Flores De Maio escrita por Maitê Miasi


Capítulo 12
Acho Que Não Sei Mais Quem Sou




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Se não houver frutos, valeu a beleza

das flores; se não houver flores,

valeu a sombra das folhas; se não

houver folhas, valeu a intenção da

semente. – Henfil

****

Maria ainda ficou na cozinha por alguns minutos, e em seguida foi para o seu quarto. Ao passar pela sala, todos estavam lá, inclusive ele. Ela passou direto e não falou com ninguém, pois ficou com medo se se entregar. Subiu a escada, e naquele dia parecia ter mais degraus que o normal, e enfim, chegou no seu quarto, seu casulo, dali ninguém mais a tirava naquele dia.

— Maria? – Uma cabecinha apareceu na porta. – Posso entrar?

— Oi Aninha, vem senta aqui! – Ela entrou e sentou ao seu lado na cama. – Aconteceu alguma coisa?

— Comigo não – colocou um travesseiro no colo – mas eu queria entender o que aconteceu ontem à noite.

— Ihh Aninha, nem tenta entender. Você dá sorte por ser criança e não tem que se preocupar com esse tipo de coisa.

— Tudo bem, se você diz eu acredito. – Sorriu.

— Aninha, posso te perguntar uma coisa?

— Claro Maria, pode me perguntar o que você quiser.

— E sua mãe?

— Minha mãe? O que você quer saber sobre ela?

— Por que ela não está aqui com vocês? – Se fez de besta.

— Ela morreu Maria, ela morreu quando eu nasci. – Fez uma carinha tristonha.

— Nossa Aninha, eu sinto muito.

— Eu já me acostumei, mas eu fico feliz porque meu pai diz que eu sou a cara dela! – Sorriu.

— E seu pai, ele não se relacionou com mais ninguém depois dela?

— Não, ele é muito tradicional, não ficaria com mulher nenhuma se não gostasse, a única mulher que ele realmente amou, foi a minha mãe. Se um dia ele se apaixonar de novo, eu bato palmas pra essa mulher, pois essa missão é quase impossível! – As duas riem. – Mas por que todas essas perguntas?

— Por nada, apenas curiosidade.

— Pensei que só as crianças fossem curiosas.

— Aí é que você se engana, eu por exemplo, sou curiosa demais! – Riam.

— Aninha?! – Estêvão a gritava do corredor.

— Tô aqui pai, no quarto da Maria!
— Licença – abriu a porta meio sem jeito, e os dois se olharam, o coração de Maria bateu mais forte – Aninha, já tá meio tarde, vamos.

— Tudo bem pai – deu um pulo da cama – Maria amanhã a gente conversa mais tá.

— Tudo bem meu amor.

Sérgio entrou no quarto, e isso fez o coração de Maria bater mais forte ainda.

— O que é isso? Reunião no meu quarto e eu nem fui chamado?

— Sérgio – se levantou – o San Roman veio chamar a filha, só isso. – Estava bastante nervosa.

— Eh, só isso. Vamos filha. – Ele deu a mão a filha e saíram.

Maria não conseguia olhar para Sérgio, tinha medo que ele desconfiasse de algo, e logo naquele dia ele, deu um jeito de ser carinhoso com ela.

— Amor, você ainda está chateada comigo por ontem?

— Não Sérgio, só estou cansada, o dia foi estressante na empresa. – Se sentou na cama.

— Me desculpe, você tem razão, eu não devia ter agido como um homem das cavernas, que mal a em uma dança? – Foi até ela. – Olha, comprei pra você. – Mostrou uma caixinha a ela.

— O que é isso?

— Uma pulseira – sorriu abrindo a caixinha – linda né – segurava a joia com a mão direita – só não é mais bela que você! – Colocou a pulseira em seu pulso esquerdo.

Ela não conseguiu mudar sua fisionomia, não por causa de mais uma joia cara que ganhara, mas pela sua consciência que estava pesando.

— Que foi? Não gostou?

Sua mente vagava.

— Maria, eu já pedi desculpas, o que mais você quer que eu faça?

— Sérgio, esquece isso vai, já passou, só espero que isso não aconteça de novo. – Se levanta indo em direção ao banheiro.

— Onde você vai?

— Preciso de um banho. Não me espere pra dormir.

O que um beijo havia lhe causado? Estava se sentindo a mais suja das mulheres, e o pior não era isso, o pior é que não conseguia tirar aquele homem da sua cabeça, não conseguia esquecer o beijo, não podia acreditar, mas desejava ser beijada por ele uma, duas, três ou quantas vezes fosse, mas simplesmente ela queria.

****

Aquela Essência.

— Maria, Maria!

— Oi Lívia!

— Eu tô aqui há um tempão contando o que aconteceu comigo ontem e você aí no mundo da lua!

— Ah Lívia – bateu as mãos nos joelhos e levantou – desculpa, minha cabeça tá explodindo.

— O que foi que houve Maria? – Se preocupou indo até ela. – Você tá diferente, sua família de novo?

— Não, dessa vez não foram eles.

Maria foi andando até a janela, abriu as persianas e olhou para a rua. Sabia que Lívia era a única pessoa com quem ela poderia compartilhar isso sem medo, então, sem rodeios, buscou as palavras certas, mas não a olhou ao dizê-las.

— Maria, eu tô ficando preocupada! – Olhava a amiga que ainda permanecia de costas para ela.

— O San Roman e eu nos beijamos! – Foi direta.

Apesar de não ter olhado para Lívia, imaginou a cara que ela fez ao ouvir aquilo.

— Você e aquele pedaço de mau caminho? Maria, você não era casada? – Ironizou.

— Eu sei – se virou olhando-a – por  isso estou me sentindo tão mal. – Se sentou passando as mãos no cabelo e abaixou a cabeça.

— Ei – se sentou de frente para ela – calma aí, você não cometeu nenhum crime não, não se martirize assim. Pelo menos você gostou do que fez?

— Sim – levantou a cabeça – e isso só me faz me sentir pior.

— Ah Maria, o que a de mal em um beijo? Você nem foi pra cama com ele, relaxa, a culpa é do estúpido do seu marido, que não te dá o valor que você merece.

— Ontem ele foi carinhoso comigo, parecia que sabia, e queria jogar contra a minha consciência. Isso definitivamente não combina comigo. – Concluiu.

— Daqui a pouco você acaba se acostumando gata – brincou – e não vai mais ficar com essas paranoias.

— Isso não vai mais acontecer, não mesmo.

— Se você diz, eu acredito. Agora vamos trabalhar!

— Vamos...

****

O dia logo passou, e quando chegou em casa, Maria fez questão de não olhar para ele, precisava esquecer o que tinha acontecido, e uma boa maneira, era evitando-o.

— Maria? – Sua tia batia na porta do seu quarto.

— Entra tia. – Ela entrou. – Que foi? – Abaixou seu livro.

— Sua mãe quer falar com você.

— Comigo? – Estranhou.

— Sim. Estão Sérgio, Fernando e ela no escritório, disseram que é sério.

“Pronto, descobriram!” – Pensou.

Um milhão de coisas se passaram pela sua cabeça quando estava a caminho do escritório, inclusive aquilo. Sua tia não a acompanhou, e ela se sentiu mais frágil ainda.

— Pronto – entrou sem bater – estou aqui, o que vocês querem?

— Calma Maria – disse Sérgio convidando-a para sentar – estamos em missão de paz.

— É filha, só queremos conversar.

— Por favor mãe, não me chame de filha, soa meio falso. – Pediu.

— Mana, se desarme, somos sua família.

— É disso mesmo que eu tenho medo Fernando. Me digam logo o que vocês querem.

— Tudo bem, vamos ser bem diretos. – Começou Sérgio. – O que vamos te pedir é bem simples. Você sabe que para conseguirmos nosso dinheiro de volta...

— Nosso dinheiro? – O cortou franzindo a testa.

— Deixa ele continuar Maria. – Disse Fernando.

— Então – continuou – para que possamos nos apossar do dinheiro de Enrico, esse faveladinho tem que abrir mão do mesmo, e como já percebemos que ele está caidinho por você, pensamos que você poderia seduzi-lo, até que ele faça tudo o que você pedir, e ele vai assinar uma procuração passando tudo pra gente. E aí?

— Eu não tô acreditando no que acabei de ouvir – riu desacreditada – me diz que vocês estão brincando, por favor.

— Maria, é o jeito que encontramos de pegar de volta o que é nosso!

— Nosso? – Gritou. – Não tem nada nosso aqui, o Enrico foi bem claro em seu testamento que isso tudo seria para seu filho, seu único filho, vocês não tem nada nessa casa, e eu não vou fazer parte desse plano absurdo! – Passou a mão no cabelo.

— Maria...

— Eu não vou seduzir ninguém, porque, por um acaso, eu sou casada, e por outro acaso, você é meu marido Sérgio! – Colocava o dedo no peito dele.

— Maria, você não precisa fazer nada, não precisa ter contado físico com ele, é só fazer ele comer na sua mão!

— Cala a boca Cecília! Não contem comigo para esse plano asqueroso de vocês.

Maria saiu empurrando o que havia em sua frente, e cuspindo marimbondos, não tinha como essa proposta ser mais absurda.

— Maria – disse Estêvão se aproximando – será que podemos conversar?

— Ah, me deixa em paz! – Foi áspera e saiu andando.

— Eu hein, o que foi que houve? – Perguntou à Fifi que estava próxima dele.

— Foi alguma coisa que eles disseram a ela, daqui a pouco ela volta ao normal.

— Tem certeza disso Fifi?

— Eu a conheço muito bem, daqui a pouco ela vai ficar bem, pode confiar.

****

Sua vontade era pegar um carro na garagem e sair por aí sem rumo, mas se lembrou que não dirigia, e não estava disposta a ouvir as ladainhas do motorista, então,se contentou em sentar frente a piscina.

Enquanto as lágrimas desciam de seus olhos, ela olhava a água calma e o reflexo da lua ali, mas nem diante das coisas que gostava de olhar, ela conseguiu se acalmar, as palavras de Sérgio ainda estavam bem nítidas em sua cabeça, como poderia propor aquilo a ela? Depois dessa, não se sentia mais uma mulher suja por ter beijado outro homem que não fosse seu marido, afinal, o próprio queria joga-la nos braços de outro.

— Maria?

— Aninha.

— Por que cê tá chorando? – Se sentou de frente para ela.

— Não é nada princesa, é só a vida que tá sempre aprontando.

— Quer conversar?

Um sorriso brotou no rosto de Maria.

— Ai Aninha, você sempre me consolando. Às vezes as pessoas são tão sórdidas, que dá vontade de xingar todo mundo.

— O que quer dizer sórdido?

— Sórdido? – Sorriu ao ver sua ingenuidade. – São pessoas que vão contra a moral, a ética, são pessoas que se acham superiores as outras.

— Tipo a sua mãe?

— Eh, tipo isso, aprendeu rápido hein!

— Gente rica tem mania de falar palavras difíceis.

— É verdade, mas daqui há algum tempo, você também vai estar falando essas palavras.

— Eu não! Eu quero continuar falando do meu jeito!

— Você tá certa! – Sorriu.

— Maria – foi até a ela e secou suas lágrimas – não chora, eu não gosto de te ver assim.

— Eu prometo que não vou chorar tá. Agora vem cá, me dá um abraço pra eu ficar feliz de verdade.

— Tá bom!

Aninha se joga no colo de Maria, e a mesma a aperta em seu abraço caloroso, como se fossem mãe e filha.

****

— Eu disse que Maria não ia aceitar fazer isso, eu conheço a minha irmã! Eu só quero ver o que vocês vão fazer.

— Ah Fernando, cala a boca, você não tá ajudando em nada!

— Parem de brigar os dois! – Ordenou Cecília. – Nós temos que pensar em outra coisa, não podemos deixar esse favelado ficar com o nosso dinheiro.

— Enquanto as mentes brilhantes pensam numa solução – se levanta – eu vou sair, essa casa me sufoca. – Pegou seu casaco. – Fui! – Sai.

— Essa ideia não funcionou Sérgio, o que vamos fazer?

— Não sei. – Se aproximou. – Eu sabia que Maria não ia concordar com isso, ela é muito certinha.

— Eh... Eu não sei por que esse desgraçado do Estêvão San Roman teve que voltar as nossas vidas!

— Como assim voltar Cecília? Do que você está falando? O que você sabe dessa história?
— Eu tô mais envolvida nessa história do que você possa imaginar, mas isso não vem ao caso agora.

— Como não? – Segurou seu braço com força. – Eu quero saber agora mesmo o que houve Cecília!

— Me solta Sérgio, você está me machucando! – Se soltou e se afastou.

— Desculpe, não quis te machucar, só pensei que não houvesse segredos entre nós dois.

— Aí é que você se engana. – Sorriu. – A pessoa que melhor me conhecia nesta casa era Enrico, e ainda sim consegui esconder essa história dele. Meu caro Sérgio, nenhum segredo é eterno, e algum dia você vai saber dessa história, agora temos que nos preocupar em recuperar nosso dinheiro.

— Você tem razão.  – Voltou a se aproximar. – Eu tenho certeza que Maria, indiretamente, vai nos ajudar.

— Também acredito nisso. – Estendeu a mão e ele segurou.

— Em breve teremos o que é nosso Cecília, em breve. – Abraçou.

****

Estêvão ficou naquela sala enorme, pensando no que ia fazer da vida, ele não se sentia a vontade naquela casa, ainda mais sem fazer nada, isso não combinava com ele.

— Estêvão, o que faz aqui na sala sozinho? – Perguntou Cecília.

— Nada Ciça, só pensando na vida, no que vou fazer.

— E o que vai fazer?

— Hum, ainda não sei bem, só não quero ficar aqui o dia todo atoa, me entende.

— Sim, te entendo. Por que não vai trabalhar na empresa que era do Enrico?

— Eu? Na empresa? Não, aquilo lá né pra mim não!

— Maria pode te ajudar no que você precisar, é só fazer tudo o que ela disser.

— Você acha Ciça?

— Claro que sim! Faça o que minha filha disser, e tudo ficará bem!...

****

Após a conversa que tivera com Aninha, Maria foi para a estufa cuidar um pouco das plantas a qual ela tinha tanto amor, e também refletir sobre sua vida, e como ela mudara após a chegada de Estêvão, e em como ela se sentia quando estava perto dele, de uma forma ou de outra, ele estava mudando-a.

Aquele beijo que aconteceu entre eles, foi uma prova de que ela estava se sentindo mexida por ele, pois ela se entregou a ele durante aqueles poucos segundos, e não pensou em mais nada. Maria era muito pé no chão, e não acreditava em amor à primeira vista, mas não conseguia explicar para si mesma o que sentia por Estêvão. Em contra partida, ela também pensava na proposta indecente que fizeram a ela, e isso lhe causava arrepios, ela sabia que se envolvesse com Estêvão sua família acabaria usando isso contra ele. E agora, o que ela ia fazer?

— Eu preciso me afastar dele, vai ser melhor para nós dois... – Falou para si mesma.

Continua...


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