Marina e Simão escrita por Mary


Capítulo 3
3


Notas iniciais do capítulo

Fico tão feliz de postar aqui apesar de não ter conhecido nenhum leitor... Não quero falar sobre o que aconteceu no Wattpad porque apesar de estar tentando me fortalecer, sinto uma dor muito grande que simplesmente me bloqueou, não consigo produzir nada...



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O segundo dia começou bem cedinho: as 06h00min um toque de cornetas colocou a todos de pé. A criançada reclamou, mas não teve jeito. Era hora de fazer a cama, pois os dois pavilhões seriam revistados pelos monitores. Depois do desjejum, hora da caminhada. As atividades deixaram Marina tão exausta que ela caiu no sono antes de terminar suas orações noturnas.

Terceiro, quarto, quinto dia.

Marina não havia conseguido ler nem três páginas do primeiro de três livros que trouxe às escondidas para se entreter quando a solidão apertasse o jovem coração, o que em se tratando dela não demoraria a acontecer.

Apenas no oitavo dia, durante a caminhada pela mata aberta sempre com a supervisão de dois ou mais adultos, Marina torceu o pé e voltou para a base do acampamento, aproveitando a distração dos adultos para escrever uma carta à sua mãe, de quem estava com saudades. Sem perceber que se aproximava alguém, seguiu escrevendo até que notou a presença de um menino e tão logo cobriu o bloco de papel com as mãos.

— O que foi? Perdeu alguma coisa aqui?

O menino sorriu com as mãos para trás.

— Por favor, eu estou escrevendo uma carta pra minha mãe. Pode me dar licença?

— Vim...

— Se você veio me dedurar, problema o seu! Nunca ouvi dizer que escrever uma carta à própria mãe fosse subversão!

— Soube que você machucou o pé e vim perguntar se você está se sentindo mal. Teve um verão em que caí do cavalo, luxei o tornozelo e não pude brincar. Você nem imagina como foi chato ver todo mundo se divertindo, brincando e eu ter que ficar de molho.

— Que infelicidade!  — completou a menina.

— Não sei o que houve com aquele cavalo, ele sempre foi tão dócil.  — O garoto retesou os ombros.  — Felizmente não aconteceu nada de grave nem ao cavalo e nem a mim. Mas, e você, gosta de cavalos?

 — Ah, gosto sim, mas tenho um pouco de medo.

— O Pirilampo é manso, você não pode passar por este verão sem ter caminhado pela mata com o Pirilampo.

Marina arregalou os olhos:

— Eu? Sozinha? Com um cavalo?

— Mais dócil do que o Pirilampo, só um cachorrinho... 

Marina observou o garoto, ponderando um pouco a fúria sem razão. Até onde se sabia, ele estava sendo gentil.

 — Por que você está falando comigo?

— Porque eu quero, ué.

— Não precisa falar comigo só por dó. Eu nem queria estar aqui mesmo. 

— Uma menina tão bonita não pode ficar isolada.

 Quem é você?

— O autor dessa frase — respondeu o garoto, confiante, esperando que Marina lhe dedicasse alguma atenção, pelo menos.

— Sim, mas o que faz aqui? — inquiriu Marina que se sentia o dobro de nervosa porque nunca sabia o que dizer a um menino, até mesmo porque não costumava conversar com muitos. Ninguém dava atenção para a boca de lata.

 O mesmo que você. — Encorajou-se o menino que pela fisionomia não devia ter mais do que quinze ou dezesseis anos, um pouco alto para a idade, franzino, de feições agradáveis. — Confinado em um lugar chato por ordem dos meus pais.

— Meus pêsames!

— A bela visão bem que compensa. — Ele também falava de Marina que também lhe chamava a atenção tanto quanto aquelas lindas e antigas árvores que cercavam o acampamento. Ela, desacostumada a ser elogiada por garotos, não entendeu o que ele quis dizer.

— Eu não te vi aqui no ano passado.

— É o meu primeiro ano aqui. — esclareceu Marina, pensando que logo ele se cansaria de conversar e iria embora. — E espero também que seja o único.

Marina guardou a caneta no bolso da bermuda jeans e sorriu para o garoto que se apresentou como Anjo. Ele sabia conversar e até aquele instante não havia caçoado do aparelho que ela usava nos dentes. Considerando o retrospecto, não parecia soberbo ou imaturo, mas alguém que sabia dialogar e demonstrava estar interessado em conhecê-la. Ser mal educada nunca esteve em sua índole. Podia ter sido criada com muita simplicidade, todavia sabia se comportar muito bem.

 Gosta de poesia? — quis saber Marina, até porque não conhecia muitas crianças que gostassem de poesia.

— Gosto mais do que a poesia não diz. — contou Anjo.

— Então você gosta de poesia.

— Você também não?

— Muito!

— Seria um bocado difícil não gostar. Minha mãe é professora, então eu vivo nesse mundo de palavras desde que eu me entendo por gente.

"Um garoto que gostava de poesia!" pensou Marina, contente. "Um tanto atípico em período de férias, mas bom de saber, muito bom. Imersa no oceano das palavras, pessoas não me faziam falta. Eu amava aquele mundo de contos de fadas em que as meninas feias ficavam bonitas, os príncipes salvavam as princesas e as bruxas malvadas morriam no final. Eu queria que as palavras percorressem o mundo todo até me encontrar, até montar uma história que fosse só minha e de mais ninguém."

Marina e o menino perderam a noção da hora conversando. Quando já escurecia o céu, Anjo agradeceu a doce companhia da menininha e partiu, deixando um livro em cima do tronco cortado de árvore onde esteve sentado. A curiosidade acabou falando mais alto e a garota avistou a capa. Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, um dos livros "proibidos" pela mãe de Marina.

Quando não via mais a sombra daquele que pedia para ser chamado de Anjo, Marina apanhou o exemplar e abandonou os rascunhos da carta. Apesar do linguajar arcaico e um pouco complicado para uma garota da sua idade, a leitura tornou-se prazerosa.

Qual era a razão daquele garoto ao emprestar-lhe um livro?

Talvez ele quisesse ser gentil por também gostar de ler. Não havia maldade alguma no gesto, muito pelo contrário. Marina, obstinada, haveria de descobrir por que Anjo lhe emprestou aquele livro em especial.

"Eu sei seu nome, mas você não sabe o meu. Descubra."

Marina esperava que não fosse alguma sacanagem dos meninos ou de alguma menina que quisesse humilhá-la como costumava acontecer na escola, mas aquele garoto que a observava de longe no refeitório todos os dias estava longe de ser um fanfarrão. Era misterioso e sensível. Outras meninas do seu pavilhão estavam apaixonadas por ele. A boca de lata na opinião delas não teria nenhuma chance.

Marina, curiosa por natureza, adentrou numa linha de raciocínio um tanto ilógica: ele tinha o nome de algum personagem daquele livro.

Eureka, eureka.

Para que a direção do acampamento não confiscasse o livro, a garotinha escondeu-o debaixo do travesseiro e seguiu realizando as atividades normais, pondo-se a ler sempre que possível.

Anjo tornava-se uma figura emblemática nas férias dela e enfim, quando todos estavam brincando de queimada e Marina foi eliminada logo no começo da partida, eles se encontraram no bebedouro e sem qualquer intenção, chegaram ao mesmo tempo. Os lábios deles se encostam de relance. A princípio, a face da menina enrubesceu em decorrência da timidez, tanto é que recuou em questão de segundos, desconcertada.

Simão agiu normalmente.

— Devia ter me recordado que as damas sempre devem ir por primeiro. — desculpou-se o garoto, curvando-se para reverenciá-la.

Marina sorriu, apesar de sentir que corava.

— Vejo você mais tarde! — acenou Simão.

Sem qualquer reação, Marina permaneceu com os pés firmes no mesmo lugar, sem saber o que pensar ou fazer. Tudo que compreendia era que pela primeira vez na vida o seu coraçãozinho acelerava... E pelo garoto "misterioso"!


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Notas finais do capítulo

Não percam, no próximo capítulo, o primeiro beijo de Marina.



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