Depois de um tempo, ele se aconchegou a mim, e eu aceitei prontamente calor do seu corpo. Tinha voltado a nevar e o chão estava meio escorregadio. Caminhamos em silêncio, seu braço envolveu minha cintura em abraço, na hora meu corpo se arrepiou e nem de longe era de frio.

   A Coffee Time estava cheia, afinal era sábado de inverno, mas tinha uma mesinha no fundo com dois lugares. Rapidamente, Olivia veio nos atender com um sorriso no rosto.

— Senhorita Taylor, tudo bem?

— Tudo bem sim, Olivia.

— Então, vai querer o de sempre?

— Na verdade, quero um cappuccino de chocolate com bastante creme, com um muffin de queijo e outro de maçã e canela.

— Com prazer. E o seu... hum... amigo?

— Eu quero um chocolate quente com creme, também um muffin de queijo e um brownie de chocolate com doce de leite... Olivia. - o rosto dela ficou muito vermelho e eu quase podia senti-la prender a respiração. Eu entendia totalmente.

— Eu... é... eu já trago.

— Logan Blake, isso não é justo. - falei e ele me encarou surpreso.

— Como assim?

— Esse sorriso, esse charme. A pobre da Olivia mal conseguiu se concentrar.

— Eu não faço por mal, eu só... - sorri.

— E é exatamente isso que o torna tão irritante. Se fosse proposital, você seria só idiota. Mas como não é...

— Como não é...

— Você é irritantemente incrível. - a sua risada era cativante.

— Incrível, é?

— Impossível que não saiba.

— Acho que não perceber é o que faz de mim um cara legal.

— Correto.

— Mas enfim, Emily Taylor, tem algo que queira me contar? – eu gelei.

— Como assim?

— Ora, é um encontro. Acredito que eu tenha coisas cruciais que eu deva saber. – respirei aliviada.

— Não sei bem...

— Bom, só pela sua resposta inicial a minha pergunta, tenho certeza de que tem alguma coisa.

— Eu acho que não está na hora de contar isso pra você.

— Ah, por favor, Emily. Qualquer que seja a coisa que você tenha pra me dizer, melhor falar de uma vez. - respirei fundo.

— Pois bem, eu... é... - graças a Deus, Olivia escolheu esse momento para chegar com o nosso pedido.

— Prontinho. - falou ela, entregando perfeitamente nossas bebidas.

— Obrigada, Olivia.

— Disponha.

   Assim que ela saiu, resolvi tomar um gole do meu cappuccino só para ganhar tempo. Eu não tinha ideia de como ia contar isso para o Logan, na minha mente, tinha sido mais fácil.

— Emily, qual é o problema?

— Logan, primeira coisa que você tem que entender é que esse livro que eu estou escrevendo é o meu sonho e eu batalhei muito para conseguir essa oportunidade. E eu não posso me envolver com ninguém até terminar de escrevê-lo. - eu dei uma pausa pra respirar e ele sorriu, embora seu rosto refletisse certo desapontamento (o que me fez ficar contente e nervosa ao mesmo tempo).

— Era isso? Eu entendo, Emily, não tem problema. Você está envolvida com esse projeto e eu não quero mesmo atrapalhar. Podemos ser amigos e...

— Mas não é só isso.

— Ah, pois bem. Explique.

— Eu não posso me afastar de você, Logan. - isso realmente o pegou de surpresa. - Eu sei que isso parece bem louco, mas foi você que me inspirou a escrever. Você me perguntou por que eu estava tão concentrada no computador, mas é porque eu não conseguia escrever. E depois da nossa conversa, eu não paro de escrever.

— Eu quero que você saiba, Emily Taylor, que isso não faz muito sentido. - sorri.

— Eu sei, mas é que minha história é sobre... você.

— Eu?

— Sim, você. Quando eu te vi entrando bem aqui, eu percebi que você era tudo o que eu tinha idealizado para o meu personagem. O mesmo cabelo, a mesma cor de pele, os mesmos olhos, o mesmo estilo, exatamente igual.

— Eu sou o seu personagem?

— Sim. Eu sei que isso não faz muito sentido, mas é o que é. - Logan ficou um tempo sem falar nada e eu quase me arrependi de ter dito alguma coisa.

— Um minuto de loucura não é? – sorri.

— Mais ou menos isso.

— Qual é exatamente o seu plano, Emily Taylor?

— Quero viver aventuras com você, sair, conversar, ter encontros românticos e escrever tudo isso no meu livro. - Logan levantou uma sobrancelha e sorriu.

— Você quer que eu seja seu namorado de aluguel? - fiquei surpresa.

— Você falando assim parece ser uma péssima ideia.

— Deve ser porque não é uma ideia muito boa.

— Se você quiser, eu posso pagar.

— Como uma prostituta? - revirei os olhos.

— Meu Deus, qual é o problemas de vocês com esse lance de prostituta? – ele me olhou confuso.

— Você realmente queria dizer essa frase?

—É que eu estou tendo um déjà vú. Você falou as exatas palavras da minha amiga, Katie.

— Você deveria escutá-la de vez em quando.

— Eu escuto, mas é que eu estava tão animada com o fato de conseguir escrever a história que mal pensei em como te falaria isso.

— E qual o problema de você realmente sair comigo? Da gente, sei lá, namorar de verdade?

— Eu não posso me distrair, Logan. Não agora. Não quando eu estava realmente conseguindo colocar um eixo na minha vida profissional.

— E por que uma coisa atrapalharia a outra?

— Eu sei que atrapalha, Logan. Quando eu gosto de alguém, eu não sei muito bem como lidar com as prioridades. Eu ia querer usar todo o meu tempo livre para ficar com você, e caramba, fora que eu não poderia escrever tudo o que ia acontecer, porque ia ser meio errado.

— Com todo o respeito, já é mais do que meio errado.

— Desculpa, está bem? Mas eu sinto que preciso tentar.

— Então você está me dizendo que você quer sair comigo e como você disse? "Viver aventuras"?

— Sim. - falei com certeza.

— E creio que nesse acordo inclua beijos e adjacentes. – pensei um pouco.

— O que você quer dizer com adjacentes? – o sorriso que se seguiu me deixou completamente arrepiada, e ele ainda arrematou com uma piscadela completamente desnecessária (ou necessária, dependendo da intenção).

— Por favor, senhora Taylor, não seja tão puritana. – engoli em seco e prendi o ar.

— Hum... é... – ele beijou minha bochecha bem devagar.

— Vou aceitar isso como um sim.

— Sim. – minha voz era quase um sussurro.

— Quer ter conversas íntimas, momentos íntimos, e não quer se envolver emocionalmente de forma alguma?

— Era esse o plano.

— Não vai dar certo.

— Logan...

— A não ser que no seu plano inclua você descobrir que me ama e ir atrás de mim no aeroporto no final do livro. - suspirei.

— Eu sei que parece loucura, mas é que eu não posso me envolver com ninguém agora e não posso deixar você sair da minha vida.

   Logan suspirou e passou a mão pelo cabelo, me encarou por um tempo e eu quase desisti da ideia de não namorar de verdade. Seus olhos eram muito penetrantes e me davam vontade de fazer o que ele quisesse. Por fim, ele respondeu.

— Tudo bem. - eu arregalei os olhos.

— Sério?

— Sim. Mas para todo mundo somos namorados, certo?

— Exato. No caso, a Katie já sabe, mas no geral achei que não deveria contar pra mais ninguém. Se você tiver um melhor amigo pra quem queira contar...

— Jeremy.

— Tá bem, então só a Katie e o Jeremy vão saber.

— Certo, e esse... hum... acordo vai até quando?

— Até eu terminar o livro.

— E isso será quando?

— Até final do ano que vem.

— Tudo bem. Outra coisa: se eu me apaixonar por você, eu vou embora e esse acordo acaba. - arregalei os olhos de surpresa. Eu realmente não esperava por essa, mas o que eu podia fazer?

— Assim seja.

   Comemos rapidamente e em silêncio, eu não sabia o que esperar do Logan. Embora eu esperasse que ele aceitasse, fiquei surpresa por ele ter concordado.

— Emily Taylor, eu quero que você saiba que é a mulher mais interessante e inusitada que eu já conheci. - dei um sorriso sem graça.

— Desculpa por te fazer passar por isso. Sei que eu estou te privando de conhecer outras pessoas e se apaixonar, mas é que eu preciso de você.

— Na verdade, eu acho que vão ser meses interessantes. Afinal, nunca namorei ninguém de mentira.

— Nem eu, mas tem uma primeira vez pra tudo.

— Então, Emily Taylor, quer namorar comigo por um ano? - sorri.

— Eu adoraria, Logan Blake.

— Suponho que agora eu deva te beijar. - falou e eu fiquei vermelha. Claro que eu esperava que ele fizesse isso, mas não desse jeito.

— Assim?

— Como assim, “assim”?

— Assim, do nada?

— Você que queria me tratar como um prostituto, mocinha. Se lembra? – revirei os olhos

— Acho que você nunca mais vai parar de zombar de mim.

— Sinto muito, senhora Taylor, isso é necessário.

   Fiquei em silencio e ele começou a me encarar, comecei a ficar nervosa. E se eu não gostasse do beijo dele? Mas automaticamente meu eu interior entrou em ação: Não seja ridícula, Emily Taylor. Um cara maravilhoso desse não beija mal, é contra a lei da natureza. Respirei fundo e olhei dentro dos seus olhos. Logan levantou e sentou ao meu lado.

— Feche os olhos. - obedeci prontamente. Aos poucos senti sua respiração cada vez mais perto do meu rosto, me fazendo prender a minha.

   Logan encostou seus lábios nos meus bem devagar, prestei atenção em tudo, na textura da sua boca, no seu hálito de chocolate. Antes que eu me perdesse completamente na minha cabeça, ele colocou sua mão no meu pescoço e abriu os meus lábios com os seus. Inicialmente o beijo era lento, mas intenso como o crepitar do fogo em uma lareira e eu coloquei as mãos em volta da sua cintura trazendo ele mais pra perto. Automaticamente, Logan soltou um gemido que fez meu coração acelerar e de repente o que era quase uma faísca foi crescendo exatamente como o fogo, suas mãos começaram a descer pela minha cintura e eu não queria nem parar pra respirar, mas antes que tudo desandasse Logan se afastou.

— Você lembra que estamos em uma cafeteria, né? - eu mal conseguiu lembrar meu nome.

— Que? - ele sorriu.

— Estamos em público, Emily.

— Ah, é... - seu sorriso se alargou.

— Tem certeza que quer manter o seu plano?

— Não... quer dizer, sim. - Logan beijou o canto da minha boca bem devagar e mais uma vez eu prendi a respiração.

— Veremos. – sinceramente vai ser um ano bem longo.

>>o

   Caminhamos em silêncio até o meu apartamento, acho que não tínhamos muito o que dizer um para o outro. O meu eu interior tinha razão, Logan Blake beijava muito bem e isso era bom e ruim ao mesmo tempo.

— Está pensando no quê? - perguntou ele e eu dei de ombros.

— Em como você beija bem. - Logan soltou uma risada surpresa, aquela que sai sem querer.

— Oh, obrigado. Você também beija muito bem.

— Fico feliz que nosso beijo encaixe. – ele fez uma careta.

— Assim você pode descrevê-lo melhor no seu livro? - olhei pra ele.

— Eu senti uma pontada de deboche.

— Deve ser porque ela estava presente.

— Olha, Logan, eu sei que é estranho, mas você aceitou, lembra?

— Lembro e tenho uma sugestão. Pode falar que o... Como se chama o seu personagem?

— Logan Blake. - ele me encarou surpreso.

— Sério?

— Eu deveria mudar não é?

— Sim, por favor.

— Me deixa pensar...

— A sugestão que eu ia dar é que você deveria escrever que Ryan Finlay é maravilhoso e o seu beijo é como o manjar dos deuses, perfeito e irreal. - foi a minha vez de soltar uma risada surpresa.

— "Perfeito e irreal"? Sério?

— Não?

— Não. Mas deixo você ler um pouquinho do original.

— Eu achei que fosse me deixar ler tudo já que eu sou o personagem principal.

— Mas que graça teria se você lesse tudo?

— Não era pra ter graça. Como eu vou fazer os meus ajustes pontuais se você não me entregar antes?

— Não, Logan, sem chance. Essa é mais um motivo pra eu não mostrar. Além de eu não gostar de mostrar meu trabalho sem estar concluído, você não tem que dar pitaco.

— Isso é um absurdo.

— Você não tem escolha.

— Então tá bem.

   Alguns metros antes de chegar ao meu apartamento pude ver Katie parada na porta me esperando. Eu tinha plena certeza que ela iria querer saber de tudo, mas ela podia pelo menos me esperar chegar em casa.

— Quem é ela? - perguntou Logan.

— Katie, minha melhor amiga.

— A Katie?

— A Katie.

— Quero conhecê-la.

— Acredite, ela também quer te conhecer.

— E se eu olhar pra ela e for tomado por uma paixão súbita? - revirei os olhos.

— Isso é coisa de livro.

— Olha só, então assim você poderia ir correndo escrever.

— Acho que isso foi um pouco maldoso.

— E eu acho que isso é muito irônico vindo de uma garota que me faz de namorado de aluguel.

— Você está de deboche? - ele piscou pra mim, mas de alguma forma eu não consegui ter certeza se ele estava brincando ou não.

   Katie me viu antes que eu chegasse à porta e abriu um enorme sorriso, mas automaticamente seus olhos foram para o Logan e ela levantou uma sobrancelha com a sua melhor cara de Uau.

— Boa noite. - falei e ela sorriu.

— Boa noite.

— Eu ia te ligar assim que chegasse. - falei.

— Imaginei que sim, mas queria conhecer o... ele. - sorri. Claro que queria.

— Katie, esse é o Logan Blake.

— Muito prazer. - falou ele com o seu melhor sorriso tira-fôlego.

— Meu Deus, você é muito gato.

— Katie...

— Não, Emily, agora eu entendo. Ele é... muito gato mesmo. Você tem razão em chamá-lo de Adônis. – meu Deus, eu quero morrer. Logan soltou uma gargalhada.

— Adônis, é? Você sabe deixar as coisas interessantes, Emily Taylor. – seu olhar penetrante se fixou nos meus e eu prendi a respiração.

— Uau. Casa com ele, Emily.

— Katie!

— Eu até tentei, mas ela quer apenas me usar para escrever um livro e torná-lo um best seller. Esse é o mundo capitalista em que vivemos. - minha primeira reação foi revirar os olhos, enquanto Katie e Logan entravam em um complô silencioso.

— Vocês querem parar? Você, Katie, tem que parar de dar em cima do meu namorado temporário e você, Logan, concordou com isso. - eles ficaram me encarando em silêncio por um tempo.

— Nossa, ela é sempre assim? - perguntou Logan para Katie me surpreendendo.

— Sempre. Eu sinto muito que você tenha concordado com essa loucura. De qualquer maneira, quer entrar um pouquinho?

— Quero, claro.

— Então, vamos lá. Emily, a chave, por favor. - eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, mas por via das dúvidas, abri a porta de casa.