Me lembro até hoje do momento em que você recebeu aquele papel: convocação para a Guerra. Não queria que você fosse. Nenhuma esposa desejaria isso para o marido. 

Só que você afirmou que era a "sua obrigação", o "seu dever como cidadão", e, na época, não retruquei. Sabia que quando tomava suas decisões elas eram irreversíveis.

Mesmo assim, estou curiosa, você pensou nos seus filhos quando essa ideia tola lhe surgiu? 

Se houvesse máquina do tempo, eu teria sido mais incisiva. Gritaria com todas as letras: "se você for, não volte nunca mais". 

Poderíamos ter fugido. Tinha até um plano estruturado. Daria certo.

Agora só me resta lamentar, você resolveu ser patriota em uma "pátria" que não se importa com nenhuma vida humana. O governo só deseja ganhar a batalha. 

Os presidentes nem foram para o combate direto, assim como os reis do passado, só observam, vendo a morte e a destruição da população.

No dia anterior a sua partida, colhi uma rosa vermelha, entregando-lhe a ti, disse: "Fique com ela. Enquanto a roseira ainda der flores, terá sorte".

Havia feito um feitiço, a bruxa do vilarejo que me aconselhara: uma vida, por outra vida. Quando meu marido sobrevivesse ao perigo a roseira morreria naturalmente. 

Só que aconteceu antes da hora. 

Saí de casa para fazer compras em uma pequena loja, quando voltei só havia fogo. Chamas por todo lado.

Pessoas gritavam ao redor de minha moradia. 

Pânico surgiu em minha garganta: meus filhos estavam lá dentro.

Lágrimas desciam, soluçava ininterruptamente, chamava seus nomes desesperada.

Esperava que eles estivessem vivos.

Depois dessa tragédia, fui morar com minha mãe. Escrevi algumas cartas para meu marido que não foram respondidas. Fiquei preocupada. 

Dias depois recebi a notícia de seu falecimento. 

O perecimento da roseira pelas chamas da bomba ocasionou o falecimento dele?

Tudo por causa daquele feitiço de proteção?

Esses são questionamentos sem respostas.

Só que toda vez que vejo esse tipo de flor penso no que ocorreu.

Apanho uma rosa, e inalo o perfume. 

Minha motivação para fugir é nula. Sei que daqui a um tempo é capaz de eu também ir para o submundo de Hades. 

Só que nada importa mais. 

Especialmente quando estou permanentemente afastada de todos que me foram importantes.

Deito-me na cama e fecho os olhos. 

Faço um esforço para descansar, enquanto aviões sobrevoam o local.