Crônicas dos Descendentes : A Herdeira -DEGUSTAÇÃO escrita por Bea B Pereira


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem



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Acordo com o barulho de vidros se quebrando, sinto alguém me sacudindo e quando abro meus olhos, vejo o rosto do meu pai. A metade direita de seu rosto está coberta de sangue, e em sua mão direita, ele segura sua espada.

— Estão atacando o navio, você tem que ir Jade.

Pulo para fora da cama, agradecendo por ter ido dormir tarde ontem e por me esquecer de colocar meu pijama. Pego minha própria espada embaixo da cama e calço minhas botas.

— Irei ajudar vocês. Onde está mamãe?

O rosto dele se transforma em uma máscara branca, e seus olhos não sustentam meu olhar.

— Onde está a minha mãe?

Ele não responde e uma bola se forma em minha garganta, sinto as lágrimas brotarem atrás dos meus olhos. Mas, sei como funcionam as coisas no mar, você demonstrar fraqueza é o mesmo que assinar sua morte. Mesmo para meu pai, forço-me a aparecer forte.

— Jade...eu...

Ele me encara, seus olhos verdes-jade, como os meus, estão brilhando com as lágrimas, ele também se esforça para não chorar, porém mesmo lutando, seu olhar me transpassa a alma.

— Sua mãe está morta, é por esse motivo que você tem que ir embora...

Ele fala alguma outra coisa, mas sua voz se perde com a explosão na porta.

Meu pai se joga sobre mim, e minha espada cai no chão. Ele a chuta para baixo da cama.

Um homem alto, com cabelo loiro preso em um coque, com um uniforme da marinha real entra no quarto.

— Nem mais um passo ou a garota morre!

Sinto a lâmina gelada do meu pai em contato com o meu pescoço.

Meu rosto de surpresa deve ter dado a impressão de medo, pois o homem da marinha levanta as mãos em sinal de rendição.

— Não a machuque. Quais são seus termos, pirata?

O termo pirata sai com um tom repugnante.

— Sairei vivo daqui, com a minha tripulação e o corpo da minha esposa.

— Tudo bem, me entregue a menina.

Meu pai aperta meu punho com mais força, é um sinal de adeus. Escuto-o sussurrar a lei do mar. Não demonstrar fraqueza. Ele tira a espada da minha pele e me empurra contra o homem da marinha e dá um passo para sair do quarto.

Apenas um passo e escuto um disparo de uma arma de fogo. Meu pai me encara com os olhos arregalados e levou as mãos ao buraco que havia se aberto em seu peito. Ele tentou dizer algo, suas últimas palavras, porém, somente sangue saiu da sua boca. Seu corpo despenca no chão em câmera lenta. Menos de um minuto depois o chão do meu antigo quarto está banhado pelo sangue fresco do meu pai.

O oficial me segura em seus braços, escondendo meu rosto em seu peito. Nesse instante, prometo a mim mesma seguir a regra. Nunca demonstrar fraqueza.

— Não precisa chorar, você está livre.

Só que ele está errado, eu não estou chorando. Outro oficial entra, e é ele que segura à arma, e com um tapinha nas minhas costas, o loiro termina:

— O pesadelo acabou.

O loiro não pode estar mais errado; o meu pesadelo havia acabado de começar.

Descubro que o nome do oficial é Jacob Verga, ele me faz sair do meu quarto e atravessar o convés lotado de amigos amarrados, por sorte, nenhum deles abre a boca, mas discretamente, vejo todos inclinando a cabeça, uma reverência final para a princesa pirata.

Já no outro navio, percebo que não existe muita diferença entre o navio pirata e um navio da marinha. Portas baixas, janelas pequenas e quartos minúsculos com todos os móveis grudados na parede.

Jacob me segura pela mão, me guiando pelo mar de homens com uniformes azuis-petróleo. Ele me coloca sentada em uma cama, e sem que eu peça, joga uma manta macia em minhas costas. Porém, eu me sinto desconectada com o ambiente.  Há algumas horas eu dançava e brincava com minha mãe e meu pai, e agora, eles estão mortos.

— Qual seu nome menina?

Pisco algumas vezes, tentando afastar as lágrimas e volto minha atenção ao homem em minha frente.

— Jade, senhor.

— Bom Jade, eu sou Jacob Verga, e estou aqui para ajudar.

Minha vontade é de cuspir em seu rosto, e pegar o objeto cortante mais próximo e enfiar em sua garganta. Ele queria me ajudar? Bom, para começar, deveria ter deixado meus pais vivos. Porém, seus olhos chocolate e seu sorriso sincero não deixam que eu continue com meus pensamentos de vingança. Não havia sido ele quem matou meu pai, e com aquele rosto terno, também não deveria ter matado minha mãe.

— Eu vou para o orfanato? – pergunto.

Nunca fui à terra, mas minha mãe sempre ameaçava que me mandaria para lá se eu a irritasse muito.

— Não minha querida. – fala ele em meio a uma gargalhada.

— Eu estou disposto a cuidar de você se quiser.

— Então eu iria morar com o senhor? – pergunto.

— Se você quiser.

Analiso minhas opções, ir para o tão temido orfanato ou para a casa do homem com sorriso bondoso. Faço que sim com a cabeça e digo quase em um sussurro.

— Eu gostaria de ir morar com o senhor.

Ele me abraça e dá um beijinho na minha testa, como meu pai sempre faz... Fazia, tenho que aprender a falar deles no passado a partir de hoje. O loiro sai e diz para eu tentar descansar.

Porém, assim que a porta se fecha, vejo-me explorando o local. É minúsculo, muito menor do que meu quarto. E não tem absolutamente nada de interessante. Mexo nos bolsos da calça e meus dedos se fecham em um objeto.

Puxo-o para meu campo de visão e meus olhos ficam mareados. O colar que meu pai carregava para cima e para baixo está em meus dedos.

É um pingente de ouro envelhecido em formato de uma chave com as extremidades retorcidas e enroladas, formando desenhos que parecem rendas. Na extremidade inversa àquela que se abre, está o formato do que parecem ser asas, mas são tão delicadas que não posso ter certeza. No meio das asas, há uma pequena pedra verde incrustada, pedra que deduzo ser jade. O motivo do meu nome. O pingente está pendurado em um pedaço de couro.

Aperto aquele objeto contra o peito e finalmente me permito chorar todas as lágrimas do meu ser.


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