Marina e Simão escrita por Mary


Capítulo 1
1


Notas iniciais do capítulo

Oi! Marina e Simão é uma breve história de amor entre os personagens que estão no título, se passa entre os anos 1970 e os anos 1990. Era um desejo meu escrever esse lindo romance desde que eu tinha 13 anos e só consegui em 2016.
Espero que vocês gostem!



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Marina Luísa de Queiroz não acordou tão cedo quanto deveria, por isso não pôde protelar por nem mais um bocejo. Seis e quinze. Hora se colocar de pé e não perder um único minuto porque todos eram preciosíssimos. Assim sendo, aprontou-se às pressas porque se perdeu no mundo dos sonhos e não deu conta da hora.

 

Segunda-feira, de volta à escola. Felizmente aquela era a última semana de atividades letivas, uma ótima notícia.

 

Uma batidinha na porta entreaberta:

 

— Marina, já acordou?

 

Era Regina Queiroz, sua respeitável mãe.

 

— Já acordei! — Marina respondeu mais alto do que realmente pretendia.

 

— Você ainda tem aula, menina! — lembrou Regina. — Quer perder o primeiro horário?

 

Era um milagre que Regina tivesse acordado cedo. Trabalhando em dois empregos, mãe e filha nem sempre tinham o privilégio de fazerem uma refeição juntas. Era assim desde que o homem da casa saiu e nunca mais voltou.

 

Marina não tinha irmãos nem amigos, sendo seus companheiros desde sempre os livros onde podia fugir da realidade insignificante e viajar para um mundinho só seu aonde milagres eram comuns como a chuva que fertilizava o solo e propiciava a colheita de batatas, principal atividade econômica de Cantos Serenos.

 

Marina, apressada, calçou os tênis brancos, vestiu o uniforme, ajeitou os cabelos em um rabo-de-cavalo torto porque não se encontrava com o melhor humor do mundo para lavá-los e aplicar uma boa dose de gel para manter os fios no lugar. A mochila estava arrumada, ponto para ela que saiu tropeçando até a cozinha, pronta para um longo dia. Animada pelo café, a mente fervendo de vontade de registrar esse anseio por um pouco de cor e criatividade numa rotina carente de novidades.

 

Marina fazia sempre as mesmas coisas, afinal, era apenas uma menininha de treze anos que ia à aula apenas para não contabilizar faltas no boletim, pois não teria um grupo de amigos para fazer bagunça, aproveitando para se refugiar na biblioteca e ler em silêncio até o último sinal soar.

 

O último dia de aula chegou e com ele uma notícia que partiu o coração da menina Marina:

 

— Perdi o emprego, minha filha! — contou Regina, amuada.

 

A fábrica de sapatos não fechava em pior momento. Logo no final do ano, a época em que mãe e filha podiam se permitir alguns agrados financeiros e não sofrerem como nos outros meses em que tinham de contabilizar o dinheiro com cuidado para não passarem necessidade.

 

Se trabalhando em dois empregos, Regina Queiroz não dava conta de sustentar o lar, contar com a renda de apenas uma ocupação significaria na prática mais cortes orçamentários. Nessas horas ela sentia tanta falta do esposo que nunca mais voltou, não apenas porque o dinheiro dele ajudaria nas despesas. Era tudo. Principalmente a força. Sempre que a falta de sono pedia um espaço no lado vazio da cama, Regina sentia muita saudade de ter alguém para dividir tudo, até os problemas. E chorava.

 

Ninguém nunca mais soube do paradeiro do homem. Ele se foi quando Marina tinha sete anos e sem condições de manterem o mesmo padrão de vida que tinham antes, mudaram-se para uma casa menor, alugada, com dois quartos, um banheiro, sala, cozinha, um pequeno quintal, sem garagem, uma vez que tiveram de vender o carro.

 

Entretanto, Marina e Regina tinham com quem contar e essa era a parte que a mãe não sabia como contar à filha:

 

— Nós vamos morar com os seus avós por um tempo... — explicou Regina sentada com Marina no estreito sofá de dois lugares da minúscula sala de uma casa alugada.

 

— O vovô e a vovó moram muito longe... — Marina recuou.

 

— Sei disso, querida.

 

— É pra sempre?

 

— Não exatamente “pra sempre”, mas por um bom tempo!

 

— Eu vou ter que mudar de escola? — perguntou Marina, fitando a mãe.

 

— Vai.

 

Aquela, para falar bem a verdade, não era uma tragédia para Marina, mas não importava para qual escola fosse, não conseguia nunca se enturmar, não por ser antipática, e sim porque sua bendita timidez crônica a tornava alvo fácil dos valentões, somando à massa o aparelho na boca e o jeito estabanado de ser.

 

Seria difícil se (re) adaptar numa nova escola, contudo nunca conseguiria ficar um só dia longe da mãe. Iria para onde ela fosse. Nunca a abandonaria. Nem em pensamento. Podiam ter muitas diferenças, porém as superavam com amor. Desde que o pai foi embora, tinham apenas uma a outra e assim seria até quando o destino quisesse.


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