Meteoro escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 1
Queda


Notas iniciais do capítulo

Yooo, gente, que bom vê-los por aqui!
Para aqueles que vieram diretamente do link no cap final de Louise no Mundo dos Sonhos (Nick, possivelmente, também deve estar por aqui), aqui está: a short-fic que prometi de Vega.
Eu estou testando muitas coisas nessa fic, pra começar a narrativa em primeira pessoa, com a qual não estou acostumada. Não pretendo que seja muito longa nem muito curta, então botem ai uns dez caps, mais ou menos. Mas espero que seja o bastante para terem um gostinho do que a Vega passou até chegar ao ponto da história em que a conheceram.
Para aqueles que estão por aqui por qualquer outra razão: conheçam Vega, A Estrela Cadente da Arena. Espero que ela ganhe seus corações assim como ganhou os de muitas outras pessoas (inclusive o meu -q).

Tenham todos uma boa leitura!



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Meus pais me deram o nome de Vega.

Aposto que já ouviram falar de mim. Era eu junto à Louise dos Cabelos de Ouro e Prata, a criança responsável por derrotar Aster e pôr um fim na conspiração contra a princesa Hannyere. Minhas vitórias durante o Torneio também nunca passaram despercebidas. Não é sobre as coisas atuais que vou contar, no entanto. É da minha queda que falaremos... de um período negro, antes da fama. Ou da "boa fama" para ser mais exata.

Quando eu passei de criança sonhadora à assassina impiedosa.

Quando perdi meu olho direito, e toda a minha inocência com ele.

 

Meninas normais sonham em se tornar princesas e ter um cavalheiro branco para salvá-las do perigo. Já eu, queria ser o cavalheiro... ou melhor, meu sonho era ser uma guerreira, uma heroína, aclamada pelo povo, salvando-o da ameaça e me aventurando por toda parte. Minha maior inspiração era meu pai, um nobre espadachim do Reino de Vale Profundo, onde morávamos com minha mãe.

Enquanto as outras crianças brincavam de boneca ou com espadas de brinquedo, eu aprendia a arte da batalha de verdade. Papai treinou-me desde nova para usar um florete com precisão, agilidade e vigor. Ele foi o primeiro que teve fé em mim, e estávamos no Reino dos Sonhos, então se eu desejasse com toda força, se eu acreditasse, nada seria capaz de me parar.

Ou era isso que eu imaginava.

Às vezes, eu olhava para o céu, vendo as estrelas que caíam.

Em uma delas, eu desejei por meu sonho... quem sabe Bree o realizaria. Mesmo que não fosse imediatamente, talvez em um futuro, muito, muito distante.

Agora, quando penso nisso, percebo que Bree realmente possa ter atendido esse pedido. Ainda assim, tenho tendência a acreditar no que posso ver com meu próprio olho. Isso de depender de algo tão incerto quanto "Destino" nunca foi o ideal para mim. Até porque, sou tentada a crer que o "Destino" não vai muito com a minha cara.

O fato é que eu era muito precoce, e não demorou muito para que meus pés falassem mais alto que a prudência e eu passasse a fazer caminhadas cada vez mais longas. Meus pais até tentaram me assustar por um tempo, usando a familiar cantiga dos Senhores do Tempo, a qual toda criança deveria ser apresentada, principalmente se tivesse o meu gênio aventureiro:

 

 

Não deixe que os Senhores do Tempo lhe toquem.

Em hipótese nenhuma, não permita que eles lhe encostem.

Pois os gêmeos traiçoeiros roubam-lhe os anos.

E no fim, há de ver, só serás uma pilha de panos.



Sempre achei essa musiquinha meio boba, mas se tinha efeito sobre os outros, melhor para eles. Ironicamente, não foi a dupla dinâmica que acabou com a minha vida, mas sim uma mulher idosa, numa casinha bonitinha e muito agradável. À primeira vista, pelo menos.

Um conselho sobre velhas: nunca as ajude. Não faça contato. Não tente fazer amizade. Apenas finja que elas não estão ali. Sim, eu sei que de onde vocês vem, velhinhas são indefesas e inofensivas, dificilmente causam mal a uma mosca. Aqui, no entanto, você pode dar a mão para uma idosa simpática e descobrir que ela na verdade é uma bruxa colecionadora de olhos.

É... traumatizante.

E imaginem bem: eu, a tola criança com a intenção de levar o bem a toda parte, com meus longos cabelos negros e inteligentes íris verdes, fazendo amizade com a pobre mulher solitária. Uma bela cena, ignorando-se o olho que ela me arrancaria algum tempo depois.

Naquela época eu somava doze anos no total, a idade em que os meninos normalmente começavam seu treinamento, se quisessem ser guerreiros, lutar contra as quimeras no Reino dos Pesadelos, participar de torneios por todo o território. Com minha tenra idade, eu já botava muitos dos veteranos para correr, mas meu pai insistia para que eu fosse mais humilde, e eu como a boa filha que era, obedecia.

Me contentava em apenas vencê-los.

Mas estou desviando-me do assunto principal. Deixem-me retornar ao que interessa, antes que comecem a ter uma ideia errada sobre mim.

Naquele ano meu pai presenteara-me com minha primeira – e única – arma própria. Um florete sem fio, que em minhas mãos fazia mais estrago do que deveria. Era uma espada feita especialmente para mim, com um brilho prateado incrível e o punho da mesma cor, com desenhos florais em relevo. Tudo isso em uma bainha trabalhada em couro. Sim, eu tenho noção de que floretes normalmente não tem bainha, mas vocês tem alguma noção do que quanto é impactante a cena de alguém desembanhando sua lâmina?

É claro, no fim das contas a dita bainha acabou sendo desmanchada, e usada para uma função totalmente distinta da original. E, por fim, terminaria sob os cuidados de uma certa criatura, dona de um certo barco, cuja personalidade é irritante a ponto de me fazer desejar arrancar sua bela cabecinha num golpe só. Acredito que o que vale, no fim, é a intensão. Meu pai fazia de tudo para me agradar, mesmo que eu fosse uma criança inusual. E eu amava-o tanto por isso... ainda sinto calafrios só de imaginar o quanto ele ficaria decepcionado se visse o que me tornei.

Meus pais desapareceram em uma tarde de verão, quando a vila em que viviamos ardeu em chamas negras, provenientes de um dragão litch desgarrado. Não era apenas no Reino dos Pesadelos que sonhos terríveis eram formados. De vez em quando, um monstro escapava e fazia uma trilha de destruição, levando muitos habitantes dos outros lugares consigo. Eu deveria ter quinze anos, então, e a culpa por não estar presente na tragédia, a ideia de que eu poderia ter feito alguma diferença, jamais me abandonou. Isso, contudo, é outra história...

Voltemos à pequena garota que encontrou uma casa em suas longas andanças. Como eu mencionei, a mulher que lá morava era velha e solitária. Aliás, ela era mais velha do que qualquer pessoa que eu já havia encontrado. Quando interpelei-a sobre o motivo de viver sozinha em um lugar tão afastado, ela me disse que não tinha família, e que preferia não causar nenhum desconforto a outras pessoas.

Decidi ajudá-la... afinal, caridade é a primeira virtude de um grande guerreiro, era o que meu pai vivia dizendo. Nos dias que seguiram-se, visitei-a sempre que pude e ajudei-a com tarefas domésticas e lhe fiz companhia. Conversávamos sobre várias coisas. Contei sobre meu objetivo de vida, e a velha me encorajou a persegui-lo com todas as forças que eu tinha.

Nós erámos uma boa dupla, se querem saber. Eu me divertia bastante quando estava com ela. Formamos uma amizade improvável. Meus pais também pareciam mais tranquilos, com a ideia fixa que eu não estava indo perigosamente longe. Estava tudo certo, perfeitamente bem. Até o fatídico dia em que minha "amiga" decidiu fazer uma proposta disfarçada de pedido.

Dizem que a pior traição vem de onde menos se espera.

Quão surpresa fiquei, depois que respondi às belas palavras "Posso contar com você?" com um "eu prometo que sim" emocionado, e a velhinha me sorriu com uma maldade sem precedentes. E então minha ilusão caiu por terra... como pude ter me deixado enganar tão facilmente? Uma idosa no meio do nada, sem nenhuma família ou amigos... isso era quase um sinônimo para "bruxa".

A gargalhada que veio a seguir me paralisou. Busquei instintivamente o punho de meu florete, mas era tarde demais. Eu havia feito um pacto sem perceber, e a partir dai não podia erguer um dedo que fosse contra ela. Minha força de vontade vacilou. Minhas pernas cederam. Até mesmo a minha respiração tornou-se mais difícil. E foi com extremo horror que a vi aproximando-se mais de mim, a pele começando a deteriorar-se, os olhos tornando-se leitosos e brancos. Sua mão direita era uma garra assustadora, e a compreensão do que viria a seguir fez um desespero terrível tomar conta de cada parte do meu ser.



Não me perguntem como é a dor de ter seu olho arrancado aos poucos. Não há palavras para descrever, só quem passou pelo mesmo que eu pode dizer que sabe como é terrível, assustador e doloroso. Minhas lembranças daqueles momentos são vagas, devido ao choque. Imagino que eu tenha chorado, gritado e esmurrado, mas a garra não cedeu. Quando meu pequeno corpo foi atirado ao chão com violência, a visão de meu olho arrancado nas mãos daquela maldita me fez ter ânsias de vômito.

Acredito que ela tenha tido o mínimo de bom senso em estancar a hemorragia com algum tipo de encantamento. Fiquei trancada no porão da residência por dias, o pavor chacoalhando meus ossos, sentindo uma dor que não cessava, não importava o que eu fizesse – não que eu pudesse fazer muito, naquelas condições. O pior, contudo, era não saber qual seria meu destino... eu podia ser devorada, ser alvo de experimentos, ter as partes do meu corpo retalhadas e usadas em poções... bruxas eram seres malignos, eram conhecidas por fazer todo o tipo de coisa escabrosa que as pessoas sequer podiam imaginar. Não era a toa que elas vinham do Reino dos Pesadelos, embora mantivessem residência em outras partes do Sonhar, justamente para encontrar mais facilmente suas vítimas.

Se alguém veio atrás de mim, ou foi enganado e mandado para longe, ou não passou nem perto da casa. Quando a víbora tirou-me daquele canto escuro e disse-me o que esperava de mim, passei por outra crise histérica. Era preferível estar morta.

Eu seria seu chicote. Seu carrasco pessoal e cruel, escondido num rosto angelical de menina. Pelas minhas mãos suas vítimas cairiam, e seria eu a caçar no lugar dela, coletando os olhos pelos quais era tanto obcecada, retalhando corpos em seu nome, para sabe-se lá o que a bruxa tinha em mente.

Neguei-me.

O máximo que pude, tentei até mesmo feri-la com meu florete, cujo qual a velha não me tirara. Óbvio que não o faria... eu tinha que matar as pessoas de alguma forma, não tinha?

Mas minha resistência foi inútil.

O contrato estava feito, e eu haveria de seguir suas ordens por bem ou por mal.

No vazio onde ficava meu olho direito, algo queimou. E, pela primeira vez, eu matei um ser humano inocente... ou melhor, meu corpo matou. Eu nunca soube exatamente o que aconteceu àquela hora, senti como se houvesse desmaiado. Fui ligada e desligada, e já era muito tarde para lamentar.

Meu caminho tinha sido traçado. Não poderia voltar atrás, nunca mais. Não com aquela aparência, não com aquele peso recém-adquirido em meus ombros. A bruxa decidiu por fim mudar seu território de atuação e carregou-me junto, com receio de que meus familiares acabassem encontrando-me. Creio que ela mataria-os extremamente fácil, mas para isso eu teria de ser sacrificada também, e ela gastara muito tempo tentando me seduzir para jogar tudo para o alto por causa de dois adultos intrometidos.

Eu deveria ter me despedido dos meus pais.

Não ousei.

Não sei se poderia enfrentar o coração partido da minha frágil mãe ou o olhar decepcionado de meu pai. Até hoje, não posso imaginar qual seria a reação deles se me vissem novamente.



Passei a frequentar tavernas com o pior tipo de gente possível. Afiei meu florete. Livrei-me da bainha para fabricar um tapa-olho decente com seus restos. Aprendi a brigar. Aprendi a beber. E aprendi, eventualmente, a considerar as cicatrizes que recebia como trofeus, quando na verdade elas eram apenas uma forma patética de me rebelar. Eu não seria a garotinha agradável que aquela bruxa queria que eu fosse, só para atrair mais ingredientes. Eu era uma nova Vega. Uma Vega brutal, gélida e cruel.

Chamariam-me de Estrela Cadente, mas esse é um termo um tanto quanto errôneo. Estrelas cadentes não trazem problema algum, no máximo atingem o chão e morrem. Eu, no entanto, causei um verdadeiro estrago assim que despenquei.

Eu não era uma Estrela Cadente.

Eu era um Asteróide.


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Notas finais do capítulo

Então... deixe-me começar as notas finais afirmando o porquê de ter escolhido esse nome pra fic.
Foi difícil encontrá-lo, eu inicialmente pensei em colocar Estrela Cadente, mas não tinha impacto o bastante para algo centrado em Vega. E, sabemos bem... Vega é impactante por si só.
Então, pensei em meteoro... a verdadeira identidade das estrelas cadentes. E, como podem notar (aqueles que leram LnMdS), Vega tem uma visão mais racional do que a mostrada por Louise. Acho interessante dar essa outra versão do Mundo dos Sonhos, e espero que gostem dela.
A fic vai ser um pouco mais violenta que "Louise", também, já que mostra um lado mais sombrio do Sonhar. Graças a isso a classificação subiu um pouco, mas vou me comportar e não precisam ficar com medo de traumas, okay? Não muitos, pelo menos.

Bom, espero que esse primeiro capítulo tenha dado um gostinho de quero mais. Vejo-os no próximo!
Kisses, kisses para todos ♥



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