I Will Survive escrita por Iphegenia


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, queridinhos!

Olha quem voltou ♥
Leiam as notas finas, por favor.

Boa leitura!



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O solo incerto e úmido ecoava o som dos passos do trio que caminhava pela caverna, atentos, fazendo uso da luz da chama de uma bola de fogo que Regina tinha em mãos. O local parecia um grande labirinto subterrâneo. Uma câmara levava para outra que poderia levar para uma dezena de outras e assim por diante.

— Você poderia ser mais exato na localização e nos levar direto até a varinha. – Regina resmungou escorando-se na parede de pedra e se abaixando para tirar os saltos, apagando o fogo.

— É o que estou fazendo, majestade. – Sylvanus ofereceu uma mão para Regina apoiar-se – Mas preferi discrição para termos o elemento surpresa.

— Eu só estou ansiosa. – A rainha soltou os saltos no chão e conjurou suas botas de hipismo. – Emma está em perigo.

— Não sei se gosto menos de você apaixonada por uma pessoa e tentando salvá-la ou tentando ressuscitá-la.

Regina encarou Rumple com os olhos vidrados e tomados por raiva. Alguém estava em perigo, Emma estava em perigo e, por mais que o Senhor das Trevas não gostasse da salvadora, Regina e ele viveram coisas demais para que os sentimentos dela fossem tão banalizados por parte dele.

Rumple sentiu os olhos da morena queimando sua pele. Ele não pensou sobre aquilo, apenas disse, fazendo uso do hábito de magoar as pessoas como se fosse um esporte. Talvez fosse. A escuridão em seu interior durante séculos precisava ser distraída, abrandada, e o humor era uma ferramenta eficiente para manter a sanidade. No entanto, não era o momento para jocosidades e algo nos olhos raivosos de Regina, que falhavam em esconder a sua dor, levaram o homem a um dos poucos momentos em que sentia arrependimento.

— Eu sinto muito.

— O Senhor das Trevas sente muito? – Sylvanus girou nos calcanhares, ficando de frente para os outros dois, e afastou-se três passos, encarando aqueles, que outrora foram seus amigos, com desconfiança. – O que eu perdi?

— Nada. Eu perdi. – Regina passou uma mão pelos fios do cabelo e suspirou acalmando-se antes de voltar a caminhar. – Eu perdi alguém não faz muito tempo.

— Além de Daniel?

Regina não respondeu, mas o ritmo de sua respiração era o suficiente para fazer o feiticeiro entender.

— Uma vez é acidente, duas é coincidência, mas três é um padrão.

Rumple não pode ver o que estava prestes a acontecer, apenas sentiu quando a mão fechada de Sylvanus colidiu com seu queixo. A força empregada pelo feiticeiro levou o sombrio ao chão, com as mãos no rosto e um gemido dolorido arranhando sua garganta.

— Da próxima vez não será força, será magia.

— Chega! – Regina caminho até eles e agarrou o colarinho de ambos, assim que Rumple se pôs de pé. – Emma está em perigo, vocês conseguem entender isso? A mulher que eu amo está em algum lugar desta caverna e cada segundo que perdemos com amenidades pode custar a sua vida. Eu não vim até aqui para perdê-la, eu não posso perder mais ninguém, então me ajudem ou não me atrapalhem, porque com ou sem vocês, eu irei encontrá-la.

Sylvanus agarrou a mão de Regina e, lentamente, a tirou de sua roupa, alinhando-a no segundo seguinte. Viu a morena soltar Rumple e levar as mãos às têmporas, massageando. Sem avisar, ele passou um braço pelas costas de Regina e agarrou o braço de Rumple, colando os corpos dos três.

— Cancelando o elemento surpresa, majestade!

Regina sentiu os pés formigarem e quando os olhou, viu a fumaça cinza crescendo e subindo por seu corpo. Fechou os olhos e esperou que a sensação desaparecesse, quando os abriu, percebeu que haviam se movido. O desconforto em seu estômago era menor do que da última vez, embora o sentisse agitado. Aquela câmara era escura, mas diferente das outras, uma luminosidade azulada vinha das costas do trio. Uniformemente, eles se viraram e depararam-se com Swan, caída no chão, e as três fadas.

— Emma! – Regina arfou e desprendeu-se de Sylvanus, apressando os passos na direção da salvadora, mas foi contida por Rumple, puxando-a pela cintura.

— Assim não, Regina.

— Eu preciso...

— Se acalmar. – Rumple passou os braços em volta do corpo de Regina, mantendo-a no lugar, no entanto, diminuindo a força para um toque mais carinhoso. – Precisamos pensar em como tirá-la dali.

Emma encontrava-se deitada no chão, pálida, visivelmente mais magra e, com a pouca luminosidade que se tinha, era possível ver hematomas em seu rosto. Seu corpo brilhava e uma espécie de corrente elétrica saia dela, uma energia imediatamente reconhecida como magia. A varinha sugava a magia de Swan e a passava para a fada que havia sido morta, essa fada, por sua vez, compartilhava a magia com as outras duas. As quatro pareciam em uma espécie de coma induzido, como se aquilo tudo fosse uma complexa cirurgia coletiva.

— Alguma ideia? – Sylvanus encarou Regina, que não tirou os olhos da salvadora um momento sequer.

— Eu não sei. – A voz da rainha soou quebrada. Medo, dor e raiva palpáveis. – Isso parece uma...

— Transfusão de sangue. – Rumple intrometeu-se ganhando a atenção dos outros. – Parece uma transfusão de sangue, só que com magia.

— E como se interrompe uma transfusão de sangue? – Pela primeira vez, Sylvanus encarou o Senhor das Trevas com interesse.

— Eu vou lá e tiro Emma, pronto. – Regina unhou as mãos de Rumple que continuava prendendo-a.

— Não, Regina. – Rumple segurou-a com mais força. – Não se tira o doador, se tira a agulha.

— Então precisamos tirar a varinha. – Sylvanus coçou o queixo e aproximou-se do objeto, analisando-o de todos os ângulos possíveis. – Eu conheço isso. É um dos objetos mais importantes para as fadas. – Passou a mão próxima da varinha, sentindo as vibrações que a intensidade da magia provocava.

— Você pode neutralizá-la? – Regina conseguiu livrar-se de Rumple e aproximou-se do feiticeiro, embora seus olhos ainda estivessem em Swan.

— Posso, mas vou querer ficar com ela.

— Nem pensar. É minha. Essas fadas me roubaram. – Rumple aproximou-se tocando o ombro do homem com brutalidade, apenas para ser repelido imediatamente. Sua mão tremeu com o choque que recebeu do homem, que protegia-se com a própria magia. – Eu estou avisando...

— É sua. – Regina interrompeu, finalmente, tirando os olhos da namorada e encarando o feiticeiro, antes de correr seus olhos até o sombrio. – É dele. Por favor, Rumple. Estamos falando da vida de Emma.

 Rumple fechou os olhos tomando um minuto para pensar. Seu ódio justificável por fadas o levara a manter aquela varinha sob seus domínios, mesmo que usá-la nunca fora sua intenção, era apenas o prazer de ter algo tão poderoso e simbólico. Abrir mão dela soava-lhe como abrir mão de seu orgulho. Ele não se importava verdadeiramente com a vida de Emma Swan. Desde que ela havia quebrado a maldição, a existência da loira era absolutamente irrelevante e não seria difícil escolher pela morte dela. No entanto, a vida de Regina lhe interessava, mais do que isso, a felicidade dela era importante. Com um suspiro frustrado, Rumple relaxou os ombros e encarou a dupla a sua frente.

— Que seja!

— Devo alertá-la, majestade, que assim que eu neutralizar a varinha, as fadas acordarão.

— Ótimo. Eu quero que elas estejam bem acordadas quando eu as mandar para o inferno.

— Concentre-se na garota. Nós cuidamos das fadas.

Sylvanus sinalizou para que Regina se afastasse e paralisou as mãos sobre a varinha, encarou a energia que corria por ela com os olhos demasiado abertos e, instantaneamente, seu corpo iluminou-se à medida que o de Swan perdia o brilho, assim como a varinha, desconectando-se das fadas. Os segundos que levaram para que a neutralização fosse completa arrastaram-se como longas e angustiantes horas. Regina mordia os lábios sentindo o gosto do próprio sangue enquanto seus olhos mantinham-se fixos em Emma, aguardando qualquer reação. Quando, finalmente, o trabalho de Sylvanus estava concluído, um som estridente preencheu o ambiente. Os três levaram meio segundo para identificar que ele vinha de uma das fadas, lançando sua magia contra eles, que caíram alguns metros longe. Sylvanus recompôs-se rapidamente, mantendo-se sob um dos joelhos, e bateu as mãos no chão cavernoso fazendo-o tremer e causando um pequeno desabamento onde as criaturas estavam.

Aproveitando a distração, Regina arrastou-se pelo chão até Emma. A rainha puxou a loira para o seu colo, acarinhando suas bochechas frias e chamando por ela. A fragilidade da loira atingiu Regina como lâminas de aço cortando sua pele. As lágrimas de Regina caiam sobre o rosto da loira e escorriam lavando a poeira na pele alva. Emma permanecia inconsciente, apesar de todos os chamados de Regina. Uma forte onda de magia atingiu a rainha, arremessando-a longe da loira e, elevando os olhos, a morena pode ver uma das fadas voando em sua direção. Antes que a criatura pudesse chegar até ela, Regina a viu ser afastada pela magia de Rumple. Com os braços trêmulos, a rainha engatinhou até a salvadora e colocou, novamente, a cabeça da namorada em seu colo.

— Emma? Emma? – Regina passou a mão pela testa de Swan secando as gotículas frias de suor. – Por favor, acorde.

Quando uma das lágrimas de Regina caiu na pálpebra de Emma, a loira remexeu-se.

— Re...

— Não. Não fala nada. Não se esforce. – Regina abaixou-se e selou seus lábios uma, duas, três vezes. – Eu vou te tirar daqui.

— Re... – Emma esforçou novamente, mas sua garganta queimava e não encontrava forçar sequer para manter os olhos abertos. A vida esvaía-se lentamente de seu corpo fraco.

— Não se esforce, querida. Apenas fique comigo. Eu vou te tirar daqui. – Regina emoldurou o rosto de Emma entre suas mãos, aproximando-se para depositar um beijo na testa da loira. – Eu te amo!

***

— E então?

Regina virou-se para a voz que lhe abordou na saída do hospital. Rumple estava escorado na viatura estacionada enquanto Sykvanus sentava-se no capô, com uma gaita em mãos, tocando-a solenemente, quase fúnebre. Regina revira os olhos para isso e segue até eles, sentando-se ao lado do feiticeiro.

— Ela vai ficar bem. – A morena bufa para a melodia e Sylvanus a interrompe. – Está sendo medicada por sonda e vai dormir por um tempo.

— Bom.

— E as fadas?

— No inferno, como você desejava.

— Bom.

Regina cruzou as pernas sobre o capô apoiando um cotovelo no joelho e utilizando a mão para sustentar seu queixo. Permaneceram assim por alguns minutos, sentindo a brisa daquele fim de tarde.

— Foi difícil? – Regina olha de um para o outro e depois para a entrada do hospital – Com a fadas?

— Por favor, nós somos melhores do que isso.

Rumple sorriu para Sylvanus, mas o feiticeiro apenas levou a gaita de volta aos lábios e voltou a tocá-la. Regina sorriu brevemente e levou suas mãos até os dedos dos outros dois, entrelaçando-os.

— Nós somos um bom time. – A rainha puxou os homens enlaçando seus braços aos deles. – Foi bom tê-los ao meu lado hoje, eu sou muito grata por isso.

— Jamais ignoraria um chamado seu, majestade. – Sylvanus falou pela primeira vez, soltando-se de Regina e levantando-se, posicionando-se de frente para ela. – Se eu não sou mais necessário, então é hora de voltar para casa.

— Desde quando você tem uma casa?

Sylvanus não respondeu, apenas curvou levemente os lábios e seus olhos caíram na bússola que havia recuperado da última vez que esteve em Storybrooke, pendida por uma corrente dourada. Regina seguiu seu olhar e buscou na memória qualquer razão que levaria o feiticeiro a deixar o costume nômade que seguia de seus ascendentes. Quando subiu sua atenção e encontrou os azuis foscos do homem, a realização levou seus olhos a cresceram para ele. Com uma mão no cotovelo do feiticeiro, Regina afastou-se com Sylvanus o suficiente para terem privacidade.

— Quer me contar alguma coisa?

— Não, realmente.

— Vamos, Syl, me dê algo.

A insinuação que crescia nos orbes escuros fez com que o sorriso discreto do homem alargasse um pouco mais, apenas o suficiente para ser flagrado. Talvez, apenas talvez, a amizade que compartilharam tantos anos atrás não estivesse perdida. Talvez ainda existisse a preocupação, o carinho, o companheirismo. Eram, de fato, pessoas diferentes agora, no entanto, não tanto quanto nos tempos da Rainha Má. O homem conseguia enxergar, nesta Regina, os traços daquela que conheceu, no entanto, mais leve e feliz. De alguma forma, isso o deixava feliz também.

— Eu não pretendo discutir isto.

— Você a encontrou? – Regina viu quando os olhos do feiticeiro correram até Rumple, que permanecia escorado na viatura, longe o bastante para que não os ouvisse. – Não acho que Rumple realmente se importe com isso.

— Bem, ele é o responsável por ela ir para tão longe de mim.

— E então você a reencontrou.

— Décadas depois.

— Eu também levei décadas para encontrar o que me daria felicidade novamente, até reencontrar o amor. As coisas levam tempo.

— Por que você o defende?

— Porque eu o conheço. – Regina tocou o queixo do homem fazendo com que voltasse a encará-la. – Nós três, lá, juntos novamente, me fez perceber a falta que eu senti de vocês, de nós.

— Nada pode voltar a ser como era antes, majestade. – Sylvanus afastou-se um passo e adotou a expressão neutra que, geralmente, mantinha.

— Não. Definitivamente. – Regina recuperou a proximidade entre eles. – Eu não me vejo mais vivendo na Floresta Encantada provocando brigas entre os moradores e assistindo as lutas pelo espelho enquanto apostava suas vidas, como um Netflix bizarro. – A rainha bufou uma risada, aproximou-se mais e deslizou os braços pelo pescoço do feiticeiro, ficando na ponta dos pés e o abraçando. – Mas eu gosto de você e me faria feliz pensar que estamos bem novamente. – Depositando um beijo na bochecha do homem, Regina o libertou e girou nos calcanhares, afastando-se em direção ao hospital.

— Majestade? – Sylvanus caminhou com seu passo lento, ajustando a gola de seu vestuário, até a morena, que girou o tronco lhe dando atenção. – Se precisar de mim, sabe o que fazer.

Sem dizer qualquer outra palavra, o homem desapareceu no redemoinho de fumaça cinza que caracterizava sua magia. Regina sorriu para o vazio a sua frente, certa de que, sim, eles estavam bem. Girou novamente o tronco e caminhou para o hospital.

***

Tudo que Swan podia ouvir era um som incômodo e constante, sentia um gosto amargo na boca e seus olhos ardiam mesmo fechados. Esforçando-se, Emma abriu os olhos para fechá-los logo em seguida, com a claridade que os atingiu. Quando os abriu novamente, pôde ver vultos ao seu lado e aguçou a audição para o que, até então, não passava de zumbidos.

— Filha? – Swan ajustou a visão e viu Snow aproximando o rosto. – Filha, está me ouvindo?

— Sim. – Emma precisou de mais esforço do que imaginava para uma única palavra.

Enfermeiras adentraram o quarto logo após o Dr. Whale. Todo o procedimento a qual foi submetida passou como um borrão. Emma corria os olhos por todos aqueles que entraram e saíram, em busca de uma única pessoa: Regina. Quando a equipe médica deixou o local e seus pais entraram novamente, seus olhos indagaram antes mesmo que os seus lábios pudessem proferir, e Charming acenou com a mão para que ela se acalmasse.

— Se está procurando por Regina, ela não está aqui.

Emma afundou o corpo dolorido no colchão desconfortável e encarou o relógio colocado diante da cama.

— Por quanto tempo eu dormi?

— Mais ou menos 36 horas. – Snow sentou-se na beirada da filha e passou as mãos alinhando os fios loiros rebeldes. – Como você está se sentindo?

— Minha garganta dói, mas já melhorou um pouco desde que acordei. – Swan levou uma mão até a nuca e a massageou. – Meu corpo dói tanto que parece que fui atacada por fadas malucas.

— Não há limites para o humor. – Henry entrou no quarto e caminhou hesitante até a mãe, com um sorriso tranquilo nos lábios. – É bom te ver acordada.

— Hey! – Swan correspondeu ao toque do filho em seu braço lhe afagando a mão. – Como você está?

— Aliviado por você.

— Eu sou de ferro, garoto. – Emma viu Henry ocupar o lado oposto de Snow na cama. – Regina não veio com você?

— Não. – Henry olhou para os avós com a testa franzida e voltou os olhos para Emma. – A mamãe voltou para Boston ontem. – O garoto não deixou de notar que a expressão de Emma caiu com a informação e, unindo os dedos no colo, suspirou. – Mas eu liguei para ela quando estava vindo e ela me pediu que estimasse melhoras.

Emma direcionou ao filho a tentativa de um sorriso e voltou a atenção para os dedos, com os quais brincava esforçando-se para disfarçar a decepção pela ausência da morena.

Durante os dois dias que passou internada, Emma ligou para Regina inúmeras vezes, mas só foi atendida uma única vez e o diálogo foi o mais breve possível, onde a morena apenas certificou-se de que ela estava se recuperando bem. Fora isso, Regina ligava para Henry ou David para saber notícias e nunca pedia para falar com Emma. A loira sentia seu coração se apertar a cada pensamento na morena, a cada chamada recusada, a cada vez que seu filho ou pai mandavam-lhe as estimas de Regina.

Com o tempo os pensamentos desordenados de Swan encontraram um caminho que começava a fazer algum tipo de sentido. Regina a havia encontrado em estado decadente, no momento em que a vida quase deixava o seu corpo, e presenciar tal situação com a pessoa com quem estava era uma constante em sua vida. Emma recorda-se de Regina relacionar-se romanticamente com três pessoas: Daniel, Luna e ela. Daniel morreu diante de seus olhos, com o coração transformado em pó; Luna definhou dia após dia, ao lado de Regina na cama em que dividiam, e morreu em seu colo; e então ela, que deveria ser a salvadora, é encontrada em situação semelhante. Talvez Regina apenas não pudesse mais lidar com isso, com o risco de perda iminente. Talvez ela não resistiria a mais uma morte. Regina havia lhe dito que a amava e, Emma sabia, Regina perdia todos que amava. Seria mais simples apenas se afastar, abandonar algo antes que a vida viesse lhe tomar. Quanto mais a realização lhe atingia, mais o seu coração doía e era inevitável chorar. Emma encolhia-se na cama sempre que seus pensamentos a levavam por este caminho e abafava o choro no travesseiro.

Quando recebeu alta, quase totalmente recuperada, Emma insistiu em ir para sua própria casa, apesar da insistência de seus pais em passar algum tempo no loft. A verdade é que a loira não queria companhia, ou, ao menos, não a companhia deles. Havia uma única pessoa, exceto Henry, que Emma desejava que estivesse ao seu lado naquele momento, no entanto, este alguém não estava disposto, era o que ela acreditava.

Emma deitou-se no sofá com uma tigela de cereal com leite no colo e ligou a TV saltando de canal até parar em algum filme que tinha certeza de já ter assistido, embora não recordasse o enredo. Cerca de uma hora depois, sentia-se dolorida por ficar tanto tempo sentada. Levantou-se preguiçosamente, deslizou os pés dentro do tênis frouxo e caminhou até a cozinha. Uma luz irritante piscava em seu celular, indicando alguma notificação. A loira tentou ignorar, dando atenção ao que tinha na geladeira, mas quando percebeu que nada ali estava pronto para ser devorado, passou a mão pela carteira que descansava ao lado do aparelho e direcionou-se para a saída. Parou a meio metro da porta e suspirou rendida quando ouviu o som do celular, resultado de mais uma notificação. Girou seus pés até a cozinha, o pegou e enfiou no bolso da calça larga de linho.

Evitando encontrar conhecidos, Swan resistiu à vontade de ir ao Granny’s deliciar-se com alguma torta da vovó e apressou os passos até o posto de gasolina, onde sabia que serviam sanduíches frescos. Sentou-se na única, pequena e alta mesa do estabelecimento e assoviou seu pedido para o atendente. Tirou o celular do bolso e o desbloqueou. Como suspeitava, haviam chamadas e mensagens de Snow, mensagens de David e Henry, mas nenhuma de Regina. Ignorando os pais, Swan selecionou a mensagem do filho para ler.

Hey! Como você está se sentindo? Eu vou passar o dia na estação com o vovô, mas se precisar de alguma coisa, me ligue e eu irei imediatamente. Melhoras. Beijos!

Pela primeira vez no dia, um minúsculo sorriso cortou os lábios da sheriff, tocada com a genuína preocupação de seu filho. Não importava quanto tempo passasse, ela sempre sentia-se emocionada em ter o filho junto a si, seria sempre grata pela segunda chance de participar de sua vida e maravilhava-se com o quão incrível, educado, generoso e inteligente ele era. “Regia fez um bom trabalho”. Bufando para o seu pensamento, que sempre direcionava-se para a rainha, Emma guardou o celular no bolso e esperou pelo lanche.

Havia um rádio ligado sobre o balcão, de onde, desde que a loira chegara, saíam apenas anúncios de publicidade. Emma girou os olhos, inconscientemente da mania que aprendera com Regina, e suspirou. Este sempre foi o seu grande problema com emissoras FM, o excesso de publicidade, embora em Storybrooke a concorrência fosse praticamente inexistente, o que fazia a loira detestar ainda mais tudo aquilo que ouvia. No entanto, após um par de minutos, uma melodia soou por ele, retrocedendo a dor que começava a se alastrar pela cabeça da loira.

See the pyramids along the Nile

(Veja as pirâmides ao longo do Nilo)

 

Watch the sunrise from a tropic isle

(Assista ao amanhecer numa ilha tropical)

 

Just remember darling all the while

(Apenas lembre-se, querida, o tempo todo)

 

You belong to me

(Você pertence a mim)

 

Inevitavelmente, os tormentos dos últimos dias retornaram. Era isso, não importava quão longe Regina estava, não importava a distância que as impunha, Emma simplesmente sentia que algo não poderia estar certo, pois, depois de todo esse tempo, de toda a construção do seu relacionamento e de como Regina demostrava cada vez mais iniciativa quanto a elas, não poderia simplesmente evitá-la. E aquele buraco que sentia crescer em seu coração, o vazio que doía mais do que qualquer hematoma que ainda tinha do sequestro, ela não podia estar sentindo sozinha.

Fly the ocean in a silver plane

(Voe um oceano em um avião prateado)

 

See the jungle when it's wet with rain

(Veja a selva quando está molhada pela chuva)

 

Just remember 'til you're home again

(Apenas lembra-se, até estar em casa novamente)

 

You belong to me

(Você pertence a mim)

 

And I'll be so alone without you

(Eu ficarei tão sozinho sem você)

 

Maybe you'll be lonesome, too

(Talvez você fique sozinha também)

A melodia já despertava as lágrimas que Emma lutava tão bravamente para manter para si. Apressou-se e, ao fim do lanche, com o estômago acalmando-se, Emma organizou os farelos em um canto do prato e levantou-se antes de deixar a quantia que devia sobre a mesa. Caminhou lentamente pelas ruas, aproveitando o frescor do vento e a calmaria daquela região menos residencial. Por trás de alguns estabelecimentos, era possível ver o telhado da casa de Regina e Swan viu um pássaro pousar sobre ele, observar a sua volta até finalmente aquietar-se e permanecer assim.

Emma demorou-se alguns segundos nisso até voltar a caminhar novamente. Quase virando a esquina, pode ver Henry caminhando distraidamente e dobrando o cruzamento que levava em direção à mansão. Recordando-se da mensagem que recebera mais cedo, Emma franziu as sobrancelhas e buscou pelo celular no bolso para certificar-se de que não havia se enganado. Mas, definitivamente, Henry havia dito que ficaria na estação com David, o que significava que o garoto estava mentindo. Desconfiada, Emma atravessou a rua e seguiu os passos do filho. Quase no cruzamento, Swan interrompeu-se bruscamente. “Talvez ele tenha um encontro”. Girando o corpo, Emma caminhou na direção oposta, tencionada a voltar para casa, no entanto, sua curiosidade falara mais alto e ela voltou a seguir o filho. “Ou talvez ele esteja em apuros”, convenceu-se, embora não acreditasse realmente na possibilidade.

Disposta a recuperar o tempo perdido, Emma tentou correr, embora o mais silencioso possível, para não perder o rastro do filho. Quando conseguiu vê-lo novamente, o garoto cortava a passarela que levava para a porta da mansão Mills e a abriu sem a utilização de uma chave sequer. Emma esticou-se, com parte do corpo escondido na parede de uma loja de ferramentas, e pode vislumbrar um carro estacionado a frente da mansão. Seu queixo caiu no minuto em que o reconheceu. Diante de quão pequena era a chance de qualquer outro habitante da pequena cidade mágica possuir um Mercedes preto e estacioná-lo diante da mansão, Emma sentiu o estômago contorcer-se com a constatação de que Regina estava lá. Antes que percebesse, uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha. Regina estar evitando-a de Boston era algo, mas evitando-a em Storybrooke era demasiado perturbador.

Com as pernas hesitantes e fracas, Swan caminhou até a mansão e escorou o ouvido na porta, em uma tentativa ridícula ouvir algo. Sua mão caiu para a maçaneta e a girou vagarosamente na esperança de encontrar qualquer coisa que invalidasse suas suspeitas, ou melhor, na esperança de nada encontrar, nenhum sinal de que Regina estava mesmo ali e não tê-la telefonado ou visitado uma única vez. Fechando a porta atrás de si, Emma subiu os degraus enquanto seu cérebro a dizia para voltar. Mas seus movimentos eram involuntários, ela havia perdido o controle de si e apenas seguia os sons que ficavam mais altos.

Quando chegou até a sala, seu coração se partiu com a cena que encontrou. De costas para ela, Regina e Henry seguravam porta-retratos enquanto caixas de papelão os circundavam. A imagem da rainha empacotando tudo que tinha ali para mudar-se definitivamente para Boston formou-se facilmente na mente de Emma e outra lágrima escorreu pelo seu rosto, seguida por outra e mais outra. Apesar do esforço, Swan não conseguiu conter-se e fungou em um volume baixo, mas o suficiente para chamar a atenção dos outros dois. Quando os olhos escuros de Regina encontraram os de Emma, a surpresa era palpável, e, posteriormente, a preocupação.

— Emma, o que você está fazendo aqui?

— Eu precisa ver você me deixando com meus próprios olhos. – A voz da loira saiu mais quebrada do que ela supôs que estaria. Contrariada com a fraqueza exposta, passou a manga da camisa pelo rosto, livrando-se das lágrimas.

— Mãe, do que você está falando? – Henry aproximou-se um passo, mas foi impedido de continuar pela mão de Regina segurando seu braço. Após um diálogo silencioso, o garoto retirou-se da sala, deixando as duas mulheres a sós.

— Eu acho que eu não entendi o que você quis dizer. – Regina tentou aproximar-se, mas Emma recuou. – Emma... – Regina acompanhou o caminho das lágrimas que desciam, novamente, livres pela face magra. – O que aconteceu com você?

— Você pensou em me visitar? Me ligar? Me mandar um postal, que seja?

Regina suspirou tentando aproximar-se novamente, avançando dois passos, mas Emma recuou exatamente o mesmo.

— Eu gostaria de ter ficado até você acordar, mas eu não podia esperar mais para fazer isso.

— Para fazer o quê? Para me deixar? – Emma tentou limpar as lágrimas mais uma vez e avançou meio metro para perto de Regina, com os olhos escurecidos pela mágoa que sentia. – Voltou escondida para empacotar suas coisas? Pensou que eu não ficaria sabendo?

 - Emma... – Regina elevou hesitante uma mão até o rosto da namorada, esperando que a loira a repelisse, mas não aconteceu. Emma aceitou o toque e um suspiro sôfrego escapou de suas narinas. – Eu não estou empacotando nada. Estou, na verdade, desempacotando.

— Como? – Os olhos magoados da salvadora tornaram-se confusos e Regina sorriu brevemente para o entendimento da situação.

— Eu não estou levando nada de Storybrooke para Boston. Estou trazendo coisas de Boston para Storybrooke. Coisas que preciso no meu dia a dia.

— Eu não estou entendendo.

— Emma, depois de tudo que aconteceu, não existe a menor possibilidade de eu sair de perto de você novamente. Eu estou voltando para Storybrooke.

Os olhos de Emma caíram para o porta-retratos suspenso uma das mãos da morena. Nele havia uma foto dos quatro, Henry, Júlia, Emma e Regina, todos segurando seus próprios algodões doces, tirada em um parque de diversões. Swan se lembrava de ver aquele porta-retratos sobre a estante da sala do apartamento de Regina. Então, finalmente, a compreensão se fez cristalina.

— Você está voltando? Você vai voltar a morar aqui? Em Storybrooke? Por minha causa? – Apesar das inúmeras interrogações, a loira não esperava ou precisava que a morena verbalizasse qualquer resposta, o sorriso que iluminava o rosto da rainha era tudo que ela precisava. Lançando-se em Regina, Emma enlaçou seu pescoço e a apertou contra o seu corpo com toda a força que conseguia encontrar. – Eu pensei que estivesse me deixando. Por que me evitou todos estes dias?

— Foram apenas dois dias. – Regina afastou Emma apenas o suficiente para selar seus lábios uma vez. Com as testas coladas, a rainha voltou a falar. – Era para ser uma surpresa e eu estava com medo de não conseguir manter minha boca fechada, por isso evitei falar com você. Mas eu liguei várias vezes para Henry e até para o seu pai para saber sobre você e sempre pedi que te dessem meus recados.

— E eles fizeram. – Emma emaranhou os dedos nas mechas do cabelo de Regina que caiam em seu rosto. – Mas eu pensei que... Céus! Eu sou tão estupidamente precipitada. Sofri todo este tempo pensando bobagem.

— Uma grande bobagem, Emma. – A rainha selou seus lábios novamente e falou contra eles. – Eu não estou pretendendo te deixar tão cedo.

— Eu sou uma idiota. – Swan assistiu Regina concordar com um aceno de cabeça. – Mas eu me lembro de você dizer que não tinha vontade de morar aqui.

— Exato, acontece que você mora aqui e eu nunca te separaria dos seus pais, além disso eu já não aguentava mais ver o meu filho apenas nos finais de semana. Emma... – Regina emoldurou o rosto da loira com as duas mãos afastando-se minimamente para encarar os olhos verdes. – Não importa onde seja, em que cidade, país ou mundo queira viver, minha casa será aonde você estiver.

— Eu te amo tanto. – Emma voltou a enlaçar o pescoço de Regina colando suas testas.

— Eu também te amo, querida.


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Notas finais do capítulo

Amores, espero que tenham gostado. Preciso dizer que o próximo capítulo será o último.

Muito obrigada a todos que estão acompanhando e espero que eu não os decepcione. Me deixem saber o que acharam.

A música do capítulo é You belong to me, de Lifehouse.

Beijos ♥



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