Já haviam cumprido boa parte de seu trajeto. O trem ia a toda velocidade o que era bom na opinião de Susana, que podia ficar perdida em seus pensamentos encarando a janela enquanto sua irmã parecia empolgada em um assunto qualquer com o garoto da estação. Ao mesmo tempo em que isso acontecia, o garoto que chamavam de Thiago ficava encarando ela de forma descarada.

—Estou com fome! – Lucia diz finalmente e olha a irmã – Susana, tem algo para comermos?

—Hugo, por que não leva sua amiga para comprar uns doces? – Thiago pergunta de forma convidativa e pisca para o primo

—Claro! Ótima ideia! – O menino se levanta e estende a mão para Lúcia – Você vem?

—Mas é claro! – Lucia responde com um sorriso e se levanta olhando Susana – Já voltamos!

Eles saem e então, Thiago fica sozinho com Susana na cabine.

—Pode me dizer o motivo de não gostar de mim? – Thiago pergunta após um tempo de silencio

—Quem disse que eu não gosto de você? – Susana responde numa grande defensiva

—Então quer dizer que gosta de mim? – ele cruza os braços com um sorriso no rosto e Susana finalmente para de encarar a janela e o olha

—Você é indiferente para mim! – ela diz um pouco agressiva – Apenas... Parece com uma pessoa!

—Pareço com Caspian? – ele pergunta erguendo uma sobrancelha, mantendo o sorriso

—O que? Você... O que você disse sobre Caspian? – Susana o encara surpresa

—Não é uma boa hora, majestade! – Thiago sorri e ergue um indicador, então aponta a porta.

Bem na hora, a cabine se abre e Teddy aparece na porta da cabine:

—Thiago, você sabe onde está a Victoire? Estou procurando ela há um tempão! – o de fios coloridos pergunta olhando o “irmão”

—Ela passou lá pros fundos! Já olhou no vagão da Dominique? – Thiago responde o olhando

—Já sim! Olhei em tudo! – Teddy responde

—Já olhou no vagão da enfermaria? – Thiago pergunta sabendo que às vezes a loira ia para lá ficar lendo

—Não! Scorpius e Alvo devem estar se pegando por lá! – Teddy responde com um sorriso – Mas de qualquer jeito, vou olhar. Obrigado!

—Sempre que precisar, meu caro amigo! – Thiago diz num tom irônico, sorrindo

—Quem é a garota? – Teddy pergunta olhando Susana, já que conhecia todo mundo

—Essa é... – Thiago se prontifica a responder, mas Susana o corta

—Eu sou Susana Pevensie! – ela diz meio soberba – E antes que pergunte, eu não faço parte desse grupinho de estudantes.

—Então o que faz aqui? – Teddy pergunta curioso

—Eu também gostaria de saber! – Susana responde suspirando

—Hey, pra que esse baixo astral? Você vai adorar Hogwarts! E no fim, vai acabar tudo bem! – Teddy sorri para ela e ela devolve o sorriso, grata pela gentileza.

—Teddy, você não estava procurando a sua namorada? – Thiago pergunta dando ênfase em namorada, não gostando da aproximação inesperada do irmão de criação com a garota.

—Ah, claro! Com a licença da senhorita! – Teddy sorri se despedindo e sai, fechando a porta.

Os dois então saem. Susana volta a olhar a janela, irritada por não conseguir controlar a situação. Queria saber... Precisa descobrir o mistério de Caspian!

*-*

Rose estava andando pelo trem procurando a Bruxa do Carrinho e a encontra em uma discussão com um daqueles meninos da estação.

—Meu jovem, pela milésima vez! Não aceito dinheiro trouxa! – a Bruxa fala com um sorriso amável para Edmundo que parece irado

—Você tá chamando quem de trouxa? – Ed responde e ergue o dedo – Você sabe quem eu sou?

—Meu jovem, se acalme! Você sabe que EU SOU? - a Bruxa diz o encarando com um sorriso menos amável

—Hey! Os ânimos estão elevados por aqui! – Rose diz surgindo por um lado do corredor

Edmundo reconhece a ruiva da estação. Ela era tão linda... Ele sorri e ajeita o cabelo, meio atrapalhado. Mas ela mal olha para ele. Vai direto até Bruxa.

—Qual é o problema aqui? – Rose pergunta sorrindo e Ed quase leva um tiro com o sorriso dela

—Esse jovem está tentando comprar doces com dinheiro trouxa! Eu estou tentando explicar que não aceito, mas ele está me desafiando! – a Bruxa fala para Rose

—Tsc tsc! Tudo bem, eu sei como resolver isso! – Rose fala e começa a mexer na bolsa, tirando uma moeda prateada e entregando a ela – Isso basta?

—Com certeza! Quer seus sete nuques de troco ou quer mais doces, minha cara? – a Bruxa pergunta guardando a moeda

—O troco, por favor, estou maneirando nos doces! – Rose responde sorrindo e estende a mão, pegando sete moedas de bronze.

Ed encara as ações da menina, encantado. A Bruxa do carrinho segue adiante, enfim deixando os dois jovens sozinhos no meio do corredor. Ed pensa em falar várias vezes, mas não tinha ideia de como iniciar um dialogo com aquela linda garota. Então é Rose que puxa a conversa.

—Quem gasta 22 nuques em doces pra comer sozinho? – ela pergunta como se isso fosse uma coisa absurda

—Vinte e dois o que? – Ed pergunta sem entender

—Certo. Você claramente não é daqui! – Rose o olha como se estivesse tendo um grande impasse, então sorri – Quer me contar sua história?

—Só se você jurar que vai me explicar esse mundo maluco! – Ed estende a mão como um acordo.

Rose olha a mãe dele estendida e então aperta.

*-*

Hugo e Lucia estavam sentados juntos em um dos vagões mais afastados. Comiam doces enquanto Hugo explicava a história daquele curioso lugar.

—... Então houve uma batalha enorme dentro do colégio.  Muita gente morreu... Os pais do Teddy, o meu tio Fred e muitos amigos do meu pai e do tio Harry. Mas no fim eles conseguiram derrotar o grande lorde das trevas e a guerra acabou. Fim! – Hugo finaliza a longa história

—Nossa! Seus pais parecem ter tido uma vida incrível! – Lucia fala animada

—É o que todos pensam, mas se levar em conta todos os sacrifícios... Não sei se valeu a pena. – Hugo diz e morde um sapo de chocolate – Eu queria muito ter conhecido o tio Fred, dizem que quando ele era vivo, meu tio Jorge era mil vezes mais brincalhão.

—Eu entendo... – Lucia diz pensando em todas as mortes da batalha contra Jadis e depois na invasão do castelo de Caspian

—Sua vez! – Hugo diz sorrindo pra ela

—Minha vez de que? – Lucia o olha com um sorriso bobo

—Sua história! De onde você e seus irmãos vieram. – Hugo pede

—É uma história longa! – ela diz erguendo uma sobrancelha como se o desafiasse a ouvir

—Sou todo ouvidos! – ele afirma e ela sorri mais, se ajeitando na poltrona da cabine.

 _Certo, vamos lá... Por onde eu começo? Okay, certo! Meus irmãos e eu estávamos morando na casa do nosso tio-avô. Um dia fomos brincar de esconde-esconde e...

                                                                       *-*

Pedro estava deitado em uma das camas da enfermaria desacordado. Quando finalmente abriu os olhos, deu de cara com uma garota loira que... Linda talvez ainda seria pouco para descrevê-la. Ela estava na cama do lado, distraída com um livro e mordendo o lábio inferior. Ele fecha os olhos quando a menina olha em sua direção e entreabre para ver se ela ainda o olhava. Porém, quando abre os olhos, a menina não está mais lá. Ele se senta assustado olhando em volta.

—Buu! – Victoire toca o ombro dele e cai na gargalhada quando ele da um pulo na cama

Pedro primeiro se irrita, então acaba rindo com a garota. Ela tinha uma risada hipnotizante... Então ela finaliza a risada com um sorriso afiado e quase maldoso, sentando na cama ao lado da dele.

—Como sabia que eu estava acordado? – Pedro pergunta na primeira oportunidade, se sentando de frente para a menina.

—Você finge muito mal, Pedro Pevensie, filho de adão e rei das terras de Nárnia. – Victoire diz como se fosse nada, mas Pedro quase da outro pulo de susto.

—O que... Mas... Quem... Como... – Pedro não consegue completar nenhuma das frases, encarando a garota, abismado.

—Você fala dormindo! – ela fala calma – Você está muito assustado! Que bicho te mordeu?

—Digamos que o dia hoje foi muito confuso... – ele responde passando a mão no cabelo – Bem, você já sabe meu nome! Acho justo que eu saiba o seu.

—Victoire Weasley! Filha de Fleur e rainha do xadrez de bruxo. – ela brinca sorrindo

—Xadrez de... Bruxo? – Pedro pergunta curioso

—O melhor passatempo do mundo! Não acredito que nunca jogou! Eu vou te ensinar! – ela diz e então olha pela janela – Céus, mas já?

—O que houve? – Pedro olha pela janela que ela olhava e não vê nada demais

—Digamos que a viagem passou mais rápida do que eu esperava. Eu preciso me trocar, mas te vejo em breve, Pedro. – ela pega o livro e se dirige a porta do vagão.

—Aguardarei ansioso por isso! – Pedro sorri acenando e vê quando a mesma sai – Uau!

Então finalmente Pedro nota sua situação e se levanta procurando entender onde estava.

*-*

Um tempo depois, Pedro, Lucia, Edmundo e Susana foram chamados à cabine onde Harry, Gina, Hermione e Rony estavam. Os amigos com o qual passaram a viagem haviam ido se trocar. Hermione fez um breve discurso sobre como deveriam agir ali, explicou que eram bruxos e respondeu a várias perguntas. Também fez muitas perguntas e após essa troca de informações, sentiram o trem desacelerar até parar. Como estavam no vagão para professores, foram os primeiros a descer e ao fazer isso, os quatro irmãos Pevensie encararam abismados o enorme castelo que se erguia a frente de um imenso lago. Eles ouviam as portas atrás deles começarem a se abrir e a multidão de alunos começarem a descer. Gina sorriu ao ver o espanto das crianças e se aproximou deles:

—Bem vindos a Hogwarts!