- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 13
Treze


Notas iniciais do capítulo

Por algum motivo tava ansiosa para postar esse. Acho que é porque é fofo. :)



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O dia seria longo, Jane podia dizer. Ela sabia apenas pelos olhares inseguros que Maura lhe lançava quando achava que Jane não estava observando-a. No café da manhã, foram três. Entre o percurso da sala até o banheiro, mais um. Era um olhar do tipo aflito, como se Maura tivesse feito uma pergunta muito importante, a qual ela precisava a resposta urgentemente, mas Jane não tinha ouvido ou então não sabia dizer qual era. Ela continuava olhando, apenas para se certificar de que eventualmente ela fosse encontrar o que estava procurando.

A detetive tinha previsto algo assim, se ela fosse honesta. Ela sabia a razão pela qual aquilo estava acontecendo. Maura teria sua primeira sessão de terapia e isso significava que para chegar lá, ela teria que primeiro sair de casa. Jane já tinha sentido aquele mesmo tipo de ansiedade. Medo. Um crescente ataque de pânico antes de colocar os pés para fora da zona de conforto - a casa, um refúgio seguro, algo fora do mapa que jamais poderia ser encontrado por pessoas más. Ou era assim que ela pensara uma vez. Provavelmente, Maura pensava o mesmo.

Agora na frente do espelho, Jane se perguntava se seria sábio conversar sobre aquilo com a loira. Deveria mencionar que notara como Maura estava inquieta? Deveria confortá-la com palavras amigáveis? Reafirmar que ela a protegeria não importasse o quê? Claro, ela deveria fazer tudo isso. Ao colocar a escova de dentes de volta na pia, ela secou a boca e estava decidida a começar aquela conversa o mais cedo possível.

Maura começou a se levantar do banco de madeira da cozinha, mas Jane levantou a mão para ela pedindo-a para que não o fizesse.

'Ei.' A morena sentou-se no outro banco, logo ao seu lado, e apontou com a cabeça para a porta. 'Você tá pronta?' Ela perguntou, mesmo sabendo muito bem a resposta. Mas como ela deveria começar a conversa se não assim? 'Ei, Maura, eu sei que você tá com medo' não parecia muito apropriado. Parecia invasivo demais.

A outra mordeu o lábio e balançou a cabeça em não. Jane apreciou a honestidade com que Maura estava revelando seus medos, segredos e confiança em sua pessoa pouco a pouco.

A detetive balançou a cabeça, concordando em empatia. 'Eu sei como é. Ficar aqui parece ser muito mais seguro, não é?'

Era uma pergunta retórica, mas a loira meneou a cabeça lentamente em sim, estudando com olhos curiosos a detetive.

'É assustador. Eu não vou mentir. Quando você sair do prédio e olhar para as pessoas andando na rua, e os carros, e todo o barulho. Tanta informação, tanta vida acontecendo. Parece que o mundo nem nota a gente. Mas, Maura... Eu vou estar bem ao teu lado. E eu vou estar com você. Ok?'

Um sorriso. 'Ok.'

'Ok.' Jane repetiu e se levantou. Maura a copiou.

Antes que pudessem dar um passo adiante, alguém bateu na porta. Jane franziu o cenho. Isso só poderia significar que era alguém da delegacia - porque depois da aparição de Frankie ela pedira que fosse informada com antecedência se alguém de sua família estivesse subindo para o andar.

Ao abrir a porta, ela suspirou e cruzou os braços na frente do peito. 'Kendra.' Ela disse, não apreciando muito a visita matinal. Não é que ela ainda pensava em Kendra como a mais insuportável da delegacia - não mais - é só que a presença dela ali, naquela hora do dia significava que algo tinha acontecido. Ou iria acontecer.

'Rizzoli.' A outra lançou-lhe um sorriso em provocação, como sempre fazia quando sabia que pisava no nervo de alguém.

Jane gesticulou com a mão para que entrasse. Esperou pacientemente enquanto Maura e Kendra trocavam cumprimentos e só então as três se sentaram no sofá.

'Eu entendo que você tem um compromisso marcado para essa manhã, Maura, então vou procurar ser o mais breve que puder.' Ela cruzou as mãos e depositou-as sobre as pernas que estavam cruzadas.

'Certo.' A loira piscou os olhos e esperou, sem realmente saber se ela cabia ali naquela conversa.

'E então?' Jane pressionou.

Kendra lançou um olhar maligno para ela e começou a falar. 'Quando Maura foi levada para o hospital pela primeira vez, nós tentamos manter a identidade dela em segredo. É claro que para os médicos nós tivemos que revelar quem ela era, por motivos óbvios. Até aí, tudo bem. Sigilo profissional. Durante a estadia dela lá, apenas alguns enfermeiros foram designados para o caso. Quando ela veio para cá, o mesmo aconteceu: apenas Frost e Nicole sabiam quem ela era. O mesmo aconteceu da segunda vez que você foi parar no hospital, Maura.'

A médica concordou com a cabeça, ainda que não sabendo exatamente onde aquela conversa iria acabar.

Kendra tomou ar e continuou. 'A coisa é que, quando você foi reportada como desaparecida, seu nome saiu nos jornais. Como você pode imaginar, pessoas ainda estão esperando pela resolução do teu caso.' Ela lançou um olhar significativo para Jane. A morena ergueu as sobrancelhas e estudou Maura.

Então era sobre aquilo. Claro, ela deveria ter pensado nisso antes. E aquilo implicava em tantas outras coisas. Antes que Kendra pudesse concluir, ela o fez.

'O que ela tá querendo dizer, Maura, é sobre uma conferência com a mídia. Eles precisam anunciar que você foi resgatada, que está sob nossa proteção. A opinião pública pesa bastante para o governo, logo os governantes, um em particular, pressiona a BPD mais e mais conforme o tempo de um caso vai se alargando. O público quer respostas, o governo quer saber se estamos lidando justamente com o dinheiro pago pelo nosso trabalho. Você entende?'

'Perfeitamente.' Maura disse e seu tom pareceu afiado, mas depois ela suspirou e Jane notou que suas mãos tremiam levemente.

Não é nada legal estar sob os holofotes quando não se deseja, a morena se lembrou de quando ela tinha experimentado aquilo.

'Há algo que, apesar de ser óbvio, eu preciso dizer. Nenhum dado seu, apenas seu nome, será revelado. Onde você está, com quem está, qualquer coisa relacionada a sua vida pessoal não será exposto. Tudo o que eles precisam saber é apenas sobre o caso que estamos construindo. Com muita sorte, tão logo fizermos nosso pronunciamento, as questões referêntes à você serão: como está o estado de saúde dela?, como ela foi encontrada?, qual o detetive responsável pelo resgate?' Kendra contuou um dedo para cada questão, então encolheu o ombro e apertou os olhos. 'Geralmente eles estão mais focados no processo e só usam uma foto para estampar o jornal. Esteja avisada, Maura. Seu rosto vai estar em todo canto agora.'

Maura engoliu seco. Ela tentou não manifestar nenhuma reação, mas falhou miseravelmente.

'Na TV também.' Ela murmurou, e embora não tivesse sido uma pergunta - era mais um comentário lamentoso - Kendra confirmou sua hipótese.

'Na TV também. Acredito que em todo meio de comunicação.'

Maura olhou com desespero para Jane.

Muito obrigada, Kendra. Eu fiz um discurso até aceitável para motivá-la a sair de casa e se sentir segura, e você destruiu tudo em dois minutos. Jane pensou consigo mesma. Se a outra mulher tinha qualquer intenção de confortar Maura, Jane o fez primeiro.

'Ei, nada vai mudar, ok?' Ela se castigou mentalmente e se corrigiu. 'Exceto que você vai ter seus quinze minutos de fama, mas ei, Maura... Você ainda está a salvo.'

'Meu rosto vai se tornar conhecido para todo mundo. Seus vizinhos, aonde quer que eu vá, todos irão me reconhecer.' Ela murmurou e escondeu o rosto nas mãos, claramente incomodada.

Kendra e Jane trocaram olhares. Ambas sabiam como era uma situação delicada. Maura já tinha sido exposta demais: no hospital quando cortaram o resto de suas roupas imundas e alguém lavou o seu corpo porque ela não tinha sido capaz. No hospital, de novo, quando alguém veio para recolher seu depoimento sobre toda situação humilhante que passara enquanto trancafiada. Mais uma vez para Jane (ainda que de vontade própria) quando ela narrara parte do que acontecera com ela. Na delegacia, onde fotos e mais fotos de seus hematomas, arranhões, seu corpo jaziam num papel de envelope, acompanhadas por outras fotos do lugar em que tinha sido encarcerada.

Dessa vez foi Kendra que se manifestou primeiro.

'Maura, eu sei que isso não serve de consolo agora e eu entendo, entendo mesmo. Mas se posso sugerir algo... Quando as cameras aparecerem, e elas vão, faça o público gostar de você. Não se esconda. Não finja que está bem quando não estiver. É a tua história, o que aconteceu contigo. A opinião pública não serve apenas para fazer pressão em nós. Ela serve também para colocar o culpado atrás das grades, fazê-lo pagar pelo que ele fez.'

'Kendra.' Jane disse duramente, lançando-lhe um olhar afiado.

'Você sabe que é assim que funciona, Jane. Não há motivos para negar.' Ela replicou.

'É um pouco calculista demais, nesse momento, pedir para que ela e pense e aja assim. Isso é algo que você nem deveria sugerir, devo observar.' Jane treplicou.

'É apenas um jeio de lidar com isso, Maura. Use-o ao seu favor.' Kendra insistiu.

'Chega.' Jane disse secamente. 'Você quer uma conferência? Faça, Kendra. Mas você não vai ficar aqui na minha frente tentando convencê-la sobre como agir. O que você acha que vai acontecer na corte se eles souberem de sua posição? Sobre o que você sugeriu levemente a um minuto atrás?' Jane estava em pé agora, indiscutivelmente irritada.

Kendra se levantou também e, embora se era porque não admitia ficar em uma posição inferior à Rizzoli, por outro lado ela permanecia calma. 'Você me conhece e sabe que eu jamais insinuaria que alguém é culpado antes de ter prova, Rizzoli. Nós ainda nem sequer pegamos ele, embora tenhamos um nome e rosto. Mas adivinha? Nós temos a prova.' Ela apontou para Maura que ainda estava sentada, olhos arregalos para as duas, sem saber o que fazer. 'E nós temos evidências mais do que suficiente para colocá-lo atrás das grades por décadas.'

'Jesus Cristo, Kendra. Você perdeu a cabeça.' Rizzoli esfregou os olhos com os dedos, inconformada. 'Você vai vendê-lo como um monstro para o público.'

'Jane.' Kendra disse tão calmamente que a outra levantou a cabeça com a mesma calma, como se estivesse se rendendo. 'Meu depoimento será imparcial, você pode conferir por si mesma quando for lançado na TV. Eu sei o que pode acontecer se eu o transformar no mais novo monstro de Boston. Sei que dizer isso em canais de mídia é o mesmo que começar uma caça às bruxas. Eu quero que ele saia da toca, Jane, mas apenas para que nosso pessoal possa pegá-lo. O que sugeri antes, e você está certa de pontuar que pode ser questionado na corte, é de que ela lide com a atenção da melhor forma possível. E que sim, use-a como conveniente se for o caso.'

'Ela não vai interpretar o papel de vímita para o agrado do público. Essa discussão acaba aqui.'

'Pense sobre isso.' Kendra disse para Maura, mas ela mais parecia estar em outro mundo, outro universo sequer, do que ali em sua frente. Ao mesmo tempo que Kendra fechou a porta, a loira levou as duas mãos ao peito e começou a lutar por ar.

Claro, era tudo o que ela precisava agora. Jane apertou os dentes e se ajoelhou na frente dela, as mãos relutantemente acariciando seus joelhos. "Droga, Maura, eu sinto muito. Você pode respirar para mim?"

Ela balançou a cabeça em sim mas continuou percorrendo o pescoço com as mãos tentando miseravelmente tentando inspirar.

'Maura, olha para mim.' Jane segurou suas mãos gentilmente entre as suas, depois não disse nada. Ela apostou no silêncio, no olhar. Uma conversa sem palavras que dizia tanto, que dizia tudo. Dois minutos se passaram e nenhuma delas tinha falado. Maura continuava estudando-a, tentando encontrar alguma coisa, mas satisfeita o suficiente com os dedos da morena acariciando suas mãos para pedir por mais. Cinco minutos e sua respiração tinha voltado ao normal, seu coração, o mesmo.

Jane se levantou e ainda segurando as mãos dela puxou-a gentilmente para cima. 'Maura, eu sei que isso foi um choque para você. Mas era algo que você precisava saber, Kendra não fez por... más intenções.'

A mais baixa balançou a cabeça.

'Eu sei que a escolha é tua, mas se eu posso pedir e sugerir... Não fale com nenhum jornalista ou qualquer coisa do tipo por enquanto.'

'Eu não quero me encontrar com eles, e não quero que eles me encontrem.' Ela murmurou abaixando a cabeça, a voz entregando as lágrimas que estavam por vir.

Jane queria dizer que eles não viriam, então. Que ela poderia mudar isso apenas falando, como um truque de mágica. Ela queria deixar Maura feliz e confortável de novo, mas infelizmente isso tudo estava fora de seu alcance. 'Eu sinto muito, Maura. Eu sei que é um tormento. Quando eles aparecerem diga apenas isso; que você não quer falar por enquanto.'

'Certo.' Ela murmurou.

'Nós precisamos ir para sua consulta.' Jane respirou fundo, sabendo muito bem que aquilo seria um problema. 'Você está pronta?'

A morena quase conseguia ver o que se passava dentro da outra. Um conflito impetuoso entre seguir a lógica e sair de casa e um medo imensurável dizendo para que ficasse ali, naquele lugar seguro. Ela hesitou, mas balançou a cabeça em não. Olhou o redor como se procurasse um meio de fuga, pena que agora aquela era sua vida. Não havia para onde fugir. Não era como se fosse um emprego que não gostava e pudesse pedir demissão, ou uma cidade que não lhe agradava e pudesse mudar. Era sua vida. Era sua mente, suas memórias, era ela. Aquilo não era trocável ou apagável. E aquilo só ela poderia resolver, e era melhor que escolhesse como e logo, porque estava vindo de encontro com ela.

'Não.' Ela disse finalmente e deu um passo para trás, quando piscou os olhos duas lágrimas cortaram seu rosto.

Jane, uma semana atrás, teria revirado os olhos, talvez bufado em irritação. Mas essa Jane de agora gostava de Maura. Essa Jane, tão impaciente e mal humorada antes, tinha vestido a armadura e estava pronta para defender aquela mulher machucada e assustada em sua frente. Dane-se o contato, ela pensou consigo mesmo e em seguida passou os braços em volta da outra, as mãos descansando em suas costas, e puxou-a gentilmente para si. A princípio, Maura se encolheu. Depois, relaxou o corpo e os próprios braços foram parar ao redor da cintura de Jane.

Por um minuto Maura perdeu o controle e chorou, o corpo trêmulo e pequeno protegido pelo de Jane. Por mais um minuto ela tinha exposto o quão vulnerável estava. Assustada, quebrada. E apenas porque Jane se ofereceu, foi naquele mesmo minuto que ela aprendeu que Jane se importava com ela mais do que demonstrava. Abraços, Maura tinha certeza, não entravam na lista de obrigações de trabalho. Pena, ela também descobriu no momento seguinte, não era do que aquilo se tratava. Quando ela se afastou e Jane olhou em seus olhos, ela sabia. Era força. Jane estava lhe oferecendo força.

'Não é fácil, Maura. Eu sei.' Ela disse encarando os olhos verdes da outra. 'Mas comece a eliminar e vencer etapas. Não deixa isso se acumular, caso contrário fica pior. Se você adiar sair de casa hoje, amanhã vai ser ainda mais difícil. Eu sei, eu passei por isso. É sempre um passo de cada vez, e mesmo assim alguns são tropeços. Mas é melhor continuar andando e se mover.'

Maura abraçou-a dessa vez. Primeiro, porque não sabia como agradecê-la, e segundo, porque queria que ela soubesse que abraços entre elas eram permitidos. Ela não se incomodava porque aprendera a confiar e Jane. Não apenas por ser uma detetive, mas por ter sido tão humana, doce.

Elas se afastaram, e Jane perguntou de novo, dessa vez com a mão estendida. 'Você vem?'

'Você vai ficar por lá?'

A aflicação nos olhos de Maura foi o que fez com que ela respondesse imediatamente. 'O tempo todo.'

A loira mordeu o lábio inferior, olhou para a porta ainda com aflição e só então deslizou sua mão para dentro da mão de Jane.


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