Nova York – Estados Unidos

Ela estava feliz. Ao que tudo parecia teria pelo menos um momento de paz e sossego  em sua vida agitada. Desde que se tornara Guardiã e de ter conhecido Flynn Carsen, o Bibliotecário, sua vida nunca mais fora a mesma e muito menos tediosa e monótona. Havia enfrentado os mais diversos seres míticos – ainda custava a crer nisso – e visitado os lugares mais incríveis do mundo. Não que não gostasse. Não era isso. Ela gostava. Mas salvar o mundo a toda hora dava muito trabalho e a exauria.

Contudo, não era somente por isso que ela estava feliz. Seu contentamento também se devia ao retorno do Bibliotecário. Apesar de que na maioria das vezes o achasse presunçoso, petulante e um tanto avoado, não podia negar que ele dava um colorido a sua vida. Ainda não entendia como uma pessoa que a irritava por não seguir regras podia se tornar especial para ela. Sempre que o via, ou quando estava próxima a ele, sentia suas pernas bambas, suas mãos suarem frio e seu coração palpitar.

Se alguém lhe dissesse meses atrás que ela vivenciaria tudo aquilo, o chamaria de louco. E se qualquer pessoa que fosse lhe dissesse que magia existia, ela mesma o faria ser internado em um manicômio. No entanto, lá estava ela e seus amigos trabalhando na Biblioteca Pública Metropolitana, protegendo o mundo da realidade mágica e secreta que ele escondia e recuperando artefatos valiosos que se caíssem em mãos erradas, resultariam em catástrofe.

Ela era uma líder do esquadrão de antiterrorismo da OTAN antes de ser recrutada para ser a Guardiã da Biblioteca e proteger Flynn Carsen. Eve Baird possuía uma brilhante mente tática, o que lhe salvou a vida e de seus amigos diversas vezes. Era extremamente alta e tinha o cabelo louro e os olhos verdes.

Se encontrava no Anexo da Biblioteca e ela observava seus amigos a distância. Cada um estava perdido em seus afazeres e em seus hobbies prediletos. Cassandra Cillian estava de frente a ela, a jovem garota ruiva e de pele delicada como pêssego, era a matemática do grupo e lia um livro, provavelmente de matemática. Ela tinha o poder da sinestesia – a habilidade de unir os cinco sentidos em sua memória - dom descoberto após ser diagnosticada com um tumor cerebral. Para ela, os números apareciam como cores, a ciência como notas musicais e os cálculos matemáticos eram associados ao cheiro de café da manhã. À direita de Cassandra, estava Jacob Stone, o charmoso gênio da arte, arquitetura e história, tinha incríveis olhos verdes e cabelo castanho escuro. Passou sua vida quase toda tentando esconder suas habilidades. Stone analisava um mapa de alguma civilização antiga. À esquerda de Cassandra, estava Ezekiel Jones, um ladrão em escala mundial que se importava com apenas uma pessoa: ele mesmo. De aparência oriental, o jovem hacker, uniu-se ao grupo liderado por Flynn Carsen, o homem de estatura mediana e de cabelo castanho e olhos também castanhos, que se encontrava um pouco mais distante conversando com Jenkins, o recluso zelador do Anexo, um senhor grisalho, na casa dos sessenta anos, os quais averiguavam algum livro antigo ou conversavam sobre alguma ameaça iminente.

Seu pensamento foi interrompido pelo ruído do Livro de Recortes, um grande livro onde se registrava tudo o que acontecia de anormal no mundo: desaparecimentos misteriosos, assassinatos sem explicação e outras coisas. Todos correram para saber o que o Livro trazia. Eve revirou os olhos, murmurando para si:

― Lá se foi minha paz!

Flynn olhou para ela e indagou:

― O que você disse?

Ela havia se esquecido de que ele tinha um ouvido super aguçado e que sabia ler lábios.

― Nada! – ela desconversou – O que diz o Livro de Recortes?

Foi Cassandra quem leu o título da notícia que havia no Livro:

― Garotos somem misteriosamente em uma cidade no interior do Brasil.

― Por que isso está no livro? Milhões de adolescentes somem e não viram notícia – argumentou Ezekiel.

― A população da cidade alega que além do sumiço dos garotos surgiu uma floresta de árvores secas. Eles dizem que isso não existia lá. E que por mais que reguem as plantas e que chova, elas nunca deixam de ficar secas, como se estivessem mortas – concluiu Cass.

― Quer apostar quanto que tem magia nisso? – indagou Jones baixinho para Jacob.

― Não precisa apostar. Vamos averiguar – comandou Flynn. Ele virou-se para Jenkins – Jenkins, por favor, prepare a Porta dos Fundos. Vamos para o Brasil.