A Phantom Troupe's Secret Santa escrita por Myara, Drafter


Capítulo 1
Pakunoda


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Myara



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— Você já ouviu falar na lendária Flauta de Gyudondond?

A mão dela apertou a coxa direita do homem que estava sentado próximo a ela enquanto ela o olhava nos olhos com intensidade. Ele se remexeu na cadeira do café onde estavam, levemente desconcertado, mas certamente animado com a abordagem dela. A mulher, muito embora não fosse de uma beleza convencional, tinha formas esculturais e portava-se com segurança e sensualidade. Apresentara-se como Pro Hunter, arqueóloga, certamente apaixonada pelo que fazia e deveras interessada na história e nas relíquias daquela tribo extinta. Ele era um simples curador, que decerto sabia sobre o que ela estava falando, mas não poderia possuir tal tesouro para si mesmo - a raridade do item, único em todos os sentidos, fazia seu valor ser astronômico. Talvez nem mesmo uma Hunter conseguiria adquiri-lo sem ter feito economias antes.

Ainda assim, tivera contato com o item recentemente, pois seu cliente mais importante desejava-o para sua coleção particular e, com sucesso, o artefato encontrava-se agora no cofre de sua residência, sob uma redoma. Não achou que seria ético para com o seu cliente declarar isso a ela, no entanto. Poderia mantê-la interessada com outras histórias.

— Dizem que o som dela é mágico, que ouvir sua música é como ouvir as estrelas valsando no céu, mas infelizmente nunca cheguei perto deste artefato. - Ele sorriu de forma nervosa, tentando ocultar a mentira. - Você gosta de música? Uma vez eu estive prestes a conseguir a partitura da Sonata das Trevas, mas…

— Onde mora o seu cliente, o dono da Flauta?

Ela perguntou, com a mão tão firme sobre sua perna que seria impossível para ele fugir de seu toque. Não que conseguisse se mover diante de tal repentina e assustadora pergunta. Ela sabia de tudo; sabia exatamente o que estava fazendo. E ele deveria proteger o seu cliente. Um filete de suor escorreu de sua têmpora, e o sorriso nervoso aumentou em sua face, perante o olhar fixo e confiante dela.

— Olha, eu não sei do que está falando - riu, tentando acreditar que aquilo fosse uma brincadeira.

Ela sorriu placidamente e tirou a mão da coxa dele, recostando-se de volta à própria cadeira como se estivesse satisfeita, e por um breve momento ele se sentiu aliviado. Talvez tivesse sido um teste. Talvez seu próprio cliente a mandara para ver se podia confiar nele ou não.

— Eu diria que não você não deveria ter mentido, mas sinceramente, não faria diferença. - Ela deu de ombros ao proferir aquela sentença enigmática, e levantou-se logo após, sem permitir que ele lhe desse uma resposta, muito embora não houvesse resposta para aquilo.

Não sentiu de imediato, mas alguns segundos após ela ter se afastado, sua camisa encheu-se de sangue.

(...)

Não foi fácil chegar até ali. O número de pessoas que tivera que eliminar foi mais alto do que planejara inicialmente, e talvez sua ação solitária chamasse a atenção de seus colegas, revelando suas intenções. Porém, aquela era uma preocupação que deveria deixar para depois. Naquele momento, focava-se em descobrir o segredo do cofre, tocando no disco e tentando extrair de sua memória a combinação numérica que o fazia destravar a porta. Um erro, e não conseguiria mais abri-la.

Fechou os olhos e focou-se, vindo à sua mente não números, mas movimentos. Eram as voltas que aquele disco deu nos últimos tempos. Repassou aquele movimento em sua mente várias vezes para se certificar de que seu ritmo estava correto. Não queria falhar, por si mesma e por seu amigo.

Finalmente os dedos moveram o disco no ritmo que ensaiou mentalmente, e a cada pequena, quase imperceptível confirmação sonora, ela deixava o ar escapar de seus pulmões em alívio. A certeza veio quando a porta moveu-se livre em sua mão. Dentro daquele cofre, diversas relíquias valiosas dividiam espaço com a redoma de vidro onde jazia o objeto desejado. Ela ignorou todas elas e, cuidadosamente, puxou somente o receptáculo de vidro com a Flauta de Gyudondond para si, levando-o até a mesa, onde poderia analisar se era verdadeira.

O instrumento não era belo ou elaborado. Parecia, na verdade, um pequeno e rústico cilindro feito da madeira bruta de uma árvore com diversos orifícios a percorrer sua extensão, mas não como uma flauta normal. Ela imaginou como se tirava música daquilo, uma vez que não havia um bocal. Será que de fato aquilo tocava uma valsa de estrelas?

Foi quando levantou o vidro e tocou na peça de madeira que finalmente saiu do reino da curiosidade e da dúvida e acessou certezas com uma força vertiginosa. Mais do que ouvir, ela sentiu a música percorrendo seu corpo, e soando através dele em uma canção poderosa e indecifrável. Ela compreendeu como o instrumento funcionava: era como seu amigo, apesar da aparência, necessitava de movimentos graciosos, gentis e belos para que se extraísse sua encantadora mágica. Era, até aquele momento, a memória mais emocionante que havia conseguido ler.

E quando saiu do transe, sentiu lágrimas escorrendo em seu rosto, e teve que voltar o objeto em sua redoma para recompor-se.

Bonolenov certamente iria gostar de seu presente.


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