- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 14
Quatorze


Notas iniciais do capítulo

Aparentemente minha Beta tem uma vida e não fica online 24h. Então vou agradecê-la por ler e corrigir a metade, e dizer para vocês que corrijo o resto mais tarde. hahahha Obrigada de novo, Cris! ♥



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Não era porque Maura tinha aceitado finalmente sair de casa que seria tão fácil. Na maior parte do caminho até o carro ela andara, literalmente, colada em Jane. Ombro a ombro. Ela virava o rosto para qualquer pessoa. No elevador, que por ventura carregava mais um passageiro além delas, ela praticamente se escondeu atrás de Jane, nunca deixando sua mão. No carro ela parecia mais relaxada, mas ela só saíra de lá quando a detetive o contornara e abrira a porta para ela. Entrar no prédio onde se encontrava o consultório tinha sido o mesmo.

Ela não queria se separar de Jane. Na sala de esperava sentaram bem próximas e Jane começou a acreditar que Maura jamais entraria naquela sala sozinha e se sentaria com alguém que lhe era desconhecido. Dito e feito, quando seu nome foi chamado ela virou a cabeça para Jane como se esperando que ela se levantasse primeiro.

'Maura?' Jane começou.

'Você disse que iria ficar.' Ela devolveu, ignorando a mulher do outro lado da sala que estudava as duas com devida atenção.

Jane se virou parcialmente para ela. 'E eu vou, bem aqui.' Ela disse com a voz calma e baixa.

'Não, não aqui. Você não pode vir comigo?' Ela quase implorou.

Jane sabia que era uma batalha perdida. Ela sabia que se dissesse não, Maura também não iria. Ela sabia que depois do choque principal ter passado, ser levada para o hospital por um estranho, e de lá para a casa de Jane, era só um estado de transe em que ela estava cooperando porque sabia que de certa forma estava salva de algo muito pior. Entretanto, agora que encontrara segurança na companhia de Jane, ela jamais entraria num quarto que não fosse conhecido na presença de alguém que não era familiar, sem a morena.

A detetive lançou um olhar para a terapeuta, esperando orientação. A mulher era mais baixa do que Maura, cabelo curto e marrom avermelhado, olhos gentis e certamente paciente. Ela deu alguns passos a frente e se apresentou.

'Maura, meu nome é Giulia Walsh, mas acho que você já sabe disso, certo?'

A loira balançou a cabeça em sim.

'Ótimo.' Ela sorriu docemente e apontou para a sala. 'Entendo que você tem uma consulta agora e que você quer a presença de sua amiga?' Ela sorriu para Jane, e aliviada, a morena sorriu de volta.

'Isso.' Maura meneu a cabeça.

'Perfeito. Vamos todas entrar, sendo assim.'

E só então se levantaram. A sala era grande, o ambiente era claro e receptivo, as paredes pintadas de um bege quase branco, uma estante com livros de vários tamanhos. Três poltronas, uma mesa. Um vaso com uma planta no canto da sala, um bonsai em cima da mesa. A mulher se sentou e gesticulou para que as duas fizesse o mesmo.

Embora Jane tivesse sido convidada, ela não se sentia bem ali. Não era seu lugar. Não dizia respeito à ela. Se foi porque a psicóloga sentiu seu desconforto, ela jamais iria saber, mas ficou aliava quando ouviu as próximas palavras.

'Maura, você pode me dizer por que decidiu vir aqui?'

A mulher lambeu os lábios e cruzou as mãos na frente do corpo. 'Eu fui... sequestrada.'

'Você se sente confortável ou familiarizada com terapia? É algo que você quer?' Giulia colocava as questões calmamente, com honestidade, sem nenhum julgamento.

'Sim.' Maura respondeu imediatamente.

'Há alguma razão em particular pela qual você ache que sua amiga - me desculpe, qual o seu nome?' Ela se virou para Jane.

'Rizzoli, Jane Rizzoli.' A morena respondeu.

'Prazer em te conhecer, Jane.' E voltou-se novamente para Maura. 'Há alguma razão pela qual você acha que Jane precise estar aqui com você?'

Maura mordeu o lábio inferior, olhou para Jane e depois para as próprias mãos. 'Ela me mantem segura.'

'Oh.' Giulia encostou-se na cadeira e sorriu gentilmente para ela. 'Entendo, Maura. Eu quero que você saiba duas coisas. Primeiro, Jane pode ficar aqui se você se sentir confortável. Segundo, você está completamente segura se decidir ficar a sós comigo. Aquela porta', ela apontou para a porta que elas tinham acabado de entrar, 'fica destrancada o tempo todo. Você é livre para deixar o consultório quando quiser, e tudo o que é dito aqui dentro, fica aqui. Eu acho que seria um benefício se você decidisse ficar sozinha, mas isso é uma sugestão que você não precisa acatar. Você é livre para escolher, para ficar ou partir.'

Puta merda, Jane pensou consigo, essa mulher não tá para brincadeira. A morena olhou para Maura com as sobrancelhas erguidas, esperando pela resposta. A outra se remexeu na cadeira, encarou-a de novo e só depois falou novamente.

'Você vai mesmo me esperar do lado de fora, certo?' Ela confiava em Jane, mas o que custava se certificar?

'Eu vou.' Disse Jane e lhe apertou a mão gentilmente.

'Tudo bem.' Maura suspirou. 'Tudo bem se você se sentar lá de novo.'

Jane sorriu e se levantou. 'Eu te vejo daqui a pouco, então.'

E quando Jane se sentou no mesmo lugar que estava antes de entrar na sala, ela imaginou que Maura sairia de lá dentro de cinco minutos. Dez, no máximo. Entretanto, nada aconteceu. A porta continuava fechada e depois de um tempo ela acabou concluindo que a loira ficaria até o final da sessão. Ela se distraiu com o celular, escreveu uma mensagem para Frost perguntando sobre o andamento do caso em que ele estava trabalhando e se poderia ajudá-lo de alguma forma - a resposta foi negativa, acompanhada de um agradecimento - e Jane considerou visitar a BPD mais tarde. Fazer uma visita para Kendra. Ela ainda não tinha engolido o modo como a mulher sugerira tal coisa para Maura, mas além disso, ela precisava saber como o caso estava andando. Ela ficara tão irritada com a mulher que até se esquecera de perguntar quando o pronunciamento seria feito.

Uma eternidade depois - ou foi o que pareceu para Jane, de qualquer forma - Maura finalmente tinha aparecido na porta. Jane soube, imediatamente, que ela tinha chorado. Ela parecia esgotada, parecia um zumbi. Quando seus olhos se encontraram, ela não demonstrou emoção alguma. Giulia, que estava atrás de Maura, disse que a veria dentro de dois dias, uma observação que Jane reconheceu com um menear de cabeça.

O caminho de volta para casa tinha sido silêncioso. Jane achou melhor não perguntar nada, afinal de contas, Maura começara a se abrir com ela e a morena decidiu que se a mulher quisesse compartilhar algo, nessa altura ela já o teria feito. Mais um vez a loira segurou em sua mão ao sair do carro, só que dessa vez ela parecia não se lembrar do caminho de volta.

Jane a guiou, como jurou para si mesma, mentalmente, que sempre o faria quando Maura precisasse. A hora do almoço chegou e ambas repartiram uma refeição. Em certo ponto, depois de limparem a mesa (Jane se surpreendeu porque a outra lhe ajudou com aquilo, ainda que parecesse estar em outro universo) elas se sentaram juntas no sofá e assistiram sem prestar muita atenção um filme qualquer. Quando o silêcio se tornou insuportável, Jane finalmente se manifestou.

'Maura, foi assim tão ruim?' Ela mordeu a bochecha por dentro, esperando não ter sido envasiva demais.

'Não.' A outra murmurou. 'Não foi ruim.' E não acrescentou mais nada.

A morena queria perguntar o que tinha acontecido então, mas de novo, não era de sua conta. Ela simplesmente não podia. 'Certo. Eu, ahn... Preciso dar uma passada na delegacia ainda hoje. Você se importa se eu te deixar por algumas horas?'

Maura balançou a cabeça. 'Não. Acho que eu deveria dormir um pouco, de qualquer forma.'

Jane concordou com a cabeça. Ela certamente deveria descansar um pouco, cairia bem para alguém que quase nunca dorme durante a noite ou que, quando dorme, acorda de duas em duas horas por conta de pesadelos. Ela se levantou e avisou Maura que tomaria um banho antes de sair de casa - o que ela fez em vinte minutos. O cabelo molhado parecia menos revoltoso quando ela se olhou no espelho, mas francamente ela já não se importava mais. Se certificou de vestir uma roupa adequada para o tempo, colocou as botas (novas, um milagre!) e voltou para a sala afim de pegar as chaves e se despedir de Maura.

A TV ainda ligada, Jane se distraiu com a imagem de um filme - aquilo eram dois caras atirando em cima de cavalos? Faroeste! - e quase mordeu a língua quando 'Ei, Mau-' precisou ser cortado imediatamente. A loira dormia com uma mão em baixo do rosto, a outra caída em sentido ao chão. Bass, o cágado, tartaruga, ou sabe-se-lá-o-que de Maura (Jane tinha desistido de memorizar o corretor) estava olhando para a mão pendurada da outra. Desconfiada, ela jamais colocaria sua confiança total no animal, achou melhor tirar os dedos do alcance dele. Segurou a mão delicamente e com todo cuidado para não acordá-la, colocou-a em cima do sofá novamente. Maura não se mexeu.

Jane sorriu incoscientemente ao estudá-la. Ela parecia bem tranquila dormindo, num sono profundo, impertubável. Ao observar o braço branco, notou como alguns hematomas se descoloriam numa cor amarela nas beiradas, o que significava que estavam se curando. Ela se lembrou do primeiro dia que conhecera Maura e a odiara num primeiro instante. Na verdade, não odiara a sua pessoa, mas o fato de que ela mudaria toda sua rotina, sua tranquilidade na própria casa. Agora, ela mal reconhecia o pensamento que tivera antes. Talvez ela tivesse esquecido, naquela época, como era ter a companhia de alguém agradável - o que Maura era, não importava quantas vezes Maura chorasse ou dissesse que queria ficar sozinha. Ela era amigável, doce e educada. Isso não vinha com o trauma que tinha sofrido, tinha a ver com o caráter dela.

A morena se lembrou do abraço delicado que a outra lhe dera mais cedo, e se derreteu um poquinho ao repassar a cena em sua cabeça. Tão delicada e forte. Jane se surpreendeu quando ela segurou sua mão e concordou em sair de casa, para ser honesta a morena tinha achado que não iria acontecer tão cedo, principalmente depois de Kendra ter aparecido. Sim, Maura era forte e corajosa. Se tinha alguém que poderia superar um trauma tão terrível quanto o dela, ali estava esse alguém, dormindo em seu sofá. A detetive acariciou levemente o braço de Maura, cobriu-a com cuidado e sussurrou antes de se levantar.

'Eu volto logo, Maura. Durma bem.' E ela apenas fez isso porque ouviu dizer uma vez que mesmo quando uma pessoa está dormindo, ela registra tudo o que ouve - ainda que não conscientemente. Ela torceu para que as palavras tivessem corrido até a mente da outra, entregado o recado e aquecido e assegurado seu coração.

...

Em torno de quarenta minutos mais tarde Jane tinha alcançado a delegacia, subindo direto para o andar de Kendra. Ela franziu as sobrancelhas ao se dar conta do caos de pessoas andando e falando aos montes ali. Que diabos tinha acontecido? Agora, preocupada, Jane andou depressa até finalmente encontrar Kendra.

A mulher tinha uma mão na cintura, estava lendo um documento o qual Jane não conseguiu identificar - principalmente pelo fato de que Kendra logo o tirou do alcance de sua visão. Ela arregalou os olhos um pouco ao ver a detetive ali, e franziu o cenho em seguida.

'Rizzoli? O que te traz aqui?' Ela disse sem ensaios, parecendo ocupada demais para lidar com Jane agora.

'O que aconteceu?' Jane perguntou, prestando mais atenção em sua volta.

'Jane, eu realmente não tenho tempo agora. Na verdade, eu gostaria de falar com você. Ainda hoje se possível, com urgência.'

E isso é estranho, Jane pensou e estreitou os olhos. 'Eu tô bem aqui.' Ela bateu as mãos ao lado do corpo como se dissesse vê? Essa sou eu.

'Sem tempo, lembra?' Kendra procurou algo no bolso de seu blazer e entregou para a morena. 'Esse é meu endereço. Da minha casa, quero dizer. Eu preciso sair agora, mas vou estar em casa por volta das 9:30. É tarde para você?'

'Não, é... Perfeito.' Jane disse sem mesmo pensar direito sobre isso. Quando ela olhou de novo, Kendra já estava a uns dez passos de distância. Intrigada e curiosa, ela tentou colocar a ansiedade de lado e achou melhor esperar para o encontro com Kendra. Aquilo tinha sido estranho. Por que a mulher tinha pedido para se encontrarem na casa dela, e não na de Jane? E por que partira com tanta pressa?


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