Seren escrita por Karina A de Souza


Capítulo 14
Banidos


Notas iniciais do capítulo

E chegou o último capítulo...



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DUAS SEMANAS DEPOIS

—Não aguento mais Thor aqui o tempo todo. –Loki confessou, andando e lá para cá no jardim. –Acho que vou bani-lo novamente de Asgard.

—Não se atreva a fazer isso com o nosso irmão. –Revirou os olhos.

—Eu já não disse que ele não é meu irmão? Por que você sempre se esquece disso?

—Loki... –De repente, Thor entrou no jardim como se fugisse de Hela. –O que houve? O Ragnaök começou?

—Pior. –Respondeu.

—O que pode ser que o fim de tudo?

—Odin despertou, e já sabe de tudo. –Me levantei, deixando a flor que segurava cair no chão. Loki ficou imóvel. –Ele encontrou uma maneira de tirá-los do trono e desfazer o casamento. Você talvez se livre do enforcamento, mas Loki...

—Pelos deuses, temos que sair daqui agora. –Agarrei o pulso do meu marido, que se soltou. –Não podemos ficar aqui!

—Não vou sair sem lutar. –Avisou. –Asgard é minha, por direito. Eu sou o rei...

—Não é mais. Ouviu o que Thor disse? Temos que ir embora.

—Eu não sairei daqui!-Se afastou. O desespero me invadiu. Ele seria morto. E no mínimo eu seria presa, ou forçada a casar com alguém que nem conhecia. -Seren...

—Não podemos ficar aqui. Nós precisamos ir. Eles querem enforcá-lo...

—Vamos lutar pelo que é nosso.

—Nada mais é nosso. É o exército inteiro de Asgard contra nós dois. Temos que ir. Por favor.

—Eu falei com Heimdall. –Thor disse. –Ele os ajudará a sair de Asgard.

—Eu não vou!-Loki gritou. –Para me impedir de ser o rei, eles terão que me matar. Vou lutar até o fim.

—Então lutará sozinho. –Tirei a coroa, colocando-a no banco. –Eu vou partir.

—O que? Não pode fazer isso, Seren. Está abrindo mão dos seus direitos...

—Se ficar aqui, verei a sua morte. E eu não vou suportar isso.

—Seren...

—Pode me ajudar a chegar a Bifrost, irmão?-Perguntei, me virando para Thor. Eu amava Loki, mas insistir numa guerra perdida era loucura. Nunca ganharíamos do exército todo.

—Seren, não vá. –Segurou meu braço.

—Faça sua escolha. Vá embora comigo, ou permaneça aqui sem mim, e morra lutando. Às vezes é preciso reconhecer que lutar não adiantará nada. –Suspirou.

—É isso o que quer? Fugir?

—Sim. É isso. –Me soltei do aperto dele. –Esse é um adeus?

***

O exército de Asgard invadiu o Jardim de Frigga minutos depois, e o encontrou vazio. Thor, Loki e eu partimos rapidamente em direção à Bifrost, onde Heimdall nos esperava.

—Para onde vamos?-Perguntei, repentinamente insegura.

—Não vejo lugar melhor que Midgard. –Thor disse. –E sempre que precisarem de ajuda, podem procurar Jane e eu, ou os Vingadores.

—Nem morto. –Loki murmurou.

—Vocês ficarão bem lá, se adaptarão depressa.

—Esqueceu que eu tentei dominar aquele reino inútil? Agora eles querem me ver morto.

—Você tem seus truques. Nada acontecerá. Então, é para lá que vão?-Loki e eu trocamos um longo olhar, e demos as mãos.

—Sim. –Respondi. –É para lá que nós vamos.

***

MESES DEPOIS

Se adaptar foi mais fácil que pensei. Loki teve mais dificuldades, por que achava tudo o que era Midgardiano, inútil. Porém, não havia outra maneira. Sabíamos que ao fugir, tínhamos sido banidos e jamais poderíamos voltar. Heimdall nunca mais nos ouviu, nem abriu a Bifrost.

Perdemos contato com Thor. Eu tentei, de todas as formas, encontrá-lo, mas nada. Jane Foster também havia desaparecido misteriosamente. Estávamos por conta própria agora.

Os primeiros meses foram os mais difíceis. Precisávamos de um emprego. Por algum tempo fomos ajudados pelo governo, mas logo tínhamos que caminhar com nossas próprias pernas. Arrumei um emprego: cultivava e vendia flores na cidade mais próxima (que ficava a um quilômetro da nossa casa). Loki às vezes me ajudava.

Por ele, nós tentaríamos voltar a Asgard. Mas era óbvio que isso não daria certo. Então raramente falávamos da Morada dos Deuses. O Reino Dourado não existia nas nossas conversas. Porém, encontrei diversos livros sobre mitologia nórdica escondidos no armário de Loki. Achei melhor não comentar nada. Era claro que ele sentia falta de lá, e eu também. Nunca mais veríamos Asgard... Mas às vezes... Não se pode fugir do destino.

***

—Você deveria estar fazendo isso?-Loki perguntou. Eu adorava vê-lo em roupas Midgardianas, ele dizia as detestar, mas eu sabia que era encenação.

—Estou apenas cuidando das minhas plantinhas. Nós vamos vendê-las, então elas precisam de muita atenção.

—Por que não pode fazer isso mais tarde? Você sabe que... Na sua condição...

—Loki, enquanto eu estiver viva, nada me impedirá de viver a minha vida. E eu me sinto muito bem.

—Sabe que me preocupo.

—Sei, sim. –Ajeitei algumas tulipas em um vaso maior.

—Então pare com isso e venha para dentro. –Revirei os olhos.

—Pelos deuses, depois de tanto tempo, você continua mandão.

—Só estou preocupado, e estou cuidando de você.

—Eu não tenho mais cinco anos. Sei cuidar de mim mesma. –Me levantei, uma dor horrível me fez cair de joelhos. –Não!-Loki se apressou em me ajudar a levantar.

—Acho que temos que ir à Asgard mais cedo do que pensávamos.

—Não, ainda não. Nós... –Fechei os olhos, tentando não gritar de dor. –Ainda não, ainda não...

—Seren, não podemos adiar isso. –Começamos a entrar em casa. –Quanto mais rápido...

—Eu não estou pronta para voltar. –Sentei no sofá.

—Nós combinamos que...

—Eu posso aguentar. Sozinha.

—Seren...

—Acredite em mim. Não podemos ir lá agora, por favor. Dois dias. Me dê dois dias. –Abri os olhos. Loki parecia muito preocupado. –Por favor.

—E se você... Não resistir?

—Eu vou. Não sou tão fraca quanto pareço. –Respirei fundo. –Não podemos voltar assim. Precisamos... Estar prontos. Então Odin... Odin não nos expulsará de lá.

—Se ele vê-la assim, não a expulsará.

—Eu só preciso de dois dias! Só isso! Eu consigo. Será que você consegue?-Se ajoelhou na minha frente.

—Eu não sei. Eu não sei...

—Eu sei. Você consegue. –Apertei a mão dele. –Nós vamos conseguir. Nós vamos.

***

DOIS DIAS DEPOIS

—O mínimo que ele podia fazer era abrir a Bifrost. –Loki resmungou, furioso, enquanto me ajudava a não cair nas pedras. –Ele não tem compaixão?

—Ninguém está morrendo aqui.

—Ainda não. –Olhei feio para ele, parando de andar. –O que foi?

—Se você aprontar alguma coisa, eu mesma te chuto para fora de Asgard. Sem dó nem piedade. Não estamos aqui para... Para criar confusão.

—Tudo bem. Irei me comportar. Eu juro.

Descer a montanha foi muito difícil e demorou horas. Levamos quase a noite toda, e quando chegamos ao solo, o dia estava amanhecendo.

O reino estava todo enfeitado, uma festa aconteceria em breve. Alguém, no mínimo, ia se casar, ou ser coroado. Seria Thor? Será que meu pai ainda está vivo? A dúvida apenas me deixou mais nervosa. Apressamos o passo, passando despercebidos pelos guardas semi atentos e mortos de sono. Ainda não havia acontecido a troca de turno.

Nos dirigimos para o palácio. Este estava mais enfeitado do que nunca, mais ainda do que quando houve meu falso casamento com Loki (que se passava por Odin). Algo grandioso aconteceria na Morada dos Deuses.

—Será que Odin está vivo?-Murmurei.

—Se não estiver... Não fará diferença.

—Loki!-Riu, despreocupado.

—Estou brincando!

—Sorte sua que eu estou... Se não te agrediria aqui mesmo.

—Apenas alguns meses em Midgard, e já está selvagem como eles. –Fiz cara feia. -Não fique assim. –Me deu um beijo rápido. –Sabe que a amo como é. –Escondi um sorriso.

—Vamos, vamos logo.

Entramos no palácio. Com um de seus truques, Loki conseguiu tirar os guardas da frente da Sala do Trono, então entramos. Odin estava lá, no lugar de rei, e isso me deixou levemente mais calma. Vivo ele estava. Nos aproximamos. Loki fez uma reverência um pouco debochada, eu mal consegui me abaixar.

—O que estão fazendo aqui?-Odin perguntou, ficando de pé. Parecia furioso, então seu olhar parou em mim, e ele se acalmou rapidamente. –Seren? O que... Minha filha...

—Sabemos que fomos banidos. –Interrompi. –Mas depois do que aconteceu conosco na Terra, achei que precisava voltar. Pelo menos uma vez. Por que o senhor tem todo o direito de saber... De saber sobre... –Olhei para o pequeno bebê no meu colo. –Sobre seu neto. –Odin se aproximou de nós lentamente, achei que gritaria conosco, mas parecia apenas emocionado.

—Como é o nome?

—Makem. Um nome Midgardiano. –Tocou o neto no rosto. –Precisava vir aqui para deixar você conhecê-lo. –Lágrimas encheram meus olhos. –Lamento pelo que fizemos.

—Não importa agora. –Sorriu. –É uma bela criança. Tem os olhos do pai, e o sorriso da mãe. Makem, filho de Loki, é permitido em Asgard. Quando crescer, pode vir aqui quando quiser. Porém, os pais continuam banidos, e jamais poderão voltar. –Assenti, um pouco triste. Pelo menos meu filho veria a Morada dos Deuses. Aquele que seria seu lar caso tudo tivesse sido diferente.

—O que... Está acontecendo em Asgard? Vimos os enfeites...

—Thor se casará e será coroado ainda hoje.

—Meu irmão? Com quem ele se casará?-Suspirou.

—Com a senhorita Jane Foster, de Midgard. –Sorri, Loki bufou.

—Então o senhor permitiu o casamento deles?

—Era a única maneira de deixar um herdeiro no Trono. Thor amadureceu, e será um bom rei.

—Tenho certeza disso. Nós... Será que poderíamos ficar e assistir o casamento?

—Lamento, Seren, mas devem partir agora mesmo. –Assenti, deixando algumas lágrimas caírem.

—Tudo bem, sabemos que a culpa é nossa. –Odin beijou meu filho e eu na testa, e se virou para Loki.

—Cuide bem deles, filho. –Meu marido parecia surpreso. –Cuide bem da sua família. E que ela seja próspera, como deve ser. Vocês podem sair pela Bifrost.

—Obrigada. E... Adeus... Pai.

Me virar e sair de Asgard, com meu filho nos braços e Loki ao meu lado, foi mil vezes mais difícil do que fugir meses atrás. Uma parte minha se estilhaçou com a dor, e eu não consegui conter as lágrimas.

Estávamos banidos, condenados... Havíamos perdido tudo, mas ganhado um recomeço. Um recomeço com uma família, na Terra... Uma chance de mudar tudo.

Enquanto nos encaminhávamos para a Bifrost, dois corvos nos seguiram. Os corvos de Odin. Isso me consolou um pouco. Meu pai não havia nos abandonado. Nem a minha mãe.

E não importava o que fosse acontecer, estávamos todos juntos. Para sempre. Pela eternidade.


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Notas finais do capítulo

E acabou.
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