- escrita por Blue Butterfly


Capítulo 1
Um




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/716855/chapter/1

Jane Rizzoli era o tipo de mulher que ninguém queria se meter. As características de sua forte personalidade se encaixavam bem para o tipo de emprego que ela tinha. Sendo uma detetive, o mau-humor, a cara fechada e a língua afiada lhe caiam muito bem, e era assim que ela se comportava pelo menos em seu ambiente de trabalho. Ela não deixava brechas para provocações machistas - o que se inclinava alarmantemente a acontecer num ambiente em que noventa e sete por cento de pessoas eram homens. Bastava lançar um olhar como um sinal de aviso, se houvesse insistência e falta de respeito ela ainda tinha a perspicácia de atacar de volta com palavras escolhidas a dedo - afinal ela também conhecia cada homem da delegacia, seus pontos fracos e momentos inoportunos. Provocar uma Rizzoli era o mesmo que assinar um termo para passar vergonha na frente de todo mundo.

Curiosamente, não era assim que ela realmente se sentia. Agora, em sua sala de estar, num apartamento que mal passava tempo algum, ela respirou fundo e se sentiu decepcionada por não sentir nenhuma frangância no ar. Era como se aquela casa fosse estranha para ela. Era de se esperar que depois de três meses morando ali, pelo menos o ambiente tivesse absorvido o cheiro de seu shampoo, sabonete. Mas nada. Talvez ela devesse desfazer as quinze caixas de papelão que ainda estavam empilhadas no quarto extra - algumas outras em seu quarto, com metade de sua roupa que ela não fazia questão de usar. Ela tinha cinco camisetas para ir trabalhar, duas calças e um blazer. Era tudo o que precisava por enquanto; era mais fácil jogar tudo na máquina de lavar do que tentar organizar o guarda-roupa com as peças ainda dobradas, por isso, também, ela estava evitando o trabalho extra para o fim de semana.

Ela encolheu os ombros ao se dar por vencida, depois de bebericar a cerveja e observar a vista noturna da cidade pela janela. O inverno prometia ser intenso, e de uma semana para cá nevara duas vezes e as ruas voltaram a ser cinza, carregando apenas o branco - agora um tanto encardido - da neve acumulada no meio-fio. Ela voltou a contemplar o apartamento e suspirou, insatisfeita. Ela deveria mesmo terminar de abrir as caixas e colocar tudo no lugar; aquilo com certeza faria a casa parecer mais como seu lar - embora sua mãe tenha dito que era bem a cara dela depositar as já referidas caixas em qualquer lugar. A bagunça era a sua assinatura, desde criança.

Ela sorriu com o pensamento e sentou-se no sofá. 'Dane-se.' Ela murmurou para ninguém, senão a si mesma. De repente, sem ter nenhuma resposta - ninguém reprimindo seu linguajar, ninguém para conversar sobre qualquer assunto aleatório - ela sentiu a solidão tão amarga quanto a cerveja que bebia. Era tudo o que ela queria, ela tentou se lembrar: mudar de casa e morar sozinha, longe da família depois do acidente, da agressão, melhor dizendo, que sofrera. Ela não suportava a super-proteção da mãe, a invasão de seu espaço pessoal - droga, ela tinha um apartamento para si mesma! - toda manhã, enquanto a mãe entrava pela porta com containers de comida. Ela precisava se mudar para mais longe da casa dos pais - e mais perto do trabalho.

O trabalho era a única coisa que mantinha sua cabeça no lugar; apesar de todos os momentos desastrosos, os pesadelos e noites mal dormidas, Jane tinha seus momentos de glória também. E claro, ela tinha seus poucos, porém fiéis, amigos com quem ela sabia que podia contar.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo tocar da campainha, e meio bêbada, ela teve que fazer um esforço para se levantar do sofá - ela poderia aderir parte da culpa à preguiça também. Arrastando os pés, ela caminhou até a porta, depois de jogar a garrafa agora vazia no lixo, e espiou pelo olho-mágico na porta. Falando em amigos...

'Frost.' Ela abriu a porta, cansada, e colocou as mãos no bolso. 'Qual é a notícia?' Ela perguntou, já prevendo que não deveria ser bom a julgar pela expressão no rosto do amigo.

'Você tá bebada?' Ele sussurrou entre dentes, como se repreendendo-a.

'É sexta-feira a noite!' Ela se defendeu, indignada porque ele também estivera no bar com ela, duas horas atrás.

'Ei, presta atenção.' Ele disse com desconforto, como se estivesse prestes a pedir um favor. 'Nós precisamos de você. Quer dizer, a BPD precisa.'

Jane riu em descaso. É claro que precisavam dela. Especialmente numa noite de sexta-feira, quando ela estava prestes a beber uma nova garrafa de cerveja e dormir embalada pelo álcool.

'Manda.' Ela disse, impaciente. Frost deu um passo para o lado e apontou levemente com a cabeça para uma pessoa a muitos passos atrás dele. Jane não tinha percebido sua presença antes. Ela precisou estreitar os olhos para focar a imagem.

Um mulher loira. Certo. O que ela estava fazendo ali? Ela se deu conta do que poderia ser quando voltou os olhos para Frost, e ela viu um pedido de desculpas mesclado com súplica em seu olhar.

'Ah, não. Merda.' Ela sussurrou. 'O que é dessa vez? Frost, você tá trabalhando?' Ela mudou o foco da conversa quando notou que ele vestia o uniforme. 'Ei, peraí, você foi chamado para um caso e eu não?' Ela protestou.

'Jane, presta atenção.' Ele disse com urgência, levantando a mão para impedir a explosão de nervos vinda dela. 'Tudo o que você precisa fazer é colocar ela dentro da tua casa. Mantê-la segura.'

'Por quê? O que aconteceu?' Ela passou a mão pelo cabelo revoltoso. 'Eu nem tenho um sofá! Quer dizer, uma cama extra para ela.' Ela se corrigiu e resmungou. O que ela queria dizer é que a mulher teria que dormir no sofá, porque ela ainda não tinha uma segunda cama.

'Amanhã quando você tiver livre de álcool no sangue, nós conversamos.' Ele devolveu seriamente, uma mão apertando seu ombro gentilmente.

'Por Deus, Frost. Desse jeito você tá me fazendo parecer uma viciada.' Ela riu consigo mesma.

'Eu sei que você não é, mas Jane, me escuta. Ela...' Ele desviou os olhos, tentando encontrar as palavras certas. Só então a detetive notou o quanto ele estava desconfortável com a situação. Era mais sério do que ela pensava, ela concluiu. 'Apenas seja... Menos você.'

Jane levantou uma sobrancelha, intrigada. 'Perdão?' Ela se sentia insultada.

Frost se rendeu, levantando as mãos num pedido de desculpa. 'Ela precisa de uma presença feminina. De um pouco de delicadeza e... paciência, eu acho.'

Rizzoli abriu a boca, supresa com o pedido. 'Frost, você tá brincando comigo, não é?' Porque aquilo era tudo o que Jane não era.

Ele deu de ombros. 'Foi Cavanaugh quem te escolheu, não eu. E como você diz, tarefa dada é tarefa cumprida.' Ele se virou para trás, não esperando realmente uma resposta e acencou com a mão para a mulher loira que o olhava com apreensão. 'Senhorita Isles.'

Jane observou enquanto a mulher se aproximava, caminhando com incerteza, como se esperasse a confirmação de que estava fazendo a coisa certa. Frost meneou a cabeça para ela, e na frente de seu corpo, as mãos carregavam apenas uma mochila que Jane tinha certeza que não pertencia à ela anteriormente. Alguma coisa estava errado ali. A calça jeans e a camiseta que pareciam grande demais; a jaqueta que era pelo menos três tamanhos maiores que ela, e que Jane notara agora que na verdade pertencia à alguém da polícia.

Quando se aproximou, a mulher parou a alguns passos de Jane - Frost se afastou imediatamente dela. Ela ficou ali, como se esperando um convite para que pudesse entrar, e Jane sentiu o coração apertar um pouquinho, mas apenas por um minuto, ao notar que ela mordia o lábio inferior, como se em tremenda dúvida do que estava fazendo era adequado ou não.

'Por que você não entra e se senta um pouco? Você parece cansada.' Jane comentou e, mais uma vez, ela se sentiu mal porque a mulher se sobressaltou ao ouvir sua voz. Ela olhou com certo desespero para Frost, que estava agora a um metro de distância. Depois de a loira finalmente passar pela porta, Jane lançou um último olhar para o amigo. O que aconteceu?

'Amanhã a gente se fala, Jane.' Ele respondeu naturalmente, porque conhecia a detetive tão bem que podia ler sua mente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "-" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.