Estava em silêncio no gramado enquanto fitava a ponte que queimava aos poucos.  As chamas estavam intensas naquele instante. Há quanto tempo estava ali? Há meses ou anos? Não saberia dizer.

No outro lado dela havia uma ilha que flutuava no meio do mar. Sons vinham de lá, ora era uma música cantada por duas vozes, ora uma risada, ora palavras e ora um choro fraco, variava de acordo com o momento sem nunca seguir um padrão específico e alguns foram ouvidos apenas uma vez antes da fumaça capta-los e não sobrar vestígio.

Doía em meu íntimo assistir a ponte sendo queimada. O que deveria fazer? Já havia tentado jogar água e ela havia evaporado, quando notei que ela não apagaria o fogo comecei a gritar, quem sabe ele escutasse? Mas não deu certo, foram palavras ao vento, então sentei e chorei durante um tempo, talvez se apiedasse. Mas ele não tinha dó. Tinha vezes que o vento soprava de forma que as chamas diminuíam, mas nunca apagavam completamente, uma faísca sempre permanecia em algum lugar da vasta construção feita de madeira.

Não saberia te dizer de onde foi que o incêndio começou, talvez do outro lado, ou alguém poderia ter ido até o meio, acendido um fósforo e deixado ali como também poderia ter ocorrido por causas naturais que estavam além da minha compreensão. Quando percebi que o fogo percorria aquele caminho tão especial para mim, vim correndo para cá e daqui não sai.

Entristecia-me pensar que a grande estrutura feita de madeira que havia sobrevivido há tantos anos estava sendo destruída. Por quanto tempo havia sustentado qualquer pessoa que quisesse passar? Muito. Mas temia que não sobrasse nada e que a ilha ficasse inalcançável.

O mar era turbulento, qualquer barco que tentasse se aproximar era tragicamente afundado. Assim como as chamas, a água não tinha dó. Porém, houve uma época de tranquilidade naquela região, as pessoas costumavam ser bem-vindas e gostavam de ficar ali, isso foi antes de uma tempestade furiosa começar a cair e depois disso veio o terrível incêndio, então todos se afastaram da região, menos eu.

Levantei-me e, novamente, olhei atentamente para o outro lado da ponte. Fotografias estavam espalhadas pelo chão, juntamente com canetas, cadernos, livros, papéis, cartas, um celular, e ao fundo tinha uma enorme roda gigante. Havia um computador ali, não? Ao que parecia havia sumido. As coisas sumiam daquela ilha, acho que queriam fugir. Era engraçado porque raramente as coisas que surgiam da terra eram as mesmas, mudavam sem nenhuma ordem.

O pior é que já estive nessa situação antes, com outras pontes e em raríssimas vezes consegui acalentar o fogo.

Será que estava na hora de ir embora? Deixar o fogo destruir tudo? Desistir? Era uma hipótese terrível, inimaginável a se fazer quando a primeira faísca surgiu. Mas já havia se passado um tempo desde que isso ocorreu...

E se alguém me chamasse e fosse obrigada a sair daqui apenas para ver outras inúmeras pontes se queimando? Será que isso aconteceria sempre? Não gostava de sentir essa dor, era enraizada demais dentro de meu coração.

Qual era o certo a fazer? Simplesmente sair dali? Criar mais fogo? Gritar e chorar mais? Não sabia, mas acho que tinha tempo para descobrir, enquanto isso aguardaria pacientemente enquanto continuava a fitar a ilha.