Pov. Autora

A frente da mansão estava cheia de amazonas que lutavam bravamente contra os monstros do gelo, que se reconstituíam na mesma velocidade em que elas os abatiam, e os lobos de Lycaon, criaturas tão ferozes que podia se sentir sua raiva a quilômetros de distância.

—Rainha Hylla! – gritou uma delas ao ver sua líder. – Eles são muitos!

—Continuem lutando, temos que ajudar eles a entrarem na Casa! – Hylla gritou, se colocando a frente da batalha, sendo seguida por duas companheiras.

Jason, Frank e Hazel se mantiveram próximos a rainha, esperando uma brecha para entrarem na Casa do Lobo, porém enquanto isso não acontecia eles ajudavam com o que podiam contra os monstros de gelo, tentando ignorar os corpos congelados das Amazonas abatidas. Frank atirava flechas e mais flechas nos monstros, mas elas só cravavam na pele de gelo deles e apenas serviam para deixá-los ainda mais irritados, e ainda tinha que desviar dos ataques rápidos dos lobos. Hazel e Jason usavam suas espadas longas e destruíam tudo o que tivesse na frente, mas isso não impedia-os de se reconstituir e atacar com ainda mais força.

—Vamos tentar abrir passagem para vocês, se mantenham atentos! – Hylla gritou e os romanos concordaram, ficando de costas um para o outro, esperando o sinal da mais nova companheira.

Você tem três recargas, use-as bem. Frank se lembrou das palavras do pai, e pegou a lança presa em suas costas. O único problema é que ele não fazia a mínima ideia do que aquilo significava. Distraído com os pensamentos, quase não notou o lobo que o atacou pelo lado direito, graças aos deuses, literalmente, seus reflexos foram rápidos o suficiente para se desviar e fincar a lança no pescoço do animal, cravando-a no chão.

 Com um suspiro de alivio, ele puxou a lança do chão, notando tardiamente que a ponta, um dente de dragão, não estava mais lá, porém não teve tempo de reagir, porque a grama coberta de neve começou a se movimentar numa espiral, como se estivesse sugando o chão, ou expelindo alguma coisa de lá. Em frente aos olhos do filho de Marte, uma criatura foi saindo do chão, os ossos humanos amarelados foram a primeira coisa que Frank conseguiu notar, então os ossos foram sendo cobertos por carne cinzenta e pútrida, e então, em menos de cinco segundos, um zumbi, a lá the walking dead apareceu. Ele vestia uma armadura do antigo exército romano e seu semblante, se é que dava para notar, estava sério.

—Frank o que é isso?! – Hazel gritou quando viu o zumbi encarando o amigo, mas sem fazer nenhum movimento.

—Eu não sei – o garoto olhou assustado para a amiga e para o zumbi.

—Ele parece estar esperando ordens – comentou Jason, atento aos monstros.

—Ordens? – Frank pensou e encarou os olhos ou a falta deles do zumbi. –Ahnn... mate todos os lobos. – Disse descrente.

Isso, no entanto, foi exatamente o que o esqueleto se pôs a fazer. Ele destruía tudo em seu caminho, até mesmo monstros de gelo que o atrapalhasse. Enquanto isso Hylla e três de suas companheira tomaram a frente, atraindo com o barulho de seus escudos algumas das criaturas que atacavam os três romanos, deixando uma pequena brecha para que eles conseguissem entrar pelo portão de entrada.

—Vão! – Hylla gritou em meio aos golpes que desferia, os três se olharam e assentiram, matando o mais rápido que podiam as criaturas que os rodeavam e correndo para dentro da casa antes que elas voltassem.

Frank, o último deles a estar ali, os guiou entre as alas, até chegarem em um pátio com uma piscina vazia. No fundo dela, duas espirais de raízes, pedras e musgos se erguiam. Uma das espirais era muito maior e mais escura que a outra, parecia formar uma cabeça e um peitoral, com o resto do corpo soterrado embaixo da terra. No lado oposto da piscina, a segunda espiral era muito mais entrelaçada que a primeira, com pouquíssimo espaço entre um ramo e outro, mesmo assim, era possível ver a mulher dentro. Ela vestia um vestido de viúva, tinha longos cabelos negros com muitos fios grisalhos, olhos de um castanho chocolate e seu rosto parecia envelhecer a cada piscada, mesmo assim, ela tinha uma pose arrogante.

Hazel entrou na piscina, sendo seguida pelos outros dois.

—Lady Juno, viemos ajuda-la. – A menina cumprimentou a deusa com um acenar de cabeça, Frank e Jason imitaram seu gesto.

—Olá crianças, espero que tenham mais sucesso que as amazonas nessa tarefa. –Ela tinha uma voz rouca, difícil de ser entendida em alguns momentos, a cada segundo que se passava a Rainha do Olimpo ficava mais velha.

—Tentaremos o máximo possível. – Frank se ajoelhou nos pés da cela, mas encarava a outra espiral do outro lado da piscina. – O que seria aquilo?

—Aquilo, senhor Zhang, é o rei dos gigantes, Porfirio, se erguendo. Eles precisavam de um poder imenso para reergue-lo novamente... o meu poder. Desde minha captura veio ficando mais fraca para que minha essência seja usada para dar a ele uma nova forma. – Juno explicou, observando Frank forçar as raízes grossas de sua cela e não conseguir nem mover um centímetro. – Terá que ser mais rápido que isso, ao pôr do sol, o gigante irá despertar e mesmo não tendo um terço de seu poder, será um oponente deveras complicado.

Jason olhou para o céu, notando que, no máximo, eles tinham meia hora até que o dia virasse noite. Se ajoelhou ao lado dos amigos, esperando que algum deles tivesse uma ideia de como arrancar a deusa dali.

—Ok, acho que eu sei o que devemos fazer. –Hazel se animou. – Estão vendo esses pilares – ela apontou para as quatro raízes maiores em cada extremidade da cela e olhou para Jason – Preciso que você jogue o maior raio que conseguir neles, isso vai fazer sua estrutura vacilar e vai ficar mais fácil de partir a cela ao meio. Depois que você fizer isso, eu vou puxar as ramificações o máximo que eu conseguir para debaixo da terra, para a parte que meu pai controla. Frank, eu vou precisar que você me ajude a puxar.

—Eu até posso tentar, mas eu duvido que possa ser de alguma ajuda – o menino panda comenta, com as bochechas quentes, odiava se sentir inútil, mas era o preço que pagava por viajar com filhos dos três grandes.

—Você é muito mais forte do que imagina, meu neto – Juno comentou solene. – Tem dentro de si a força de elefantes, é só procura-la.

Frank não entendeu nada do que a deusa quis dizer, mas assentiu com a cabeça, assim como os outros dois. Jason se afastou, preparando toda a força dentro de si para conseguir dar quatro raios poderosíssimos, quando uma luz esbranquiçada cegou a todos por alguns instantes e um barulho estrondoso de centenas de espadas se partindo.

Quando a luz sumiu, todos olharam um para os outros, se perguntando o que aquilo significava.

—O que foi isso? – Perguntou Frank, sem receber qualquer resposta.

—Quem está lá fora? –Juno perguntou, com os olhos focados na entrada da casa.

—Damon e Pandora – murmurou Frank, enquanto olhava Hazel procurar possíveis falhas na cela da deusa.

—Panda está aqui? – Juno deu um sorriso banguela ao ver o enteado assentindo. – Então, provavelmente deve ter sido ela que o fez. Ou o poder dela.

—Conhece Pandora? – Frank perguntou olhando a deusa ao mesmo tempo que Hazel, distraída falou animada.

—Aqui! – Apontou, para um leve risco sobre uma das raízes, quase impossível de ser visto. – Jogue um raio aqui, bem aqui.

Jason assentiu e pediu que todos se afastassem, inclusive a madrasta, que riu da preocupação do jovem. Com os olhos fechados, Jason invocou uma tempestade, criando uma espiral com diversas nuvens escuras e num comando dele, um grande raio caiu exatamente onde Hazel pedira, fazendo a cela inteira balançar com o impacto.

—Ótimo. –Hazel se aproximou e conferiu a raiz, notando que a mesma só não se partira por pouco. – Agora você só tem que fazer isso mais três vezes. – Jason suspirou e concordou.

—Acho que não vai dar tempo de você fazer isso, meu neto querido – uma voz estridente e poderosa fez os quatro voltarem os olhos para a porta.

Era um enorme monstro de gelo, no mínimo três vezes maior que os que eles viram lá fora, seu corpo parecia maior, como se esse monstro tivesse tomado way protein para ficar monstrão, ele tinha dezenas de estacas de gelo nas costas, como um porco espinho, mas o mais surpreendente eram os olhos, eles não eram vazios como os outros e sim de uma cor dourado amarelado surpreendente, e diferente dos outros, esse falava.

—Neto? – Jason murmurou, olhando com uma pontada de desgosto para o monstro, mas o mesmo não deu atenção ao loiro e voltou-se para a deusa enjaulada.

—Minha pequena Juno, é uma pena termos que fazer isso com você, queria que você não tivesse que se machucar. – As palavras eram gentis, mas a maneira que foram ditas mostravam nada menos do que desdém.

—Papai? –Juno sussurrou, fazendo os semideuses arregalarem os olhos.

—Saturno? –Hazel indagou. Saturno ou o monstro de gelo riu.

—Não é mentira que as meninas são mais espertas que os rapazes, não é mesmo? – Ele começou a se aproximar lentamente da beira da piscina, deixando todos tensos.

—O que você quer? – Frank perguntou, se levantando e encarando o monstro de frente, mesmo que por dentro estivesse em pânico.

—É mais o que eu não quero, menino. Eu não quero que vocês libertem minha filha, achei que fosse óbvio. – Saturno disse, seus olhos brilhando de maneira doentia.

—Eu cuido disso – Jason murmurou para Hazel. – Tentem soltar Juno enquanto isso.

—Não, fique você –Frank segurou o braço de Jason. – Hazel precisa da sua ajuda. Eu consigo cuidar dele. - Jason olhou para o amigo um pouco em dúvida, mas assentiu e se ajoelhou ao lado de uma Hazel preocupada.

Frank pulou para fora da piscina, sendo observado firmemente por Saturno. O titã parecia zombar dele apenas com o olhar.

—Então é você quem quer me enfrentar. Acha que consegue, criança? –A voz de Saturno parecia cem vezes mais fria agora.

Frank não respondeu, se concentrando na batalha que viria pela frente.

 O titã se jogou sobre o semideus de repente, pegando Frank de surpresa, mas ele conseguiu se desviar da pesada mão com uma cambalhota para trás. O titã riu e se aproximou novamente do menino, tentando outro ataque que ele desviou pulando para o lado. O monstro era lento graças ao tamanho, então antes dele conseguir se virar, o garoto pegou seu arco e posicionou uma flecha, que acertou perfeitamente as costas do monstro, mas como ele previra a flecha apenas ficou presa no gelo de que o monstro era feito sem causar nenhum dano real. O céu fez um estrondo quando Jason invocou outro raio, quebrando o segundo pilar.

Faltam apenas dois, pensou Frank. Ele mantinha distância de Saturno, enquanto atirava flechas e mais flechas no adversário, que agora, andava em sua direção como um touro raivoso. Frank acertou uma flecha em seu olho, que fez Saturno urrar de dor, icor dourado escorreu da flecha por todo o lado esquerdo do monstro. Ele arrancou a flecha com tudo e Frank sentiu o tempo se desacelerar ao observar o titã correr em sua direção.

Era completamente estranho, ele conseguia ver o terceiro raio de Jason, caindo lentamente do céu, num vídeo em câmera lenta eterno. Ele viu os lábios de Hazel se movimentando devagar e sentiu o golpe do titã em sua barriga com uma letargia surpreendente. Ele bateu as costas num pilar da casa e encanto se desfez. Ele não conseguia respirar direito e sua cabeça pesava horrivelmente. Ele conseguiu ver o risco cortando o céu do terceiro raio.

Ele se levantou meio zonzo e viu Saturno se aproximando lentamente. Ele podia jurar que se o monstro conseguisse, estaria sorrindo.

—Frank, você precisa de fogo! – Hazel gritou, apavorada ao ver a situação do amigo, mas sem poder se desconcentrar da tarefa de tirar a deusa da cela.

Frank por outro lado sentiu um arrepio percorrer toda a sua espinha com as palavras da amiga, era meio óbvio o que ela tinha dito, combater gelo com fogo, mas como ele faria isso levando em consideração sua história? Apesar que, pela cara sádica do titã, ele morreria de qualquer jeito.

—Como eu arranjo fogo? – Ele gritou de volta com as palavras meio arrastadas pela tontura.

—Você consegue – Juno disse. – Você pode ser qualquer coisa.

Aquelas eram as mesmas palavras que sua mãe e sua avó sempre lhe disseram e que ele nunca levou muito a sério. Sua mãe não estava simplesmente aumentando sua autoestima. Ela estava dizendo a verdade literal, ele se lembrou das palavras da avó.

Pensou no urso pardo que sua mãe tinha interceptado na orla da floresta. Pensou no grande pássaro preto circulando sobre as chamas da mansão de sua família. Pensou nas histórias infantis de enormes criaturas que cuspiam fogo, de garras longas e dentes afiados.

Finalmente ele tinha entendido seus poderes.

Então ele se levantou e fechou os olhos, sentindo a cada longa respirada seu corpo se alongar, se tornar mais pesado, o frio não era mais tão horrível e quando abriu os olhos era um dragão de no mínimo seis metros.

—Fogo, menino, fogo! –Juno gritou ao mesmo tempo que o ultimo raio de Jason cortou a cela.

Hazel desceu todas as hastes da cela e Frank atirou uma bola de fogo sobre Saturno. Foi arrepiante o som que o gelo derretido fez, assim como o grito de ódio do titã enquanto ele virava uma poça de gelo

—Isso não acabou.

O som veio do monte gigante no lado oposto, a terra ao seu redor caia, dando forma ao horrível roto do gigante, mas ele parecia ser sugado para dentro da terra. Gaia não queria que ele interferisse agora.

—Meu marido vai destruí-lo, assim como fez a primeira vez. – Juno disse.

—Será um honra vê-lo tentar. – E com isso, o rei dos gigantes foi sugado para dentro da terra.

Frank voltou a sua forma normal, se sentindo muito menos cansado do que imaginava e alegre por ter conseguido cumprir seu objetivo.

—Frank, você está bem? – Hazel correu para o asiático e se jogou nos braços dele.

—Cara, isso foi demais! – Jason falou, quando os dois se afastaram.

—Deu para o gasto. – Juno disse, chamando atenção dos três.

Agora ela parecia uma deusa. O vestido preto agora era branco, seus cabelos estavam presos em uma coroa de tranças e seu rosto tão perfeito quanto o de uma miss, senão mais. A expressão arrogante não saíra de seu rosto.

—Aquilo era um dragão? – Eles ouviram uma voz feminina.

Todos olharam para trás, de onde vinha a voz e viram Pandora e Damon, nenhum dos dois parecia muito machucado, mas claramente exausto.

—Aquilo era o Frank! – Jason respondeu. – Quione e Lycaon...

—Não vão mais incomodar. Os lacaios deles sumiram depois que eles foram derrotados. –Damon respondeu.

—Como assim Frank era o dragão? – Panda perguntou, não dando a mínima para o resto.

—É uma benção antiga, dada a família Zhang por seu pai – Juno respondeu, olhando para Panda com ternura.

—Entendo.

—Agradeço por terem me salvado, mas agora vocês devem continuar sua missão. –A deusa disse. – Mas tomem cuidado, Tânatos está acorrentado na terra além dos deuses, onde o mais velhos dos gigantes governa, Alcioneu. Ele só pode morrer longe de sua terra, o Alasca, não se esqueçam disso.

E com isso, numa luz dourada, Juno sumiu.

—Tá bom. – Hazel disse, apreensiva. –Foi mais do que eu esperava.

—Como vamos fazer para chegarmos no Alasca? – Jason perguntou.

—Nós temos um dragão – Pandora sorriu maliciosamente para Frank.

—Não acho que eu vá aguentar ficar na forma de dragão por tanto tempo. – O asiático disse vermelho. – Ainda estou aprendendo como isso funciona.

—Então nos leve até o porto não muito longe daqui. De lá eu me viro. – A filha de Netuno disse.

Frank assentiu e pensando nas mesmas coisas de antes, se tornou um enorme dragão vermelho.

—Todos a bordo. – Damon brincou e subiram no torso de Frank, que logo levantou voo.