olhando para a garota, como se estivesse se explicando.

A menina olhava confusa e quando o assunto se tornou humanos, sua curiosidade foi atiçada. Para a última frase do Goblin, involuntariamente, deixou escapar um “como assim 'tempo diferente'?”, chamando a atenção das duas criaturas que conversavam. A maior foi a primeira a se pronunciar, com uma gargalhada.

— Ela sabe falar! Pensei que meu amigo verde tivesse cortado sua língua. Você não explicou nada do Ninho para ela, Goblin? Quanta crueldade. Afaste-se um pouco para que eu possa te ver, pequena criança.

Timidamente a menina se afastou, até sair do ponto cego de Gordo. Seus claros cachos, que esvoaçaram com o vento, chamaram a atenção dele, arrancando-lhe um suspiro.

— Que bela espécie, totalmente o oposto do outro. Criança, pode parecer um pouco estranho isso, mas o Ninho não se encontra no mesmo espaço tempo que o seu mundo.

— Estamos com pressa e não temos tempo para essas explicações... – murmurou o Goblin para si mesmo.

— Meu caro, nosso mundo maravilhoso precisa ser explicado para os visitantes. – respondeu Gordo e voltando a atenção para a menina – Como eu dizia, o Ninho e o Mundo Humano não dividem o mesmo espaço de tempo. O tempo aqui corre de uma forma diferente do seu. E a Sala dos Espelhos também possui tempo completamente diferente com o restante do Ninho. Uma completa confusão.

— Isso realmente é um pouco confuso, quer dizer então que enquanto é de manhã no meu mundo, aqui na verdade é noite? – a menina enlaçava suas mãos, enquanto pensava na informação que havia recebido.

— Quase isso, mas a diferença é mais gritante. Eu diria que uma hora no Ninho equivale a alguns meses em sua terra. Também há o fato de que passado e presente andam de mãos dadas aqui dentro.

— Ele já explicou para você sobre a relação das horas daqui para seu mundo e você ainda quer perder mais tempo aqui. Posso te explicar tudo isso no meio do caminho. – O Goblin já segurava na mão da menina, a puxando para saírem dali, mas a mesma queria continuar.

— Não tem problemas, já se passou algumas horas aqui, meses para minha aldeia, um pouco mais não irá me afetar. Deixe-me ouvir o que ele tem a dizer, por favor.

— Continuando – Gordo prosseguiu, ignorando os olhares de Goblin contra ele – Pelo o que eu me lembro existem dois portões de entrada para o Ninho, o do Norte e o do Sul, ambos dividem a mesma porta e revezam entre si o domínio dela. Na noite, em seu mundo, o Sul é quem governa, ele representa o presente. Durante o dia, o Norte é que está na porta, representado o passado.

O esclarecimento continuou. Gordo disse que de acordo como já ficou claro, dependendo do momento que o humano atravessa o portão, caso ele sobrevivesse à queda, estará preso no passado ou no presente do Ninho, não podendo passar de um para o outro.

Logo em seguida a explicação sobre os espelhos veio. Estes estavam ligados diretamente ao passado. Os reflexos que ela via eram apenas imagens de um tempo que já passou, este era o motivo dela não ver a sua nos espelhos, ela não existia no passado do Ninho; Claro que isso não a impedia de ver refletida a imagem de outros seres.

Gordo apontou para um espelho que se encontrava a sua direita e a menina viu uma criatura do tamanho de um adulto humano, magra e de pele vermelha. Explicou que aquele era ele há muito tempo atrás. A menina ficou espantada com a imagem que via, poderia dizer que se tratava de outra criatura e não Gordo.  

— Cada um tem uma ideia diferente do passado. Para mim os reflexo são a amargura de lembrar do que você era e no que se tornou. Espero que você tenha entendido, minha criança e que isso possa tirar a confusão que está em sua mente.

— Obrigada, Gordo. Mas e essa sala? O que ela representa no Ninho.

— Cada minuto aqui é uma hora no Ninho. Os espelhos mostram, na maioria das vezes, o passado. Uma única vez alguém viu seu futuro refletido e aquilo fez com que chorasse. Pude supor que não fora algo bom. Às vezes, criança humana, é melhor não sabermos o que pode acontecer conosco. A ignorância é uma virtude.

Goblin estava encostado em um dos espelhos, tendo a mesma imagem refletida no mesmo, simbolizando que já passara por aquela longa explicação alguma vez no passado.

Gordo havia expandido o conhecimento da menina sobre o Ninho e após as formais despedidas, a mesma viu-se seguindo caminho junto com a criatura verde novamente, enquanto a grande massa vermelha ficava para trás.

— Existem tantas coisas que não conheço sobre esse mundo. Ainda há tantas coisas que não sei. – falou a menina enquanto seguia jornada pela sala do espelhos. Até que de repente se vê fora da sala, na escuridão.

Vista pelo lado de fora, a sala dos espelhos era um local sem brilho algum. Durante todo o tempo que estiveram ali ela estava bem iluminada, não permitindo saber se era de dia ou noite, mas assim que saíram ela tinha uma aparência sombria e fantasmagórica.

— Você não faz ideia da quantidade de coisas que ainda precisa descobrir sobre o ninho – disse o Goblin sorrindo, dessa vez o típico sorriso que era de seu habitual – Muitas vezes é preciso olhar algo de diferentes ângulos, como o caminho que cruzamos. Por fora um verdadeiro terror, mas quando entramos é algo belo. É assim que eu vejo a vida no Ninho.

A garota ouvia atentamente cada uma das palavras do Goblin, enquanto fitava o trecho que haviam cruzado. Voltando a atenção para o inexplorado viu, não muito distante dali, uma construção com o teto quebrado pelos galhos de uma árvore.

— É ali o nosso destino. – disse a criatura verde, continuando a caminhada. A menina o seguiu, embora hesitasse por um momento, pois tinha tido a impressão de ouvir o som de uma ave. - O único local onde humanos podem se alimentar.


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Notas finais do capítulo

A você, meu querido leitor, peço desculpas pela demora em atualizar a história. Acabei focando em outros projetos e criando um bloqueio para continuar essa história -vergonhoso isso, eu sei. Hoje, pleno sábado, abri o Word sem a mínima ideia de como daria continuidade a história, para que ela chegasse ao ponto que eu queria.

Os deuses do ninho me deram inspiração e acabou saindo esse episódio que eu, particularmente falando, gostei muito de escrever (sério mesmo). Ele seria maior, devido ao tempo que fiquei sem postar, mas é que o tamanho dos capítulos dessa história não são grande e também com a quantidade de informação dada nesse, não queria que você tivesse uma pane no cérebro.

Sobre o próximo capitulo: Prometo que ele sai essa semana, porque é uma cena que estou planejando desde o momento que comecei essa história. Mais revelações sobre o Ninho, aguardem.

Caso tenha gostado do capítulo sinta-se a vontade para comentar e tirar suas dúvidas. Sugestões são sempre bem-vindas.

Outra coisa, segundo meu planejamento mental, a história está caminhando para sua reta final. Ah e eu criei uma página no facebook para minhas histórias: https://www.facebook.com/orpheufanfics/

Vai que alguém resolve acompanhar meus trabalhos não é mesmo. Sem mais, um forte abraço a você que chegou até aqui e espero que tenha gostado da históra.



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