I Will Survive escrita por Iphegenia


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridinhos. Senti saudade!
As férias estão batendo na porta, portanto terei tempo para esse hobby delicioso. Espero que gostem.
Boa leirura!



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Parados diante da grande porta de madeira batida, com detalhes simulando xícaras e bules de café, Emma, Snow, David e Henry se preparavam para o reencontro com Regina após cinco anos.

 

Sentada como uma ré na sala de reuniões da prefeitura, Regina ouvia em silencioso sofrimento a decisão de como seria sua vida a partir dali. O resultado do plebiscito que determinaria sua prisão ou exílio estava sendo lido por David diante de, provavelmente, todos os habitantes de Storybrooke. As palavras saiam inseguras da boca do principe e a rainha sentia sua cabeça girar com o suspense. Depois de alguns minutos - que para ela passaram com a lentidão de décadas - a sentença foi decretada. Regina, que outrora governava o reino e, posteriormente, a cidade com impassividade e crueza, estava sendo, oficialmente, exilada.

Os olhos da rainha nublaram e ela foi capaz apenas de ouvir os gritos comemorativos que ignoravam qualquer tentativa de controle por parte do príncipe. Fechou os olhos em busca de parar as lágrimas que ameaçavam escorrer. Prendeu o ar em seus pulmões e contou mentalmente até cinco, expirou e deglutiu simultaneamente enquanto sentia seus braços algemados serem puxados forçando-a a levantar-se. Com a visão ainda embaçada, Regina foi guiada pelo corredor central, onde recebeu tapas, ouviu ofensas e sentiu cuspes atingirem sua bochecha. Próxima da porta de saída sentiu braços envolverem sua cintura e focou sua visão no pequeno corpo que a agarrava. Um Henry com o rosto banhado de lágrimas usava toda sua pouca força para evitar que sua mãe fosse levada. Ao sentir que estava sendo inútil, entrelaçou as penas na da rainha desejando ser levado também. Regina fitou os olhos vermelhos do filho, desceu por seu nariz e boca, contornou suas bochechas e checou seus fios castanhos a fim de decorar cada centímetro daquele que mais amava. Ciente de que a paciência daqueles que a puxavam não duraria mais que poucos segundos, voltou para os olhos do menino e sussurou o seu amor, recebendo mais lágrimas como resposta.

O corpo de Henry foi retirado dela pelos braços de Emma, que, ao encontrar os olhos de Regina, balbuciou um "sinto muito" com os os próprios olhos marejados.

Regina foi colocada no banco de trás de sua Mercedez - que, prevendo o resultado daquela reunião, já estava com as malas da rainha. David dirigiu até a fronteira da cidade e cedeu o lugar para a ex-prefeita, libertando-a das algemas. Ela encarou a linha no asfalto e sentiu que seu coração estava sendo esmagado. Atravessar aquela linha significava perder suas memórias, perder seu filho, perder suas raízes, perder a si mesma. Sua mente buscou o último instante em que esteve com seu filho e sentiu ainda mais dor ao perceber que ele estava sofrendo. Tendo a perdoado ou não, Henry não queria aquela separação e ele demonstrou isso. Depois de alguns anos a rejeitando, no último momento, Henry a quis. Mas era tarde demais para reverter a situação, tarde demais para mudar seu destino.

David derramou pó de fada em Regina - para conter a magia até que ela estivesse fora da cidade - para então retirar o bracelete que vinha fazendo esse trabalho há alguns dias. Ele pousou uma mão no ombro da rainha ganhando sua atenção, reconhecendo a força que ela tinha, e admirou-se com o fato de que nenhuma lágrima, nenhuma tentativa de fuga, nenhuma reclamação tivesse saído dela desde o momento em que o resultado do plebiscito foi proferido. Com genuína empatia, David acarinhou o ponto em que sua mão repousava e desejou que a rainha tivesse sorte em sua nova vida.

Sem hesitar um segundo sequer depois do príncipe fechar a porta, Regina girou a chave, prendeu a respiração e atravessou a fronteira.

 

 

Com um plano em mente, Emma orientou os três a esperarem do lado de fora e entrou no café. Haviam muitos clientes, mas ela avistou Regina sentada em uma mesa no canto esquerdo do estabelecimento, com um livro aberto em mãos. Aproximou-se do balcão e, aproveitando a distração da atendente, pegou um avental e o vestiu, prendeu os cabelos em um coque e aproximou-se de Regina.

— Bom dia. Já foi atendida? - Emma tentou sorrir simpática, mas seu coração falhou uma batida quando os olhos castanhos da rainha a encararam. Inconscientemente ela esperou pelo revirar de olhos que Regina sempre fazia quando a via, mas não aconteceu, então ela voltou para a realidade onde a morena não se lembrava dela.

— Ainda não. Eu vou querer um expresso sem açúcar, por favor.

Quando a rouquidão da voz de Regina alcançou Emma, os pelos loiros arrepiaram-se instantaneamente. Ela havia literalmente sonhado com aquele momento nos últimos cinco anos e seu corpo implorava por um abraço. Para contê-lo, Emma apertou as mãos uma na outra com força e caminhou de volta para a o balcão retirando o avental assim que percebeu-se sumir do campo de visão de Regina, e fazendo o pedido. Quando o café lhe foi entregue, Emma retirou do bolso de sua jaqueta um pequeno frasco com a poção de memória que Rumple lhe deu, ela recolocou o avental, despejou a poção no café e caminhou de volta para a mesa.

— Aqui está.

Emma depositou a xícara diante de Regina, que a olhou abrindo um breve sorriso e logo voltou sua atenção para o livro. Emma afastou-se alguns passos, mas manteve os olhos na rainha, esperando que ela levasse a xícara à boca. Regina passou os dedos pela asa da xícara e ergueu-a, assoprou a bebida algumas vezes e a experimentou. Assim que repousou a xícara na mesa novamente, lembranças lhe invadiram. Sua infância sendo maltratada pela mãe; a juventude ao lado de um homem que não amava; anos perseguindo a responsável pela morte do seu amor; a maldição; o filho que lhe ensinou a amar novamente; a quebra da maldição; o dia em que deixou Storybrooke e sua identidade para trás. Ela levou as mãos à cabeça pressionando as têmporas e quando abriu os olhos encontrou Emma sentando-se a sua frente.

— Regina.

A voz da sheriff desencadeou na rainha todos os sentimentos que estiveram adormecidos naqueles cinco últimos anos: raiva, mágoa, tristeza, amor, rejeição e medo. Mas não anulou nenhum que ela havia desenvolvido naquela nova vida.

— Swan. - Foi só nesse momento que Emma teve certeza de que seu plano tinha funcionado. A forma ácida com que Regina pronunciou seu nome, o desprezo no olhar, tudo estava de volta. - O que você quer?

— Storybrooke precisa de você. - A loira queria dizer muitas coisas, como o quanto sentiu falta da ex-prefeita e que estava honestamente feliz em vê-la, mas apenas essas palavras saíram de sua boca.

— Storybrooke tem uma salvadora. - Regina bebeu o café com desinteresse, mas sem a leveza que carregava antes de tomar poção e Emma se pegou pensando em como poderia ser pesado ser aquela mulher.

— Storybrooke precisa de uma rainha.

Regina observou o rosto de Emma endurecer com a declaração. Lembrou-se que, mesmo que se odiassem e dedicassem os dias a prejucar uma a outra, elas nunca precisaram perguntar nada, sempre sabiam o que a outra estava sentindo e o que ela viu nas orbes esmeraldas da sheriff foi dor e verdade. Diante disso ela soltou o ar com calma, empurrou a xícara para o lado, e concentrou-se na loira.

— Explique.

— Que tal eu te explicar mais tarde, em um lugar mais calmo, e agora, ao invés disso, eu te levo para ver o Henry.

— Ele está aqui? - Regina levantou-se imediatamente apoiando as mãos na mesa.

— Lá fora...

Emma não teve chance de terminar de falar, pois Regina correu dali, deixando bolsa e livro para trás, e saiu pela porta.

Do lado de fora, Regina varreu a rua com os olhos até encontrar Henry sentado na calçada do outro lado da rua. Assim que seus olhares se cruzaram, Henry atravessou o cruzamento sem nem mesmo olhar para o lado e se atirou nos braços da mãe. Em um abraço apertado, ambos choraram a saudade que sentiram e que doía em cada mísero centímetro de seus corpos. Sussurram declarações enquanto afundavam-se no pescoço um do outro, sentindo o cheiro característico de cada um e que sempre os acalmou. Quando se separaram, Snow, David e Emma estavam diante deles. O príncipe e a princesa estavam visivelmente nervosos e a loira esboçando um pequeno sorriso ao ver o filho agarrado à cintura de sua outra mãe.

— Podemos ir para o seu apartamento e conversarmos lá? - Emma recebeu um arquear de sobrancelhas da morena. - Nós te seguimos. - E então Emma ganhou o revirar de olhos que estava esperando desde o momento em que parou diante da morena na mesa do café. Ela disfarçou o sorriso que queria escapar ao pensar que aquele era um recorde de tempo em que ficavam juntas sem que a morena executasse aquele ato. Emma o odiava por sentir-se tola, mas amava pelo fato de considerar a falta de paciência de Regina uma das principais características que compunham o seu charme. "Céus! Era sexy".

Regina ignorou o cumprimento do casal e seguiu na frente de mãos dadas com Henry, após tomar sua bolsa e o livro das mãos da sheriff, ouvindo tudo que ele contava empolgado sobre coisas que havia aprendido naquele tempo e como estavam boas suas notas. Apenas assuntos que deixassem Regina orgulhosa porque, depois de tanto tempo, tudo que ele queria era ver o sorriso que a morena sempre reservou para ele.

Quando entraram no apartamento, Regina jogou a bolsa no sofá e sentou-se com as pernas levemente abertas, apoiando os cotovelos nos joelhos, de uma forma que - Emma pensou - a antiga Regina nunca faria. Então começou a considerar os efeitos colaterais de se perder a memória. Talvez a personalidade de Regina tivesse sofrido alguma alteração. Esse pensamento a desesperou porque o que Storybrooke precisava era de Regina como ela sempre foi, e mais do que isso, Emma não gostou do que viu quando imaginou como ela poderia ser agora.

— E então, vão me contar o que está acontecendo? - Regina perguntou, mas os quatro ainda não eram capazes de dizer nada, apenas corriam os olhos pelo apartamento e de volta para a morena. Emma observou que haviam fotografias de Regina com várias pessoas: com um homem loiro de olhos verdes, com uma mulher de pele clara e cabelos ruivos curtos, com um grupo de pessoas em uma praia e também em algo que parecia ser um bar ou casa noturna, havia ainda fotos com um bebê e outra com uma criança branca, mas cabelos negros. Em todas elas Regina estava sorrindo brilhantemente, um sorriso que a loira nunca viu. Um sentimento de nostalgia, de saudade daquilo que nunca viveu, lhe abateu, e ela precisou sentar para disfarçá-lo. - Vocês pretendem falar ainda hoje?

— Estamos em guerra. - David respondeu, abruptamente, sentando-se no sofá que estava de frente para a morena, ao lado da filha. - Não sei como, mas Storybrooke chegou ao conhecimento do rei Dionísio e ele quer tomá-la.

— Bastardo! - Regina bradou passando a mão pelo cabelo. Henry sentou-se a seu lado entrelaçando suas mãos.

— Só a senhora pode nos ajudar, mãe.

— Vocês já estiveram em guerra com pessoa pior. - Encarou David e Snow e apontou o dedo indicador para si própria. - Saberão lidar com isso.

— Dessa vez é diferente. - Snow tomou a palavra pela primeira vez ao sentar-se ao lado do marido. - Nós tínhamos os nossos amigos ao nosso lado que lutavam conosco devido a isso, mas você, Regina... Você tinha um exército inteiro. Eu sei fazer discursos motivadores, David sabe lutar e executar estratégias, mas não conseguimos comandar nada. Você é quem coloca um exército aos seus pés.

— Vocês me exilaram. - Regina soltou-se do filho e cruzou as pernas fixando os olhos nos da princesa. - Vocês me expulsaram da minha própria cidade, me afastaram do meu filho e agora querem que eu os ajude? Não vai acontecer.

— Ele tem criaturas mágicas ao seu lado. Pense no que elas poderiam fazer chegando a esse mundo. - David insistia.

— Claro que o que vocês querem é magia, e não eu.

— Regina, você sabe que votamos pela sua absolvição. - Snow suspirou frustrada.

— Mãe, Stprybrooke e todas as pessoas que vivem lá precisam de você. Eu preciso de você. - O tom suplicante de Henry fez o coração da rainha murchar ao constatar que aquele era um pedido que ela não poderia atender.

— Eu não posso simplesmente abandonar tudo que construí aqui, querido. A minha vida é aqui.

— Mas nós somos famílias e sempre nos ajudamos, lembra?

Regina não teve tempo de responder, pois a porta do apartamento foi aberta e um pequeno corpo coberto por um agasalho roxo entrou correndo até trombar contra as pernas da morena, que levantou-se e a pegou no colo.

— Oi, querida. - Beijou a testa da menina que se aninhava em seu pescoço.

— Um pinguim. - A garotinha suspendeu a pelúcia que trazia em mãos. - E um quebra-cabeça, mostra mamãe?! - Virou-se para a mulher parada na porta e só então ela foi notada pelos visitantes. Era a mesma ruiva que Emma identificou nas fotos. A mulher retirou uma caixa de dentro de uma das sacolas e a entregou para a filha. - Vamos brincar? - A menina voltou-se para Regina.

— Vamos! Mas que tal agora você ir se preparando para tomar banho, depois jantamos e então montamos esse quebra-cabeça legal, hein?! - Regina apertava mais a pequena em seus braços a cada palavra que dizia.

— Combinado! - A menina agitou-se para sair do colo e correu para fora do cômodo.

A ruiva avançou alguns passos e Regina foi de encontro a ela. Quando estavam próximas o suficiente, sem se importar com os olhos curiosos que as encaravam, Regina selou os lábios aos da mulher e a envolveu em um abraço. Instantaneamente os queixos de Emma, David, Snow e Henry caíram como se a gravidade os tivesse atingido de forma sobrenatural.

— Como você está se sentindo? - Regina perguntou pegando as sacolas das mãos da mulher e colocando-as no chão.

— Estou bem. - A ruiva lhe deu mais um breve selinho. - Só estou um pouco cansada.

— Você se esforçou?

— Não muito. Eu juro. - A recém chegada segurou na mão de Regina e caminhou até estar diante dos visitantes. - Então... 

— Bem... Esses são David e sua esposa Mary, esta é a Emma e este é Henry, seu filho. - Apresentou apontando um por um. - Esta é Luna, minha esposa. E aquela é nossa filha, Júlia.

Luna aproximou-se estendendo a mão para cumprimentá-los, mas todos ainda estavam surpresos demais com o que acabaram de ouvir para terem qualquer reação. Regina coçou a garganta despertando os quatro do transe e Snow apressou-se em se levantar e puxar a ruiva para um abraço.

— Nos perdoe, nós apenas não sabíamos que Regina havia se casado. - Snow chutou o pé do marido para que ele se levantasse também. - É um prazer conhecê-la. A filha de vocês é linda.

— Obrigada. - Luna apertou a mão que David a estendia. - Eu vou ajudar Júlia com o banho. Fiquem à vontade.

Assim que Luna saiu do cômodo, Henry levantou-se e caminhou apressado até a porta, disposto a sair. Percebendo sua intenção, Regina forçou a porta mantendo-a fechada e tocou o ombro do filho, mas ele esquivou-se imediatamente.

— É por isso que você não quer voltar, é por isso que não se importa, porque você tem uma nova família agora, não precisa mais da gente.

— Não fale isso, Henry. Você sempre será a minha família. - As lágrimas que brotaram no rosto do filho fez doer o coração de Regina. - Sim, eu construí uma família aqui, eu contruí uma nova vida, mas você nunca deixou de ser o meu filho.

Henry envolveu os braços na cintura da mãe e afundou o rosto em seu pescoço. Se quando se abraçaram pela primeira vez naquele dia, o choro foi pela saudade, dessa vez foi pelo arrependimento que sentia por todas as vezes em que a rejeitou, a humilhou e a abandonou. Ver a mãe com aquela criança nos braços o fez sentir que havia perdido o colo que teve a vida inteira, e que, como ele a trocou por Emma, ela o havia trocado por outra.

— Eu não quero que a senhora me deixe.

— Eu nunca vou te deixar. - Regina afastou o rosto do filho e secou-lhe as lágrimas com o polegar, plantou um beijo em sua testa e o levou de volta para o sofá. - Você não vai dizer nada? - Perguntou diretamente para Emma.

— Bom, eu só tenho uma coisa a dizer. - Levantou-se e agachou na frente de Regina. - Eu entendo. Você tem uma vida aqui bem diferente da que tinha lá. Você tem pessoas que te amam e que você ama. Você tem uma esposa, uma filha, provavelmente um emprego, tem amigos – apontou para as fotografias –, tem tudo aqui. Nós não temos o direito de pedir para que abandone isso.

— Mas… - Henry começou a protestar, mas foi silenciado pela mão de David em seu ombro. Por mais que precisassem da rainha para ajudá-los com a guerra que enfrentariam em breve, sabiam que não era justo tirar, pela segunda vez, a vida que ela tinha. No caso de Snow, pela terceira.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, me deixem saber a opinião de vocês nos comentários! Críticas construtivas e ideias são bem vindas.
Beijos no coração de cada Swen ♥