O Ninho escrita por Orpheu


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Terceiro capítulo: Explorando ruínas. Companheiros de viagem.



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Se movendo nas sombras era possível ver uma pequena criatura se esgueirando pelas paredes, tendo como suporte as videiras que subiam por todo lugar. Quando chegou ao chão a sombra, lentamente, foi se aproximando. Aquela silhueta de uma criatura baixa e com orelhas pontudas foi se tornando mais nítida conforme a distância diminuía.

Saindo das sombras encontrava-se uma criatura com uma aparência humanoide, de pele esverdeada, uma boca longa e olhos vermelhos. A criatura percebendo que a menina hesitava com sua presença, manteve-se longe dela. A garota estava com certo receio, mas curiosa sobre o que estava a sua frente. Tudo que havia no Ninho era novidade para ela, o contato com criaturas daquele tipo era inexistente nas terras de onde viera.

— O que é você? De onde você surgiu e que história é essa de eu estar morta?

Ao ver que a garota conversava com ela, a pequena criatura, abriu um sorriso singelo em seu rosto e se aproximou um pouco mais do lago, para poder beber água. Enquanto essa saciava sua sede, a menina a observava.

— Eu sou um Goblin, humana. De onde eu surgi? Essa é minha casa, eu vivo aqui, a intrusa é você. Jamais pensei que chegaria outro humano no Ninho, quem diria que um evento raro desses pudesse ocorrer duas vezes. Você nunca ouviu falar que espelhos refletem sua alma? – esboçando um sorriso sarcástico e debochado para a última frase, a criatura dizia tudo naturalmente, seu humor sarcástico foi-se embora com a resposta da jovem.

— Morta eu sei que não estou. Ainda tenho pulso, ainda me sinto incomodada pela luz do Sol. Respiro. Sinto tudo a minha volta. Diria até mesmo que recebi uma segunda chance, por ter sobrevivido de meu próprio ritual de sacrifício.

— Segunda chance?! – uma risada – Acredito que ficar vivo nesse lugar é pior do que a morte, minha querida.

— E aí está a confirmação que eu estou viva, você mesmo acaba de dizer.

— Humanos... Parecem sentir prazer em ser mais espertos do que os outros.

— Quem quis dar uma de esperto foi você. Eu não sei como vocês monstros se socializam aqui, mas chegar para alguém e dizer que essa pessoa está morta não é algo muito agradável.

— Sinto muito por isso, mas precisava fazer algo para chamar a sua atenção. Você ia beber dessa água.

— E qual o problema nisso?

— Acredite, eu já vi um humano beber dessa água e o que aconteceu depois não foi nem um pouco agradável de ver, quem dirá para quem sentiu. Eu, cria do Ninho, posso beber e comer tudo que é produzido aqui, mas você cria de Outras Terras, não.

— Dessa forma eu acabarei morrendo de sede e fome antes de sequer achar a saída desse lugar.

— Não precisa se preocupar, existe um lugar que não esta sob essa regra, é o contrário, são os moradores do Ninho que não podem comer ou beber nada de lá.

A menina olhava para a criatura, que se deliciava com aquela água. Como para alguém poderia ser tão saudável e para o outro completamente letal? A garota olhava para a fera. Não havia como saber se ela falava a verdade ou não, mas o fato de sequer ter reflexo a assustara um pouco.

— E como eu encontro esse lugar que possuí água potável para humanos?

— É simples... Basta seguir até o centro do Ninho de onde toda essa vegetação saiu. Lá você encontrará uma bela fonte de água e árvores frutíferas.

— Obrigada. – a menina partiu em direção ao local que o Goblin apontara. Indo somente pelas áreas com sombras e, quando não as encontrava, esperava que as nuvens cobrissem o Sol e permitissem ela correr rapidamente para um abrigo, embora isso não a protegesse totalmente dos raios de luz que o astro emitia, servia para prevenir queimaduras mais sérias.

Andando por um tempo a garota chegara a um impasse em sua rota. O caminho dividia-se em várias partes. Um local repleto de pontes e escadas, que se interligavam estava a sua frente. O caminho que havia seguido até aquele momento, que consistia em apenas ir para frente, terminava em um arco caído.

Sem saber em que direção ir e com medo de acabar se perdendo ainda mais, a garota refaz todo o caminho de volta, até chegar ao lar do Goblin. Se ele sabia onde ficava o lugar, talvez pudesse informá-la de alguma rota alternativa.

Voltando para o a construção com lago artificial, a menina se depara com um ambiente vazio. Parecia que o Goblin não estava por ali. Chamando pela criatura e não obtendo resposta, a menina resolve se aproximar novamente daquelas águas. A dúvida habitava o coração da pequena mulher que se preparava para beber experimentar somente um pouco.

— Decidiu se matar, humana?

O Goblin aparece atrás da garota, que assustada, quase cai dentro do lago, mas é segurada pelas mãos verdes da criatura. A menina então explicara para a a pequena criatura o motivo de seu retorno e que encontrara um caminho sem saída na sua tentativa de chegar até o local indicado.

— Eu te levo até lá, não há nada se fazer aqui mesmo. Se eu somente explicar você com certeza não irá entender. Existe outra rota, mas é fácil de se perder nela.

A menina não parecia muito confiante em acreditar ou não na criatura, mas estava com tanta sede e fome, que decidira arriscar ou pelo menos que morresse tentando. O Goblin, subindo pelas colunas do local até um buraco que havia entre as divisórias de um andar para o outro, pegou um velho saco de couro e o jogou no chão.

— Já estou com tudo que preciso aqui. Deixo sempre preparado, nunca se sabe quando uma criatura pode atacar. – finalizando com uma risada sádica, o Goblin volta a atenção para a garota – Vamos, humana?

Retornaram todo o caminho que uma vez a garota havia passado. A mesma não parecia entender porque rumar em direção a um local que sabia que era sem saída, mas o Goblin parecia saber muito bem para onde estava indo. Enquanto percorria novamente pelos caminhos desnivelados daquelas ruínas, a menina lembrara-se da conversa anterior que tivera com a criatura verde que a guiava.

— Mais cedo você disse que já havia visto um humano beber da água daquele lago, quem seria esse humano e onde ele está?

— Ah, nós acabamos nos separando...

— Mas o que aconteceu com ele? E faz muito tempo isso?

— Como eu disse: nós nos separamos. Depois disso eu fui para o local onde você me encontrou e ali fiquei. Eu tenho uma memória terrível, mas creio que vi ele há algumas horas antes de te ver. Mas como disse: tenho uma péssima memória.

Ouvir aquilo fizera com que o coração da menina disparasse. Provavelmente ela não era a única humana que estava lá, poderia haver mais. Não dera importância para a risada sádica do Goblim, aquilo parecia ser um instinto comum na criatura. Agarrara-se as palavras ditas pelo mesmo, encontrar outro de sua espécie seria algo agradável, afinal, poderiam buscar por uma saída dali juntos. No entanto lembrou-se que ele bebera da água da qual o Goblin disse estritamente para ela não beber.

— O que aconteceu com ele após beber a água do lago?

— Ficou louco. Perdeu completamente a cabeça, depois disso eu me afastei dele.

— Entendo... É realmente uma pena que isso aconteceu – a esperança fora embora.

— Chegamos – O Goblin apontava exatamente para o local de onde a menina havia retornado. A passarela que dava para o outro lado estava quebrada e os caminhos alternativos eram diversas escadas que se direcionavam para direções contrárias. Lentamente a criatura verde foi se dirigindo a uma delas, porém antes de chegar a descê-la, parou e removeu um grande ladrilho do chão, havia um buraco ali.

— O caminho pela superfície pode não existir, mas uma rede de túneis conecta tudo aqui. É uma das maneiras mais seguras de se locomover pelo lugar, já que percebi que você parece evitar a luz do Sol.

A menina ficara um pouco acanhada com aquilo, não gostava que as pessoas assimilassem sua doença como uma grande fraqueza sua. Mas saber daquilo poderia ser útil.

Seguindo o Goblin a todo o momento a garota adentrou a passagem cúbica e apertada. Primeiramente desceram uma longa escada de pedra, esculpida na própria parede – bastante escorregadia. Após isso seguiram por um túnel escuro, com buracos pequenos em sua lateral, para a entrada de ar. As paredes estavam úmidas e o cheiro no local era dos piores. A garota tinha certeza que em certos momentos havia colocado suas mãos sobre entranhas de alguns animais mortos.

A única luz naquele turno eram os olhos vermelhos do Goblin, que emitiam sua própria luz, algo que chamava a atenção. Depois de engatinhar por aquele gélido espaço por tempo o bastante para repensar se aquilo tinha sido uma boa ideia, a saída é vista. Uma luz no fim do túnel, barrada por uma grade que fora facilmente derrubada pelos chutes da criatura verde.

Já do lado de fora, a menina se encontrava em um corredor completamente fechado e repleto de espelhos. A iluminação do ambiente era bastante presente, pois os raios do Sol eram refletidos pelos vidros. A menina hesitou, mas precisava seguir em frente. Enquanto caminhava, reparou no teto do local, era incrível como naquele lugar fechado o branco ainda se mantinha e os lustres de cristais reluziam. Todavia quando olhou para os espelhos parou.

— Não há reflexo, nem meu e sequer seu.

O Goblin que parecia nem se importar com tal evento parou e voltou a atenção para o mesmo espelho que a menina observava. A criatura não aparentava surpresa com aquilo e disse para a garota não se preocupar com isso, até que a menina da um grito.

— Seu reflexo apareceu! – e era verdade, o reflexo do goblin havia aparecido, vindo da lateral, como se estivesse passando pelo lugar. O suposto reflexo parou na frente de seu dono e ficou imagem e semelhança do mesmo. – As suas roupas parecem mais sujas, acho que a iluminação do Sol está atrapalhando um pouco.

O Goblin ficara quieto, a menina continuou observando aquele espelho e direcionando sua atenção para a criatura verde e a imagem projetada no pedaço de vidro, para certificar que não haveria outro acontecimento estranho. Nada mais acontecia.

— Acho que está na hora de irmos, vamos, é apenas um reflexo.

A menina, por mais intrigada que estivesse por não ter um reflexo de si, concordou e partiu na direção que o Goblin apontava. Embora, antes de sair da frente do espelho tivera a sensação de ver um vulto de algo um pouco maior que ela passando pelo espelho, mas quando voltou para verificar não havia mais nada.

— Vamos, humana. Esqueça esses espelhos.

— Tudo bem... – a garota se afastou lentamente, atenta para qualquer coisa que pudesse acontecer antes de virar de costas, mas nada aconteceu. O Ninho poderia estar fazendo com que a mesma se tornasse muito sonhadora.


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Notas finais do capítulo

Dois capítulos seguidos, não aconstumem haha. O capitulo tinha ficado muito grande para ser só um. Então decidi dividir em duas partes, espero que gostem.



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