A garota na armadilha! escrita por Sua mãe


Capítulo 5
CAPÍTULO BÔNUS - Sauvignon Blanc


Notas iniciais do capítulo

Enquanto a Juna está agarrando o namorado lindo e saindo sem pagar das lanchonetes, o que será que a Taylor está fazendo?



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Taylor

 

—Então, são essas as brechas burocráticas que vamos abordar no vindouro projeto. Alguma dúvida? — Elliana olhou direto para mim e eu não pude deixar de revirar os olhos até o crânio. Maldita metidinha! Eu estava estudando na biblioteca da NYU com o meu grupo de estudos designado pelo professor ou, como eu gostava de chamar: Sucursal do Inferno. Claro que eu tinha sido meio que forçada, porque nem por um decreto eu estudaria VOLUNTARIAMENTE com pessoas que usam a palavra “vindouro” em uma frase.

—Na verdade, eu tenho! — Ergui o braço, como se estivesse em uma classe. Elliana me deu seu melhor olharzinho de nojo.

—Bem, então por favor, questione a vontade. — Camrim, uma das amiguinhas de Elliana, se intrometeu.

—Vocês acham que… bem… esquece. — Elliana e o resto do pessoal bufa e começa a arrumar seus livros e sua bolsa. Eu faço o mesmo. Eu queria fazer uma piada, algo leve para descontrair, mas, no último minuto, desisti. Não que eu tenha medo da revirada de olhos dos meus queridos “amiguinhos”, mas porque eles não merecem. Porque eu teria medo?

Vejamos:

1-Elliana: É a típica filhinha de advogados, que passou a vida inteira perseguindo esse sonho… E age como uma vaca com todo mundo. Honestamente, com aqueles óculos de secretária e cabelo castanho escorrido, ela parece que deu sua última risada em 2002 e sentiu muita vergonha disso. Ergh.

2-Camrim: Pense na Lisa Simpson. Com a personalidade da Lindsay Lohan. E a chatice da Kim Kardashian. E o corpo da Paris Hilton.

3-Sanghoon Lee: Coreano. Não fala. Não ri. Não caga, até onde eu sei.

4-Elias: Quieto. Hispánico, bonitinho de um jeito nerd e eu o peguei rindo de uma das minhas piadas, uma vez. Aí descobri que ele estava rindo porque eu tinha um pedaço de alface no dente. Babaca!

Então, essa é a minha “turminha” da faculdade. Deus, como eu sinto falta da Juna. Primeiro, porque os pães dela são de matar. Segundo, porque ela jamais usaria palavras como “vindouro” numa conversa em que todo mundo tem menos de cinquenta anos. Aliás, não sei nem se ela sabe o que significa isso! Para uma pessoa que lê, ela é bem ruim em gramática!

Queria que ela estivesse aqui comigo, tentando se enturmar, se deslumbrando com a culinária nova iorquina, me procurando quando estivesse nervosa. Rindo das pessoas metidas a besta e dando apelidos aos professores, como ela sempre fez.

Queria que ela estivesse aqui, contando comigo.

Acho que o argumento inteiro é esse: Qual o ponto em ser corajosa, se não há ninguém a proteger?

E por mais que eu despreze meu grupo de estudos, eles são pessoas inteligentes, com gosto fino para literatura, com profundo conhecimento em todo o sistema jurídico americano… E o que eu sou, meus amigos? A garota do interior tentando se encaixar.

Que patético.

Enquanto eu caminho pelas ruas agitadas de Nova Iorque, vou pensando em porque eu quis ser advogada em primeiro lugar. Talvez porque eu sempre tenha sido uma grande fã do Matt Murdock, que ajudava todo mundo, mesmo quando não estava fantasiado.

Uma pessoa inteligente, maneira e que, acima de tudo, colocava a justiça em primeiro lugar. Esse era o tipo de pessoa que eu sempre quis ser.

Enquanto eu refletia sobre isso, resolvi entrar em um café bacaninha, que já tinha se tornado meu xodó. Era um lugarzinho pequeno, com no máximo cinco mesas e um ambiente bem fofo e quietinho.

O barista, Pietro, me deu um sorriso caloroso enquanto eu acomodava minhas coisas na mesa e um acenou, com animação. Ele era uma graça, um italiano que mal sabia inglês, alto e desengonçado, e tinha o cabelo mais preto que eu já vi. Mas sempre sorria para todo mundo, mesmo os hipsters mal humorados e sempre me perguntava “Come è stata la tua giornata?”* ou “Lei stai bene?”* que eu não faço IDEIA do que significa.

Mas eu gostava da educação de Seth e sempre respondia “Bene!”* mesmo quando meu coração estava destroçado.

 

Quando meus pais disseram que comprariam um apartamento em NY para mim, eu insisti para que não fosse um lugar muito empoado (minha mãe é dada a exageros), cheio de frescura. Eles acabaram me presenteando com um lugar bem bacana no Brooklyn, em um edifício antigo, porém sólido.

Enquanto eu subia as escadas correndo (eu também pedi que não tivesse elevador por motivos de FITNESS - sim, eu me arrependo amargamente), o lugar não me parecia mais tão acolhedor assim. Os sons das famílias vizinhas só evidenciavam o quão sozinha eu estava.

Parei na minha porta, sem coragem de abrir. Sim, eu estava sendo emo e chiliquenta (o que definitivamente NÃO SÃO características Taylorísticas). Peguei o celular da minha bolsa e olhei os contatos; Os únicos números novos adicionados eram os da Sucursal do Inferno. Depois de uma micro hesitação, cliquei no ícone de Elias.

“Eae” mandei. Pouco segundos depois, meu celular vibrou.

“Boa noite. Precisa de alguma coisa?” Ugh, que formal. Mesmo assim, respondi na hora.

“Na vdd, sim. Tô mto entediada, queria ir a algum lugar… sugestões?” Enviei. A maioria das pessoas sentiria vergonha de mandar algo assim, mas eu sou da crença que “quanto mais sinceridade, melhor”. Passaram-se dois minutos antes de eu sentir meu celular vibrando de novo.

“...

Você é gostosa e tudo, mas não faz o meu tipo”

Encarei a mensagem até as letras perderem o sentido. Como ele OUSAVA? Aquele babaquinha de cabelo seboso!

“Enfia o teu tipo no rabo, seu mela-cueca mimado! Eu não beijaria você nem que me pagassem, palhaço _I_”  Mandei a mensagem e guardei o celular novamente. Algo me dizia que o grupo de estudos seria uma bosta no dia seguinte.

Mesmo com aquele fracasso épico (pelo amor de Deus, eu vi Elias cutucar o nariz e por na boca uma vez - ele achava MESMO que eu ia dar em cima dele?), resolvi sair. Digo, era a porcaria de Nova Iorque, a cidade mais populosa do Estados Unidos! Deveria ter pelo menos… sei lá… Um jogo de bocha noturno secreto em uma galeria de arte, ou algo assim.

Caminhei pelas ruas frias,  vendo pessoas sorrindo, casais se beijando, mendigos anunciando o fim do mundo… Nada disso parecia real, e sim cenas da vida de outra pessoa. No meio desta reflexão emo, porém, avistei um pub escocês. Ahá! Nada melhor que um bom scotch para afastar os problemas, como diria o meu avô.

Ok, ele morreu de cirrose, mas sem nenhuma preocupação!

O lugar era abafado por dentro, cheio de homens ruivos e grandes e mulheres mais velhas que me olhavam de cara feia. Me espremi até chegar ao balcão e me sentar, onde um cara alto e mal encarado, com um cigarro na boca e um avental, servia bebidas.

—Boa noite, meu chapa. Um Glenfiddich, 18 anos, por favor e Cowboy*.  — O Ruivão me olhou sem expressão alguma.

—Quantos anos cê tem, dona? —Ele inquiriu.

—Idade suficiente, amigão! — Eu disse com meu maior sorriso. Os lábios do grandão se curvaram e ele colocou um líquido ambar em um copo baixo na minha frente. Sorrindo, eu virei o copo e senti o maravilhoso gosto de… suco de maçã. Mas. Que. Porra? Dei um olhar carrancudo pro Ruivão, que deu um sorriso que transformou seu rosto. Percebi, chocada, que ele devia ser, no máximo, cinco anos mais velho do que eu.

—Cê é muito nova, tem viço na pele. Não ia querer deixar o alcoól matar isso.— Ele resmungou, enchendo uma caneca de cerveja. Apesar de irritada, eu sorri.

—Até onde você sabe, eu posso ter a pele viçosa justamente por causa do alcoól.

—Dona, cê acha que me engana…? Tá escrito na tua testa que cê é de fora, do interior. Sua roupa é extravagante, igual o pessoal daqui gosta, mas… — Ele parou no meio da frase e virou-se para pegar um pano de prato+. Me inclinei sobre o balcão, intrigada.

—Maaaaas…?

—Mas é muito inocente. Não é muito esperto entrar em um bar que você não conhece e tentar tapear os outros. Em alguns lugares por aqui, cê podia levar um tiro no meio da fuça! — Ele disse, com tranquilidade e eu comecei a me sentir meio babaca.

—Desculpa, mesmo. Eu não tive más intenções…

—Douglas, a seu dispor, Dona...

—Taylor, muito prazer! — Eu ri, enquanto ele dava uma piscadela. Sem eu pedir, Douglas me deu mais um copo de suco de maçã, dessa vez com gelo. Virei novamente e Douglas sorriu, satisfeito. Para um cara grandalhão, com jeito de brutamontes, ele era bem bacana. Observei outras pessoas fazendo seus respectivos pedidos. Só saiam whiskies e cervejas, praticamente. Nada de drinks ou frusfrus. Imaginei que quem pedisse um Sex on the beach ou mesmo - blasfêmias das blasfêmias - uma Piña Colada sairia do lugar de olho roxo.

Em determinado momento, o banco ao meu lado foi ocupado. Vi um motoqueiro, de mais de cinquenta anos, sorrindo pra mim, exibindo vários dentes faltantes.

—Posso te pagar alguma coisa, moça? — O  hálito me fez, literalmente, cambalear.

—Pra mim nada, mas bem que podia gastar uma graninha num listerine, né! — Eu disse, fazendo uma careta. Ouvi uma risada de Douglas, mas o maluco fechou a cara.

—Não precisa ser grossa, não, moça… Tá estressada? Tem que relaxar… — Senti a mão calosa na minha perna e fechei o punho na hora.

—Se você não tirar a mão da minha perna em três segundos…

—… Vai sair daqui sem os dentes! — Completou Douglas. Senti o velho recolher a mão imediatamente e, meio segundo depois, ele saiu. Suspirei aliviada.

—Que babaca! — Soltei. Eu ainda sentia o cheiro de destilado.

—É por isso, dona, que cê tem que ter cuidado por aí… Nem todo lugar vai te receber com uma fornada de biscoito. — Douglas resmungou. Revirei os olhos.

—Ok, ok… Estou me retirando então! Quanto pelo suco? — Perguntei, de mal humor.

Ao invés de responder, porém, Douglas berrou bem alto:

—ALAIR! VOLTO EM MEIA HORA! — Ele tirou o avental e jogou o cigarro no lixo.

—Hmm… Não entendi..? — Balbuciei, confusa. Douglas deu um suspiro gigantesco.

—Dona, tu tem titica na cabeça, se acha que eu vou deixar cê voltar sozinha pra casa. Agora vamos puxar o carro, que eu tenho que terminar o turno! — Ele foi indo na frente, sem sequer olhar se eu o estava seguindo. Eu ri, enquanto tentava acompanhar seus passos de gigante.

A rua estava bem fria, mas eu senti que meu corpo estava quente, como quando eu tomava um bom copo do melhor whisky do meu pai.


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Notas finais do capítulo

*Como foi seu dia?
*Você está bem?
*Bem!
*Whisky sem gelo. Com gelo seria On the rocks.
Gente, esse capítulo não vai contribuir muito com a história da Juna, mas eu curti escrever. Taylor é toda durona, mas, como todo mundo, ela também se sente sozinha de vez em quando....
PERGUNTA
Vocês gostariam de mais bônus? Tipo o pai da Juna, o Stephen, o Casey... COMPARTILHEM VOSSAS OPINIÕES COMIGO



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