Roleta Russa escrita por Ducta


Capítulo 6
Roleta Russa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/71723/chapter/6

-Calma, Nick ! - Pedro me dizia. Mas como ter calma ? Ao amanhecer seria um de nós. Pedro passou a maior da noite comigo, mas me pediu que ficasse quieta por uns minutos que ele já voltava. -Aonde você vai ? - eu sussurrei, mas ele não me respondeu e sumiu por um corredor a direita da sala. Não sei ao certo quanto tempo fiquei sozinha, mas demorou muito até o Pedro reaparecer, sorrindo ou quase. -Onde você se meteu ? - eu perguntei impaciente. -Eu achei a porta pra sua liberdade. - ele me disse. -Como assim ? -Seguindo esse corredor, tem uma saída de ar, ela vai dar direto na parte de trás da casa - ele sussurrou pra mim - e de lá, você tem acesso a estrada. Segue a estrada pro lado direito que vai dar direto no sítio. Chegando lá, você pega suas coisas e se manda, não espera ele ir atrás de você, entendeu ? - Entendi. Mas me diz: porque você voltou pra me contar e não foi embora de uma vez ? - Porque você vai sair daqui viva e ponto. - ele disse meio amargo. - Não olha pra aquele corredor perto do psicopata tá ? Eu assenti. - A quanto tempo você sabe dessa passagem ? - Perguntei. - fiquei sabendo ontem, mas não tive como ir comprovar. O dia começava a clarear, como nós podíamos ver pela fenda no teto e não demorou muito, Jay apareceu misterioso como sempre, mas cada dia mais sarcástico. - Acordados já ? - ele perguntou. -Não, nós dormimos de olhos abertos, seu escroto ! - eu exclamei. -Não estou com paciência pra você, nojenta. -Morre. Eu pude sentir o momento tenso. Mas não tive medo das duas armas na mão do Jayson, ele podia me matar agora, sabendo que o Pedro se salvaria eu estava mais tranquila quanto a isso. - Que vai ser hoje ? - Pedro perguntou travando o maxilar. -Roleta Russa. Mas com algumas modificações. -Não entendi. - eu disse me aproximando do Pedro. -Duas armas. - Jay disse, entregando uma pra mim e uma pro Pedro - Uma das armas, tem 5 balas e um espaço livre .. -E a outra tem uma bala e 5 espaços livres ? - Pedro perguntou.

Ele sempre teve raciocínio rápido, mas ultimamente estava me impressionando mais do que o normal. -Exatamente - Jayson concordou. - Então, vocês vão apontar a arma pra cabeça de vocês e puxar o gatilho. Um de vocês só vai ter uma chance de respirar fundo, porque o jogo só para quando um morrer. Entendidos ? Ninguém disse mais nada depois daquilo. Eu olhei pra arma em minhas mãos, e tentei ver quantas balas tinham, mas o Jayson fez alguma coisa que não me permitia ver. Tentei sacudí-la, mas não senti diferença, era a primeira vez que eu segurava uma arma. - Temos o dia todo. - Jayson disse e se sentou no sofá, observando minhas tentativas e as do Pedro de saber quantas balas tinham nas armas. De repente o Pedro fechou os olhos e me puxou pra um abraço apertado. - Sou eu Nick, a minha arma tá cheia - ele sussurrou pra mim. Ele estava com a voz firme, mas eu podia sentir o medo por trás da coragem dele. - Não se esquece, espera o Jayson sumir e corre. - Eu to com medo. - Eu admiti, começando a chorar. -Eu te amo, Nick. - Ele disse e antes da minha resposta ele apertou seus lábios nos meus por um longo minuto. Eu só sei que essa foi nossa despedida. Depois disso tudo aconteceu muito rápido. A pressão em meus lábios e as mãos em minha cintura sumiram, quando eu abri meus olhos vi o vulto da arma na cabeça do Pedro, seus olhos apertados e os músculos contraídos, o barulho do tiro, o sangue manchando meu rosto, o cara que eu amava caindo morto aos meus pés. E lá estava eu, mergulhada na dor de novo. Gritando, respirando superficialmente, sacudindo o corpo dele enquanto o sangue escorria por sua boca, seu nariz e o buraco em sua cabeça. Eu tremia, mal sustentava meu próprio corpo. Eu gritei o nome dele, implorei, chorei, durante horas a fio sabendo que tudo aquilo era inútil. Ele também, nunca mais estaria comigo. Eu deitei sobre seu corpo e esperei que o Jayson saísse de vista. - Amanhã é só eu você, né Nicolle ? - ele disse se levantando do sofá e subindo as escadas. Eu não ousei me mexer.Ainda chorando.

 

Uma hora ou um pouco mais, haviam se passado desde a saída de Jayson. Tudo estava quieto e já havia tempo que a pele do Pedro havia ficado fria por debaixo dos meus dedos, que ainda acariciavam seu rosto. Eu estava mais suja de sangue do que o próprio Pedro, devido ao tempo que eu havia passado mexendo em seu corpo. -Obrigado, Pedro. - eu sussurrei aproximando meus lábios dos dele e pressionando levemente. Tirei meu tênis e andei silenciosamente por onde o Pedro havia me indicado. O corredor era estreito e tinha o teto baixo. Eu prendi a respiração e me movi o mais silenciosamente que o meu choro baixo permitia. No final do corredor havia uma janelinha de ferro, que já estava enferrujada e fora das dobradiças. Eu a empurrei cuidadosamente e ela saiu do caminho com facilidade. Impulsionei meu corpo fraco pela abertura e saí da casa. Respirei fundo e senti o cheiro de mato e podia ver a estrada sem iluminação. Olhei para a casa uma ultima vez e me pus a correr o mais rápido que eu consegui em direção a estrada. Ainda estava escuro, a estrada deserta, não tinham casas por ali, era bom pra mim. Não poderia ser vista facilmente. Continuei correndo não sei por quanto tempo. Não me lembrava da distância ser tão grande do sítio até aquela casa. Quando eu finalmente avistei o sítio, o dia estava nascendo e havia carros de polícia e o carro dos meus pais, bem como o carro dos pai da Dannie, do Pedro e da Raquel e do Justin. -Mãe ! - eu gritei atravessando a estrada e correndo em direção a minha mãe que chorava desconsolada, abraçada ao meu pai. Ela reconheceu meu gritou de imediato e correu de encontro a mim, meu pai atrás dela. Eu demorei mais de 3 horas pra contar a polícia e a todos que estavam lá tudo o que havia acontecido, parei muitas vezes chorando e gaguejando. Alguns policiais que saíram logo para revistar a propriedade que eu havia descrito, voltaram algumas horas mais tarde com a notícia de que a casa abandonada estava realmente cheia de corpos, mas não havia sinal do homem que eu descrevera.

Um ano se passou desde o enterro dos meus amigos e o de outros 60 desaparecidos e a cremação de 23 corpos que já haviam passado da fase decomposição. Eu fui a muitas delegacias ao longo desse ano, enquanto a polícia ainda investigava o suspeito que não havia deixado rastro. Eu mudei de país. Voltei pra escola depois que o psicólogo disse que eu já havia saído do estado choque. Até concordava com ele, mas não podia me esquecer de sequer um segundo que eu havia passado ali. E não esqueceria jamais.

 

Agora você vai ler o relato da mãe de Nicolle para a polícia, na madrugada em que o crime aconteceu.

 

Eu estava no banheiro, que é ao lado do quarto dela e quando eu abri a porta, eu ouvi um homem dizer: "vim entregar seu prêmio" ela gritou e logo depois veio o barulho do tiro. Quando eu entrei no quarto dela, ela estava estirada no chão, segurando uma caneta com o rosto sangrando. Morta. Eu olhei pela janela, mas ela estava fechada. Meu marido resvistou a casa, mas não tinha ninguém e como a própria polícia disse, não tinha sinais de entrada forçada. E a única coisa de estranha que eu vi foi no diário dela. Ela havia escrito tudo o que havia acontecido com ela e os amigos e logo abaixo tinha uma assinatura estranha, que eu nunca havia visto.

 

Após a investigação da polícia, um canal de notícias que estava comentando o crime, noticionou:

 

 A assinatura encontrada no diário de Nicolle Montreal é de Jayson Hunter. O último dono da mansão em que se passou toda a tragédia com os 6 adolescentes. O único contradito nisso é que o senhor Hunter morreu há mais de 70 anos.

 

Fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Roleta Russa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.