I Will Survive escrita por Iphegenia


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Boa madrugada, queridinhos!

Obrigada a todos que estão acompanhando e aqueles que favoritaram. Cês são lindos ♥

Boa leitura!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/717482/chapter/16

Regina acordou naquela manhã, a primeira em seu novo apartamento, mais cedo do que de costume. Ela estava ansiosa para cumprir com as metas que havia estabelecido. A cortina estava com uma pequena fenda aberta permitindo a entrada do sol e iluminando razoavelmente o quarto. Ela espreguiçou-se e sentiu a perna trombar com o corpo quente de Henry. Girou imediatamente para ficar de frente com ele e passar os próximos minutos admirando-o. Foi um longo tempo desde que ela teve o filho dormindo em sua cama, sentindo-se seguro e correspondendo o seu amor. Ela poderia passar o dia todo apenas percorrendo, com os olhos, cada traço de seu rosto adolescente, e ela facilmente desistiria de qualquer plano para continuar ali, não fosse por seu celular vibrando embaixo do travesseiro. Regina rapidamente o capturou para não acordar Henry, e abriu a mensagem de uma amiga que já ficara sabendo que ela estava na cidade. “James não consegue ficar com a boca fechada”, sussurrou sorrindo para o aparelho e arrastou-se para fora da cama.

Ainda com a camisola de seda preta, Regina passou no quarto da filha, e também ficou longos minutos a observando dormir, antes de seguir para a cozinha. Como cozinha e sala compunham praticamente um mesmo ambiente, quando Regina entrou no cômodo, teve a visão de Emma dormindo no sofá-cama. Ele era grande e confortável, mas ainda assim parecia pequeno para a loira que dormia de bruços com braços e pernas abertas com a manta cobrindo apenas os membros inferiores. Regina pode identificar uma mancha no travesseiro que julgou ser baba da loira e, enquanto preparava o café, teve como trilha o ronronar de Emma. Lembrou-se de todas as vezes em que flagrou a sheriff dormindo, todas elas em posições tão confortáveis quanto. Apesar disso, era completamente adorável e Regina não tentou negar o fato a si mesma.

Evitando o máximo de barulho que pode, Regina serviu-se de café enquanto pegava utensílios e ingredientes para preparar uma torta de maçã com as frutas que levou de sua macieira. Apesar do seu esforço, Emma, inevitavelmente, acordou, mas não antes de rolar algumas vezes pelo espaço em que dormia e proferir palavras desconectas, incluindo alguns xingamentos, o que obrigou Regina a fazer uma nota mental para conversar sobre o vocabulário da loira na frente de seus filhos. Apesar disso, a morena não conseguia parar de rir do ritual de despertar da sheriff.

Quando Emma estava alerta o suficiente, sentou-se no sofá-cama, de costas para Regina, e olhou para os lados, aparentemente procurado por algo, antes de jogar-se para trás novamente.

— Bom dia, Swan.

Emma sentou-se novamente em um pulo e girou o tronco na direção de Regina. Seus cabelos levemente bagunçados, seu rosto manchado pela baba que escorreu e os olhos inchados e vermelhos apenas fizeram com que Regina sorrisse mais.

— Oh. Aí está você. – Emma lutou contra a manta que a cobria e levantou-se caminhando até Regina. – Bom dia!

— Você pode dormir mais, se quiser, ainda é muito cedo. Eu madruguei.

 Emma olhou na direção da janela conferindo a pouca claridade e buscou pela parede algum relógio, quando não encontrou, puxou um banco para sentar-se na bancada onde Regina havia depositado tudo que precisaria para sua receita.

— Teremos torta de maçã para o café?

— Se preferir, ainda tem pizza na geladeira. – Regina girou os olhos e trouxe a xícara de café aos lábios sorvendo lentamente o líquido.

— Não. Tudo bem. Eu sempre tive vontade de experimentá-la.

Regina levou os olhos até o rosto de Emma, que estava distraída com os ingredientes, e, inconscientemente, o estudou. A seu ver, a loira parecia uma criança tirada da cama pelos pais para se aprontar para o colégio, mas que dormia na mesa de café e, provavelmente, durante as aulas. Mais uma vez a palavra que encontrou para defini-la naquela manhã foi “adorável”. Não havia outra coisa que a loira poderia ser mais do que isso.

— O banheiro é no final do corredor. – Regina jogou a indireta e escondeu a risada julgando já terem sido o suficiente quando ela nem mesmo tinha se alimentado ainda. Ao franzir de testa da loira, em total confusão, a morena tentou novamente. – Talvez você queira lavar o rosto.

Sem dizer nada, Emma caminhou em direção ao corredor. Regina tomou o último gole de seu café e começou a trabalhar na receita. Bateu os ovos acrescentando leite e os outros ingredientes para a massa e a colocou na bancada para sová-la. Sempre que preparava essa torta, lembrava-se de casa. Não a de Storybrooke nem o palácio onde viveu seus tortuosos anos de casada, mas a de seus pais, onde cresceu. Ela não tinha permissão para frequentar a cozinha, mas quando Cora não estava era lá que passava boa parte do tempo, conversando com os funcionários e os observando cozinhar. A torta era feita, especialmente para ela, por uma das senhoras mais velhas e, embora Regina gostasse de dizer que não havia torta de maçã mais gostosa que a sua, assumia apenas para si que a que aquela senhora preparava era, definitivamente, a melhor de todas.

Enquanto Regina preparava a massa automaticamente, Emma voltou e sentou-se novamente no banco e, então, foi a sua vez de estudar Regina. A expressão suave, com uma pequena curva nos lábios, olhando fixamente para a massa, mas visivelmente muito longe dali, fez um sorriso cortar o rosto da loira em apenas poucos segundos de admiração. Seu peito aqueceu-se com aquela cena. Sentia um carinho imensurável pela morena, ternura e uma enorme vontade de cuidar. Seu cérebro dizia para segurar seus sentimentos, mas seu coração não lhe dava ouvidos, apenas enchia-se mais e mais de amor, seu corpo o acompanhava com o desejo crescente e até Regina mexendo massa era demasiado sexy para ela. Sentindo o calor descer, Emma endireitou a postura e coçou a garganta, trazendo Regina para a realidade, seja lá onde ela estivesse.

— Você precisa de ajuda?

Regina piscou algumas vezes despertando e suspirou nostálgica antes de encarar a loira.

— Se você conseguir, poderia descascar as maçãs e picá-las, por favor.

— Se eu conseguir? Querida, você está falando com a melhor descascadora de frutas que esse país já viu. – Emma deu a volta no balcão e tomou uma maçã e uma faca pequena em mãos. – Alguma preferência de formato de corte?

Regina uniu as sobrancelhas com divertimento e olhou a expressão concentrada de Emma enquanto girava a maçã em mãos, tentando descobrir por onde deveria começar a descascá-la.

— Em meia lua, se souber o que é isso.

Preparar a torta demorou mais do que de costume com a ajuda - se é que Regina poderia chamar assim - de Emma. Mas a loira parecia tão empolgada, que a rainha simplesmente deixou que ela fizesse tudo em seu tempo e elogiou cada feito apenas para ver o sorriso orgulhoso da loira. Depois de dias, a morena, finalmente, sentiu-se bem e que a vida valia mesmo a pena quando os sorrisos surgiam de forma tão natural.

Quando a torta ficou pronta, Regina a tirou do forno e pediu a Emma para colocar a mesa enquanto acordava os filhos. Assim que Júlia entrou na sala de jantar, no colo da mãe, e viu Emma, um tímido sorriso nasceu em seus lábios, mas antes que a loira pudesse retribuir, a pequena escondeu o rosto no pescoço de Regina. Emma franziu as sobrancelhas e olhou da menina para a Regina e depois para Henry, que chegou logo atrás.

— Ela é manhosa pela manhã. – Regina sibilou para Emma e afastou a cadeirinha da filha para acomodá-la. – Ei, princesa, a tia Emma está aqui, você não quer dizer oi?

Júlia olhou para a loira com o rosto corando e viu Henry depositar um beijo na bochecha da mulher. Seu rosto ficou ainda mais avermelhado quando ela cobriu a boca com sua pequena mão e mandou um beijo no ar. Emma sorriu brilhantemente e saiu do lugar que ocupava na mesa para ir até a menina. Sem hesitar, a pegou no colo e lhe encheu de beijinhos no rosto.

— Bom dia, mocinha.

— Dia. – Júlia segurou-se na camisa amarrotada que Emma usava e descansou a cabeça em seu peito, ainda envergonhada.

Regina assistia a cena com encantamento. Ao contrário da rainha, Júlia era extrovertida, simpática, até demais para a pouca idade, e gostava das pessoas com facilidade e, claro, as pessoas gostavam dela.

— Eu não ganhei tantos beijos. – Henry pronunciou com falsa tristeza ao sentar-se na mesa.

— Tadinho. – Emma forçou um bico e usou uma mão para levantar a cabeça de Júlia para que fosse possível enxergar o seu rostinho. – O que você acha de atacarmos o seu irmão para que ele nunca mais reclame?

A menina agitou as mãos empolgada e Emma correu para Henry, com a pequena no colo, e distribuíram beijinhos estalados no rosto do garoto, que gargalhava e se contorcia. Se Regina estava encantada com a cena anterior, naquele momento seu coração derreteu e ela precisou sentar devido a emoção que cresceu em seu interior. Há muito ela não via a filha sorrir tanto em tão pouco tempo e a interação com Henry estava ficando cada vez mais constante e íntima. A rainha sentiu como se o universo estivesse se realinhando.

Quando todos já estavam em seus devidos lugares, Regina começou a servi-los.

— Eu já estava com saudade dessa torta.

— Mas não vá com muita empolgação, não, porque Swan ajudou, vai que... – Regina falou com Henry, mas com os olhos colados na loira esperando pela sua reação e não decepcionou-se quando o rosto da sheriff transformou-se em uma carranca exagerada.

— Eu segui as instruções da sua mãe, garoto.

— Boston fazendo milagres. E nós achávamos que Storybrooke que era mágica.

Henry mal completou a frase quando sentiu um guardanapo atingir seu rosto sendo seguido por um resmungo de Emma. A refeição seguiu divertida, com Henry implicando com a mãe loira sempre que possível, fazendo Regina sorrir e se orgulhar do fato do filho prestar atenção em suas frases de efeito, que ele repetia de forma quase tão debochada quanto ela. Júlia teve seu momento de sonhos, como em todas as manhãs, e Emma foi sua ouvinte favorita, uma vez que a loira contribuía com detalhes para complementar a narração dos sempre tão enfeitados sonhos.

Após o café, os quatro se arrumaram e seguiram para a primeira parada que Regina havia programado para o dia: a loja de móveis para montar o quarto de Henry.

— Você não acha que é melhor comprar uma cama de solteiro? E se ele achar que uma de casal lhe dará liberdade para levar garotas?

— Swan, ele conhece os limites. Além disso, é muito jovem para pensar nisso. Ele nem tem uma namorada. Ou tem? – Regina cerrou os olhos encarando Emma que seguia ao seu lado pelo corredor onde as camas ficavam expostas na primeira loja que entraram.

— Não. – Swan apressou-se em esclarecer. – Mas um dia terá.

— Quando isso acontecer, conversaremos com ele sobre isso. Por enquanto essa cama só servirá para lhe dar mais espaço e conforto.

Emma parou de andar por um momento pensando em como argumentar a isso, mas foi interrompida pelo chamado de Henry que vinha de outro corredor. Ele estava acompanhado de um vendedor diante de uma cama de casal razoavelmente maior do que uma tradicional, com cabeceira de madeira escura com dois criados mudos acoplados. As mulheres se aproximaram, Regina segurando Júlia em seus braços.

— E então? – A morena falou diretamente com o vendedor.

— Parece que seu filho gostou bastante dessa cama, se me permite, eu posso falar um pouco sobre ela com a senhora e sua esposa. – O homem saltou os olhos de Regina para Emma e, sem esperar uma resposta, seguiu falando sobre os materiais em que a cama era fabricada, formas de pagamento e descontos.

O corpo de Emma enrijeceu quando o homem se referiu a ela como esposa de Regina. Seus olhos arregalaram-se e ela travou uma batalha interna entre esclarecer ou não. Julgou que essa seria a vontade de Regina, mas estava longe de ser a sua. Não era, de fato, esposa de Regina, mas não se importaria nem um pouco em ser, ou, por ora, continuar sendo confundida como tal. Quando o homem seguiu com as explicações e Regina não o interrompeu com qualquer esclarecimento, Swan relaxou o corpo e forçou-se a prestar atenção no que era dito, embora observar Júlia brincar com o cabelo de Regina fosse bem mais interessante. No entanto, nada era capaz de fazê-la deixar de ouvir a voz do vendedor repetir e repetir: “eu posso falar um pouco sobre ela com a senhora e sua esposa”.

***

Depois de entrar em mais algumas lojas e comprar toda a mobília para o quarto de Henry, era hora de parar para o almoço. Regina havia combinado de almoçar com uma amiga, mas não impediu os outros três de se lambuzarem com lanches no shopping, desde que Emma se comprometesse a fazê-los comer salada e sem refrigerante, apenas suco natural. Regina deixou o carro com eles e caminhou até um restaurante próximo onde sua amiga já estava a sua espera. Cerca de meia hora depois ela já estava atualizada sobre muitas novidades do seu círculo de amizades e de Boston.

— Agora que eu já te contei muito do que aconteceu, me conte sobre como foi esses dias em que esteve afastada daqui.

Stef, namorada de James, era amiga de Regina há quase tanto tempo quanto ele. Sua pele negra e seus cabelos crespos naturais eram capazes de parar o trânsito caótico da grande cidade. Mas, como Regina descreveu a amiga para James quando os apresentou, sua beleza estava muito além do exterior. Professora infantil, ela era a pessoa com melhor tato com crianças, sua generosidade e gentileza lhe precediam. Não era difícil perder-se em conversas com ela por uma tarde inteira.

— Foi intensa. Eu não consegui muito tempo de descanso como estava planejando, mas eu consegui colocar minha cabeça em ordem. É muito cedo para dizer que superei, mas hoje eu já consigo pensar em Luna sem que isso seja uma tortura que me faça chorar por horas.

— Eu fico feliz que esteja de volta, assim eu consigo cuidar de você. – Stef passou a mão por cima da mesa e a uniu com a de Regina, oferecendo um carinho lento. – Você gostou do apartamento?

— Gostei. Estava agora mesmo comprando algumas coisas para ele.

— Decoração? – Stef soltou suas mãos e bateu na mesa empolgada.

— Ainda não, mas você será a primeira pessoa que vou chamar quando ele estiver decorado.

A professora bateu palmas animada fazendo Regina sorrir quando estava prestes a colocar o vinho na boca e, por pouco, evitando que ele fosse expelido por toda a mesa quando a gargalhada lhe escapasse da garganta. Não era algo de se imaginar uma rainha fazendo, mas poderia ser o episódio que mais se repetia com Regina quando estava com os amigos.

— Rê... – Stef guardou as mãos sobre as pernas e adquiriu um tom sério, raro. – James me contou sobre Henry.

A expressão de Regina endureceu com a menção de seu filho. Apesar de saber que era um tópico que não poderia ser evitado por muito tempo, temia pela reação dos amigos, especialmente aqueles mais ligados à Luna. Regina os amava muito, mas Henry era seu filho e não iria admitir qualquer tipo de rejeição direcionada a ele.

— É claro que contou.

— Não fique brava com ele. – Stef esperou até que a expressão de Regina suavizasse. – Ele apenas ficou preocupado com você. Esse tipo de perda de memória é muito grave.

— Eu estou bem. Eu já me lembro de tudo. – Regina mexeu-se desconfortavelmente. Sabia que desde que recuperou as memórias, mentir para os amigos seria inevitável, mas isso não era algo que aceitara com tranquilidade. – E, mais importante do que isso, eu recuperei meu filho. Eu o amo tanto quanto amo Júlia e eu gostaria muito que eles fossem vistos por vocês da mesma maneira.

— Claro. Claro. – Stef elevou as mãos gentilmente, tranquilizando a morena. – James disse que ele é um encanto. Inteligente, educado, prestativo e ótimo com Júlia. Você não precisa se preocupar com isso, Rê. Ninguém vai rejeitar seu filho.

Regina sorriu às palavras da amiga e a constatação de que cogitar que seus amigos reagissem de forma diferente era uma enorme besteira, pois todos eram simplesmente maravilhosos. Esse era um dos presentes que Boston lhe deu. O exílio a afastou do filho e isso a maltratava todos os dias quando pensava a respeito, mas também lhe agraciou com as melhores pessoas que poderia conhecer na vida.

— Eu fico muito feliz ouvindo isso. – Regina tomou sua taça de vinho tinto em mãos e, descontraidamente, ofereceu um brinde. – Aos melhores amigos.

— James também me falou sobre a mãe. – Stef sorveu sua bebida e cortou a carne evitando o olhar de Regina, sabendo que aquele assunto poderia irritá-la bem mais que o anterior. – E que ela está na sua casa.

— Swan é apenas uma amiga. – Regina bateu a taça contra a mesa bufando. – Vocês não acham que eu já estaria envolvida com outra, acham?

— Hey, calma! – Stef ofereceu um sorriso apaziguador. – Eu não estou te julgando, muito pelo contrário. Eu sei que você não estaria com outra tão cedo e foi exatamente isso que eu disse ao James. Eu estou do seu lado aqui, okay?

— Okay. – A rainha soltou um suspiro frustrado e abocanhou sua salada de tomates. – James só pode estar de brincadeira comigo se ele pensa que...

— Não. Não. Ele não está pensando isso. Eu garanto. Você é a melhor amiga dele e ele sente que está ficando de fora da sua vida atualmente, em um momento complicado. Ele só está preocupado com você porque ele tem essa necessidade absurda de querer te proteger do mundo e de si mesma.

— Eu sei. – Regina abandonou sua refeição e bebeu o último gole de vinho. – Ele fez muito por mim e eu fiquei apenas lhe dizendo coisas como “não quero falar sobre isso”. Eu só... – Mordeu o lábio inferior escolhendo as palavras. – Henry é, ao lado de Júlia, a pessoa mais importante da minha vida e a mãe dele está sendo uma amiga incrível, que vem me ajudando a passar por esse momento delicado. Eu odeio pensar que isso pode ser interpretado dessa forma. Se fosse outra pessoa, eu colocaria fogo e pronto, mas James também é uma pessoa muito importante e, no posto de melhor amigo, a opinião dele conta muito para mim.

O tom choroso de Regina lhe deu um ar quase infantil, que fez Stef sorrir como se estivesse com um de seus pequenos alunos. Ela levantou-se e contornou a mesa abraçando Regina pelas costas, lhe fazendo um carinho leve nos braços.

— Apenas se permita ser cuidada por ele também. Sei que é o melhor para os dois. Ele te ama.

— Eu o amo também. – Regina afastou os braços de Stef para que pudesse levantar. – Eu preciso ir agora e me encontrar com eles. Foi muito bom te ver. Eu estava louca de saudade. – Quando Regina aproximou-se para um abraço de despedida, a amiga a impediu e cruzou os braços contra o peito.

— Você não vai me apresentar seu filho?

— Você gostaria? – As írises escuras de Regina brilharam e um sorriso cortou o seu rosto enquanto a amiga balançava a cabeça em um “sim” empolgado. – Você vai adorá-lo, ele é incrível.

— Claro que é. Ele é seu filho. – Stef puxou Regina pelo braço para fora do restaurante, animada com a ideia de conhecer aquele que ela já considerava um sobrinho, com seu jeito ímpar que, em sala de aula, fazia os mais desavisados ficarem em dúvida sobre quem era aluno e quem era a professora.

***

Após o jantar, Regina jogou-se no sofá e saltou de um canal para o outro pela próxima hora. Júlia já estava dormindo e Henry estava jogando videogame com Emma no quarto. Pensando que isso poderia durar mais algumas horas, Regina transformou o sofá em cama, estendeu lençol, manta, espalhou algumas almofadas para servirem como travesseiro, e deitou-se para assistir um filme. Distraída com o catálogo de filmes, a morena não viu quando Emma entrou no cômodo, agarrada ao travesseiro, e, parada ao lado do sofá-cama, a observava.

— Apesar da madeira, esse chão é bem silencioso.

Regina sentou-se com o susto que sentiu quando a voz de Emma cortou o silêncio. A loira gargalhou da morena que mantinha a mão no peito, conferindo os batimentos cardíacos.

— Se sua intenção é acordar minha filha, você está no caminho certo. – Regina resmungou mal humorada e voltou a se deitar. Quando a loira ajeitou-se ao seu lado, a rainha interrompeu sua escolha com expressão desconfiada. – O que foi?

— Nada. – Emma girou o corpo para ficar de frente para Regina e fixou os olhos no rosto moreno.

— Vai ficar me olhando?

— Uhum.

— Sai! – Regina pegou uma almofada e bateu contra o rosto da sheriff. – Você, com certeza, tem uma foto minha. Se contente com isso.

— O que te faz pensar que eu tenho uma foto sua? – Emma devolveu a almofada no rosto de Regina e usou as mãos para abafar a risada quando a morena sentou-se e passou a bater com o estofado pelo seu corpo.

— Você é chata! – Regina devolveu a almofada para o seu lugar e voltou a deitar-se. - Você já quer dormir? Eu posso ir para o meu quarto.

— Não. Não. – Swan respirou algumas vezes recuperando-se e deitou, novamente, de costas olhando para a TV. – Você quer assistir um filme?

— Eu estava para escolher algum. Se importa?

— Não. Você se importa que eu te faça companhia?

— Não. – Regina voltou a percorrer a lista de filmes de terror. – Você prefere outro gênero?

— Pode ser terror, eu também gosto. Quer que eu faça algo para comermos enquanto isso?

— Hum... – Regina pausou sua escolha novamente e deslizou o dedo indicador pelo osso do nariz, em um gesto que, Emma já havia percebido, fazia sempre que estava tentando decidir algo. – Acha que é muito tarde para sorvete?

— Nunca é tarde para sorvete. – Em um único movimento, Emma se pôs de pé e caminhou até a geladeira. – Eu estava pensado sobre o dia de hoje... – abriu algumas gavetas em busca de colheres antes de continuar. – Apesar do valor ser tão alto que nem trabalhando por um ano e guardando cada centavo eu conseguiria pagar pelos móveis, foi divertido. – A loira caminhou novamente para o sofá-cama e sentou-se com o pote de sorvete em mãos e as colheres equilibradas em cima dele. – E eu gostei da Stef, acho que ela gostou de mim também.

— Ela gostou. – Regina sentou-se pegando as colheres para que Emma destampasse o pote. – Ela me mandou uma mensagem durante o jantar elogiando você e Henry.

— Nem dá para acreditar que ela é namorada daquele cara. É simpática, gentil, me tratou super bem, além de ser linda e...

— Não deixe James descobrir essa sua paixão pela Stef ou ele terá motivos para te detestar de verdade. – A rainha tomou o pote de sorvete de Emma e encheu sua colher tentando reprimir a risada pela expressão confusa no rosto da loira.

— Não é paixão, eu apenas esperava outra coisa quando você a apresentou como “amiga e namorada do James”. Ela é muito boa para ele. – Swan recuperou o pote sob protestos de Regina e mergulhou sua colher pegando tanto quanto fosse possível.

— Não o julgue mal...

— Você que está me julgando.

Emma e Regina travaram uma luta silenciosa com olhares desafiadores. A morena divertia-se com a antipatia ilógica entre a loira e seu amigo, já Swan apenas desfrutava a companhia da morena da única forma que elas sabiam conviver: implicando-se. Era inusitado uma amizade - ou algo mais, como a salvadora desejava - entre duas pessoas tão diferentes e competitivas entre si, mas não havia companhia melhor na opinião da loira e Regina estava muito próxima de considerar o convite feito à loira para passar um tempo em Boston como um grande acerto.

— Vamos nos concentrar e tomar esse sorvete antes que derreta.

Regina desviou os olhos e buscou o controle para iniciar o filme. Apesar da música que tocava na introdução, ela pode ouvir a voz de Emma, embora apenas um sussurro, dizer que seu coração já tinha alguém. Regina não tinha certeza se a loira estava ciente do que disse, se deveria ter escutado aquilo ou se era apenas Emma conversando consigo mesma, mas uma vez que as palavras chegaram até ela, seu coração reagiu de forma incomum. Seus batimentos ganharam um ritmo mais acelerado, embora não muito, mas o suficiente para fazê-la esforçar-se ao puxar o ar e seu estômago vibrou em uma sensação que não era estranha. Regina não estava correspondendo aos sentimentos da loira, mas não podia mais negar que aquilo mexia com os seus próprios.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Me deixem saber o que estão achando nos comentários, além de ideias, críticas, beijos, amor, teorias, tudo ♥

Beijos e até o próximo!