Herança Real escrita por TessaH


Capítulo 14
Não seja meu paraquedas




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https://youtu.be/jr4fPdIAtyU

 

"Eu não digo a ninguém sobre o jeito que seguras a minha mão

Eu não digo a ninguém sobre as coisas que nós planejamos

Eu não vou dizer a ninguém

Não vou dizer a ninguém

Eles querem me empurrar pra baixo, eles querem te ver cair

Não vou dizer a ninguém como você vira o meu mundo de cabeça pra baixo

Eu não vou dizer a ninguém como a sua voz é meu som preferido

Eu não preciso de paraquedas, querido, se eu tiver você

Querido, se eu tiver você eu não preciso de páraquedas

Você vai me pegar, você vai segurar se eu cair

Cair, cair, cair."

 

Capítulo 14 – Não  seja meu paraquedas.

 

Após Conrad sair na frente – ele disse precisar verificar o barco -, Blaire sumiu com Michele rapidamente a fim de se arrumarem logo e saírem. Vic, por outro lado, veio ao meu encontro e até indagou se eu gostaria de passar na casa de Jean para trocar de roupa. Como era esperado, eu preferi continuar com meu shorts e minha camiseta, cujos dizeres eram em inglês "não preciso de paraquedas" referentes a uma das minhas músicas favoritas internacionais que se baseava na ideia romântica de não precisar de paraquedas para se salvar, pois teria alguém que a salvaria; eu tinha comprado a blusa em uma das feiras que tinha frequentado e adorado a estampa.

À medida que avançávamos pelas ruas tortuosas de Mônaco, eu tentava achar detalhes para guardá-los e diferenciar cada ruela e seus prédios históricos tão bem preservados. Descemos o morro até seguir pela a avenida, com a praia margeando-a pelo lado direito. Passamos pelo local o qual eu reconhecia, sendo a parte mais próxima da casa de Jean, e longos minutos duraram até a pista terminar e percebermos a diferença do ambiente. Não estávamos mais em um local pelo qual passeavam todo tipo de gente, esta parte havia ficado para trás. Após o porto – que era extremamente atracado com diversos tipos de embarcações, óbvio -, havia uma área imensa com uma floresta e um prédio seguindo pela rota no terreno.

— Vamos ficar por aqui, porque se faremos um passeio de barco, usaremos esse lado mais reservado da praia – Vic me explicou enquanto caminhávamos adentrando no espaço verde que me mostrava a beleza da calmaria reservada dali. – O outro é para fins mais comerciais e o do início é para banho. Além disso, seguindo desse lado iremos encontrar lindas paisagens que são preservadas.

Eu estava absorta observando o que tinha ao meu redor que não percebi que tínhamos encontrado Michele e Conrad.

— Olá! Onde está Blaire? – Victorine perguntou de imediato, curiosa.

— Ela foi pegar alguns documentos da família lá dentro. – Conrad indicou o prédio. – Então... Vou levá-las e lá estará um profissional para guiá-las, certo? Já o avisei que têm permissão caso queiram parar em algum lugar para apreciar a água.

— Maravilhoso! – Michele bateu palmas. – Podemos ir?

— Claro. – Conrad respondeu.

Mordi o lábio inferior, indecisa. Eu precisava ir ao banheiro antes de sair para qualquer passeio, mas não queria dizer em voz alta.

— Vic – eu a puxei para mais perto. – Onde fica o banheiro?

— Bem, Serena, eu não sei... – Vic, para meu total horror, perguntou em alto e bom som para Conrad: - Onde fica o toilet, Conrad?

Senti meus malares esquentarem violentamente no instante em que Conrad olhou em minha direção com somente uma sobrancelha arqueada, totalmente bem desenhada, ela se sobressaia sobre seu olho verde.

— Fica dentro do prédio, Serena. – ele apontou para o local e disse que era só seguir um corredor. Sem entender o motivo pelo qual fiquei envergonhada na frente dele por uma besteira – afinal, todo mundo tem necessidades! -, assenti e não disse nada, somente dei as costas ao grupo e pude ouvir a risada de Conrad com a situação. Ótimo.

Apressada, entrei no edifício que parecia público, pois ostentava a bandeira do principado e outras coisas na parede ricamente decorada. E, para melhorar o meu humor no momento, esbarrei com Blaire na entrada.

— Ora! – ela exclamou quando notou em quem tinha trombado. – Só poderia ser você mesmo.

— Que pena, né?

Minha resposta ácida deixou Blaire mais irritada, que só me deu as costas e saiu do prédio. Não sem antes esbarrar de novo na porta, dessa vez fora com uma placa, eu notei e voltei ao meu caminho para o banheiro.

Tão logo terminei, encurtei os passos para não atrasar o passeio, porém eles não estavam mais lá. Bufei, porque podia apostar que fora Blaire quem convencera a todos de seguirem logo e me deixar para trás. Por sorte, a placa que Barbie Blaire tinha derrubado indicava o caminho para os barcos, então supus que estavam por lá.

Segui o caminho indicado por alguns minutos até notar que, definitivamente, aquela não era a rota certa. Pior! Sou um caso tão perdido que nem mesmo sabia por onde tinha chegado ali e como podia voltar, já que as árvores pareciam estar em todas as minhas direções e nem um caminho de terra eu podia identificar. Essas coisas só aconteciam comigo mesmo.

Perdida mais uma vez. Mas, agora, era um problema de verdade.

(...)

 

Eu acreditava que tinham se passado mais – muito mais – minutos desde o momento em que decretei para mim mesma que estava perdida. E ali parecia uma floresta. Eu não queria, de jeito nenhum, estar ali quando anoitecesse! Então, mesmo que fosse ilógico, tentei entrar em todos os lugares possíveis entre as árvores com a esperança de achar o caminho de volta, porém só me distanciava ainda mais, eu acho. Até que cheguei perto de um rio que transcorria, agitado, floresta adentro. Pelo menos de sede eu não morreria primeiro, se bem que nunca se sabe de qual água se pode beber.

Eu ia me aproximar do rio para vê-lo mais de perto quando, subitamente, a terra sob meus pés cedeu e, num milésimo de segundo, vi meu trágico destino: seguir, para onde fosse, submersa na correnteza daquelas águas.

O farfalhar violento das folhas chegou aos meus ouvidos na mesma hora em que um grito escapou dos meus lábios diante da iminente queda e, de repente, meu corpo tinha se estabilizado, com meu rosto bem próximo às águas que iriam me acolher.

Meu tronco foi içado dentro de dois braços apertados e meu coração descompassado estourava meus tímpanos.

— Serena, por Deus! – o dono dos braços salvadores praguejou alto. – O que você está fazendo aqui?!

Movi meus olhos para Conrad vagarosamente, com o peito arfando e olhos arregalados. Ainda sem condições de me mover sozinha, o rapaz não me soltou do aperto e me tirou de perto do rio.

 

O braço de Conrad estava sobre meu ombro e sua mão quente tocava meu braço e fui me recompondo.

— Serena! – ele parecia ser somente capaz de ficar repetindo meu nome sem formular frases coerentes. Nem eu conseguia falar algo.

Quando ficamos perto de um caminho entre as árvores, onde ele deveria ter me achado, Conrad me virou para encará-lo.

— O que houve, Serena? Como veio parar aqui? – ele falou, dessa vez não parecia tão exaltado como antes e seu tom sugeria gentileza. – Você está bem?

Mesmo que eu tivesse respondido de imediato a pergunta, não teria adiantado, pois as mãos dele passaram pelos meus braços e pernas à procura de algum ferimento.

— Por que você está com arranhões? – a voz dele soou enquanto ainda me inspecionava e prendia meu cabelo no alto da cabeça. – Deixa, você deve ter tentado entrar por essas árvores, como eu.

— Conrad.

Ao ouvir o fiapo de voz com seu nome, ele logo parou e voltou a me fitar com os olhos verdes menos arregalados.

— Oi, me diz como veio parar aqui.

— Eu me perdi. – sussurrei, ainda forçando as palavras a saírem de minha garganta apertada pela apreensão.

Quando entendeu minhas palavras, ele, inesperadamente, gargalhou.

— Claro que sim, Serena. – ele voltou a dizer com um grande sorriso. – Não seria você se não se perdesse, hein? Venha cá.

Ele me abraçou. Fortemente. E era tão alto que seu queixo apoiava-se em minha cabeça. Assustada com o gesto, engoli a seco antes de abraçá-lo de volta e perceber que a sensação de temor ia se esvaindo.

— Você me assustou, pequena perdida. – Conrad disse ao me soltar levemente. – Ficamos te esperando até estranhar a demora e depois ir procurá-la por todos os lugares que existem aqui atrás.

— A placa. Segui a placa.

— Então ela estava trocada, mas não se preocupe, já está tudo bem.

Em minha mente, tudo se encaixou. Blaire tropeçando na placa, a mesma que me indicou um lugar desconhecido. Ela.

— Blaire. Ela tropeçou na placa.

— O que tem ela, Serena? – Conrad apertou meus ombros e encarou-me. – Perguntei a ela se a tinha visto e disse que não.

— Mas nos vimos. Ela trombou na placa que depois me mostrou o caminho errado.

Os olhos de Conrad compreenderam a acusação de minhas palavras, mas ele permaneceu calado.

— Você está melhor?

— Acho que sim.

— Que bom, precisamos voltar e avisar que achei você. Mobilizei as pessoas do porto para ajudar.

Ele sorriu, tentando me encorajar a seguir.

— Está tudo bem agora, Serena... – ele fez uma pausa e leu os dizeres da minha camisa. – Gosta de música internacional?

Percebi que ele estava me distraindo para que eu voltasse a sã consciência e descolasse meus pés do lugar. E deu certo.

— Gosto. – respondi sucinta, pois não queria explicar o teor da música que explicitava a frase, já que ele poderia achar ambígua minha explicação. E, droga, nossa situação presente até que poderia se encaixar na maldita música!

— Eu também. Aprendi línguas estrangeiras e, óbvio, o inglês que me fascinou. – ele iniciou a conversa e sua mão me empurrava, sutilmente, para andar. – Tenho coleções de músicas inglesas...

Eu tentava normalizar minha respiração à medida que respondia a Conrad durante nosso trajeto. E rapidamente chegamos ao ponto inicial.

— Fique aqui, está bom? Eu volto logo.

— Ei! Não! – no momento, até a ideia de ficar sozinha me apavorava.

— Tudo bem, não precisa ficar só, vem.

Conrad pegou minha mão e me apertou sob seu braço.

— Não precisa ficar mais temerosa, Serena... Você vai ficar bem. Já está.

Concordei, silenciosamente. Por mais estranha que fosse a visão de me ter enlaçada pelo braço de Conrad, minha razão não conseguia me dominar, somente a terrível sensação de perda. Pela primeira vez, minha desorientação tinha me arriscado. Se bem que eu ainda desconfiava que a culpa não tivesse sido exclusivamente minha. Torpe, eu ouvia de longe Conrad acalmar os outros sobre meu desaparecimento e agradecer pela ajuda. Ao sairmos do prédio, já era noite e as luzes da cidade, pontos amarelos brilhantes, eram refletidas na praia.

— Vamos procurar as outras.

Estremeci ao saber que iríamos encontrar Blaire enquanto eu me sentia tão fragilizada, mas não disse para Conrad.

Dirigimo-nos para o estacionamento até Conrad encontrar com seu motorista e perguntar das garotas.

— Pela tarde, o senhor diretor geral do Conselho Nacional veio buscar a senhorita Beaumont para um compromisso inadiável e inesperado, senhor. Ela não queria ir sem notícias da senhorita Kane e me fez prometer informá-la sobre seu aparecimento. Já fiz isso.

— Certo, obrigado.

— E as senhoritas de Chilly e de Rohan também foram embora sob ordem dos pais, senhor. Não tenho mais informações.

— Tudo bem. Vamos levar a senhorita Kane para casa, ok?

Conrad me conduziu para dentro do luxuoso carro preto e sentou ao meu lado.

— Vou te levar para casa, Serena. – ele me disse, com os olhos tão verdes mirados em mim. – Foi só um susto.

Anui, e ele ofereceu a mão para me aproximar. Recentemente familiarizada com a temperatura daquela mão, aceitei o convite sem relutar.

Conrad me estreitou sob seu braço e afagou o meu próprio. Fitamos a vista que se desenrolava através do vidro e seguimos viagem.

Tínhamos a estranha sintonia do silêncio reconfortador quando estávamos juntos.


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