Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 2
Senhor Burnier




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Capítulo 2

Eu nunca tinha estado fora do meu bairro, digamos assim, onde eu morava, apesar de ser considerado um lugarzinho de algum distrito, parecia somente um bairro. Estar em Mônaco – não era daqui que algumas revistas estampavam suas capas? – parecia um sonho e eu não podia acreditar.

Fiquei em um estado de torpor por tanto tempo que só sai de meu devaneio quando a porta do táxi abriu abruptamente.

— Senhorita!

Era a segunda vez no dia que alguém me expulsava de algum lugar.

— Calma, já estou descendo!

Paguei o taxista e peguei minhas malas até me ver diante de uma enorme casa. Se bem que, pelo trajeto todo no carro, pude notar que aqui parece condomínio de luxo em todas as partes.

A imponente porta era grande e não havia campainha, somente uma aldrava. Mas era aqui para onde meu papel apontava e não me restava alternativas.

— Boa tarde. – um mordomo abriu a porta. – Em que posso ajudá-la?

Franzi o cenho para a roupa formal do senhor à minha frente.

— Boa tarde, senhor. Aqui, por acaso, mora o senhor... – olhei no papel. – Jean Burnier?

O mordomo pareceu se aprumar ainda mais.

— Claro, senhorita...?

Após dois segundos encarando os olhos interrogadores do mordomo, entendi que ele queria saber meu nome.

— Ah, Serena.

Estranhei porque o mordomo pareceu assustado, mas não demorou, pois ele me deu a entrada para um hall ricamente decorado.

Eu nunca tinha estado em um local que, mesmo pequeno, pudesse transmitir tanta riqueza de detalhes, como em telas e esculturas.

— Senhorita Serena, irei informar ao senhor Burnier que está aqui para vê-lo.

Fiquei sozinha admirando cada obra na parede e não me contive em adentrar pela casa. Eu não saberia descrever a riqueza da casa nem se tivesse engolido o maior dicionário francês existente, e na mesma hora o mordomo chegou.

— Senhorita, meu senhor está à sua espera.

Aquilo estava cada vez mais estranho, mas acompanhei o mordomo pelo corredor até uma sala que parecia um escritório. Assim que entrei, um homem que estava sentado na poltrona sorriu a me ver.

— Obrigado, James, por trazer nossa convidada. – o homem, que aparentava ter cinquenta anos, disse ao mordomo, que se retirou. – Boa tarde, senhorita Serena.

Pigarreei.

— Boa tarde. O senhor deve ser amigo do meu pai, então? Porque ele me deixou uma carta com instruções para vê-lo.

O homem deu uma risadinha.

— Como a senhorita é objetiva, minha cara, mas possamos dizer que sim. Por que não se senta e mostra a carta de seu pai?

Eu não queria sentar nem queria esperar mais tempo, porém os olhos do homem eram ternos, me observavam com um sorriso, parecendo um pai.

Entreguei o envelope a ele com minha carta e a outra – que por acaso eu tinha me esquecido de ler, mesmo que fosse a dele.

— Bom... Posso afirmar que estou feliz em finalmente conhecê-la, Serena. – o homem sentenciou ao terminar de ler os papéis. – Sou Jean Burnier e, como suspeito, seu pai não a informou sobre eu ser seu padrinho.

Olhei tão desacreditada para Jean que ele riu.

— Eu sei, você pode não acreditar, mas pode até ler a carta de seu pai – ele a entregou nas minhas mãos imóveis. – Ele também atesta sobre sua permanência sob meus cuidados até que cumpra uma pendência que tem.

Meu pai tinha uma pendência e nunca contou nada pra mim? Eu tinha um padrinho? Eu nem ao menos conheci minha mãe, que morreu quando eu ainda era um bebê, e nem sabia que tínhamos mais alguém da família por aí.

— Quanto tempo aqui? E vocês eram amigos? Digo, você, meu pai e, sei lá, minha mãe.

— Há muito tempo, querida, sim. E não sei quanto tempo terá que ficar aqui, mas seu pai deixa uma lacuna sobre eu pensar o que fazer para seu futuro. Quantos anos tem?

— Meu pai... Ele nunca me falou nada disso, nem sobre padrinhos, sobre esse lugar ou sobre sumir e me deixar. – olhei para Jean. – Tenho dezenove anos, senhor Burnier, já terminei o colegial.

— Não deseja faculdade, algo assim, querida? – meu recém-descoberto padrinho perguntou.

Eu não queria dizer a ele – mesmo que fosse meu padrinho, ainda não éramos tão chegados – que após o colégio decidi ajudar meu pai em nossa casa e então não me dediquei a pensar em faculdade e seus gastos.

— Não tinha pensado nisso ainda. Não acha muito cedo? Digo, cheguei agora, não entendo por que estou aqui ou por que o senhor é meu padrinho.

— Não, me desculpe, querida, eu que me precipitei, mas é porque parece que a conheço há anos. – Jean perscrutou meu rosto com seus olhos. – E quando a observo parece-se com sua mãe ainda mais do que John dizia.

Ao escutá-lo falar de minha mãe como se a tivesse conhecido e sugerir que mantinha contato com meu pai, me deixou inquieta.

— Você falava com meu pai? E conheceu minha mãe? Por que nunca me contaram sobre o senhor?

Jean, para minha surpresa, gargalhou, posando as mãos sobre uma barriga saliente.

— Somente a senhorita para me tratar assim. – ele disse e eu admito que não entendi. – São tantas histórias, senhorita Serena, que demorariam anos para pô-las em dia, mas suspeito que esteja cansada da viagem.

Jean se levantou da cadeira e me estendeu a mão.

— Em outro dia posso lhe dizer por que sei que seus cabelos loiros são idênticos aos de sua mãe. E, embora não tenha herdado a cor dos olhos, possui o mesmo rosto também.

Dei minha mão ao meu novo padrinho, mas fiquei calada, tentando absorver cada palavra nova que Jean proferia e que criava em mim uma intensa curiosidade sobre meu passado.


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