Espírito de Revolução escrita por GilCAnjos


Capítulo 12
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Notas iniciais do capítulo

Saudações a todos! :) Esta semana teremos um capítulo mais calmo. Vamos ver como Connor começa a reconstruir a fazenda de Achilles!



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A notícia me tomou de surpresa. Eu nunca pensara que saber a identidade de meu pai — a dúvida que me assolou por anos e que eu não mais tinha a esperança de ser respondida — viria acompanhado de um pensamento tão conflitante. O homem que havia me originado, metade de meu sangue, era o mesmo homem que arruinou a Irmandade dos Assassinos, e que eu aprendera a desprezar nos meses anteriores.

Tentei não pensar no assunto e me concentrar no meu treinamento. Naquele dia Godfrey e Terry retornaram a seu acampamento, e ao longo da semana seguinte auxiliei os dois lenhadores e suas respectivas esposas, Catherine e Diana, a se mudar para uma das casas abandonadas. Eles passaram a morar numa casa ao lado do rio, junto a um moinho de água. Assim, eles eram os primeiros moradores da Fazenda, e eu esperava que houvesse vários outros.

O primeiro deles não demorou muito para bater à porta. Cerca de um mês depois, um navio pequeno chegou à baía e ancorou perto do Aquila, uma embarcação bem maior. Indo ao píer, nos encontramos com o comandante do navio, um homem de idade chamado Robert Faulkner. Achilles nos apresentou e explicou que ele havia falado com Robert no dia em que viajamos para Boston. Faulkner era um marinheiro experiente e antigo membro da Irmandade, e se mostrou desolado ao ver o que sobrara do Aquila. Ele concordou em reunir uma tripulação e restaurar o antigo navio dos Assassinos, desde que providenciássemos os recursos para tal. Por sorte, isso não seria um problema, já que a madeira que os lenhadores cortavam estava rendendo bons lucros a Achilles.

O tempo passou rápido depois disso - meus dias um borrão de estudos, treinamento e trabalho. Achilles enfim concordou em me treinar fisicamente. Aprendi a escalar prédios — e, mais frequentemente, a cair deles. Um Assassino precisa conhecer o ambiente à sua volta, e, portanto, eu precisava aprender a ignorar os obstáculos que poderiam me impedir em uma missão. Além disso, no porão da mansão eu usava os manequins de madeira para praticar as técnicas de luta especializadas pelos Assassinos.

Por mais que o velho me ensinasse a lutar com machadinhas, adagas ou espadas, eu preferia muito mais usar os meus punhos, armas bem menos letais. Eu sabia o valor que uma vida tinha, e certamente estava comprometido a evitar mortes desnecessárias. Se eu caçava animais, era porque eu precisava, não porque queria: Saksa:ri sempre me ensinara que devemos agradecer a Mãe-Natureza por cada recurso que temos a chance de obter. Quanto a seres humanos... Havia outros modos de ganhar uma disputa além da morte, e com certeza havia outros modos de conseguir a paz. Achilles desaprovou esse meu pensamento, mas não interferiu. Disse que um Assassino não pode se dar ao luxo de prolongar um embate apenas para poupar uma vida; mas garantiu que eu inevitavelmente aprenderia isso sozinho.

O pouco tempo livre que Achilles me dava era passado aprendendo sobre os Templários. Sobre Charles Lee e meu pai. Ainda demoraria para que eu um dia os confrontasse, para acabar com seus esquemas ou assegurar que meu povo permanecesse livre e em paz. Mas eu sabia que era cedo demais. Que me aproximar deles agora causaria minha morte, e então todo meu trabalho teria sido em vão. Paciência e autocontrole. Essas eram as tarefas mais difíceis para mim, mas com o tempo eu me especializaria nelas também. Os dias se tornaram meses. Os meses se tornaram anos. E, conforme minhas habilidades e conhecimento cresciam, também eu o fazia.

E, ao longo dos dois anos seguintes, também continuamos com nossa reforma da Fazenda. Acolhemos mais moradores na propriedade: Myriam, uma caçadora que pessoalmente pedira permissão para caçar os animais do bosque; Lance, um carpinteiro que havia sido despejado de sua casa em Boston e assaltado perto da Fazenda enquanto procurava uma nova moradia; e Warren e Prudence, um casal de fazendeiros que fora pressionado por soldados para entregar suas terras à Coroa. Sem terem onde morar, convenci Achilles a, um por um, permitir que vivessem e trabalhassem lá, contanto que pagassem a ele uma parte da produção. E logo as reformas aceleraram: Lance construía para a mansão móveis feitos com a lenha cortada por Godfrey e Terry. Myriam e eu caçávamos lebres, raposas, castores e outros animais silvestres nas propriedades da Fazenda. A plantação e os animais de Warren e Prudence proporcionavam comida para todos. Vendíamos o excedente das peles e alimentos a mercadores em cidades como Boston e Salem, o que gerou mais dinheiro a ser investido na reconstrução da mansão e do Aquila.

Eu aproveitava minhas estadias na cidade para enviar cartas para que Saksa:ri soubesse que eu estava bem. As cartas eram levadas por um mensageiro de Boston para Albany, onde em seguida eram direcionadas para meu pai adotivo nas terras iroquesas. Nelas eu contava sobre meu treinamento, sobre a Fazenda, Boston, Achilles... Dei-lhe informações para me contatar, e em poucas semanas recebi sua resposta. Pelo conteúdo da carta, ele se mostrou feliz que eu estivesse bem, e estimulou que eu prosseguisse o treinamento, para me tornar uma pessoa tão forte quanto minha mãe fora.

E de fato prossegui. O tempo passou e foi em Setembro de 1772 que o Sr. Faulkner anunciou que o Aquila estava enfim pronto para zarpar. À época eu já havia completado meus dezesseis anos, e a economia da Fazenda já era estável. Logicamente, eu me sentia obrigado a comparecer no píer para ver como estava a embarcação. Lá encontrei-o, contente ao contemplar o Aquila preso ao píer, conforme marujos iam e vinham na preparação. Ele aparentava ter cerca de cinquenta anos, o que era evidenciado pelos seus cabelos e barba brancos.

 — Connor, rapaz! — comentou Faulkner ao me ver. — Veja e me diga: ela não é linda?

 — Ela quem?

Ele se mostrou decepcionado.

 — Como assim “ela quem”... A Aquila, garoto! O Fantasma dos Mares do Norte ressurge em grande estilo! — completou, logo antes de beber um gole de seu caneco de cerveja.

 — Ah, sim. — Eu consenti. — De fato, é um barco imponente.

Faulkner cuspiu sua bebida subitamente.

 — B-ba-b-barco? A Aquila é um navio, puta merda, um maldito navio! — Ele exclamou, bravo. — Vou te perdoar porque sei que seu povo não costuma ver uma dessas, mas não se engane mais, ouviu?

Resignei-me.

 — Que seja. Mas o navio está pronto pra viajar?

 — Ah, se está! Pretendemos inaugurá-la hoje mesmo! Onde está o velho?

 — Achilles saiu para visitar um vilarejo próximo.

 — Ah, uma pena. Imaginei que talvez ele quisesse vê-la zarpando. — Ele em seguida virou-se para mim. — Mas e quanto a você? O que acha de ir conosco para a viagem de inauguração?

 — Como? Eu?

 — Mas é claro. Não é graças a você que a Aquila está em pé novamente? E, se o velho está te treinando pra ser um Assassino, por que não posso tentar tirar um marinheiro de dentro de você? A Aquila precisa de um capitão, e eu sempre preferi a posição de contramestre.

Ponderei por um momento.

 — Creio que Achilles não verá problema se eu deixar a Fazenda por um tempo. Mas capitão é um pouco demais para me atribuir.

 — Então não fique parado, rapaz! Vá fazer as suas malas! É um longo caminho até o Cabo Cod!

Coloquei os meus melhores casaco e chapéu. Cerca de uma hora mais tarde, Faulkner estava fazendo a última chamada para zarpar.

 — Suba a bordo e delicie seus olhos, garoto! — disse o marinheiro de seu navio, enquanto eu estava em pé no píer. Pisei na tábua que levava à embarcação. — Não, não, não! Não entre com o pé esquerdo! Má sorte horrível. Volte e depois pise primeiro com o pé direito.

Fiz o que ele mandou e andei até o convés. Olhei em volta, para os mastros altos e imponentes, as velas brancas e volumosas, os marujos que amarravam velas e que iam e vinham dos conveses inferiores.

 — Ele é... sólido — comentei.

Faulkner torceu o nariz.

 — Ela é sólida, rapaz. Trate navios com o pronome ela, porque navios são iguais a mulheres: impossíveis de entender, choram por qualquer coisa, quebram o seu coração e ainda te fazem voltar se arrastando e admitindo que a culpa foi sua.

 — Ahn... — murmurei, sem entender. — Bem, então ela parece boa.

 — Sim. Esguia e elegante, apesar do tamanho. Nos tempos da guerra, ela conseguia alcançar doze nós facilmente, mesmo em uma tempestade rigorosa. Nenhum navio desse tamanho, daqui até Singapura, poderia superar a Aquila em um dia de sorte. E agora, depois de dez anos ela volta das trevas! O que me diz de botá-la para navegar para que você veja do que essa belezinha é capaz?

 — Para onde iremos?

 — Como é de se imaginar, ela ainda precisa de canhões e de oficiais que os manejem. Conheço um lugar onde poderemos dar um trato no navio, e nos encontrar com uns chapas que eu conheço. — E, falando mais alto, para anunciar aos marujos: — Zarparemos para o sul, para a ilha de Martha's Vineyard! Lawrence, assuma o leme!

Os marinheiros gritaram um “Aye!” alegre. Faulkner tornou a falar:

 — Não se preocupe, Connor, me certificarei de que você pegará o jeito do mar.

Ele então começou a gritar para os marujos ordens em um vocabulário naval que eu não conhecia, mas que obviamente os dizia para colocar o navio a funcionar. E após alguns minutos o navio zarpava da baía de Davenport, com as velas cheias de ar, os marujos cantando e o Sr. Faulkner gargalhando ao lado do timão. Partíamos para o mar.


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Notas finais do capítulo

Eu queria aproveitar este espaço para agradecer a todas que comentaram, elogiaram ou estão acompanhando a fanfic. As opiniões e feedbacks de vocês são muito importantes! ^-^
Na semana que vem, Connor se aventura pelo mar e conhece um Templário importante em mais um capítulo baseado diretamente no jogo. Até lá!



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