Fred ultrapassou com dificuldade a incredulidade que insistia em povoar sua mente depois de ver o sorriso de Hermione na luz do amanhecer. Com uma mão na cintura da morena e a outra em seu pescoço, puxou-a para si em mais um beijo leve, sorridente. A sensação do calor um do outro era o que revelava para ambos que, sim, aquilo era real. O calor, que mais parecia um sol comprimido no mínimo espaço entre eles, em cada ponto de encontro estava ali. Com o lábio inferior dela entre os seus delicadamente, ele só pensou em como estava feliz.

 - Fred... – Hermione suspirou quando os lábios de Fred tracejaram o caminho até sua orelha. – Isso é muito errado.

 - É isso que torna divertido. – Sussurrou ele em resposta, mordiscando o lóbulo da garota para pontuar e confirmar sua opinião. Como se soubesse que as dúvidas de Hermione se dissipavam a cada toque, Fred agarrou a cintura dela e os virou, apoiando-se com uma mão para que seu corpo não pesasse sobre o dela. Ele deliberadamente a provocava, recuando e direcionando sua atenção para outros lugares quando a avidez de Hermione atingia o pico. O que mostrava, no entanto, que estava tão desesperado quanto ela era seu toque. Agarrava a cintura de Hermione, puxando-a para cima e para si, arrumando algum jeito de se sustentar com uma mão.

 - Temos... Temos que esquecer isso. – Hermione murmurou desconexamente enquanto Fred traçava beijos por sua clavícula, por vezes deixando marcas que a faziam prender a respiração em surpresa.

 - Pouco provável. – Fred retrucou com um sorriso que nunca de fato deixava seu rosto. Com o braço de apoio cansado, ele puxou-a para fora da cama pela cintura, sem dar tempo para que Hermione se sobressaltasse ao colocá-la contra uma parede.

 - Realmente. – Ela concordou com a voz rouca, enlaçando suas mãos ao redor do pescoço com sardas que pareciam formar constelações no corpo de Fred. Finalmente tendo coragem de ceder aos seus desejos mais profundos, Hermione o puxou para perto novamente, arrancando dele um gemido abafado.

 - Fred? Hermione? – Eram batidinhas suaves na porta, as palavras ditas em um tom mais suave ainda. Era a voz de Luna, que chamava por eles e os sobressaltou. – Estão acordados?

 - Sim, sim, estamos. – Hermione respondeu, grata pela porta que impedia a dupla de vê-la.

 - Se estamos... – Fred riu baixinho consigo mesmo ao sussurrar provocantemente, recebendo um empurrão de leve que o fez se endireitar.

 - Encontramos vocês na mesa do café da manhã, sim? – Ela propôs rapidamente, se afastando de Fred para ir ao espelho ajeitar seus cabelos e sua expressão que gritava Culpada!

 - Era para lá que estávamos indo. – Harry explicou. – Vamos pegar uma mesa.

 - Combinado. Até logo! – A morena respondeu, talvez um pouco efusiva demais, fazendo Fred soltar uma risadinha. À medida que ouviram os passos se afastando e o barulho do elevador descendo, Hermione deixou-se desabar em uma cadeira, o rosto entre as mãos. – Merlin, o que eu estou fazendo? – Murmurou para si mesma, a voz abafada pelas mãos.

 - Seguindo seu desejo. Quando foi a última vez que fez isso? – Fred respondeu divertidamente, aproximando-se. - Não tem nada de errado nisso.

 - No caso, tem, sim.

 - Hum... E por quê?

 - Fred, nós somos praticamente opostos polares. Mesmo que eu... – Hermione lutou para achar as palavras certas antes de prosseguir com o que ela sabia que acabaria se tornando um monólogo. – goste de você, muito provavelmente não vamos durar. E, quando terminarmos, ainda vamos ter que nos ver, o que será muito estranho. Agora eu não posso mais fingir que não é nada como eu fazia antes, entende? Estraguei tudo cedendo à você. – Quando pode suspirar ao terminar, outro argumento a atingiu. – Além de tudo, não quero ser mais uma na sua lista.

 O ruivo riu, dobrando-se com divertimento.

 - Merlin, você pensa em tudinho, não pensa? – Ele sorriu, ajoelhando-se na frente dela e repousando as mãos nos joelhos de Hermione. – Bom, primeiro que eu nem tenho uma listinha. Bem que eu queria, mas ainda não fiquei com tanta gente quanto você pensa. – Fred deu de ombros com um sorriso comediante. – De qualquer forma, agora que você já provou, não tem volta. Vai me dizer que quer passar o resto da vida perguntando ‘e se?’?

 - Então o que você propõe? – Ela retrucou. – Prolongar algo que é obviamente como uma bomba-relógio pronta para explodir em nossas mãos?

 - Exatamente. – Outra risada da parte dele. – Mione, você nunca descansa até conseguir o que quer. Pelo que eu vi ali, você me quer tanto quanto eu te quero. – Disse Fred com malícia que a fez corar com as imagens do que tinha feito há pouco tempo. – Então venha me conseguir.

 - Harry e Luna estão nos esperando no salão para o café. Podemos discutir isso outra hora, temos um dia longo pela frente. – Hermione desviou, levantando-se da cadeira para se distanciar do objeto de seus desejos.

 - Você é definitivamente algo a mais, pequena. – Fred sorriu, acompanhando-a até o elevador. Ela não respondeu, apertando o botão do elevador apressadamente até que ele chegasse. – Veja só, um espaço apertado e solitário... Não te dá alguma ideia? – Ele disse com malícia enquanto ela entrava.

 - Não, Fred.

 Fred balançava, com as mãos juntas na frente do corpo, inocentemente para perto de Hermione. Ela tentava ignorar, observando o número no mostrador dos andares reduzir enquanto esperava para que aquela torturante tentação acabasse. Tinha que levar Fred a um hospital, comunicar os Weasley de tudo que estava acontecendo e fazer sua vida voltar ao normal. Depois disso, poderia pensar em Fred.

 Mas ele tornava a tarefa de focar somente nos objetivos tão difícil.

 - Sabe, eu sempre gostei muito de como você se arrepia fácil. – Provocou ele, chegando perigosamente perto. – Essa manhã eu aprendi muito sobre isso. – Sua voz se tornava mais rouca e mais baixa, sussurrada no ouvido de Hermione enquanto ele afastava os cabelos dela da parte de trás do pescoço. Focando no mostrador, Hermione tentava ignorar os lábios de Fred que roçavam em sua nuca praticamente sem encostar, fantasmagoricamente. E ele estava certo, isso mandou um arrepio rápido em sua espinha. – Tenho certeza que você sabe como fazer o mesmo comigo. Você sempre aprendeu tudo muito rápido.

 - Chegamos! – Hermione suspirou com alívio quando as portas se abriram, saindo apressadamente do elevador. Se arrependeu de ter confirmado seus sentimentos a Fred de inúmeras maneiras. Agora ele tinha a confirmação que precisava, ele não desistiria até que Hermione dissesse o contrário.

 Luna e Harry acenaram enfaticamente de uma das mesas, atraindo alguns olhares de esguelha dos outros hóspedes mais refinados. Luna tinha o prato cheio de vários tipos de comida, querendo aproveitar a extrema diferença da comida insossa do hospital. Harry fez o mesmo, ainda que em menor escala, e assim fez Hermione no buffet, achando difícil resistir à tantas tentações.

 - Fred, você sabe que você pode voltar ao buffet quantas vezes quiser, não? – Hermione perguntou, rindo com o tamanho do prato do ruivo.

 - Estou contando com isso, na verdade. – Ele sorriu em resposta, colocando um croissant fartamente recheado na boca. – Bem que eu podia estar mordendo outra coisa.

 - Ao menos o seu prato está cheio de boas opções para saciar a sua vontade.

 - Nenhuma é boa o suficiente. – O olhar de Fred ia dos olhos até os lábios de Hermione de forma sugestiva, com todos os dentes à mostra em um sorriso.

 Hermione ignorou as investidas, ainda que seu corpo e coração tivessem dificuldades em fazê-lo. Logo, estavam sentados à mesa juntamente com Harry e Luna, os quatro claramente mais mal vestidos que o restante dos presentes.

 - Dormiram bem? – Hermione perguntou com um sorriso.

 - Oh, sim. Temo que Harry não tenha tido uma noite tão boa, no entanto. Ele ficou com o sofá por hoje, mas vamos revezar. – Luna respondeu com uma nota de preocupação em sua voz suave e mais alegre. Fred e Hermione trocaram um olhar na menção do sistema que os outros estavam utilizando.

 - Vocês se esquecem que eu morei com os Dursley por onze anos. Dormi perfeitamente bem. – Dispensou ele com um sorriso para Luna. – Quais são os planos para hoje?

Grata pela mudança de assunto, Hermione respondeu avidamente.

 - Estava pensando em ir com Fred até alguns hospitais o mais rápido possível para fazer a cirurgia, ou pelo menos fazer todos os exames necessários. Também precisamos avisar aos Weasley sobre tudo que vamos fazer. Precisamos da permissão deles, afinal.

 - Bem, eu e Luna podemos mandar um Patrono, ou talvez uma carta... Seria difícil acessar alguma das lareiras da Rede de Flu no momento. – Harry ponderou com calma, para uma expressão sombria e levemente rancorosa tomar conta de seu rosto. – Vocês viram o Profeta Diário de hoje?

 - Não. O que há? – Hermione disse as palavras com cautela, protelando o momento em que teria que ler o que sabia serem más notícias.

 - Leia você mesma.

 A manchete principal era clara, e já esperada por Hermione. Anunciava a fuga do quarteto, com entrevistas de diversos funcionários. Mas uma fotografia, movendo-se assombrosamente, foi o que levou uma mão dela à boca, cobrindo um murmúrio incompreensível. Movendo-se em um surto, era Hermione quem agarrava os próprios cabelos e chorava, falando com coisas que não estavam lá.

 - A poção... Foi nesse dia, não foi? – Fred murmurou, olhando para a forma como descreviam Hermione. Uma mulher louca, despedaçada pelos estragos da Guerra a ponto de se tornar um perigo a quem estivesse perto. Uma pessoa a ser procurada e trazida de volta ao hospital por quem quer que a avistasse.

 Hermione concordou com a cabeça. Ficou surpresa por Harry não ter feito qualquer tipo de pergunta, assim como Luna, mas ao mesmo tempo estava grata por isso. Ao contrário do que todos menos Harry pareciam pensar, ela não se preocupava com o que dissessem sobre si. Seu melhor amigo sabia disso depois das experiências com Rita Skeeter no quarto ano. Mas o que a preocupava de verdade era a maneira com que a notícia afetaria os objetivos a frente, ainda mais com bruxos pensando que Hermione era perigosa. Tentariam levar todos de volta àquele lugar.

 - Hermione, você pode falar conosco. Somos seus amigos. – Luna disse com suavidade e preocupação, formando um leve V em sua testa.

 - Eu sei. Não é com isso...— Hermione apontou para o jornal. – Que estou preocupada. Sei quem eu sou, e para mim basta. As implicações disso é que são o verdadeiro problema. Teremos dificuldade em chegar aos lugares sem sermos reconhecidos, ainda mais se já tiverem notificado o Ministro trouxa...

 - São chamados de trouxas por um motivo. – Fred sorriu com sarcasmo divertido. – Se eles forem o problema, estamos bem. Podemos nos disfarçar entre eles, talvez com um feitiço só para garantir.

 - Contanto que os bruxos não sejam minuciosos em sua procura, acho que podemos nos virar com um feitiço, não? – Luna concordou.

 - É possível. – Harry disse, se juntando aos olhares esperançosos que esperavam a confirmação de Hermione. – Mas não acho que devamos andar juntos. Estão procurando, principalmente, por um quarteto. Chamaremos menos atenção em duplas ou sozinhos.

 - Não podemos deixar de tentar. – A morena disse, finalmente.

 Trocando olhares, todos se levantaram da mesa, dessa vez olhando ao redor em busca de sinais de que os trouxas o reconhecessem. A maioria era de etnia variada, sugerindo que fossem turistas, o que trouxe bastante alívio a todos, mas não o suficiente. Ainda pairava sobre eles a tensão que os levou de volta aos quartos rapidamente. Harry voltou consideravelmente rápido depois de mandar o patrono aos Weasley, com a confirmação de Arthur e Molly mandada pelo mesmo modo de comunicação.

 - Está pronto? – Perguntou Hermione, afastando a sombra de nervosismo que pairava ao estar sozinha com Fred novamente.

 - Sem tempo para comprinhas? – Ele disse com um muxoxo teatral enquanto gesticulava para as roupas.

 - Muito arriscado. É bom irmos logo, já provavelmente pedirão algum tipo de radiografia, sem falar nos exames de sangue.

 - Eu nem quero saber como são feitos esses troços. O primeiro parece nome de tortura. – Fred estremeceu.

 - Acredite se quiser, você não sentirá nada. Não no primeiro, pelo menos. E exames de sangue são realmente suportáveis, ainda que um tanto incômodos.

 - Bom, vou ter que ver para crer. Vamos, então? – Ele disse, ajeitando os cabelos.

 - Sem investidas? – Hermione estava tão surpresa por Fred não ter tentado nada, mesmo na tentadora privacidade, que a pergunta escapou de seus lábios antes mesmo que ela tivesse tempo de pensar.

 - Você queria que eu investisse? – Fred se aproximou com um sorriso brincalhão, com a voz baixa que a fazia se sentir como um marinheiro à deriva do canto de uma sereia. Algo dentro de Hermione dizia que ele tinha planejado tudo, e ele provavelmente ficaria orgulhoso de dizer que ela estava certa se a pergunta fosse feita.

 - Deixe disso. Vamos. – Murmurou ela enquanto abria a porta e desaparecia pelo corredor.

 O caminho de táxi até o hospital que Hermione tinha em mente foi silencioso, ainda que cheio de toques discretos da parte de Fred e uma inclinação inconsciente da garota até ele. Ela estava com medo do que poderia acontecer em uma cirurgia dessas, mas resolveu não expressar. Ele já teria que aguentar o maior fardo, e ela fazia questão de não aumentá-lo de nenhuma maneira.

 - Chegamos. Vinte libras, senhorita. – O taxista disse. – Ei, eu já não te vi em algum lugar?

 - Não que eu me lembre. Aqui está. – Hermione dispensou, entregando o dinheiro que tinha nos bolsos e murmurando um feitiço só para garantir que ele não a reconhecesse mesmo.

 - Hospital Saint Mary. – Fred leu com calma. – Parece chique.

 - Porque é um dos melhores hospitais que conheço.

 - Não me deixaria nas mãos de qualquer um, então? – Disse ele de modo sugestivo, com um sorriso.

 - Sim. – Ela respondeu com sinceridade ao invés de repreender a malícia no tom de voz do garoto.

 Depois de praticamente pularem a fila de espera, logo foram atendidos por uma médica simpática de olhar concentrado chamada Paige Stryder. Ao serem interrogados sobre o aparecimento do excesso de osso, Fred disse rapidamente que sempre estava ali, crescendo gradualmente, deixando Hermione muito agradecida sobre não ter que inventar uma mentira na hora.

 - Faremos os exames o mais rápido possível. – Respondeu a mulher, depois de uma longa análise do calombo.  – A cirurgia será rápida, suponho. Se a minha suposição estiver certa, posso simplesmente lixar o excesso de osso, já que, pelos sintomas que vocês me disseram, nada parece estar para dentro do crânio.

 - Quando poderá fazer a cirurgia? – Hermione perguntou.

 - Vou mandá-lo para a radiografia. Se a minha teoria estiver certa, posso operá-lo esta noite. Se não, terei que pensar em outra solução.

 Hermione mal aguardou Fred ter feito todos os exames necessários e ele já estava pronto. Dra. Stryder pediu que o colocassem na frente da fila, devido à possível urgência do caso. Enquanto esperavam na sala da médica, a mão de Hermione encontrou a de Fred e a apertou com palmas úmidas de nervosismo. Mesmo depois de perceberem, nenhum recuou.

 - Certo, podemos fazer a cirurgia hoje. Vou mandar vocês para o quarto, e começarei a preparar a sala, a anestesista de plantão e o instrumentador. Mandarei alguém chamá-lo quando estiver tudo pronto. – Paige concluiu com seriedade. – O enfermeiro dará as roupas cirúrgicas e mostrará o caminho para o quarto. Até lá, não coma nada, Sr. Weasley.

 Hermione deu um cutucão nele antes que pudesse protestar. Logo, estavam no quarto, ela sentada na cadeira enquanto Fred explorava cada cantinho do local.

 - Meio tedioso, não? – Ele perguntou depois de um tempo já sem fazer nada. Hermione concordou com um aceno de cabeça. – Sabe, eu tenho algumas opções para acabar com esse problema.

 - Fred. Não.

 - Credo. Eu ia sugerir jogar Jogo das Letras, tá? – Ironizou ele com divertimento.

 - É aquele que se escolhe uma letra e vai-se dizendo palavras que começam com ela?

 - Exatamente. Topa?

 E assim que mataram o tempo e espantaram o nervosismo, parando somente uma vez para ver o que a máquina de bebidas tinha a oferecer, maravilhando Fred. Como esses trouxas são espertos! exclamara ele ao ver que a tecnologia era a substituta mais próxima da magia. Hermione não sabia se queria que a hora da cirurgia chegasse ou não, mas o tempo não esperou sua decisão antes de passar.

 - Pronto para sua cirurgia, Sr. Weasley? – Perguntou o enfermeiro sorridente que apareceu na porta.

 - Prontíssimo, capitão. – Fred respondeu.

 - Muito bem. – Riu o homem moreno e esguio em resposta. – A Dra. Stryder já lhe explicou como será o procedimento, sim? Pelo que ela me disse, será sua primeira cirurgia.

 - Aham. Seja cuidadoso comigo. – O ruivo sorriu inocentemente ao imitar uma virgem, fazendo Hermione revirar os olhos e o enfermeiro rir.

 - Com certeza seremos. Você receberá anestesia geral, então só vai acordar bem depois da cirurgia. Não sentirá nada. Vamos?

 Fred concordou com a cabeça e o homem saiu brevemente para pegar a maca móvel que usaria para levar o paciente até o centro cirúrgico.

 - Vai dar tudo certo, Fred. – Hermione sussurrou, segurando a mão dele.

 - Não diga assim, como se fosse uma despedida. – Fred sorriu, encostando sua testa na dela. Passaram um segundo de olhos fechados, até que ele decidiu que o momento estava sério demais. – Ainda tenho muitas cantadas que pretendo usar em você, pequena.