Fragmentada escrita por DrixySB


Capítulo 16
Impasse


Notas iniciais do capítulo

Tony Stark solicita uma reunião imediata com a diretora da SHIELD. Jemma Simmons tem pouco tempo para se preparar.



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O apartamento havia mergulhado no mais profundo silêncio – exceto pelas palavras incompreensíveis que Athena murmurava no colo de Daisy. Esta última parecia aguardar uma resposta, ao passo que Fitz, encarando o nada, parecia digladiar contra todos os seus demônios internos. Jemma, por sua vez, estava total e inteiramente confusa e perdida. Algo com que já vinha se acostumando nas últimas semanas.

— Fitz... Ele só vai falar se for com ela...

— Eu já entendi – o engenheiro a cortou abruptamente – mas você sabe que Jemma não pode... Ela não está em condições... – ele procurou se acalmar, respirando fundo, levando as mãos à cintura e tentando reorganizar seus pensamentos – ela está desmemoriada.

— Sim e Stark não pode saber disso – a inumana respondeu ao mesmo tempo em que colocava Athena novamente no chão.

— Mas ele precisa saber que ela está inoperante...

— Não, Fitz! É no centro de tudo isso que está o problema. Se o Stark souber que naquele incidente envolvendo a S.I.L.E.N.C.I.O., a diretora da SHIELD foi baleada, ele vai surtar. Ele já ficou furioso quando descobriu sobre o que ocorreu a YoYo. Não podemos arriscar...

— Ajudaria se vocês me explicassem a situação – disse Jemma, interrompendo firmemente aquela discussão que se desenrolava em sua sala de estar e parecia excluí-la, ainda que ela fosse o tema daquele debate.

Fitz a encarou, calado e perplexo.

— Explicou a ela...? – Daisy interrogou.

— Expliquei – Fitz se apressou em responder – mas não é fácil de assimilar inteiramente na condição em que ela se encontra.

A inumana desviou o olhar do engenheiro para sua amiga. Deu um longo suspiro antes de tornar a falar.

— Jemma, o Stark quer começar... Aliás, já começou um impasse com a SHIELD. Se Fitz lhe explicou a respeito da S.I.L.E.N.C.I.O., você já sabe que foi um incidente bem grave. Ele tomou conhecimento do que houve e nos acusa de irresponsabilidade. Está disposto a nos tirar de campo, alegando que não sabemos lidar com incidentes de proporções gigantescas como este. Disse que agimos inconsequentemente – ela fez uma pausa estratégica, dando tempo para a outra absorver suas palavras; e de repente uma dúvida lhe ocorreu – já lhe falaram sobre os Vingadores, certo?

Jemma demorou um instante para responder, pensando a respeito da realidade insana que a cercava.

— Já. A mãe de Fitz me falou sobre...

O engenheiro deu uma risada desprovida de humor.

— O que quer que ela tenha lhe dito, não foi o suficiente...

— Ela mencionou algo importante. Sobre o Tratado de Sokovia.

Fitz e Daisy a fitaram estranhamente surpresos e estarrecidos.

— Sua mãe sabe mais do que você imagina, Fitz – provocou a inumana com um sorriso ardiloso – Se sabe do que se tratam os Vingadores e o Acordo de Sokovia, já é meio caminho andado.

— Espera aí – Fitz alteou o tom de voz – não está pensando mesmo nisso, não é? Que Jemma vai ter essa reunião com o Stark assim, às cegas? Ela precisa de dias de preparo.

— Não temos todo esse tempo. Ele está indo hoje para a base.

O engenheiro passou a mão pelo rosto, exasperado.

— E ele não aceita não como resposta.

— E o que vamos fazer? Jogar Jemma aos leões? Ou melhor, ao leão? – a nota de sarcasmo se destacou em sua voz.

— Stark quer respostas. Acima de tudo, ele está com o ego ferido. Chegou a dizer que depois do surgimento dos Vingadores e de tantos heróis, agora todos querem dar uma de salvador da pátria. É o que ele acha que tentamos fazer. Está furioso porque não contatamos os Vingadores para resolver essa encrenca com a S.I.L.E.N.C.I.O. e... Duvida da capacidade dos Inumanos. Disse que somos uma ameaça assim como tantos outros que não têm responsabilidades sobre seus próprios poderes. E não entende como tantos ainda questionam o fundamento do Tratado de Sokovia diante disso.

Fitz balançou a cabeça, expressando indignação.

— De certo modo ele está certo. A S.I.L.E.N.C.I.O era perigosa demais, deveríamos ter entrado em contato com os Vingadores. Uma equipe tática com mais poder para desarmá-los...

— Ah, por favor, Fitz! – Daisy rebateu, ofendida – nós já enfrentamos forças obscuras perigosíssimas sem precisar chamar os Vingadores. Uma missão dá errado e...

— E uma das nossas perde os dois braços e a outra é baleada e quase morta – o rosto de Fitz endureceu ao proferir aquela sentença. Ele soou mais ríspido do que gostaria de admitir – e agora sobra para Jemma a tarefa de tentar aplacar os ânimos exaltados do ególatra Stark...

— Tenho certeza que Jemma vai conseguir...

— Ela não está preparada! – ele exclamou, categórico.

— Fitz, eu acho que posso fazer isso – o tom da bioquímica se sobrepôs ao dele. Ela estava cansada de ficar calada.

— O que pretende com isso, Jemma? Colocar sua capacidade em teste? Deste jeito? – Fitz perguntou, entre nervoso e embravecido.

— Acha que eu não sou capaz? – Ela devolveu, agora claramente incomodada com falta de confiança de seu marido.

O engenheiro cerrou os olhos, contando até dez mentalmente, antes de se aproximar de sua esposa e colocar ambas as mãos sobre seus ombros.

— Não tem que provar nada para si mesma.

— Não estou querendo provar nada. Quero apenas ajudar. Não posso deixar que deslegitimem a organização que dirijo.

— Quanto a isso, não há com que se preocupar. Não seria a primeira, nem a segunda vez que deslegitimam a SHIELD nos últimos anos. Atuamos nas sombras e na clandestinidade por muito tempo antes de retornarmos aos holofotes por meio de jogos políticos – tornou de maneira enérgica, afastando suas mãos de Jemma.

— Então não podemos deixar que aconteça de novo! – Jemma rebateu, determinada.

— Não está pensando mesmo em fazer isso? – Fitz tentou uma última vez, os olhos fechados, sacudindo a cabeça em uma veemente negativa.

Jemma olhou na direção de Daisy com um semblante altivo.

— O que mais eu preciso saber antes de encontrar o Stark?

A inumana lançou a ela um sorriso astuto de aprovação.

*

Como dissuadi-la estava fora de cogitação, só restou a Fitz unir-se à mãe e à madrinha de sua filha, isto é, a diretora da SHIELD e a líder dos inumanos, e acompanha-las até à base, desistindo de dizer qualquer coisa contrária àquela ideia.

Somente ao chegar lá, a ansiedade e o receio começaram a tomar conta da bioquímica. Ela sentia suas mãos úmidas, o coração acelerado e uma dor aguda bem na região em que a bala passara de raspão pela sua cabeça. Ela levou a mão aonde outrora havia o ferimento causado pela bala, agora recém curado.

Jemma não sabia dizer exatamente o que estava lhe causando toda aquela angústia, fazendo com que se sentisse tão aflita – se era o fato de saber que tinha uma reunião com Tony Stark e ele vinha armado até os dentes, pronto para questionar sua autoridade e rebaixá-la, munido de todo o seu cinismo; ou o simples fato de pôr novamente os pés em seu ambiente de trabalho, ao qual ela não retornava havia dias. 

Aquilo colocava as coisas em perspectiva. Tornava seus receios e temores reais. Fitz contara a ela tudo o que havia acontecido, relatara a missão fracassada e o incidente envolvendo a S.I.L.E.N.C.I.O. Mas, em seu apartamento com ele, passando o tempo com sua filha e redescobrindo a intimidade que tinha com o marido, Jemma via toda a realidade da SHIELD como uma coisa distante, vaga... Agora ela percebera que estava fugindo. Procurando evitar o confronto com seus demônios.

Não havia mais como fugir.

Stark estava atrasado. Ela aguardava sua vinda próxima à entrada da base, fazendo questão de recebê-lo já na chegada. O sentimento aflitivo da espera parecia fazer com que o ar se tornasse rarefeito e o ambiente da base, claustrofóbico. Ela procurou respirar fundo, mas a dor intensa do lado direito da cabeça não deixava ela se concentrar adequadamente. E, como em um passe de mágica, vislumbres da vida que ela havia esquecido invadiram sua mente por um segundo. Um segundo perturbador em que imagens se aglomeraram, sobrepondo-se umas às outras, atingindo violentamente seu cérebro. Momentos bons e felizes intercalados por situações caóticas, traumas e tragédias.

O fundo do oceano. Hydra. Mortes de amigos. O planeta azul. Seu casamento. O nascimento de sua filha. Um tiro de raspão.

Tão forte, dolorosa e intensamente como as lembranças insurgiram, elas submergiram novamente. Era como se, das profundidades de um poço, ela tivesse dado um salto grandioso e avistado o mundo fora daquele espaço restrito, para depois cair novamente, mergulhando de volta ao fundo escuro e sem vida.

Ela levou as duas mãos à cabeça dessa vez, cerrando os olhos com demasiada força.

— Jemma? – o toque de seu marido em seus ombros lhe trouxe de volta à realidade, reconfortando-a – tudo bem? – a preocupação era visível em seu olhar.

Pareceu a ela que estava respirando normalmente pela primeira vez em séculos.

— Sim... É só uma enxaqueca – ela quis omitir a verdade, mas ao olhar dentro de seus olhos, não teve coragem suficiente para esconder aquilo dele – na verdade... A minha memória... Voltou por um segundo, então... Esvaneceu novamente.

Seu marido a encarou, compassivo, levando uma mecha do cabelo dela para trás da orelha, tocando-a suavemente.

— Você está nervosa, só isso. Relaxe, vai dar tudo certo – ele sussurrou, encorajando-a.

— Acha mesmo que não estou preparada?

Ele meneou a cabeça, negando.

— Eu tenho confiança em você. Sempre faz a coisa certa – disse com sinceridade.

Jemma se aproximou mais dele, encostando a cabeça em seu peito, permitindo que ele a envolvesse em seus braços acalentadores. Ela respirou fundo, procurando tranquilizar a si mesma, contagiada pela ternura contida naquele abraço. Um gesto tão afetuoso quanto alentador e estimulante.

— Prometa pra mim que vamos para Perthshire depois que tudo isso acabar.

Ele deu uma risada baixa antes de responder.

— Vamos. Com certeza.

— Você vai estar por perto? Enquanto eu estiver argumentando com Stark?

— Como sempre estive.

— Eu te amo tanto.

— Eu também te amo.

De súbito, as portas de metal se abriram, revelando a figura do egocêntrico bilionário, especialista em alta e sofisticada tecnologia. Jemma e Fitz afastaram-se um do outro e o observaram se aproximar.

— Senhor e Senhora Fitz – disse em um tom sério, caminhando na direção do casal, ladeado pelo Coronel Rhodes e por outro homem cujo biótipo o fazia passar por um guarda-costas.

— Na verdade... Simmons não pegou meu sobrenome – retificou Fitz, um tanto embaraçado.

— Ah, certo. Doutora Simmons. Ou devo dizer, Diretora Simmons? – tornou com ironia, interrompendo seus passos ao chegar próximo o suficiente do casal.

— Como preferir – ela respondeu, impassível.

— Temos muito que conversar. Creio que não devo esperar por uma sala de audiências apropriada.

— Nada muito formal ou elegante como o senhor está acostumado, certamente. Mas temos até mesmo uma mesa redonda de vidro – Jemma rebateu no mesmo tom pungente do Vingador.

Tony Stark deu um sorriso enviesado, revestido de cinismo.

— Então, acho que podemos dar início a nossa reunião.


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou gigante, para variar, então decidi dividi-lo em dois, portanto, o confronto com Stark / Jemma destruidora fica para o próximo ;)



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