A Mais Bela Ovelha Negra escrita por Júlia Ritto


Capítulo 3
Capítulo 3 - Mentiras


Notas iniciais do capítulo

Adivinhem quem resolveu aparecer??
Oi, gente, depois de vários meses estou aqui, passei por uma coisa chamada primeiro ano do ensino médio (estou muito feliz pelas férias), misturado com uma falta de confiança e inspiração. Mas to de volta! E já tenho mais dois capítulos prontos ♥
Espero que não me abandonem e que se lembrem vagamente do que acontece nessa historinha. Boa leitura!
Obs: ainda não aprendi a configurar os textos, por isso pode ser que o formato dele fique meio estranho



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717777/chapter/3

—--

Sorri em afirmação, um tanto desconfortável pela minha timidez – embora faça teatro desde os oito anos, nunca consegui me livrar completamente desse traço – ficamos um tempo em silêncio, até que ele resolveu fazer uma pergunta descontraída.

—Você parecia bem mais extrovertida no parque, está tudo bem?

Relaxei a expressão enquanto ajeitava a perna para que ele conseguisse terminar de enfaixar.

—Falando em primeiras impressões, você parecia bem... - pensei melhor antes de falar alguma coisa – digamos que nunca pensei que se ofereceria para me ajudar se me pegasse invadindo seu quintal.

Ele deu uma risada anasalada e se sentou na ponta que restou do sofá ao acabar seu trabalho.

—Realmente, eu não acho que faria isso por qualquer pessoa.

Senti meu rosto esquentar, queria perguntar o motivo, mas não era atrevida o bastante para isso, satisfiz minha vontade o mostrando um curto sorriso.

—Bom, vou pegar alguma coisa para a gente comer – ele disse se levantando do sofá com um súbito impulso das mãos.

—Não, eu já vou indo... – neguei, tentando me levantar sem sucesso

Ele me observou cair de volta no sofá segurando o riso.

—Vai ter que esperar um pouco para voltar a andar se não quiser distender algum musculo, ainda mais se pretende voltar para casa a pé – ele fez uma pausa para analisar minha expressão – juro que eu não mordo.

Ele foi para a cozinha, me lembrando de que continuava sendo o cara do parque. Fiz algum esforço para mudar de posição e ficar sentada no sofá com o pé torcido tocando levemente o chão. Olhei para o relógio na parede da sala e constatei que já passavam das onze, fiquei um pouco preocupada sobre como chegaria na casa da Mel, a caminhada era longa para alguém com o pé torcido.

Endireitei a coluna ao ver Allen voltando com um pacote de salgadinho na mão.

—Espero que não esteja em algum tipo de dieta maluca como a minha irmã e não possa comer Ruffles.

—Não mesmo, acho que quem recusa Ruffles deveria ser internado – dei risada e peguei um punhado do salgadinho, agora na mesa de centro a minha frente.

—Tem certeza que eu posso ficar mais um pouco aqui? Sua irmã não parecia nada feliz, e seus pais... – ele me interrompeu subitamente.

—Quem liga para o que minha irmã pensa? E o máximo que meus pais podem fazer é me deixar de castigo, o que eu resolvo facilmente pulando a janela do quarto – ele acrescentou com desdém, evidenciando uma relação não muito boa com os pais.

Percebi imediatamente que deveria mudar de assunto.

—Então, você já saiu da escola?

Me arrependi antes mesmo de ouvir a resposta dele.

—Não devia ter saído, se eu fosse uma pessoa “normal” teria repetido, mas meus pais não aceitam que seu herdeiro seja menos que um aluno exemplar e fizeram o que sabem de melhor: usar seu dinheiro. – eu ia abrir a boca para trocar de assunto, mas ele persistiu – não se preocupe, agora eles fazem questão de que eu tenha aulas particulares – completou sarcástico.

Minha voz interna queria sugerir minha psicóloga para ele, mas preferi me compadecer com sua situação

—Que merda.

Um silêncio constrangedor estava prestes a se formar, mas Alicia – a irmã gêmea bipolar – parou na frente de Allen parecendo irritada.

—Allen, o que ela ainda está fazendo aqui? – exclamou em forma de sussurro, não baixo o suficiente para que eu não escutasse

—Qual o problema? – ele retrucou.

—Pensei ter dito para enfaixar logo o pé da menina e tirá-la de casa!

Ele se levantou e peitou a irmã.

—E eu pensei que soubesse que eu não costumo seguir ordens, muito menos as vindas de uma baixinha.

Não sei se foi pura impressão, mas ao ouvir a palavra baixinha Alicia pareceu incorporar o próprio demônio, e não estou exagerando!

Antes de levar Allen para o canto do cômodo, ela me deu um sorriso simpático – retribuído com outro desconfortável.

— Escuta aqui seu imbecil, é melhor que essa garota não esteja aqui quando o papai chegar! Se não você vai ver o que acontece com você no jantar.

Aquilo tinha evoluído de um sussurro para um berro. Juro que se fosse comigo teria feito as malas e me mudado para o Alasca, mas Allen parecia disposto a ganhar aquela briga.

— Eu não tenho medo de uma anã – ele colocou a mão a cima da cabeça, indicando sua altura superior – e ela vai ficar aqui o tempo que for preciso, não é você ou qualquer castigo que vão me fazer mudar de ideia!

Alicia deu risada.

— E desde quando você se importa com a dor das pessoas? Ou será que está a fim da garotinha – ela olhou para mim – ele é um merda, fuja enquanto tiver tempo.

Me sentia um tanto mal com a forma que Alicia falava dele, algo naquele adolescente problemático me fazia sentir compaixão, era como se de alguma forma eu soubesse que haviam muitas coisas na sua história. Também tem o fato de eu não ter ido com a cara da irmã dele... Provavelmente por causa disso resolvi entrar na confusão.

— Ele não é tudo isso que você está falando, você não devia falar assim com seu irmão!

Ela sorriu irônica e logo fingiu uma cara de dó.

— Já está perdida! Vai me dizer que já estão tendo algum tipo de caso? – ela parou e deu risada – Não, isso seria o cumulo! Alguém realmente gostar desse idiota...

Naquele momento, senti uma onda de adrenalina invadir meu corpo – realmente me empolgava em discussões – com esforço, consegui ficar de pé ao lado de Allen e segurei sua mão.

— Sim.

— O que? – Alicia e Allen olharam para mim sem entender.

— Sim, estamos juntos.

Soltei nossas mãos e percebi a surpresa geral – inclusive minha por ter tido coragem de fazer aquilo – Allen olhava para mim como que pedindo por respostas, mas não parecia querer me contrariar.

— É, irmãzinha, você nos pegou.

Alicia não parecia convencida, cruzou os braços e nos lançou um olhar desafiador.

— Mesmo? Onde se conheceram?

— No cinema! – me apressei em responder, mas acabei arrancando um sorriso vitorioso da irmã.

— Jura? Allen odeia cinema. – fiz uma careta em resposta.

— Foi do lado de fora, ela estava saindo do cinema e eu passando na rua...

Foi a vez de Allen concertar as coisas, assenti com a cabeça esperando que as perguntas parassem por aí, mas Alicia parecia disposta a desmascarar seu irmão.

— Qual o signo dele?

— Como?

— Signo. Como você pode namorar alguém sem saber pelo menos o signo?!

Signos. Admito que gostava bastante de astrologia, mas naquela hora estava odiando aquela pergunta, se tivesse que chutar pelo que sei até agora, diria gêmeos – nunca vi duas pessoas tão bipolares, mas não queria perder para ela, e a possibilidade de errar estava me deixando nervosa. Alicia sorria convencida diante de minha preocupação, mas em poucos segundos uma expressão boquiaberta tomou seu rosto: Allen tinha me puxado para um beijo.

Me surpreendi quando senti suas mãos envolverem minha cintura e sua boca subitamente se encontrar com a minha, mas quando percebi o que estava acontecendo já estava completamente envolvida no beijo, não tinha dúvidas de que aquilo tinha durado mais que o necessário, pois quando nos separamos Alicia nos olhava com uma careta.

— Isso esclarece suas dúvidas? – Allen ergueu a voz, desafiador.

— Meus pêsames – ela olhou para mim e fingiu comoção, fazendo beiço, logo se virando em direção às escadas.

Quando finalmente ouvimos a porta de seu quarto bater, não sabia se ficava aliviada ou ainda mais tensa pelo que tinha acontecido com Allen.

— Obrigado pela ajuda, mas que ideia foi essa de falar em cinema? – Zombou sarcástico, acabei agradecendo por esse ser o assunto.

— Como eu ia... – me interrompi – como você pode não gostar de cinema?!

— O único ponto bom do cinema é a comida, ficar sentado por duas horas? Me avise se tiver algo bom o suficiente passando para se fazer isso.

Fiquei um tanto incomodada com o desgosto dele pelo cinema, era um dos meus passatempos preferidos.

— Claro que tem, semana passada mesmo eu assisti um!

Ele ficou um tempo sem falar nada, até que me respondeu.

— Foi bom?

— O filme foi ótimo.

Ele deu risada, me deixando ainda mais confusa.

— Não estou falando do filme! – deu alguns passos em minha direção – o beijo. Foi bom?

Olhei fixamente para os meus pés, me culpando por ficar vermelha tão fácil. Querendo me livrar do silêncio constrangedor que se instaurava, falei a primeira coisa que veio a minha mente

— Eu nem lembro direito – finalmente levantei o rosto, mas ainda evitando o olhar do garoto.

— Então temos que resolver isso... – ele colocou as mãos na minha cintura e me puxou para mais perto.

Não estava pensando direito, nem queria – o cara era bonito e não tão babaca quanto achei que fosse – deixei nossos corpos se aproximarem e logo nossos lábios estavam a poucos centímetros de distância.

Antes que nossos lábios se tocassem, a porta da sala se abriu, mostrando um casal, já em seus 40 anos – rapidamente me distanciei, observando a expressão de reprovação de ambos.

— Agora você traz as vagabundas daquela sua gangue para minha casa?!

Me assustei com o tom do, aparentemente, pai de Allen, o que ele queria dizer com vagabunda da gangue? Que merda de gangue era essa. A mãe, com nariz empinado, o encarava em desgosto, percebi que Allen estava disposto a atacar.

— Pela milésima vez, eu não tenho a porra de nenhuma gangue! E quem você... – o interrompi, com medo de ser cumplice de um assassinato, coloquei mus dons teatrais em prática novamente.

— Desculpem – me, mas devem estar enganados, não sou de nenhuma gangue... Sou a namorada dele!

Isso, Samantha, continua piorando tudo!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram?? Espero que sim.
Não se esqueçam do famigerado review, estou com saudades de vocês ♥
obs: se alguém lê outra fic minha, vou tentar atualizar todas na medida do possível



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Mais Bela Ovelha Negra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.