Sussurros ao Vento escrita por Louis Roug


Capítulo 2
Capitulo 2




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Ela morava em uma cidade próxima a minha e não a via já fazia um bom tempo. Mas quando vi aquele rosto, os olhos castanho claros , cabelos pretos lisos e compridos, bochechas rosas, lábios rosa claros esbanjando um enorme sorriso na foto do seu perfil, fiquei contentemente feliz se é que isso existe- , do mesmo jeito que um cachorrinho depois de ganhar um afago carinhoso.

— Oi, tudo bem? A quanto tempo, hein? 

Cerca de um mês antes eu havia enviado um Oi! para Lily, sem esperanças de ser respondido. Eu esperei durante os primeiros dias ansioso, as primeiras duas semanas atento e na terceira semana desisti, acreditando que ela não atendia mais por aquele endereço virtual. Mas não, ela estava bem ali, na minha tela, sorrindo para mim. Eu não podia deixar essa oportunidade passar.Não de novo.

— Oi. Estou muito bem , mas é sério, você sumiu e não me respondeu mais.- Meio que isso foi uma forma de não dizer Oi, estou bem, mesmo sabendo que você me ignorou durante três anos e alguma coisa e depois me deu um gelo de um mês, ainda achando que é uma ótima amiga.

—Me desculpe por não te responder antes, eu fiquei em dúvida de quem você era depois desses anos sem falar com você. Já faz uns 3 anos, não é? 

—Fique tranquila , eu não importo com isso, e além do mais, nem lembro por que paramos de conversar. - Isso não era totalmente verdade, já que eu passava horas olhando para meu laptop antigão esperando ela mandar algo, mesmo que fosse uma vírgula, e ficava decepcionado quando não mandava. Só de ouvir o nome dela eu ficava todo vermelho e sem graça (o que pode parecer ridículo, mas na última vez que eu a vi tinha 13 anos e era fã dos Thunder Cats, então pega leve comigo) . 

— Você lembra o motivo?

Ela ficou um bom tempo sem digitar nada , mas quando voltou a digitar, sua resposta foi tão simples e tão direta que chegou a ser desconcertante.

—Sim. Você.

Essa foi demais para mim, não soube o que fazer, afinal, eu tinha 13 anos, o que eu poderia ter feito de tão grave para que ela parasse de conversar comigo?

— Pode ser mais clara? -Arrisquei.

— Você simplesmente me disse que não queria mais falar comigo e isso foi tipo assim, do nada. Em um momento estava tudo bem e em outro você estava surtado .Não entendi, mas fiz o que você pediu... Eu fiz algo errado? Fiquei impressionado, como eu poderia ter dito isso, sendo que 1) eu não lembro de nada disso; 2) Lily era super gata e 3) eu estava louco por ela na época . Isso estava errado, não tinha a menor condição desse fato ter ocorrido porque não tinha lógica eu ser grosseiro com alguém que eu gostava tanto. Lily era a garota mais doce que eu já conheci, parecia ser um anjo , até sua voz era doce e calma, mas o que me tirava do sério era seu olhar – agora até o narrador está enjoado com a própria frescura.

Não sei se isso existe mesmo ou era só minha imaginação extremamente fértil, mas eu tinha a impressão de que toda vez que eu olhava para ela, tudo parecia ficar mais bonito e conspirar ao nosso favor (mesmo eu não sendo correspondido) tipo aqueles filmes de Hollywood em que o herói vê a mocinha e tudo para, só que em vez de um galã hercúleo e elegante havia um magrelo que usava aparelho –que tirei para ficar gatão- , com a maior cara de besta e sem o menor senso de moda (que infelizmente era a pura verdade). 

De alguma forma ou de outra, eu teria que terminar aquela conversa, e para não causar mais danos do que havia causado, resolvi sair com cuidado do chat com palavras breves e bem escolhidas.

—Lily, pode ter certeza que não, mas tenho que sair agora, a gente se fala depois. Me desculpe mesmo por ter feito isso. Tchau.

— Não se preocupe, eu superei na primeira semana, mesmo sem entender direito. Ok, pode me procurar aqui mesmo. Beijos quase conseguia ouvir aquela voz delicada e afinada através da tela.

Ela era tão perfeita, que mesmo quando as pessoas pisavam na bola com ela , seu enorme coração perdoava com delicadeza e afetividade ( sim, eu imagino assim, mesmo sendo ridículo ). Será que ela tinha algum defeito? Algum problema? Algum segredo? Alguma falha? Será que ela era humana? ( Olha no que dá parar para imaginar uma garota ). É o que vou ter que descobrir. Mas o que tinha que fazer era dormir. Pelo menos na teoria. 

Fiquei a noite acordado pensando no que eu poderia fazer para descobrir como conquistá-la - tipo assim: falei a garota e em uma conversa de menos de 2 minutos eu já estava querendo conquistar, parece estranho, mas isso realmente acontece com muitas pessoas (estranhas), afinal, eu era super à fim dela, só tinha esquecido disso -. Pensei de tudo: entrar na academia e aprender a me vestir, comprar um carro, uma casa, fazer plásticas, ficar rico, aprender etiqueta, aprender a falar com garotas sem gaguejar, ter um pug (que é cachorro de rico) e parar de sonhar tanto. Mas pelo visto, nenhuma delas era pelo menos plausível. 

Ai, como pude esquecer , lembrei então o motivo para o meu surto naquele dia. Até o início do ensino médio eu sofria muito com brincadeiras de mau gosto, tipo peteca com o nerd, empurre o nerd , chute o nerd e coisas do tipo espanque o nerd. 

Na semana anterior ao ocorrido eu havia levado uma baita surra de uns 3 colegas por ter tirado a maior nota da sala em matemática - que já era esperado, pois fui o único que estudou - e depois, como se uma surra não fosse o suficiente, eles combinaram com os outros colegas para não conversarem comigo por uma semana. Fiquei a maior parte do tempo pensando no que eu poderia ter feito para magoar aquelas pessoas, imaginando porque todos estavam me deixando de lado, até mesmo meus amigos, que quando eu chegava perto eles saíam. Eu ia e voltava para casa chorando quase todos os dias.

Foi assim até a próxima primeira aula da semana, porém com uma mudança: quem não queria falar com eles era eu. Não olhei para o rosto de ninguém e nem falei. Tentaram me pedir desculpas e de fato eu os perdoei, mas eles não precisavam saber, sofreriam com o remorso um pouco. 

Então à tarde, liguei meu computador para tentar desabafar com Lily nessa época eu já gostava dela, mas sofria com o medo de assumir e parecer mais patético do que já era - , que na foto do seu perfil estava abraçada a um rapaz um pouco mais alto que ela, porém mais moreno e bem forte. Puxei conversa .

— Oi! Tudo bem?

— Oi, estou bem, mas posso te ligar para podermos conversar direito? Fiquei preocupado a primeiro momento, mas não poderia perder a oportunidade, então respondi rápido.

— Claro, fique a vontade.

Cerca de uns 32 segundos depois meu celular tocou, era 
uma chamada privada, mas como eu tinha certeza de quem estava me ligando, atendi imediatamente.

— Alô, Lily?

— Eu! disse cantarolando, então supus que ela estava feliz. 

Era incrível como quando ela se sentia bem, fazia todo ambiente ao redor dela parecer calmo e feliz, e, quando estava triste, deixava todos os problemas de lado para alegrar da mesmo forma.

—Qual o motivo para tanta felicidade?

— Viu aquele garoto na minha foto do perfil? Pois é, eu estava indo para a escola a mais ou menos um mês, ( fazia mais ou menos um mês e meio que não falava com ela) quando me desequilibrei em uma falha na calçada e deixei minha bolsa cair. Eu ia cair também, mas ele apareceu do nada, me segurou , ajuntou minhas coisas e me deu de volta. Daí fomos juntos para a escola e por coincidência havia sido transferido para ela na semana passada. 

— Mas você está nessa felicidade toda porque um estranho te segurou?

— Você nem me deixou terminar, então espere e aliás , o estranho aqui é você.

Eu iria pedir desculpas , mas ela continuou.

— Então, ficamos conversando a ida toda e depois a volta toda, já que eu moro a uns dois quarteirões da casa dele. Me deixou na porta de casa e foi para a dele. Depois , virou rotina ele passar em frente à minha casa para irmos e voltarmos juntos também. 

—Nossa, que felicidade hein? Fez um amigo novo ... Uau, estou até emocionado.

Realmente fiz pouco caso, afinal, não há nada de empolgante nisso e eu precisava mesmo desabafar com ela . Mas não só isso, iria finalmente falar com ela do que eu sentia por ela.

— Não! Depois de três semanas ele me pediu em namoro , isso não é demais?

Na verdade, não! Queria apenas falar com ela , já que o meu dia havia sido ruim, agora estava completamente desamparado. Não sabia o que fazer, mas não deixaria isso barato assim. Se ela era de outro, não poderia ser minha. Solução simples.

—Quer saber, demais mesmo, fica aí com ele , aproveite bem esse momento como se fosse o último. E mais, não apenas esse, mas todos os outros depois e depois e depois. Não fale mais comigo, nem pense em nossa amizade. Simplesmente me esquece.

Então, como se minha burrice não fosse o suficiente, ainda tive a audácia de desligar na cara dela.

Então era isso. Burrice. Parei de falar com ela por causa da minha arrogância, falta de paciência e meu imbecil egocentrismo . Deixei um problema pequeno me encher e descontei tudo nela.


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