A Substituta escrita por JustAnotherGirl94
Notas iniciais do capítulo
Não sei se ficou claro o suficiente no texto, mas este capítulo se passa um ou dois dias após o capítulo anterior.
Acompanhem, favoritem, opinem, enfim, aproveitem!
CAPÍTULO 4
O tempo da corte é geralmente dedicado para a preparação do enxoval (por parte da noiva) e da futura casa dos noivos (pelo noivo), com encontros ocasionais – muito bem supervisionados – para o casal se conhecer melhor.
Exceto, claro, quando o tempo decorrido desde o anúncio do seu casamento até o casamento propriamente dito é de quatro dias.
Neste caso, a única alternativa é conhecer seu cônjuge depois do casamento.
E é exatamente nesta situação que estavam Tarvi e Kili. Sentados em frente à lareira, ainda um pouco incertos de como agir na presença um do outro. Tarvi fingia se preocupar com um bordado, Kili encarava a madeira queimando. Foi ele que quebrou o silêncio.
— Antes de conhecer você, eu estava com medo.
Tarvi largou o bordado. Kili não parecia alguém que tinha medo de alguma coisa!
— Por quê?
— Bem, eu não conhecia você direito. E até mesmo sua irmã já havia feito comentários a meu respeito, pensei que...
— O que? – Tarvi interrompeu – O que ela disse?
— Hm... – Kili estava receoso de falar. Tarvi parecia furiosa. Mas ele não sabia se com ele ou com a irmã – Algo como eu era...inferior a meu irmão.
— Ela não fez isso! – Tarvi estava indignada, mas não com Kili, e sim com Yarvi – Na verdade, é bem possível que ela tenha feito isso. Nunca pensou antes de falar. Nunca pensou como suas palavras poderiam afetar as pessoas. E todo mundo sempre relevava, afinal de contas é fácil perdoar uma pessoa, simplesmente deixar para lá qualquer coisa que ela tenha lhe falado, quando ela parece ser apenas mais uma jovem bonita e bobinha, não é mesmo?
Uau. Por isso Kili não esperava.
— Ela já... hm....já disse alguma coisa para você? – Ele indagou, cuidadosamente.
— Ah, sempre – Tarvi estava alisando furiosamente o bordado – Como eu devia me vestir. Com quem eu devia falar. Como eu devia falar... E meus pais apoiavam, eles esperavam que ela pudesse me guiar para um bom casamento, assim como o dela. Mas eles estavam errados, não? Tudo o que fiz sempre foi para me afastar da imagem dela. Ela que ficasse com seus vestidos e suas amigas. Eu queria algo para mim, mas por causa dela fui proibida.
— O que você queria? – Kili estava curioso. Ainda estavam em sua primeira semana de casados, e todos esperavam que eles estivessem empenhados em produzir um herdeiro, mas ele estava aprendendo muito sobre ela. Era fascinante.
— Trabalhar com leis – ela corou – Eu sei que não é uma função feminina, mas eu planejava conseguir a vaga de aprendiz de Balin e só contar para meus pais depois. Assim, eles não poderiam me proibir de comparecer, ou me arrancar de lá. Mas Yarvi contou para eles uns dias antes, e fui proibida de sair de casa até passar o dia da seleção. Eles não julgavam ser uma tarefa feminina o suficiente. Acabei trabalhando com minha mãe e outras costureiras, mas...não é a mesma coisa.
— Eu posso arranjar isso – Kili respondeu.
— Como?
— Eu posso tentar, pedir a Balin que aceite mais um aprendiz. Mas não seria uma tarefa remunerada e...
— Você faria isso? – Tarvi estava chocada.
— Faria. Mas apenas na semana que vem. Não seria bom que me vissem conversando com Balin dias após o casamento. Pode levantar suspeitas.
— Você faria isso? – Tarvi repetiu.
— Sim, faria. Quero ver você feliz, Tarvi. Já tinha reparado que você tem mais livros sobre leis que a maioria das mulheres. E, apesar de só ter visto sua escrita uma vez, devo dizer que ela é muito bonita.
— Obrigada – Tarvi corou – Por tudo.
Kili apenas enrubesceu. Ver a alegria no rosto de Tarvi fazia tudo valer a pena.
Quedaram em silêncio novamente, apenas as lascas de lenha estalando na lareira. Desta vez, Tarvi falou primeiro:
— E seu irmão?
O calor da alegria se formando no peito de Kili esfriou alguns graus. O que ela queria saber? Como ele era melhor que Kili? Mas Tarvi pareceu ler seu rosto e rapidamente acrescentou:
— Quero dizer, como é o relacionamento de vocês? Vocês parecem se gostar muito.
—Bem, sim. Fili é meu irmão mais velho, e sempre cuidou de mim, mesmo quando Thorin... – ele ficou em silêncio por um momento – Mesmo quando Thorin me desacreditava. Eu achava que...ainda acho, na verdade, que há um certo...favoritismo em torno de meu irmão. Quero dizer, eu sei que ele é o mais velho e tudo mais, mas...Bem, às vezes é um pouco demais. Ainda recebo as roupas que não estão mais apropriadas para Fili usar, mesmo sendo mais alto que ele. Ele tem o direito de viajar com Thorin para vender o que produzimos nas forjas. Só para aceitar me treinar nas forjas, já foi uma luta por si só. Assim como treinar junto com Fili. Ou estudar com ele. Eu iria...distraí-lo, eles diziam. Eu passei muito tempo sem conviver direito com meu irmão. Até que uma vez que meio que...surtei. E Fili, surpreendentemente, me apoiou. E foi assim que eu ganhei o “direito” de conviver com meu irmão, você acredita nisso? Era como se eu não fosse ágil o bastante, inteligente o bastante, forte o bastante para acompanha-lo. Eu era só um fardo inútil – enquanto gritava estas palavras, ele levantou e jogou mais uma acha de lenha na lareira, fazendo fagulhas, e até algumas brasas, caírem para fora.
Tarvi não ia negar: ficou realmente assustada. Mas ela entendia Kili. E não dizia isso apenas por ser sua esposa. Quando ele se sentou novamente, ela deixou sua poltrona e sentou-se no braço da mesma poltrona onde Kili estava sentado. Assim, tão perto, ela podia ver seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas. Ela passou seu braço pelo dele, e apoiou a cabeça em seu ombro. Começou a falar, de forma baixa e calma:
— Eu entendo você, Kili. Realmente. Mas veja, você ganhou seu irmão no final das contas. Vocês estão juntos até o fim. Eu, ao contrário, perdi minha irmã. Não sei quando, nem se, vou vê-la novamente. Nós vamos mostrar a todos que eles estavam errados. Você não é inferior a Fili, de jeito nenhum. E eu não estou falando isso apenas por ser sua esposa.
Tarvi foi obrigada a tirar sua cabeça do ombro de Kili, pois ele agora estava encarando-a:
— Você perdeu sua irmã, mas ganhou um irmão.
Ele se divertiu com a confusão que tomou conta de seu rosto. Pegou sua mão e, delicadamente, traçou o contorno do anel dourado em sua mão esquerda.
— Quando nos casamos, você passou a fazer parte da minha família. Não é o que dizem as leis? – Tarvi concordou com a cabeça – Então, agora você tem que me ajudar a aturar meu irmão, pois ele é seu irmão também.
Tarvi sorriu:
— Acho que consigo aguentar isso, se você estiver lá para me ajudar.
Se ela se arrependeu de suas palavras, ou se percebeu seu efeito sobre Kili, não disse nada. Beijou-o novamente na bochecha e se levantou para preparar o jantar.
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