Capítulo 13

Lá estava eu, em mais um dia de companhia com Vic. Estava até me acostumando com o jeito gentil e extrovertido dela que surgia quando entrávamos em assuntos que a interessavam. E, não era por mal mesmo, eu perdia a atenção nesse falatório depois de algum tempo, porém confessaria apreciar a companhia daquela ruiva.

— As encomendas vieram especialmente de Londres, Serena! E as taças são tão maravilhosas! - Vic gesticulava.  - Claro que o fundamental nesse momento é selecionarmos o cardápio da festa, pois a decoração tem que ser vista após medições no palácio!

Vic disse que estava empolgada com o baile, pois poucas vezes tivera como ir a eventos no palácio devido às raras ocasiões e a seus próprios compromissos inadiáveis.

— É difícil Vossa Alteza conceder várias festas ou eventos no palácio, pois não parece apreciar muito. É como eu te disse, Serena, dizem que ele não se adaptou ao trono... Todavia, quando existiam, eu estava em viagens diplomáticas com papai. Era um infortúnio!

Logo depois, conversei com a ruiva sobre algumas cores e temas nos quais ela estava em dúvida até chegarmos a uma mansão na mesma redondeza em que os Beaumont residiam.

— A duquesa estará aí, Vic?

— Penso que não, Serena, ela quer ir aos encontros que faremos no palácio.

Assenti e acompanhei a ruiva até entrarmos na residência do duque de Valentinois. Era muita realeza para minha cabeça organizar a todos.

— Vossa Alteza de Rohan! - Vic cumprimentou formalmente à mãe de Blaire que havia nos recebido. A senhora duquesa era tão loira quanto a filha, o que não negava nem o parentesco. O rosto anguloso sustentava olhos azuis claros e um sorriso perfeito. Cumprimentei a duquesa o mais humildemente que consegui, pois as vestes refinadas trajadas pela loira pareciam sinalizar que não pertencíamos ao mesmo mundo.

— Sejam bem vindas, minhas queridas! Victorine, é um prazer revê-la. - ela virou-se para mim e deu um sorriso maior ao observar meu short jeans e minha camiseta com estampa musical. 

— É um prazer tê-la em minha casa, senhorita Kane. Não sei como consegue, querida, parecer tão mais adorável informalmente!

Acho que corei vergonhosamente pelo comentário tão espontâneo e despretensioso de uma senhora respeitável que parecia agradável. Não dava para compreender que aquele ser sorridente e empático era progenitor de uma pequena víbora prateada.

A senhora de Valentinois nos ofereceu chá, café, biscoitos e bolachas - somente Vic aceitou algumas bolachas, ela parecia ter um vício nelas! - para então nos dizer que sua filha estava reunida com a senhorita Michele nos jardins. Após a loira-mãe nos deixar no jardim, Vic e eu avistamos as tais garotas sob um guarda-sol em frente uma piscina enorme. Será que era do tamanho olímpico? Eu não tinha muita noção espacial, afinal.

Aproximamos-nos da mesa recoberta de papéis e cumprimentamos as presentes. Quer dizer, eu falei com Michele, a morena da pele mais bonita que eu já vira. O fato de nem Blaire nem eu termos notado a existência uma da outra fez o cenho de Vic franzir por um tempo até eu acalmá-la.

— Relaxa, depois te conto.

Elas engataram em um papo sobre cortinas, tapetes, sofás, bandas... Isso ainda sem nem abordarem o tópico vestidos! Tentei de verdade participar porque ao dar minha reles opinião, como "não acho que essa cor combine" ou "tem certeza que esse tapete não faz escorregar?", Victorine e Michele sorriam para mim enquanto Blaire me fuzilava, porém se eu conseguia aguentar o calor daquela tarde, o olhar furioso de Blaire não me faria mal.

Eu não sabia que já tinham se passado tanto tempo, pelo menos até o horário de almoço, quando alguns empregados vieram servir pratos para comermos. E foi nesse momento que descobri o porquê de Blaire ser magérrima.

O prato de Blaire parecia o símbolo das olimpíadas, pois só havia, no máximo, cinco pequenos círculos de alimentos diferentes.

— Sabe, meninas, eu quero mesmo fazer uma dieta, sobretudo por que o baile chegará e quero o corpete mais justo que houver na madame! - ela grasnou super satisfeita com suas decisões, e eu nem me ofendi com seus olhares enjoativos quando repeti aquela maravilhosa refeição duas vezes.

Após o almoço, Blaire sugeriu uma pausa para "nadarmos nesta piscininha que mamãe mandou limpar". Como eu nem sabia desses planos, óbvio que não tinha roupa apropriada. E penso que nem se eu tivesse, estaria afim de mergulhar com a Barbie Blaire.

— Você não se importará, não é, Serena? Não demoraremos! - Vic tentava me acalmar mesmo não sendo necessário.

— Claro que não, Vic. Vá logo para piscina antes que derreta aí!

Eu a encorajei e obtive um sorriso em resposta.

As garotas se dirigiram a outra extremidade da piscina e fiquei sozinha debaixo do guarda-sol. Eu as vi desfilar com modelitos em voga e chamativos e só pude rir, pois era a única espectadora delas.

Resolvi bebericar mais do suco que havia na jarra do almoço enquanto observava os papéis espalhados. Acredito que passei tanto tempo na mesma posição e bebendo todo o suco que fiquei morrendo de calor e preferi fazer um coque no cabelo bagunçado a deixá-lo rebelde em um rabo de cavalo.

No momento em que levantei a cabeça e iria amarrar o cabelo, meu olhar cravou na direção da mesma porta pela qual entrei mais cedo e que agora deixava passar duas pessoas. A duquesa de Valentinois estava efusiva como a conheci e o rapaz ao seu lado sorria. 

E como agora, inconscientemente, pensamentos sobre seus tipos de sorriso saltavam de minha mente, eu identifiquei aquele como sendo o sorriso polido. Conrad era tão alto quanto a duquesa de salto ao seu lado e mesmo que usasse uma camisa pólo azul e uma bermuda branca, ainda parecia formal naquela posição.

Pela tamanha surpresa em vê-lo novamente, minhas mãos cederam e meu cabelo caiu por meus ombros, mas não me importei. Conrad passeou os olhos rapidamente pelo ambiente até me encontrar e sorrir. Só que aquele sorriso era um conhecido, tinha um ar de reconhecimento e diversão.

Tão logo a duquesa se retirou, ele veio em minha direção com passadas largas.

Eu nunca fui tão observadora com detalhes corporais, mas parecia chamativo o modo como os braços e as pernas de Conrad se contraíam conforme ele andava rápido.

— Ora, que bom reencontrá-la, pequena perdida.

Evitei gargalhar tão alto com o apelido apropriado à minha falta de conhecimento geográfico do principado.

— Ora, ora - imitei-o. - Se não estou causando bem estar ao futuro duque.

Conrad fez careta ao apelido e sentou-se na cadeira ao lado.

— É verdade que não a vejo faz tempo.

— Foram dois ou três dias, Conrad. Deixe de exagero - eu ri.

— É porque não pareceu pouco tempo, Serena - ele me lançou outro sorriso. - Se me permite a pergunta, está aqui pelos preparativos? Ou não foi convidada para a pool party exclusiva de nossa amiga?

Achei engraçada a forma como Conrad conseguia tirar graça de alguns momentos e me diverti ainda mais por ele se referir a Blaire como minha amiga.

— Digamos que sim. E você? Já que pergunta está disposto a ser perguntado também.

— Muito esperta... Foi inesperado. Minha mãe pediu que eu entregasse algo a Blaire.

Ao mencioná-la, ela pareceu se materializar. As outras garotas tinham notado o visitante, porém só saíram da piscina após Blaire. A loira, parecendo muito feliz com a escolha de seu biquíni vermelho, vinha andando calmamente como se quisesse expor a visão de seu corpo delineado para Conrad. Por entender isso, não pude evitar rir sozinha, e Conrad notou.

— Quer dividir a piada?

— Parece que alguém quer impressionar dentro do biquíni.

Embora Conrad fosse bem sagaz na maioria dos aspectos, ele pareceu surpreso por minha observação e arregalou levemente os olhos verdes, porém tornou a olhar para Blaire e compartilhou da minha risada.

— Olá, Conrad. - a dita-cuja o saudou.

— Boa tarde, Blaire. Meninas. - ele meneou a cabeça para todas.

— É sempre bom tê-lo aqui, Conrad, mas há alguma ocasião especial?

— Ah, sim. Minha mãe mandou alguns papéis que as auxiliarão para a festa.

— Oh, que ótimo! Sua mãe é sempre tão atenciosa! - Blaire se derreteu ao lado do rapaz. - Estávamos em uma pausa dos afazeres. Você sabe o quanto aprecio um bom mergulho.

Ao ouvir aquelas palavras tão insinuantes, recordei-me do próprio Conrad ao dizer seu apreço pela água e tive certeza de que Blaire também sabia da curiosidade.

— É verdade! - Michele enfatizou. - E ela tem um desejo secreto em poder passear no seu barco!

— Michele! - Blaire fingiu repreendê-la. - Não a escute, Conrad.

— Ah, mas não é nada... Inclusive, estava indo ao porto para resolver algumas coisas. - ele disse e pareceu relutante em continuar, mas era um cavalheiro, acima de qualquer pudor. - Posso deixá-las na posse de meu barco até que eu retorne.

— Mas será incrível! - Blaire respondeu prontamente e acho que ela não entendeu muito bem o que estava implícito na fala de Conrad sobre nos deixar a sós enquanto ele resolvia problemas.

— Irão querer ir? - ele indagou novamente e os olhos verdes pousaram em meu rosto contorcido em uma careta.

— Lógico! Iremos nos aprontar e o encontraremos no porto. - como sempre, a dona da casa respondeu, profundamente imersa em sua própria excitação sem perceber que Conrad nem a olhava.

— Vamos, Serena? - a pergunta escapou dos lábios de Vic. - Sei que estenderemos mais a tarde, porém acho que gostará do passeio. A vista é linda.

Lembrei-me do dia que compartilhei da visão da praia com Conrad. E fora mesmo deslumbrante.

— Pode ser.

Eu não estava me importando mesmo com a maioria das coisas naquele dia, então seria o de menos. E, ao me virar, notei a fisionomia empolgada de Conrad e soube que, pelo menos, uma boa e perspicaz companhia salvaria meu dia barulhento com a voz de uma certa Barbie.