A filha do louco escrita por Loressa G M


Capítulo 6
Um príncipe e seu castelo


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem a demora. Mudei de escola recentemente, e até agora não encontrei tempo para postar no meu dia a dia. Espero que tenham paciência comigo kk. Irei me organizar, prometo.



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  Realmente, era uma casa. Uma imensa e protegida casa.

  Paramos em frente à entrada do que parece mais ser uma fortaleza do que uma casa propriamente dita. A ideia de alguém ter feito algo tão protegido sem saber que haveria um apocalipse me fornece duas sensações opostas. Uma é medo, talvez morasse, ou mora, nessa residência pessoas perturbadas, loucas. A outra é ansiedade, quem construiu um lar assim para sua família pode muito bem ser um bilionário que possuía inimigos sedentos por seu dinheiro e queria apenas proteger sua família, e a si mesmo. A última opção significaria a nós conforto, algo que não temos a tempos.

  Examino a entrada com cautela, enormes muros cinzas, mas que não se acabam em um teto, o que indica a existência de um jardim antes da casa principal. Flores murchas decoram o chão de entrada, deviam ser tão lindas antes... Finalmente, encontro algo útil, perto do enorme portão eletrônico branco, há um pequeno buraco redondo, uma provável câmera de segurança avançada.

  Cafira se finca no chão ao meu lado cruzando seus braços.

  – Achou a mesma coisa que eu? – Pergunta ela, apontando com a cabeça para a possível câmera. Confirmo com um sorriso. – Então também deve ter pensado a mesma coisa.

  – Não, Cafira... e se apenas chamarmos a atenção de zumbis? Não é meio imprudente...

  Ela mal esperara eu terminar minha fala, sabia que eu agiria diferente. Minha irmã retira a arma de sua mochila, aponta e atira no portão, sobre alguns protestos, predominantemente vindos de Adrien.

  Entretanto, dera certo. O que parecia uma caixa de correio na parede se abrira sozinha, levantando sua tampa devagar como um mecanismo, pelo visto, tudo aqui tem sua parcela de tecnologia. Dentro dela, havia um interfone, Cafira se aproximou e tocou-o.

  – Quem são vocês? – Pergunta uma voz masculina, incrivelmente satisfatória para meus ouvidos 

  Cafira também a achara sexy, pude perceber em sua reação espantosa, porém, diferente de todas as outras vezes, não foi somente nós que pensamos a mesma coisa, Alex se aproxima da garota, enroscando seus braços envolta de sua fina cintura, e pousando seu queixo entre os fios castanhos arruivados nos ombros dela.

  – Ciumento! – sussurro para Seiji, o qual compartilha de meu sorriso

  – Não vê em sua câmera? – Pergunta Cafira olhando para o objeto

  – Ok, vocês me pegaram. – Eu bem que queria...— Vejo que têm crianças, não posso deixa-las nesse deserto... mas como saberei que não estão infectados?

  – Nós temos a cura – Minto, dando alguns passos à frente para responder à voz sedutora – Fora assim que sobrevivemos, no refúgio.

  Ele engole em seco do outro lado do interfone, e espera alguns segundos para voltar a falar.

  Então, as pessoas, pelo menos algumas delas, souberam dos refúgios.

  – Sempre disse para meu vizinho que deveríamos pedir ajuda lá, aquele velho nunca me ouvia – aquela voz meio rouca, porém jovem, parecia ter seu toque de amargura ao dizer a palavra “vizinho”.

  – Que vizinho?! – pergunta Alex, olhando ao seu redor. Não há casa alguma, nem vestígios de uma rua, apenas areia

  – Ah! Havia me esquecido de como está aí fora. Talvez um pouco abaixo da areia – Responde o homem do interfone. Cafira se solta “das garras” de seu namorado, e escava com um pote de comida vazio de sua mochila a areia, até encontrar um golfinho de pelúcia, sujo e sem um dos olhos de botão – Digamos que algumas pessoas... enlouqueceram. Sorte a minha de ter uma casa impenetrável. 

  – E você deixou todos eles morrerem? – Pergunta Adrien, apertando sua filha contra o peito

  – Que tipo de homem eu seria se fizesse isso? – A voz rouca e acalorada volta a ser sexy para mim – Salvei muita gente. Mas... alguns se transformaram.

  A questão do tipo sanguíneo. Que droga.

  – Podemos entrar? – Pergunto, arrumando o cabelo com as mãos. Percebo Seiji me lançar um olhar inquieto. – Que foi? – Viro-me em sua direção, deixando-o quase corado.

  – Nada – reponde inutilmente

  O portão abre até a metade, e entramos. A um caminho de pedras decorativas até a porta da frente, ao nosso redor árvores frutíferas e pequeninas plantações colorem o jardim. Enquanto encanto-me com aquele local, o portão se fecha totalmente, e, ao tentar tocar em uma rosa, bato no vidro fortificado.

  O ambiente começa a tornar-se mais denso, um gás invade minhas narinas. Ouço alguns gritos, e caio ao chão.

 

  Acordo em uma saleta totalmente branca e incrivelmente limpa. Estou amarrada em uma cadeira da mesma cor, e com uma grande mesa à minha frente. Tudo é tão branco, que minha visão demora um pouco para se acostumar.

  – O garotinho não parece ter medo de armas – A porta à frente da mesa se abre, um homem de dezenove ou vinte anos sorri para mim, o dono daquela voz.

  Não tenho tempo de focar minha visão em sua aparência, quando raciocínio suas palavras – deixando de lado meus devaneios com seu timbre – logo percebo de quem se trata.

— Billy nunca assistiu filmes, não sabe o que armas fazem – viro-me desesperadamente para a direita, onde o pestinha brinca com um revólver colocando-o na boca.

  Prendo a respiração

  – O que elas fazem? – pergunta ele, examinando o cano babado

  Como vou explicar para ele? Pensa Milena, pensa.

  – Billy, lembra da história da bela adormecida? – pergunto, tentando resgatar em meu interior toda a calma que nunca usei

  – Lembro! – Ele parece prestar completa atenção em minhas palavras

  – Armas são como a agulha da máquina de fiar que ela tocou, se o que sair delas encostar em você... você adormece – Billy solta a arma imediatamente, graças a forças maiores ela não dispara – Isso mesmo, não toque nem se aproxime delas, principalmente se estiverem nas mãos de algum desconhecido.

  Ouço um risadinha vinda da porta

  – Não se preocupe guerreira, não "adormeço" crianças, nunca o faria ­– ele se aproxima de mim com um enorme sorriso – Essa arma é falsa. Ele queria muito a que estava em minha cintura, então dei a ele. Servia só para espantar ladrões, nunca toquei em uma de verdade.

  – Você me assustou! – Volto a respirar normalmente, enquanto ele me desamarra.

  – Desculpa pelo incômodo. Tive que fazer alguns exames para ter certeza que nenhum de vocês estavam infectados – Ele libera meus braços, a corda não deixou marca alguma – Sabe, depois que perdi... algumas pessoas, não posso correr mais riscos.

  Ele termina de desamarrar minhas pernas. Com certeza um zumbi não escaparia de uma corda dessa, apesar de não ferir, ela é altamente resistente. Ele levanta seu olhar para mim.

  Seus olhos castanhos possuem um brilho intenso, seu cabelo, de mesma cor, levemente bagunçado oferece a mim a impressão de alguém descontraído, e seu sorriso... não há como descrever um sorriso como aquele.

  Ele abre a boca. Na minha cabeça, ele diz que eu sou a garota que ele sonhava, me beija, e me arrasta para fora daquela cadeira até encontramos com a parede, mas na realidade:

  – Você está bem? – balanço a cabeça como uma idiota quase babando – Vamos, os outros já estão jantando.

  Jantando?

   Ele percebe minha cara de interrogação. A muito tempo não recebo um jantar de boas-vindas. Billy por outro lado, nem sabe o que é um jantar de verdade.

  Ele me conduz pelo corredor até a porta da sala de jantares, Billy quase voa para dentro, esbarrando a cabeça nos joelhos meus e do cara do interfone.

  – Que grosseria a minha – Forço-me a parar de olhar para as costeletas ao centro da longa mesa a luz de velas. Milena, uma gostosura de cada vez. Olho para o jovem homem ao meu lado – Meu nome é Caian Bryant. Qual seria o seu senhorita?

  – Milena Wood – Abro um inevitável sorriso retribuindo o dele.

  Quem diria, o mundo teve que acabar para eu conseguir achar o cara dos meus sonhos. Ele é lindo, simpático, tem uma linda casa, e o principal hoje em dia, ainda está vivo.

  – Posso te chamar de Mile? – Ele faz um gesto para seguir para a sala de jantares logo após eu confirmar com a cabeça.

  Sento entre minha irmã e Billy. Começo a me servir rapidamente, comendo como uma desesperada. Que saudades eu tinha de comer carne. No refúgio, nós comíamos porco apenas no Natal. Animais fariam muito escândalo, poderiam atrair a atenção de zumbis, já vegetais e comidas embaladas não fazem muito o gosto dos mortos vivos.

  – Essa carne parece fresca. Como conseguiu ela em pleno apocalipse? – Adrien pergunta com uma mão em frente a boca, disfarçando que ainda mastigava.

  – Meus pais tinham uma criação de Equinos. Restaram apenas dois após esse jantar. – Todas as atenções se voltam para o rapaz, ao qual não parece ter grande apetite como o restante da mesa.

  – Oh. Isso explica o gosto diferente – diz Cafira. Meu olhar percorre de um a outro na mesa, mas não posso falar nada, fui a última a se juntar, ainda tenho muita fome a saciar.  

  Billy parece não comer a carne, apenas alguns outros alimentos – aos quais jurava que eram apenas enfeites nas bandejas. Seiji deixa de olhar fixamente seu prato para direciona-lo a Caian.

  – Por que vive sozinho? – Ele pergunta, prendendo até mesmo a minha atenção. Ansiamos pela resposta de Caian, entretanto, vendo seus olhos quase lacrimejarem, perco minha vontade de saber.

  – Éramos apenas eu, meu irmão mais novo, e nossos pais. – Seu olhar parece perdido em meio a mesa – Mas... com o início do apocalipse, meus pais decidiram abrigar a vizinhança. Nossa casa era a única segura o bastante. Nada poderia entrar.

  – Mas alguém se transformou... – Diz meu melhor amigo de cabeça baixa.

  O galã com passado triste confirma com a cabeça.

  – Como sabem? – Ele percebe nossos entreolhares.

  Seiji retira do bolso a máscara e a coloca. Ele achou que um lugar fechado como esse não teria risco algum, também achava, estávamos errados.

  – Há um tipo sanguíneo que é mais vulnerável ao vírus – Empurro meu prato, nunca havia comido tão rápido em toda a minha vida – Por esse motivo Seiji tem que usar essa máscara. Pessoas do tipo sanguíneo “O”.

  – Espera... – Caian parece confirmar algo que sempre acreditara em sua mente – Meus pais sofreram um acidente, eu era bem novo, porém, já me interessava por esse assunto. Eu me lembro muito bem, meu pai era “AB” e minha mãe “A”, eu nasci com o mesmo de meu pai, entretanto, assim como meu vizinho, meu irmão também se transformou sem mordidas. – ele levanta o cenho – Quem diria, meu pai estava certo, mamãe havia pulado a cerca, literalmente.

  Todos nos entreolhamos, querendo saber o final da história. Ele percebe.

  – Vocês são curiosos "ein" – ele abre aquele sorriso, que juro, ele me olhou de canto de olho ao fazê-lo – Enfim, assim que meu vizinho se transformou, eu e meus pais isolamos a área em que ele estava... acabamos descobrindo que ainda havia duas pessoas vivas lá da pior maneira. – seu olhar se perde novamente, mas dessa vez é diferente, é como se ele... Pare Milena! Ele é um homem bom. — Depois de alguns dias, tomamos coragem e limpamos a área. Restavam eu, meus pais, meu irmão, e mais três pessoas. E quando todos achávamos que o pesadelo tinha acabado, meu irmãozinho se transformou. Eu...

  Ele parece abalado, ninguém mais o olha com atenção, apenas fixam seus olhares nos pratos vazios ou direcionam olhares de compaixão. Mesmo assim, exceto Billy e Kath, todas as outras pessoas ouvem a história claramente.

  – Eu não consegui matá-lo, fui fraco. Eu e meus pais, nenhum de nós o impediu. – ele aperta as mãos – Eu fui um completo covarde, e quando me vi sozinho... aí sim tive coragem de matá-lo, a ele e a todos os outros zumbis. Já era tarde demais, eu estava sozinho.

 

  – Sei que não compensa, caramba eles eram sua família, mas... Caian, a partir de agora, você tem a nós – Digo a ele quando todos já saiam da sala, apenas ele e Cafira escutaram.

  Ficamos nos olhando por um tempo, esperando que todos – incluindo minha irmã – saíssem. E então ele me abraça. Seus braços se envolvem em minhas costas, talvez tudo que ele precisasse agora era disso.

  – Éramos em vinte, perdemos muitos familiares há alguns dias. Mesmo assim, nunca passamos uma noite que fosse sozinhos. – nos afastamos para nos olharmos nos olhos novamente – Quanto tempo foi?

  – Três meses – Meus olhos se arregalam, ele deixa transparecer um pequeno sorriso – Não estava sozinho, tinha minhas pinturas e meus cavalos. Além de que, tudo aqui é tecnológico, podia falar com a geladeira sempre que quisesse.

  Rio um pouco. Ele parece contente em ver alguém rindo.

  – Também sempre tive minhas músicas. – ele hesita por um momento – Quer ouvir qualquer dia desses?

  Faço que sim com a cabeça e me despeço, seguindo em direção ao meu novo quarto. Há cinco quartos nessa casa, mesmo assim preferimos não ficarmos tão separados. Billy, Kath e Adam dormem comigo e Cafira, enquanto Seiji e Alex com Adrien e sua filha, a qual agora tem o berço mais lindo que já vira.


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Notas finais do capítulo

Ps: Será mesmo um conto de fadas?...
Deixo no ar a dúvida.



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