Odiava quando meus pais decidiam viajar sem mim...tudo bem que dessa vez não era puro lazer, meus avós, que por acaso vivem na França, estavam doentes e eles iam ajudar.
Mas, por que eles não me achavam capaz de ajudar também? Disseram que não queriam muita agitação por lá, obviamente ainda me consideravam uma criança que só sabe atrapalhar! Também me importo com meus avós...
Pelo menos consegui convencer minha mãe a me deixar ficar na casa da minha melhor amiga, Melissa. Costumávamos ser da mesma escola, mas meus pais tiveram que se mudar para Minas Gerais por conta de uma oferta de emprego, e agora só nos víamos de vez em quando.
Felizmente, era dezembro e não teríamos problemas com escola, mal podia esperar para contar para ela que iria passar uma temporada por lá!
Queria fazer uma surpresa, tinha dito que não poderíamos nos ver nessas férias... Só a mãe dela estava sabendo!
Meus pés batucavam rapidamente o chão quando percebi que estávamos chegando.
—Quanto tempo falta?
—Você é ansiosa, hein? - minha mãe disse, dando risada.
—Isso já deixou de ser novidade faz tempo!
Logo, avistei a casa de Mel no fim da rua, mal podia esperar para abraça-la!
Ao tocar a campainha, fui recebida por Cláudia, mãe da Melissa.

—Oi, tia, quanto tempo!

—Sam, como é bom te ver!

Nós demos um longo abraço, ela era como uma segunda mãe para mim, quando nos soltamos a ansiedade era perceptível em meu rosto, não parava de procurar Mel com os olhos. Percebendo isso, Cláudia se pronunciou.

—A Melissa me pediu para ir na praça do bairro mais cedo, pensei que já teria voltado a essas horas...já sei, por que não vai até lá e faz uma surpresa?!

Alarguei o sorriso, eu já sabia de cor o caminho, seria bom ir direto para lá. Sem dizer nenhuma outra palavra, dei um beijo em minha mãe e corri em direção à praça.

Cheguei lá em poucos minutos, parei para recuperar o folego e analisei o local, era pequeno, não devia ser difícil encontrá-la...minha ansiedade voltou quando vi uma garota de costas com cabelos castanhos cacheados, era ela!

Cheguei de fininho para dar lhe um susto e pus minhas mãos subitamente sobre seus ombros, ela rapidamente se virou para mim, e embora tenha ficado muito feliz em rever minha amiga, minha primeira reação foi corar por ver que na frente dela estava um garoto de cabelos negros, olhos verdes e um charme incontestável. Tinha arruinado o encontro da minha amiga.

—Sam, que saudades! – ela me abraçou

Retribui o abraço, mas continuei incomodada com a situação, assim como o garoto parecia estar.

—Desculpa, não sabia que estava acompanhada... – indiquei o menino com a cabeça.

Mel demorou um pouco para entender o que eu insinuara, mas quando percebeu, fez questão de ser rápida.

—Não é nada disso, somos só amigos! Inclusive, tem outro garoto com a gente, ele só ta no banheiro – ela olhou para mim e para o garoto algumas vezes – quer saber, por que você não fica com a gente?

Não queria estragar o encontro de uma amiga, mas Mel parecia desconfortável sozinha com o rapaz, e o fato de querer muito ficar um pouco com ela também me influenciou a dizer sim.

—Por que não?

Abri um sorriso e me sentei no banco atrás de nós, sendo acompanhada por eles. Antes que um silêncio constrangedor se formasse, Mel se pronunciou.

—Lucas, essa aqui é a Samantha, minha amiga.

O garoto de cabelos negros, que agora eu sabia ser Lucas, olhou para mim e deu um sorriso discreto.

—Oi, Samantha. – estranhei ao não ouvir meu apelido.

—Pode me chamar de Sam – sorri, amigavelmente

Lucas continuava com um ponto de interrogação no rosto.

—É...como você sabia que estávamos aqui?

Eu dei risada

—Sou a melhor amiga da Mel, mas estou morando em Minas Gerais, resolvi fazer uma surpresa e aparecer na casa dela sem avisar, mas parece que ou ela mudou de ideia sobre ser caseira, ou teve um bom motivo para sair de casa dessa vez... – senti uma cotovelada de Mel, que estava mais vermelha do que um pimentão.

Percebi que Lucas ia dizer alguma coisa, mas todos ficamos calados, principalmente eu, ao perceber um garoto de pele alva e cabelos louros parado em minha frente, me encarando de um modo nada amigável.

—Quer alguma coisa? – Perguntei, sem entender sua expressão.

—Na verdade, adoraria saber por que você está sentada no meu lugar.

O que ele tinha de bonito, tinha de arrogante...

—Quanto cavalheirismo, já tentou pedir licença? – falei, irônica, enquanto me levantava com as mãos na cintura.

Fiz um gesto com os braços indicando que seguisse ao seu tão precioso lugar, mas ele parecia não estar mais me vendo, embora me analisasse profundamente...quando notou a estranheza do que fazia, abriu e fechou os olhos demoradamente, pareceu voltar à personalidade arrogante que tinha.

Me deu um sorriso sarcástico e se sentou no banco. Lucas repreendeu o louro com o olhar e Mel ainda não parecia acostumada com seu jeito.

—Não ligue para ele, Allen é assim mesmo. – Lucas disse, sem jeito, para mim.

Allen...que nome era aquele?

—Eu com certeza não ligo para ele – disse, me virando para Allen em um tom desafiador.

Me surpreendi ao notar que ele não parecia ter escutado o que eu dissera, mas me analisava como se fosse a única coisa que ele conseguisse ver, longe de estar flertando, parecia tentar resolver um mistério. Acabei me perdendo no olhar decidido dele, virei meu rosto rapidamente para frente, fingindo que nada tinha acontecido, alguns segundos depois, notei que ele fazia o mesmo.

Allen e eu passamos mais alguns minutos segurando vela para o casal, que parecia não lembrar que existíamos...felizmente, Mel se lembrou de que eu estava lá, e logo se despediu dos meninos, dizendo que tinha muitas coisas para conversar comigo, assenti e dei tchau a Lucas, acenei rapidamente para Allen, evitando olhá-lo nos olhos

— Vamos?

—Claro.

Segui Mel em direção a sua casa, quando nos distanciamos o suficiente para não sermos vistas, ela me puxou para um longo abraço.

—Sam, quanta saudade! Quanto tempo vai passar aqui?

—Queria fazer uma surpresa desta vez, vou passar as férias inteiras com você!

Nós duas quase gritamos de alegria, era muito bom estarmos juntas.

—Com certeza essas férias serão inesquecíveis! – dissemos em uníssono.