25 de dezembro de 2016

— Vamos lá, abra! — Willas deu um de seus sorrisos de incentivo.

Sansa tinha um envelope em mãos. Era um envelope que não pesava praticamente nada para qualquer outra pessoa, mas que para ela tinha o peso do mundo inteiro.

— Não posso — disse, sentindo que a ansiedade a consumia aos poucos. — Abra para mim — então estendeu a carta para ele. Conseguiu ver que suas mãos tremiam pelo nervosismo.  

A carta havia chegado naquela manhã de véspera de natal. Sansa achou que era um péssimo dia para uma carta como aquela chegar porque poderia arruinar uma data que deveria ser especial. Então, a tirou das vistas durante todo o dia, tentando esquecer que a tinha, do conteúdo que guardava. Quando a noite chegou e se dirigiu até o apartamento de Willas para passarem seu primeiro natal juntos, ela levou a carta consigo porque acreditava que não deveria existir uma pessoa mais adequada do que seu mentor e namorado para encarar a notícia com ela, fosse boa ou ruim. E também porque ele havia feito de tudo para levá-la até ali, até haviam decidido se mudar juntos para a Campina quando ela passasse e ele retornaria para sua cidade natal.

— Nunca irá se perdoar se eu ler primeiro — ele disse, sensato. Sempre era sensato.

— Por favor — Sansa lançou-lhe um de seus olhares pidões. Seus grandes olhos azuis brilhando na direção dele.

Não conseguia lhe negar nada quando ela lhe olhava daquela maneira, então tomou a carta para si. Era um grande e elegante envelope pardo, com um glamoroso selo verde musgo que tinha o emblema da Faculdade de Artes de Jardim de Cima impresso nele.  Willas rompeu o selo com cuidado. Ele mesmo já tinha recebido uma carta como aquela antes, então podia imaginar como Sansa deveria estar se sentindo. Eram poucas palavras que guardavam a resposta para o rumo que o futuro iria seguir dali em diante. Leu o conteúdo impresso em uma caligrafia elegante, escrito à mão, e deu um grande sorriso.

— O que diz? — observou enquanto sua namorada andava de um lado para o outro na sala de seu apartamento que no momento estava rodeado de caixas para a mudança.

— Cara Srta. Stark, é um prazer informar que compõe o corpo discente da Faculdade... — ele não teve tempo de terminar porque ela havia se jogado em seus braços, o abraçando com força, claramente empolgada.

— Não acredito — ouviu-a dizer eufórica. — Deixe-me ver. — então tomou a carta das mãos dele e começou a ler, ainda descrente.

— Não duvidei nem por um segundo — ele disse, sorrindo.

Sempre acreditou no potencial de Sansa. Desde o primeiro momento em que ela se tornou sua aluna e aprendiz. Desde que viu como tinha facilidade com um pincel em mãos, como se fosse uma extensão natural de seu braço. Ousava dizer que ela era uma melhor artista do que ele.

— Ainda sinto como se não fosse real. Como se fosse acordar a qualquer segundo de mais um de meus sonhos. Deuses, sonhei com esse momento por anos — então sentou-se sobre o sofá, um dos únicos móveis que ainda havia naquele apartamento. Temeu que as pernas lhes falhassem naquele momento.

— É real — ele sentou-se ao lado dela. — Eles seriam idiotas se não aceitassem você. Está tudo em seu devido lugar, Sansa. Vamos nos mudar no ano novo e começará a viver seu sonho. Estarei ao seu lado, juntos. — ele então selou seus lábios, um gesto sutil, mas cheio de amor. Era a mulher que amava alcançando o que merecia, conseguia sentir o orgulho aparente em sua voz.

— É por isso que esperei até que estivesse aqui. Queria que soubéssemos juntos — sorriu para ele. Era fácil sorrir para Willas. Muitas coisas eram fáceis quando estava ao lado dele, principalmente porque a maioria das coisas que tinha que lidar já eram difíceis o suficiente, então uma relação leve era o que precisava. — Obrigada. — o agradecimento era além do que podia expressar em palavras.

Então ele abriu um champanhe para comemorarem. Comeram um jantar que ele mesmo havia preparado e passaram o resto da noite conversando sobre os planos. Sobre morarem juntos, deixar a casa de seus pais e sobre a adaptação em Jardim de Cima. Willas falava com grande apreço do lugar onde nascera e de sua família. Falava principalmente de sua irmã e que Sansa iria adorá-la. Sansa conseguia facilmente imaginar sua vida ao lado dele, conseguia ver um futuro os aguardando. Conseguia se imaginar feliz Mesmo assim, no fundo, também sentia que uma peça não encaixava. Sabia que mesmo que fosse feliz, jamais seria completa.

Willas dormia ao seu lado, ressonando baixinho, com o peito subindo e descendo de maneira ritmada. Sansa o observava. Ele parecia sereno em seu sono, tranquilo como era sempre, gentil e amoroso. Ela o amava. Sabia que sim, sentia que sim. Porém, naquele quarto aquecido pelos instantes em que haviam feito amor antes de ele adormecer, ela conseguiu se sentir sozinha. Mesmo que ele estivesse apenas a um toque de distância. Mesmo que o seu amor fosse tão espaçoso que ela podia sentir preencher todo o ambiente. Sentiu que não era com ele que queria dividir aquele momento. Que era errado que fosse ele quem estivesse ao seu lado no momento em que recebeu a notícia de que agora era oficialmente uma aluna na faculdade com a qual sempre havia sonhado.

Ela saiu da cama com cautela, temendo acordá-lo. Willas tinha um sono leve. Então colocou um dos pés para fora, tocando o chão frio de maneira surda e só então colocou o outro. Andou descalça até o lado de fora do cômodo e fechou a porta atrás de si com leveza. Caminhou até a sala e pegou seu celular. Abriu a agenda telefônica e rolou os nomes até o que queria. Discou o número e aguardou enquanto chamava. Uma, duas, três vezes até a pessoa do outro lado atender.

— Alô? — ela conseguiu ouvir os ruídos do que parecia ser uma festa. A música foi se afastando à medida que a pessoa se afastava também. — Sansa?

Ela ficou em silêncio, tentando criar coragem para falar. Havia sido forte até aquele ponto, resistido a todos os impulsos de ligar para ele, mas agora percebia que ele sempre esteve certo o tempo todo. Eles sempre encontrariam o caminho de volta um para o outro. E não havia outra pessoa no mundo com a qual ela gostaria de dividir aquela conquista senão ele.

— Jon?