Toda a sala se aquietou em um silêncio ensurdecedor. Em um movimento súbito, me levantei apressadamente pegando o celular em cima da mesa e corri em direção ao banheiro feminino do primeiro andar. Mais silêncio no corredor e três batidas ignoradas na porta. Não havia ninguém ali, nem o conselho estudantil ou qualquer outra pessoa que poderíamos julgar que talvez, em um momento desse, pudesse dar apoio. Não havia volta. Já estava feito.

"Meninas boas vão para o céu, meninas más vão para qualquer lugar", esse era o nosso código. O código 'estou com você não importa o que aconteça'. Um fino feixe de luz passou entre o pequeno espaço entre aberto da porta, empurrei cautelosamente me deparando com uma cena que eu não esperava. Giulia sentada no chão com a maquiagem toda borrada devido ao choro incessante, Louise ao lado, fitando o teto. Seus olhos tinham uma mistura de raiva, ódio e por um segundo, ameaça.

"Por que alguém faria...?", Giulia tentou falar mas seu soluço era bem mais alto.

Permaneci em silêncio.

"Vocês nunca tiveram curiosidade?", Louise perguntou com a voz dura.

"Do que?", perguntei sabendo do que ela falava.

"De saber quem é a Fofoqueira. Ela volta todos os anos. Ela continua indo e continua voltando. Some e reaparece sempre destruindo a vida de alguém, sem notar que uma notícia desencadeia inúmeros problemas e ela destrói... Ela destrói a nossa vida a troco de...", aí estava. As lágrimas de sangue que eu estava esperando. "A troco de nada.", a última parte saiu mais como um sussurro. Me arrependi quase que instantaneamente de ter enviado algo sobre elas. Eu poderia ter enviado a história sobre o Thomas e ter deixado isso pra depois, mas é claro que o veneno elimina minha capacidade de pensar como Blake.

"Não faz isso", Giulia falou mais calma. "Não culpa um blog pela nossa mentira.", entortei meu olhar pra ela quase de imediato. "Vocês não percebem? Ela não mente. Nós é que temos segredos demais. Somos nós."

"Giulia a sua mãe não sabia." Louise a olhou. "Os meus pais sabem mas os seus? Os seus vão matar você. Nós sabemos disso."

"E daí?", eu disse roubando a atenção das duas pra mim. Intercalei meu olhar entre as duas e me forcei a continuar, ignorando meu orgulho fofoqueiro e pela primeira vez, talvez, sendo amiga?, "Ninguém tem nada a ver com a vida de vocês. Qual é, então só por causa de sexualidade vocês viraram anormais? Vocês continuam sendo as rainhas dessa escola. Esse título é nosso. Ninguém pode tirar, nenhuma Fofoqueira ou qualquer curioso preconceituoso. Não percebem que essa notícia só torna vocês duas mais fortes? Mais divertidas, perigosas e sexy", sorri dando uma piscada sem vergonha e acabei tirando um sorriso das duas. "Nós somos as intocáveis."

Louise piscou diversas vezes como se tivesse acabado de ter a melhor ideia do mundo.

"Blake, é isso! É exatamente isso", Giulia e eu a olhamos sem entender. "Nós vamos descobrir quem é a Fofoqueira, nós podemos, temos acesso", droga.

"Nós já tentamos e deu bem errado", Giulia disse e eu a encarei.

Eu não sabia que elas tinham tentado. O que eu deixei passar?

"O IP dela é bloqueado. Tudo dela é bloqueado e o blog conta com várias muralhas impossíveis de derrubar. Ela é daqui mas sabe tudo sobre tudo. Ela conhece os podres da escola mas também os podres da cidade, ela sabe mais sobre os nossos pais do que nós mesmas", Louise falou pensativa.

"Ela tem olhos em todos os lugares", eu disse dando de ombros.

"Não, ela só pode ter ajudantes. Ela precisa ter. Ela não daria conta de tudo sozinha", você acha? Sorri com o quanto ela estava errada. Eu não precisava de ajudantes. Eu só precisava entrar no sistema da cidade, incluindo motéis e fim, nenhuma muralha de proteção é tão forte que não dê pra derrubar.

Meu celular guardado entre o sutiã vibrou. Do lado de fora, se ouvia passos.

"Será que Thalia e Heloísa vão nos ajudar?", Giulia me olhou.

"Não sei, sinceramente. Elas pareciam... chocadas demais pra dizer qualquer coisa"

"Nós precisamos de um plano." Louise disse firme.

...

Fofoqueira.Com

Parece que nossas badgirls resolveram entrar para o esquadrão suicida na inútil tentativa de descobrir quem eu sou. No páreo a páreo, vocês sempre vão perder.

Se intitulam rainhas, mas eu as fiz. Caiu do trono uma vez, cairá duas. Não posso fazê-las me amar, mas com certeza vocês não me querem como inimiga. Então posso fazê-las me temer.

Querem guerra? Terão. Afastem-se todos. B, G e L compraram uma briga e ninguém vai querer estar por perto sentindo os estilhaços. Parece que finalmente nossas Queens saíram do castelo e veja bem, a Fofoqueira adora uma boa briga de gato.

Sejam tóxicos.
XoXo, fofoqueira.

Programei a postagem logo após ter recebido a gravação da nossa conversa no banheiro. É incrível como fazer parte disso me torna tão vulnerável a qualquer pessoa puxa saco. As meninas foram embora com a permissão da diretoria, elas tinham muito o que resolver em casa. Eu sentei em um banco do pátio onde ninguém sentava. As portas das salas se abriram e pude escutar o tamborilar dos pés descendo as escadas para o intervalo. Quando o pátio estava cheio, o falatório sessou ao ouvir o bipar de todos os celulares. Eles encaravam uns aos outros como se procurassem por nós, meticulosamente eu me levantei e pedi espaço para passar. Eles abriram, todos me olhando como se procurassem respostas. Abri o meu melhor sorriso com uma única coisa no pensamento.

Eu estou fadada a descobrir a minha própria identidade.

Logo na saída, alguém esbarrou forte em mim atraindo a atenção de alguns. Olhei pra trás extremamente estressada e logo me contive ao ver quem era. Lucca.

"Ei, foi mal, eu estava lendo uma mensagem e não vi você...", o interrompi.

"Pois deveria, seu celular não tem olho por você e não quero outro esbarrão desse na minha lista.", disse indiferente.

"Eita, Blake! Como sempre muito amorosa.", ouvi-lo falar meu nome me irritou mais do que o normal. Sua voz tinha mudado, estava grossa e continha uma ironia quase que imperceptível. Eu reconheceria aquele jeito de falar em qualquer lugar.

"Nunca fui conhecida pela minha caridade. Mas então, um pedido de desculpas por ter quase deslocado o meu ombro?", ele abriu um lindo sorriso de lado e eu quase me esqueci como ficar de pé. Calma, Blake. Respira. Tá tudo bem.

"Desculpa, ok? Não vai se repetir.", ele deu de ombros e quando eu estava prestes a me virar pra ir embora, ele me puxou de volta e limpou algo na minha blusa.

"Estava sujo ali. Aliás, o tempo te fez bem. Muito bem. Quero conversar com você, posso te encontrar na sua casa daqui à 1h?"

Olhei pra ele incrédula.

"O que te faz achar que eu convido qualquer pessoa pra entrar na minha casa?"

"O fato de eu não ser qualquer pessoa?", balancei a cabeça negativamente o encarando.

"Você não mudou nada."

"E você mudou tudo." Ele disse com o olhar vazio.

Virei as costas o ignorando. Precisava me livrar daquele tanto de coisa que eu estava sentindo na presença dele. Como se eu quisesse conversar ou precisasse de alguma explicação sobre o que ele fez.

A inbox do blog estava cheia. As últimas fotos eram fotos minhas com o Lucca. Bufei de raiva com a situação. A maioria perguntando quem ele era e dizendo o quão bonito parece ser de perto. Ótimo, acabei de promover meu ex melhor amigo a alguém acessível no colégio. Tudo que eu precisava. Mas pensando bem...

Fofoqueira.Com

Flagrados

O garoto novo com a elitizada B.

Ver uma menina malvada falando com alguém novo é surpreendente, já que seu círculo de amizade se resume a pessoas do mesmo nível que seu universo permite. Mas o que esses olhares têm para nos contar? Algo me diz que eles já foram cruzados antes, afinal, nosso lobo solitário tem razão.

Blake mudou tudo. E com toda sorte, para melhor.

Alec que se cuide. Aguardem os próximos capítulos.

Sejam tóxicos.

XoXo, fofoqueira.

Lucca sempre odiou esse mundo, e pela forma como me olhou, continua. Essa vai ser a minha vingança. Vou tornar a vida dele um inferno cheio de menininhas carentes procurando um par. Antes, eu era a melhor amiga dele. Hoje, não nos conhecemos mais. Se ele soubesse no passado quem eu me tornaria, jamais teria entrado em meu caminho.

Fechei o notebook e abri um sorriso perverso. Esse ano promete.