Além do Espelho escrita por Moon


Capítulo 3
Uma busca qualquer


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou um pouco mais curto que o anterior, mas ele tem uma carga emocional enorme. Espero que gostem ^^



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Charlie desejava que seu sonho fosse sua vida real. Ou que a sua vida real fosse um sonho. Talvez até pudesse ser, porque tudo que estava acontecendo definitivamente não parecia ser real. Seus pais haviam sumido. Havia cacos de vidro espalhados pelo chão do quarto onde eles deveriam estar. Ela não sabia o que fazer; estava totalmente desnorteada com tudo que estava acontecendo, e por um tempo, tudo que ela fez foi sentar na frente do quarto de seus pais e desejar acordar logo. Então, ela percebeu que aquilo infelizmente não aconteceria. Não era um sonho como os outros.

Então, ela pegou o telefone e ligou novamente para Alice. Já eram seis da manhã, e a essa hora ela já devia estar se arrumando para ir à escola. Ouviu três toques até que a sua amiga acordou.

— Bom dia, já é a segunda vez que você me acorda essa noite. Se bem que já está de dia e se você não me ligasse eu me atrasaria mas mesmo assim, tá ficando difí...

— Meus pais sumiram

— ...cil de ser sua... O quê?

Então Charlie contou toda a história para ela, que acabou totalmente estupefata.

— Chego aí em vinte minutos.

Assim como dito, Alice estava na sua casa em um pouco menos de vinte minutos. Ela parecia um pouco abalada, como se tivesse percorrido todo o caminho pensando em como havia tratado sua amiga na noite anterior, mas como ela poderia saber o que aconteceu? Além do mais, havia mentido para os próprios pais dizendo que não precisava de carona, só para poder ver como sua amiga estava. E pedir desculpas por ter agido daquele jeito. Depois de entrar e dar um abraço apertado em sua amiga, ela perguntou como tudo havia acontecido, e Charlie contou toda a história de novo, desde o primeiro sonho até quando percebeu que seus pais haviam sumido.

— Vamos procurar pistas no quarto dos seus pais então.

Então as duas subiram as escadas e foram até o quarto dos pais de Charlie, que estava intocado o incidente. Havia muitos cacos de vidro espalhados pelo chão, e aparentemente, nenhuma pista de como os pais de Charlie haviam desaparecido.

— Talvez eles só não tenham voltado pra casa – Disse Alice – Ou eles foram viajar, te avisaram e você esqueceu, ou eles podem ter sofrido um acidente de carro quando estavam indo fazer compras... são infinitas possibilidades.

— Minha mãe nunca sairia e deixaria a cama desarrumada desse jeito. Se ela tivesse ido viajar com meu pai, e me avisado, eu com certeza não teria esquecido; mas a hipótese do acidente de carro é aceitável.

 Então as duas procuraram o nome e telefone de todos os hospitais gerais em um raio de 20 quilômetros da casa de Charlie, e ligaram para cada um deles perguntando sobre Noemi e Leonardo Alves, sem nenhum retorno. Seus pais sempre saíam com seus documentos, então nunca dariam entrada num hospital como indigentes. Mesmo assim, Charlie deu uma revista na casa procurando pelos documentos dos seus pais, só para garantir. Os da sua mãe estavam sobre a estante da sala, e ela não encontrou os de seu pai, nem os do carro. Desceu até a garagem, e o carro não estava lá.

— Tudo isso parece muito estranho, de verdade. – Disse Charlie. – Meus pais tem padrões em tudo que fazem, como o negócio de sair sempre com os documentos, e nunca deixar a casa desarrumada. É como se eles houvessem saído às pressas.

— E como os documentos da sua mãe estão aqui, é melhor nós irmos ao hospital. Talvez ela tenha saído andando mesmo, e tenha acontecido algo com ela no caminho. Talvez tenha acontecido algo com eles mesmo mas acabou de me ocorrer uma coisa. Charlie... você tentou ligar para o telefone deles?

As palavras não eram capazes de expressar o quanto Charlie ficou aliviada ao ouvir aquilo. Ela parecia tão idiota, olhando por esse lado. Ficou tão assustada por causa de seus sonhos que nem cogitou a possibilidade de tentar entrar em contato com os seus pais, que era a primeira coisa que deveria ter feito. Deu um sorriso amarelo para Alice, que revirou os olhos. Pegou o celular e discou o número de seu pai, certa de que ele atenderia e explicaria tudo que estava acontecendo, já que ele era uma pessoa muito atenta ao celular sempre. Mas não foi o que aconteceu. A chamada foi logo para a caixa postal, nas cinco vezes em que Charlie ligou para ele. Deixou um recado, pedindo para ele entrar em contato imediatamente após ouvir aquilo e desligou. Mas, antes de voltar ao seu estado de desespero habitual, ela tentou ligar para sua mãe, e a mensagem que ouviu foi que o celular estava fora de área ou desligado.

Charlie estava prestes a cair no choro quando Alice a abraçou e disse que elas deviam sair logo para procurar por sua mãe nos hospitais. Na mente de Alice, a mãe de Charlie era a prioridade, porque ela havia sonhado com isso, e porque todas as evidências indicavam que ela havia mesmo desaparecido, e que o pai dela havia apenas saído para comprar pão as três da manhã e esquecera o caminho de casa. E, mesmo que não acreditasse nessa história de sonhos e pessoas atravessando espelhos e casas em chamas, realmente sentia uma atmosfera esquisita rondando a casa, e isso não era nada bom.

Felizmente para as duas amigas, haviam apenas quatro hospitais gerais na região em que elas procuravam, e elas conseguiam chegar a todos de ônibus.  Às vezes é realmente uma droga não poder dirigir. Em cerca de 30 minutos elas conseguiram chegar ao primeiro deles. A recepcionista parecia surpresa em ver duas garotas de mais ou menos 17 anos num hospital tão cedo.

— Bom dia, posso ajudar?

— Bom dia – disse Alice – Estamos procurando por uma mulher de mais ou menos quarenta anos de idade, que pode ter dado entrada nesse hospital nas últimas 18 horas.

— Só um minuto – disse a atendente, que digitava no computador da recepção – Você é parente da pessoa que procura ou algo assim? Ontem uma moça deu entrada, sofreu um atropelamento, e não está identificada, mas preciso saber seus dados antes de continuar.

 - Na verdade o parente é a minha amiga aqui. A mãe dela sumiu desde ontem e nós resolvemos vir procurar nos hospitais. Ligamos pra cá mais cedo, mas mesmo assim resolvemos vir checar. O nome dela é Charlotte Alves, tem 17 anos, - Charlie entregou sua identidade à mulher – E está procurando pela mãe, Noemi Alves, 43 anos. – Ela entregou a identidade da mãe à mulher. – Então, alguma notícia?

 - Infelizmente, a mulher que está aqui não é a sua mãe. Sinto muito – Ela parecia muito triste – A minha sugestão é procurar por ela em outros hospitais e, se não a acharem em três dias, vão à delegacia mais próxima e coloquem- na no anúncio de desaparecimento. Boa sorte na sua busca.

As duas saíram meio desesperançadas de lá, mas mesmo assim, foram aos outros três hospitais e obtiveram resultados semelhantes, pra infelicidade das duas. Já eram quase duas horas da tarde, e ambas que  ainda não haviam comido nada naquele dia, foram almoçar. Alice ligou para os pais e disse que as aulas do resto do dia haviam sido canceladas, e pediu para dormir na casa de Charlie, e, para a surpresa das duas, eles deixaram. Logo que acabaram de almoçar, pegaram outro ônibus e voltaram para casa.

Subiram as escadas novamente, olhando para cada parte do quarto e do espelho quebrado. Não haviam pegadas, sinais de arrombamento ou algo assim. Era normal que seus pais dormissem com as janelas abertas durante as noites quentes, e nas janelas deles não haviam grades ou telas, o que facilitaria alguém entrar na casa. Charlie também não se lembrava de ter ouvido barulho algum durante a noite, mas percebeu também que não tinha visto os pais quando chegara da escola, no dia anterior. Foi tirada de suas indagações quando Alice a chamou.

— Espelhos geralmente não tem algum tipo de identificação com o local onde eles foram feitos ou algo assim? Talvez nós possamos encontrar algo sobre o sumiço da sua mãe se nós a acharmos. Tipo, seu sonho tinha todas aquelas coisas envolvendo espelhos e tal, talvez isso tenha algo a ver.

Então elas colocaram seus chinelos para não cortar os pés, e começaram a procurar partes do espelho quebrado que parecessem ter algo de diferente. Quando começaram a vasculhar pelo chão, Charlie percebeu que aquele espelho não parecia ser como os outros. Parecia que quem havia o quebrado tinha usado de uma força excessiva para isso, e que mesmo assim o espelho parecia não ter quebrado como os outros. Depois de cinco minutos, ela encontrou uma peça em que parecia ter algo gravado, e logo depois Alice encontrou outra peça, que parecia encaixar com aquela. Vinte minutos depois, elas tinham encontrado todas as peças de algo que parecia um selo. Depois de juntar todas elas, conseguiam ler o que estava escrito: VIDRAÇARIA ATLÂNTIDA.

— Fica a quinze minutos de ônibus daqui – Disse Alice. – Vamos?

— Vamos –  Respondeu Charlie.


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Notas finais do capítulo

Queria agradecer pelo Review do "meu leitor" Laneres. Muito obrigado! Coisas assim me impulsionam a fazer os capítulos cada vez melhores.
Até o próximo c:



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