Eu geralmente me aproveitava do momento em que o Raul estava no banho pra ir pro colégio.

O caminho era um tanto curto, mas ninguém merece ficar sendo molestada o caminho todo!

Eu sempre andava rápido, no caso de Raul estar me seguindo. Eu sou meio que paranóia mesmo.

A primeira coisa que eu fazia quando chegava na escola, é ir pra escada de incêndio. Faço isso porque se um dos amigos do meu irmão (Eu ainda me pergunto por que eu chamo ele de irmão, acho que por força do habito.) me virem, já sabem néh, eu me ferro!

Eu fiquei um tempo na escada fumando um pouquinho. Acabo com os meus pulmões e alivio a alma, perfeito!

Ninguém nunca me encontrou lá ate hoje. Era o meu paraíso!

Tocou o sinal pra primeira aula e eu fui me arrastando vagarosamente para a sala de inglês.

A professora era super legal comigo, e ela era bem parecida comigo em vários aspectos, como o jeito de ser e de agir, mas também na aparência. Eu gostava muito dela.

-Bom dia, Lidia! - Falou ela indo me abraçar, como fazia todas as manhãs de segunda.

-Bom dia, professora Mirian! - Falei abraçando ela.

-Já falou com seus pais sobre o intercâmbio? - Perguntou ela.

-Claro! Eles já assinaram a minha autorização. - Falei pegando o documento da minha pasta preta.

-Ótimo! Agora basta tirar o passaporte e em um mês você estará nos Estados Unidos! - Ela falou com um olhar triste, eu ate fiquei pensando na possibilidade de ficar... Não!

-Que ótimo! - Falei indo me sentar.

Um mês, um mês! Eu fiquei cantarolando internamente.

Aquele tempo com a cara enfiada nós livros valeu a pena! Dois anos longe daquele monstro! Deus escreve certo por linha tortas!

A aula começou e eu prestei bastante atenção, eu teria que ser ainda melhor em inglês para poder ficar com o intercâmbio.

A aula terminou e eu corri para a próxima.

Meu dia escolar é assim: Termina uma aula, corre pra outra, terminou essa, corre para a próxima, terminou a terceira, tem o recreio, corro pra escada de incêndio, termina o recreio, corro pra quarta aula e assim eu passo meu tempo na escola. O professor de educação física já me chamou pra participar da equipe de corrida, mas o intercâmbio apareceu e eu tive de escolher.

-Lidia! - Marcos gritou. Ele era um pouco mais rápido do que eu. Eu taquei pedra na cruz!

-Marcos, por favor! Por tudo o que é mais sagrado, me deixa em paz! - Gritei tentando conter as lágrimas que queriam sair.

-Lidia, eu vou te ajudar a fugir hoje! - Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia, aleluia! (N/A: Coloca num tom musical a parte do aleluia) Ate que enfim alguém ouviu os meus gritos mudos!

-Serio? - Parei de correr.

-Serio, você não pode ir para a sua casa, pois seu irmão vai levar todo o pessoal pra sua casa! - Falou ele tomando fôlego ao meu lado.

-Mas como eu posso saber que você não vai me entrega de bandeja para o meu irmão? - Ele nunca me fez nada, mas fica olhando enquanto os outros fazem.

-Eu nunca machucaria você. - Ele tentou tocar no meu rosto, só que eu recuei.

-Muito obrigada. - Falei.

Eu o abracei e ele ficou mudo.

Ele ia me levar pra casa dele, pois assim podia me proteger.

Posso dizer que foi estranho essa súbita boa vontade comigo, mas qualquer ajuda é bem vinda!

O caminho todo eu fiquei falando de tudo, já que eu não tinha amigos, eu tinha muita coisa pra falar. Mas o estranho é que ele não falava nada, ficou de cabeça baixa e com uma expressão de culpa na cara. Hum, já que eu não entendo as pessoas, eu deixei quieto e continuei falando, quem poderia saber minha próxima oportunidade?

Quando a gente estava chegando eu vi que Marcos estava mais nervoso do que antes.

-Vamos entrar. - Falou ele abrindo o portão.

Posso dizer que eu ate dei dois passos para trás, mas já tinha chegado aqui, o que de pior poderia acontecer comigo? Ele me espancar? Me estuprar? Ele não machuca nem uma mosca, quanto mais uma garota!

Ele foi muito gentil comigo, ele ficou comigo na sala, ate me ofereceu algo pra comer e pra beber, claro que eu aceitei, eu tinha corrido muito e estava super cansada.

-Valeu! - Falei quando ele voltou com um suco e um sanduíche.

-Fique a vontade. - Falou ele se sentando do meu lado.

Estava uma delicia o sanduíche, depois de comer eu fiquei meio sonolenta, mas mesmo assim tomei, também estava uma delicia.

-Estava muito bom, Marcos... - Parei de falar quando vejo o meu irmão.

-Desculpe, Lidia! - Tentou se desculpar Marcos, mas agora tinha nojo e odio dele.

-Filho da... - Não consegui terminar, pois eu acabei dormindo...