A filha do louco escrita por Loressa G M


Capítulo 3
Em perigo




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  – Não. Não! – os gritos de Thomas me acordam

  O sol escaldante ocupa toda a minha visão, sinto minha pele queimar debaixo dele.

  Pergunto o que se passa, as palavras se perdem junto com os grãos de areia ao vento, mas chegam até meu pai.

  – Aquele maldito, ele matou um de nós e ainda arrancou parte do jipe, quebrando os frascos que eu trouxe do antidoto – ele chuta o pneu do carro – teremos que seguir a pé, e sem a cura.

  Imagens ao meu redor começavam a tomar formas, ainda não acostumada com a luminosidade vejo Cafira andando em círculos e repetindo as mesmas palavras “Allie está morta, Allie morreu”. Minha irmã sempre foi mais apegada à prima, talvez por se conhecerem a mais tempo, sempre foram as mais velhas. Ver uma pessoa tão próxima ser devorada no banco ao lado do seu não deve ser algo agradável.

  Adrien também parece repetir uma frase, tento distinguir as palavras, mas o som é muito baixo para conseguir entender completamente. Algo sobre sua esposa grávida e a possibilidade de um daqueles bicho derrubar os portões.

  – Se acalmem – digo com a voz de quem acabara de acordar, entretanto, ninguém presta atenção, continuando seus múrmuros – Me ouçam!

  As atenções de todos se voltam para mim.

  – Cafira, eu vi o que aconteceu com nossa prima, e agradeço por você ter segurado as pontas naquele momento, e não paralisado como eu. Mas não é hora para pirar agora! – seus olhos castanhos se arregalam. Percebo que gritei na última frase. Então suspiro, e continuo calmamente – eu preciso de você.

  – Milena... – O policial me olha, também pasmo.

  Ele precisa mesmo usar as antigas roupas de quando era policial de verdade?

  – Adrien, eu não posso te garantir que quando voltarmos tudo estará bem. Muito menos que aquele monstro nunca irá invadir o refúgio. Entretanto, posso te garantir que quanto mais demorarmos, menores são as chances de um final feliz. – os olhos dele se parecem com uma piscina. Rasa, e sem vida – E pai. Somos em dois homens e duas jovens saudáveis, com armas, água e mantimentos. Não será tão difícil voltarmos para casa. – a cor de seus olhos combinam com o que eles representam agora, esperança.

  Esperança; Casa. Duas palavras que não ouvia de mim a muito tempo.

  Meu pai se aproxima e me abraça.

 – O que faríamos sem você? – Ele me solta. E com um sinal com a cabeça chama sua outra filha – Reformulando. O que eu faria sem vocês.

  Enquanto temos um momento família, Adrien se afasta e começa a reparar em uma parte do veículo.

  — Thomas. Melhor dar uma olhadinha aqui. – o policial olha fixamente para algo preso no para-choque traseiro do Jipe

  Todos nos aproximamos dele. Sigo seu olhar. A cabeça daquele monstro ainda está viva, ele morde a lataria do carro, se segurando, firme. Ao nos ver, imediatamente ele se solta, caindo ao chão e mordendo o ar.

  Essa é uma prova de que a evolução deles não também não pensa. Se aquilo pensasse, mesmo que minimamente, esperaria nossa curiosidade nos fazer aproximarmos, ou qualquer coisa do tipo, para depois atacar.

  Meu pai retira sua espada das costas e a crava no crânio do monstro. Depois se agacha para pegá-lo e o segura entre os dedos, examinando-o. Reparo provavelmente no mesmo que Thomas, o crânio do monstro não é igual a de um humano.

  – Isso realmente é uma evolução. Por não precisar de um cérebro, a parte superior do crânio diminuiu, enquanto as mandíbulas são bem maiores do que as humanas. – Ele encara a cabeça do zumbi como se fosse um troféu. Consigo ver os olhos brancos, com cada risco negro, sendo refletidos na íris verdes de meu pai.

  Tudo que vejo nos olhos de Thomas parece ter sua porcentagem de esperança. Não sei o que ele tem em mente, mas se bem o conheço, será a solução de nossos problemas.

 

  Começamos a caminhar, meu pai e Adrien carregando a maior parte dos suprimentos, Cafira com a espada em mãos, eu apenas observo tudo ao meu redor. Não quero que outro grupo de zumbis sejam percebidos tarde demais.

  Entretanto, olhando para o vasto deserto, penso no quão errado meu pai estava sobre o apocalipse, principalmente sobre o início dele. Thomas achava que o vírus agiria mais rápido do que a humanidade, ele fez com que pudesse ser transmitido por qualquer excremento, e, durante os primeiros dez meses, também pelo ar. Ele poupou as terras e as águas, já a humanidade não.

  Bombas nucleares foram lançadas em várias partes do mundo, uma delas transformando grande parte da Suécia em um extenso deserto de areia radioativa. Por sorte, a bomba foi lançada bem longe do refúgio, sendo capaz apenas de desertificar o lado exterior de onde moramos. As vezes tenho saudades de quando o mundo não era tão quente, tampouco tão perigoso.

  – Milena! – Um garoto de cabelos castanhos corre em nossa direção, tropeçando em montinhos de areia – Cafira! Thomas!

  Seu braço parece escorrer sangue através de uma faixa médica. Ele se aproxima mais, confirmando seu braço ensanguentado.

  – Sheiji, o que aconteceu? – Cafira pergunta desesperada. Não sei se ela aguenta mais uma tragédia. Talvez por também conhece-la, Sheiji direciona seu olhar a mim.

  – Precisamos de ajuda – ele ofega antes de desmaiar.

  Seguro-o em meus braços para evitar que caia. Thomas e Adrien rapidamente me ajudam, colocando o garoto na areia, com a mochila de Allie abaixo de sua cabeça. Pego uma garrafa d’água em minha mochila e respingo um pouco do conteúdo no rosto do japonês. Ele acorda, não muito consciente.

  Eu e minha irmã perguntamos sobre o que aconteceu ao mesmo tempo, enquanto o policial parece compreender o que todos supomos, e corre em direção ao refúgio. Meu pai olha para ele, depois volta seus olhos verdes para nós três.

  – Eu preciso ajudá-lo, ele irá morrer em poucos minutos sozinho – Eu e Cafira concordamos, enquanto Sheiji ainda parece inconsciente. Entretanto, Thomas não se move – Eu tenho que contar um segredo a vocês, algo que guardei durante esses três anos.

  Os olhos de minha irmã parecem como de gatos tentando entender uma conversa humana, tão perdidos quanto os meus.

  – Ouçam. Se eu criei esse mundo apocalíptico, assim como tudo que fiz na minha vida toda, foi para proteger vocês. Nunca as colocaria em risco – Ele fecha os olhos e suspira para se acalmar – Vocês são imunes. – diz ele simplesmente.

  Antes que eu e Cafira pudéssemos fazer qualquer questionamento, nosso pai beija a testa de cada uma e sai correndo para salvar o amigo de uma missão suicida.

  – Imunes... – repete Sheiji, retomando sua consciência – Quer dizer que o vírus que ele fez não as afeta? Por isso do lance do sangue contrário aos seus?

  Concordo repetidamente com a cabeça, enquanto milhares de lembranças passam por minha mente. Porém, Cafira reage diferente de mim, como sempre.

  Ela retira sua espada das costas e estende a outra mão ao garoto sentado no deserto. Logo após ela o levantar, a garota pega a máscara de Sheiji e a devolve.

  – Se eu e Milena somos imunes, talvez tenhamos mais facilidade para combater aqueles monstros – Seus olhos castanhos me encaram, esperando a confirmação de que eu a ajudarei.

  – Acreditem em mim, se aquela coisa morderem vocês, não atingirá apenas os vasos sanguíneos – Sheiji ergue seu braço enfaixado, mostrando-nos – Isso aqui foi o Tio-mian.

  Ele...

  Também está morto.

  Será que... Mãe? Billy?

~Esperança é o que nos resta


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