Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 30
Você e Eu




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Capítulo 28 - Você e Eu

"Porque somos você e eu e todas as pessoas com nada a fazer, nada a perder."    You And Me - Lifehouse

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Eu me sentia tão perdida!

Em meio a agitação que havia se instalado, eu queria fugir. E queria fugir logo para que Conrad não me alcançasse, como ele pareceu fazer ao lutar contra um mar de pessoas para vir em minha direção.

Não pensei muito, só virei e corri para qualquer porta que me levasse a um cômodo sozinha.

Minha cabeça estava girando, eu queria vomitar ali mesmo e precisava urgentemente respirar o ar da noite. Por isso, ao ver uma porta escondida à direita, fui em sua direção e me vi em uma sacada do palácio.

Droga! Nem andar por aqui eu sabia para fugir de todos, de seus olhares e indagações, fugir de mim mesma e as incertezas que brotavam em minha mente.

— Para, Serena! Você não está perdida, você não enlouqueceu, você só precisa encontrar seu pai e descobrir o que se passa.

Eu tentava me acalmar entre lufadas profundas do ar fresco. Minhas mãos tremiam e minha tentativa de me acalmar não foi bem sucedida ao me deparar com esse fato.

O problema todo era me sentir sem saber o que fazer e a quem perguntar algo. Como eu poderia confiar em alguém dali?! Eles eram capazes de inventar coisas e maquinarem situações horrendas para serem protagonizadas por outros!

Era triste não ter certeza de quem eu era. E reconhecer isso foi mais triste ainda.

Eu senti o frio contrastar com um molhado em meu rosto e notei que estava chorando.

Notei que nem conseguia controlar aquele fluxo molhado, o bolo em minha garganta e a ardência em seu nariz.

Droga!

Pus as mãos sobre o rosto para me esconder até mesmo na escuridão e me sentia cada vez menor.

Que história era aquela, pelo amor de Deus?! Por que eu estava com aquela angustiante sensação de saber que no fundo, algo era verídico? Que Blaire não era uma mentirosa...

— Serena!

Ouvir meu nome repentinamente me fez encarar a porta da sacada que havia sido escancarada.

— Saia daqui. Quero ficar sozinha. - tentei falar e enxugar meu rosto para que nenhuma fraqueza minha ficasse exposta àquele que havia posto uma faca em minhas costas.

— Serena, nós precisamos conversar... - Conrad sussurrou, aproximando-se lentamente como se tentasse contato com um bicho selvagem e isso me enfureceu.

— Eu NÃO quero conversar com você agora! Na verdade, eu não queria NUNCA! Por que você não vai fantasiar alguma mentira e espetáculo pra mim ao lado da sua amiga Blaire, hein, Conrad?!

— Meu Deus, Serena, não é nada disso!! Ela disse isso?

— Não importa o que ela disse. Só importa que alguém abriu o bico sobre algo que parecia ser a fofoca de outros, não é, Conrad? - jorrei, profundamente magoada com ele. E comigo, por ter criado alguém em cima dele que não correspondia às expectativas.

— Serena, eu posso explicar o que quer que seja que ela tenha dito, só me escuta, por favor!

Eu não queria escutá-lo. Eu nem mesmo queria ver aquele semblante quase desesperado dele, mas eu não tinha mais forças nem para me fazer para de chorar, quiçá fazê-lo parar de falar.

— Meu Deus Serena, eu cometi um enorme erro, por favor, me perdoa. - ele começou, e desviei o rosto, mirando para o ponto mais distante que conseguia ver em meio às lágrimas. - A Blaire me contatou há alguns dias com essa teoria louca sobre seu parentesco e ela possuía provas para corroborar a teoria, eu não pude julgar você no momento, Serena, eu juro a você...

Era doído ouvir aquilo dele. Eu tinha me aberto, falado sobre coisas íntimas, dividido momentos únicos e ele não compartilhava do mesmo sentimento de transparência que o meu... Eu não pensava que a falta da reciprocidade dilacerava alguém.

— Eu não contei nada a você porque eu não podia, Serena, por Deus! Eu confrontei a minha mãe para saber a veracidade de tudo e jurei a mim que criaria coragem para dizer tudo a você quando fossem confirmadas suspeitas...

— Você acreditava que eu sabia disso tudo e tinha mentido a você? - eu o interrompi, as palavras pulando de minha língua para confirmarem minhas dúvidas.

Conrad baixou os olhos, envergonhado.

— Uma parte de mim sempre acreditou em você, Serena, mas elas falavam toda hora sobre o pouco tempo que nos conhecíamos, sobre como já fomos enganados outros vezes, mesmo se sentisse que estava apegado a ideia de que você era diferente! Mas eu não tive coragem de te falar, meu Deus, me perdoa.

Eu me afastei quando ele tentou segurar minha mão.

— Não. Conrad, como pôde?!

— Me perdoa, Sereia, fui tolo em me deixar levar pelo falatório de outros e não acreditar no meu lado que dizia que você era única.

— Eu me expus a você! Você entende o que é isso?! Você passou pelos momentos mais difíceis da minha vida ao meu lado e me renegou quando puseram qualquer coisa contra mim! Como você acha que isso poderia dar certo dessa forma? - explodi com ele, não me importando se meus gritos eram misturados a lágrimas e se minhas palavras não passassem por um filtro.

— Eu errei! - Conrad gritou, puxando os próprios cabelos da cabeça. - Você não pode jogar nosso relacionamento no lixo por causa disso, Sereia, eu me arrependo tanto! Eu vi a verdade em seu rosto ao escutar toda a merda de Blaire!

— Que relacionamento?! A gente estava mais estranho que dois desconhecidos! Enxergue isso, Conrad, você não foi feito para se relacionar com pessoas feito eu...

— Como assim como você? Serena, eu sei que ter omitido de você algo importante é muito duro, eu espero o tempo que for pelo seu perdão, só não desista de tudo.

— Você foi feito para algo diferente. - suspirei, fitando a paisagem novamente. A verdade se encaixava em mim como uma luva agora. - Somos de mundos diferentes. Você não vê tudo isso? Estivemos cegos porque não queríamos enfrentar a realidade, mas está tudo aqui. Bem debaixo de nossos narizes o fato de que não nascemos para dar certo. Você é um futuro duque. E eu sou feliz em ser... O que me restou.

— Dane-se ser um duque! - ele gritou, dessa vez me virando para encará-lo, mas eu já estava resignada. - Eu errei, sim, eu me sinto o pior ser humano do mundo por ter sido um dos causadores da dor que vi em seus olhos naquele púlpito, mas eu sou mais que isso. Maior que esse erro e o que temos, eu sinto isso, é maior que essa confusão, Sereia, por favor..

Encarar os olhos verdes mais espetaculares do mundo brilhando por lágrimas iminentes me partiam ao meio, porém só me mostravam o prenúncio de dores maiores caso permanecêssemos naquilo. Por quantas vezes nos desgastaríamos por intrigas externas causadas por eu não ser um deles?

Seria exatamente daquela forma.

Fugir enquanto tínhamos esperanças era o que devia ser feito. Tínhamos mais chances  separados.

— Não. - decretei, me libertando de seus braços fortes e evitando olhar para o rosto destorcido de Conrad. - O que você fez me dói e doerá, sei que serei capaz de perdoar em algum momento, mas permanecer junto não dá, Conrad.

Ele ficou parado, respirando fundo e apertando a balaustrada fortemente para se recompor. Aproveitei o tempo para engolir o resto das lágrimas e procurar uma saída o quanto antes. Para longe de tudo aquilo.

— Por que, Serena?

O fio de voz dele soou e vagou pelo silêncio. Ele não tinha chorado, havia segurado a própria emoção porque vira que algo dentro de mim tinha se perdido.

— Você lembra quando disse que estar apaixonado por mim era como estar na beira do precipício, Conrad?

Ele não me respondeu, só me fitou longa e duramente, o maxilar travado enquanto eu me sentia fraquejar novamente, sozinha.

— Porque eu sinto como se tivesse pulado sozinha. E eu não quero isso para ninguém pelo resto da vida, e seria assim caso tentássemos nadar contra a maré nesta sociedade imunda e manipuladora.

Conrad me viu debulhar em lágrimas e ficou quieto. Eu saí decidida e bati a porta. Que ardessem no fogo tudo aquilo.

Ele me superaria, claro, existiriam outras muito mais competentes para lidar com tudo aquilo e ele seria feliz.

Eu só não tinha certeza se eu seria capaz de fazer o mesmo.


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