Sem Necessidade de Mega Sagas. escrita por Abraxas


Capítulo 1
Capítulo 1 - Sem necessidade de doenças tropicais




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                   O sol brilha naquela manhã de primavera e os pássaros cantam nas árvores. As flores estão levemente úmidas devido a uma rápida chuva que ocorreu há algumas horas. Uma gota cai de uma folha e choca contra um degrau de uma longa escadaria. Neste local, um estranho animal sobe correndo e fazendo ruídos bizarros. Logo atras, uma menina de cabelos muito compridos o chama.

                   -      Ryo-Ohki, volte aqui garota! Eu não gostei o que você fez. Já disse que não é para comer todas as cenouras.

Na, naaaa, na, na!!! - responde a criatura.

Assim não dá! Como posso fazer o almoço dessa maneira.

                   A menina está com um avental com uma estampa de cenoura e com uma pequena panela na mão. Com as mãos apoiados na cintura e com um rosto de total reprovação, diz:

Ela não tem jeito, mesmo.

Bom dia, Sasami!

                   A garota vira-se em direção da voz e responde:

Bom dia, Tenchi! Você acordou cedo para um Domingo.

                   O rapaz estava com uma camisa branca e calção preto. Os olhos inchados devido ao longo período de ausência de sono e os seus cabelos pretos estavam um pouco em desalinho.

                   -      Tive uma noite péssima. Sua irmã e Ryoko discutiram quase a noite toda e depois ficaram rindo uma da outra. Afinal, o que estavam fazendo?

                   -      Estavam jogando. Sabe como são as duas. Logo depois, veio a Mihoshi e a Kiyone para passar a noite aqui, pois o apartamento delas ficou inabitável devido um terremoto e resolveram entrar no jogo. Foi uma barulheira só.

Mas você está ótima, parece que você dormiu bem.

                   -      Fui esperta. Dormi no laboratório da Washu, você não imagina como lá é silencioso.

É, quando ela não está trabalhando.

                   -      Que nada! Acho que ela nunca dorme, pois trabalhou a noite toda e o mais incrível é que não fez um ruído sequer.

Puxa! Será que tem uma vaga para mim?

                   Sasami sorri.

Para você? A Washu faria uma suite.

                   Um ruído de passos pesados sobre a grama molhada vai em direção dos garotos. É um homem com uma pasta e paletó e seus óculos estavam um pouco embaçados.

Bom dia, pai!

                   Um monte de grunhidos foi a resposta e parte.

Acho que ele não dormiu bem... - comenta Sasami.

                   -      Coitado, já não basta o trabalho como arquiteto e ainda por cima aturar a gritaria da noite passada...

Tenchi, eu tive uma idéia! Que tal dar o troco naquelas dorminhocas?

                   O sorriso é um sinal de aprovação.

                   Num quarto escuro, uma garota de cabelos espetados e esverdeados, ronca. A baba escorre no canto dos seus lábios e a cama totalmente desarrumada. No chão estavam várias garrafas vazias de Saqué.

                   No quarto ao lado, uma menina de cabelos roxos e presos, está dormindo tranqüilamente no chão, totalmente encoberta, e ao seu lado um par de chinelos.

                   E no seguinte, uma dupla de mulheres repousa a loira ronca muito alto e sua parceira tem o travesseiro enrolado nos ouvidos apoiado pelo braço esquerdo.

                   No lado de fora, ruídos de passos e o arrastar de alguma coisa pesada quebra um pouco a tranqüilidade do lar. Momentos depois, as portas dos quartos são abertas silenciosamente...

                   Longe dali, um homem velho reza envolto do silêncio e vapores dos incensos. O seu poder concentração é incrível, pois nem o ruído de uma mosca o perturba. Mas, de repente, um barulho insuportável surge. Aparecem uns gritos vindos do inferno e assim não há concentração que resista. O velho pergunta a si mesmo:

"O que está acontecendo lá na casa? Que barulho é esse?"

Tenchi!!! Que diabos de música é essa? - grita Sasami.

                   -      Nirvana! O primeiro disco, nada mal, não é? - responde aos berros.

                   Enquanto a casa tremia, devido ao aparelho de som, que estava no último volume. Uma mulher surge, com uma cara de poucos amigos.

                   -      Bom dia, Ryoko! - grita à dupla.

                   Uma rajada energética é sua resposta, a destruição do aparelho é conseqüência e o silêncio retorna ao seio do clã Masaki.

                   -      Bom dia! Avise-me quando o café estiver pronto.

                   Ryoko retorna ao seu quarto e deixando a dupla estarrecida.

        TENCHI MUYO :  Capítulo 1: Sem necessidade de doenças tropicais.

                   -      O aparelho está na garantia, Tenchi? - pergunta a estridente Mihoshi.

Está, mas acho que eles não vão cobrir os danos.

                   -      Bem feito! - diz Ryoko, comendo, em seguida, um bolinho de arroz. Deveria pensar primeiro antes de sugestionar o pobre do Tenchi, Sasami. Todas aqui sabem o quando sou doce, mas bastante mal humorada quando acordo.

                   -       Típico dos animais irracionais, querida! - alfineta Ayeka. Além do mais, o que podíamos esperar de uma pirata espacial?

                   -       Olha quem fala, sua real baixeza! - responde Ryoko. Estar no mesmo teto que você me causa muito mal estar, mas suporto tudo isso pelo Tenchi.

                   -       Quem destruiu o aparelho não fui eu, mas farei o possível para ajudá-lo, Lorde Tenchi. - diz Ayeka.

                  Antes da briga esquentar, vamos descrever o local onde todos estão. As garotas e o rapaz estão sentados na sala principal e com uma mesa baixa que faz todos fiquem na posição yogue. Na mesa tem muitas frutas e pratos típicos japoneses e os tradicionais e famosos pauzinhos, para o café da manhã. As roupas típicas que todos usam são também japonesas e muito coloridas. ( Detalhe à Ryoko que usa o kimono listrado e com a famosa cauda.)

                   -        Com que dinheiro, princesa? Com a moeda de Jurai? - ironiza Ryoko.

                   -        A fortuna de minha família ultrapassa os limites materiais e é algo que, talvez, a sua pequena mente não é capaz de compreender.

                   -        Por acaso está me chamando de burra?

                   -        Se a carapuça serviu... - e Ayeka dá a sua famosa risada.

                   -        Ah, sua...

                   -        Ryoko! Pare, por favor! - implora Tenchi -  Logo de manhã... Quero, pelo menos, terminar o café. Por favor!

                   E um milagre acontece... A paz reina a mesa.

                   -        Obrigado! - diz Tenchi. Muito bem... Então, Kiyone, como foi sua noite aqui em casa?

                   -        Bem...

                   -        Eu e Kiyone dormimos muito bem. Tivemos sonhos maravilhosos, como na época que viajamos no espaço profundo e caçamos os mais perigosos bandidos da galáxia. Como naquele seriado que passa no canal 17, as heroínas do espaço, não é, Kiyone?

                   -        É! O meu sono foi idêntico a que você fez com a minha carreira...

                   -        Mas estamos juntas, isto que importa! - diz Mihoshi, com um sorriso e abraçando a parceira.

                   -        É isto que temo...       

                   -        Onde está Ryo-ohki? - pergunta Sasami. Ela costuma estar aqui conosco.

                   O pequeno ser continuava a subir as escadas depois do seu encontro com Sasami e chegando ao topo, ela tem uma surpresa em forma de uma colisão. Depois de recuperar-se, a Cabbit fica diante de uma assustadora face de pedra e um arrepio a percorre. Apesar do medo, sua curiosidade foi maior e começou a cheirar a estátua. Logo, um ruído sai dos lábios da estátua e Ryo-ohki olha à estranha névoa com fascínio.

                   A tarde chega e Sasami prepara o jantar, mas preocupada com a pequena Cabbit. Kiyone está estendendo as roupas lavadas no varal para aproveitar a brisa primaveril, quando surge a pequena Ryo-ohki.

                   -         Olá, pequenina! Onde estava? - pergunta Kiyone.

                   -         Na, na, naaaa, na! - responde.

                   Mas sua aparência não parecia a das melhores. Estava envolta em um pó amarelo e deixava, onde passa a misteriosa substância.

                   -         Você está com uma aparência horrível Ryo-ohki. Acho que precisa de um banho. - diz Kiyone pegando a pequena imunda e seguida de um espirro -  Mas que poeira...

                   Longe dali, um idoso sobe as escadas que dá em direção do templo. Os seus passos são lentos, mas determinados. O avô de Tenchi, Katsuhiro Masaki, é um monge xintoísta e o verdadeiro herdeiro ao império de Jurai, porém, neste momento, é um senhor que cumpre suas funções sacerdotais. No termino de sua cansativa escalada depara com uma estranha escultura, uma cabeça negra e com uma expressão de desprezo. O patriarca do clã Masaki tem um arrepio subindo a espinha. Rapidamente, as mãos do homem tapam a boca e o nariz e, com uma expressão de terror, começa a descer as escadas com uma extraordinária velocidade.

                  Alheio a tudo, Washu continua a trabalhar em seu laboratório e as outras garotas continuam aos afazeres típicos de todo final de Domingo, assistir a novela. Kiyone espirra de uma forma contínua e irritante, logo todas começam a ficar impacientes.

                  -         Droga, Kiyone! - diz a irritada Ryoko. Eu quero ouvir a novela!

                  -         Faça as suas palavras as minhas, Ryoko. - diz Ayeka tentando concentrar-se.

                  -         Desculpe! - espirro. Não dá para controlar! - espirro.

                  -         Eu preparo uma inalação para dar um jeito nisso, Kiyone. - diz Mihoshi. Vamos para a cozinha.

                  -         Você é incapaz de... - espirro. ...cuidar de si mesma. Imagine... - espirro. ...de mim. Eu mesma cuido... - espirro. ...disso. Droga!

                  A policial galáctica sai da sala e vai em direção da cozinha e seguida por sua parceira.

                  -         Paz afinal!

                  -         Cala boca, Ayeka!

                  As horas passam. A situação de Kiyone piora, os espirros estão sendo acompanhados por horríveis pigarros e tosses medonhas. Todos já cogitam em levar a policial a um hospital. Mihoshi começa a chorar. Quando, de repente, os ruídos tenebrosos cessam.

                  -        Meu Deus, Kiyone! - diz Sasami pensando o pior.

                  Todos chegam ao quarto onde a policial está e...

                  -        Kiyone! - todos exclamam.

                  -        Olá, pessoal!

                  Qual é a surpresa de todos que a policial galáctica está muito bem, pelo menos, aparentemente.

                  -        O que houve, Kiyone? Você estava morrendo. - diz Ryoko com uma expressão de surpresa.

                  Com um olhar de total indiferença, a policial diz as amigas:

                  -        Eu melhorei, só isso.

                  -        Tão rápido?! - exclama Ayeka.

                  -        Devia ser uma reação alérgica. Talvez os remédios de imunização da Dra. Washu tenham falhado, sei lá. O fato é que estou boa e vocês não precisam se preocupar.      

                 As garotas ficam convencidas com os argumentos apresentados por Kiyone. Em seguida, todas foram aos seus quartos dormir.   

                 São duas horas e meia da madrugada, Tenchi Masaki vai até a cozinha beber um gole de água. A sua sede é imensa e a garganta começa a arranhar e por isso a sua ida a geladeira. Depois de abrir a porta do aparelho e iluminar parcialmente a cozinha, Tenchi nota que não está sozinho.

                 -         Kiyone? O que faz acordada esta hora?

                 O seu belo rosto iluminado pela luz da geladeira é realçado pelo brilho dos seus olhos e seu corpo coberto por uma camisola sensual. E lentamente, aproxima-se do jovem herdeiro do trono de Jurai.

                 -         O mesmo que você. Beber água.

                 Ela tira o copo da mão de Tenchi e enche o copo de água e bebe.

                 -         Quer? - pergunta Kiyone displicente e oferendo o copo que usou.

                 -         Quero. - e pega o garrafão de água e outro copo.

                 Kiyone olha nos olhos de Tenchi e diz:

                 -         Tem nojo de mim, Tenchi?

                 -         Por que?

                 -         Tem medo de sentir o sabor de meus lábios?

                 -         O que está acontecendo, Kiyone? Você nunca agiu dessa maneira? Tá estranha...

                 -         Estranha? Só por que estou agindo como uma mulher?

                 -         Olha, eu não quero ser arrogante, mas a Ryoko e Ayeka estão na frente e pelo que saiba não gostam de concorrência.

                 -         Quero que elas se danem. Eu quero você aqui e agora.

                 -         Kiyone!?!

                 Ela o abraça e tenta beija-lo a força. O rapaz tenta, desesperado, livrar-se do abraço e quando consegue ouve o comentário da policial galáctica.

                 -         Afinal de contas, você é gay?

                 -         O que!?! Agora chega! O que diabos está acontecendo? Você está doente? Ou maluca?

                 -         Não adianta resistir. O seu destino está traçado. Eu analisei o seu DNA e desta hospedeira e as proles dessa união vão gerar seres mais que perfeitos para ligar as novas árvores de Jurai.

                 Tenchi fica confuso.

                 -         Do que está falando? Hospedeira? Novas árvores?

                 -         Você vai entender quando beija-lo, Tenchi querido.

                 Quando a policial chega perto do jovem um raio vindo atrás dele a atinge.

                 -         Doutora Washu? - pergunta Tenchi. Que roupa é essa?

                 A aparência da cientista é igual à de um astronauta. O único modo de identificá-la é através do visor do rosto.

                 -         É para evitar contaminação de arma biológica. - diz com uma voz típica de um rádio AM. Venha logo ao meu laboratório para que possa esterilizá-lo. Isto é, se não for tarde. Vamos logo! 

                 O rapaz é arrastado para certo quarto que fica debaixo de uma escada e deixando a policial Kiyone desacordada.

                 Dentro do laboratório, Washu joga, literalmente, Tenchi num tanque cheio de um liquido verde e transparente. O jovem herdeiro do trono de Jurai entra em desespero, mas descobre que o liquido é respirável. Em seguida, filetes amarelos saem do corpo do rapaz e vagam a esmo no tanque.

                 -          Foi o que pensei. - diz a cientista. Agora falta confirmar...

                 A milenar cientista estende as mãos, aparece uma espécie de "Laptop" transparente e começa a digitar com rapidez. (Ahn! Ela já estava sem a tal roupa de astronauta.) Segundos depois, uma expressão de terror surge no rosto da mulher de cabelos vermelhos.

                 -          Mas estava extinto! Não é possível! Tenho que livrar estas coisas do tanque o mais rápido possível.

                 Ela faz isto com rapidez. Deixando o jovem Masaki atordoado no fundo do tanque.

                 -          Tenchi... Acho melhor que fique ai por um tempo.

                 -          Afinal, o que está acontecendo?

                 -          Bem... Como posso dizer para você? Hum... Sua amiga Kiyone Makibe está morta. Como também todos que tiveram contato com ela. Inclusive, você.

                 -          O QUE!?! - grita o rapaz. Como assim estou morto? Mas eu respiro, o meu coração bate e o meu corpo está quente.

                 -          Há várias formas de morte, Tenchi. Essa é a pior de todas, a morte em vida. E assim que os Jurianos chamam aquilo de fungo fantasma. Ou conhecida como "A doença".

                 -          Que história é essa?

                 -          Infelizmente é a mais horrenda história que seus ouvidos poderiam ouvir. Quisera que nunca precisasse sonhar saber. Há oito mil anos atrás, houve uma epidemia de fungo fantasma em Jurai, quarto quintos da população morreram. Somente os membros de uma seita que cultuavam um grupo de arvores místicas sobreviveram e conseguiram a cura. Os membros dessa seita eram os antepassados da família imperial de Jurai. Dois mil anos mais tarde, houve uma variante do mesmo fungo com objetivo terrorista, por sorte, foi controlado a tempo e desde então "A doença" é tratada como arma biológica.

                 -          Como esta doença foi parar aqui na Terra?

                 -          Sinceramente, eu não sei. Mas temos que dete-lo.

                 -          O que é necessário para erradicar o fungo fantasma?

                 -          Matar os seus hospedeiros.

                 -          Mais você não disse que havia uma cura?

                 -          Mas essa é cura. - diz Washu com frieza. Por isso que disse que Kiyone está morta, uma vez contaminado, a função do fungo é espalhar e dominar a mente do hospedeiro. Não adianta tentar usar o ritual de cura das árvores de Jurai que "A doença" as contamina também. O fungo tem a forma de transmissão víral espalhando os esporos no ar e por isso que você está aí.

                -          Mas eu não fui limpo?

                -          Se tiver um grão em seu corpo, menor que seja "A doença" vai desenvolver. Por mais limpo que você esteja. Estou esperando a evolução do seu caso, talvez, possa descobrir uma espécie de vacina aos poucos sobreviventes do planeta Terra.

                -          Oh, meu Deus!!! É um pesadelo só pode ser.

                -          Desculpe, mais não é. Aceite a seu destino e morra com dignidade.

                Um grito ecoa no laboratório. Um grito de dor e de impotência.    

                Longe dali, o avô de Tenchi, Katsuhiro Masaki, começa procurar a sua mascara contra gases e um macacão plástico com capuz. Ao encontrar, veste com rapidez, coloca luvas de borracha, que usa para jardinagem, a galocha e veda as frestas com fita adesiva. "Nunca imaginei que chegaria a usar isto." Pensa o velho monge Xintoísta que pega o seu bastão e pega o martelo, pregos, uma caneta piloto e uma tábua, que lembra um cartaz. Leva tudo para o portão de entrada do santuário e escreve com a caneta a seguinte mensagem: "Local de quarentena. Risco de vida por contaminação biológica. Fique longe." Quando o velho começa a pregar o cartaz, alguém pergunta:

               -          O que você está fazendo aí? Que história é essa de contaminação?

               -          Nobuyuki! Ajude-me aqui!

               -          Pai! É o senhor? Por que isto?

               O velho começa a descer as escadas, pois estava pregando o cartaz em um lugar alto e visível. O seu ex-genro segura as escadas e ajuda o monge a descer.

               -          Filho, o caso é muito sério. O nosso lar foi contaminado por uma super doença de Jurai e creio se não fizermos alguma coisa, este planeta vai deixar de ter vida.

               -          Pai, que coisa horrível! Quem foi o responsável? Washu?

               -          Eu não creio que seja ela. Acho que foi um atentado contra a nossa família.

               -          O senhor sabe quem é o responsável?

               -          Infelizmente, não. Mas temos que avisar as autoridades locais do risco que estão correndo.

               -          Eles vão quer saber o que está acontecendo. Vamos contar a verdade e sobre as meninas?

               -          Contaremos sobre o atentado e nada mais. Acha que eles vão acreditar em garotas do espaço?

               -          Tem razão, pai! Estou com o carro, vamos tirar esta roupa esquisita e iremos ao hotel. Ou polícia, ou que quer que seja.

               -          Você está certo, filho. Vou rezar que a doutora Washu consiga resolver esta confusão.

               Os dois homens entram no carro e partem quando o sol nascia no horizonte.

               Na residência do clã Masaki, duas princesas são despertadas pelo ruído de bater na porta. Sasami acorda, mas Ayeka já estava de pé.

               -        Mas o que está acontecendo? - pergunta Sasami. Que barulheira!

               -        Calma, irmã. Eu vou atender.

               A bela princesa de Jurai vai até a porta e pergunta:

               -        Quem é? Nós não estamos preparadas para receber ninguém.

               -        Desculpe-me,  Ayeka! - responde uma voz estridente atras da porta. Mais estou muito preocupada com Kiyone, ela não dormiu no nosso quarto e não sei onde está.

               -        Mihoshi! Como ousa nos acordar nesta hora por causa de um motivo tão idiota!

               -        Desculpe! Mas eu tô com medo. Não quero dormir sozinha.

               -        Esqueça! Você ronca muito alto e nós da nobreza precisamos de descanso.

               -        Por favor, princesa Ayeka! Tenho medo de ficar sozinha...

               O som de soluços é ouvido atras da porta.

               -        Droga! Essa idiota consegue me deixar de coração mole...

               Sasami esfrega os olhos e diz a irmã:

               -        Pode deixar, vou pegar outro lençol. - e levanta.

               Neste momento, Ayeka abre a porta.

               -        Pode entrar, Mihoshi.

               -        Com certeza, princesa... - diz uma voz rouca. Vamos dormir juntas para sempre...

               A princesa exclama, vê a policial encoberta por um pó amarelo e com os olhos com olheiras.

               -        Mihoshi... O que é isto? Que pó é este?

               -        São esporos, princesa! Algo que você irá produzir também, querida! - diz com um olhar sinistro.

               Antes que Ayeka pudesse fazer alguma coisa, a mulher a agarra. A Juraiana tenta em vão livrar-se do abraço.

               -        É só um beijo, princesa! Espero que você não tenha este tipo de preconceito, afinal nós somos amigas...

               A princesa faz uma expressão de nojo e grita:

               -        Sasami!!! Fuja!!!

               -        O que foi Ayeka? Ahh!!!

               O que a criança vê não é algo que alguém de sua idade devia ver. A sua irmã beijando na boca de outra mulher. A princesa luta muito para livrar dessa situação indesejável, mas, aos poucos, a sua resistência esvai, até que cessam e sucumbe.

               -        Ayeka... - diz Sasami com os olhos lacrimejando.

               Em seguida, a policial larga a princesa no chão e diz a criança:

               -        Você será a próxima, Sasami. É só um beijo, não vai doer...

               -         Nunca você vai fazer isto comigo, maldita! - e joga os cobertores em cima da policial.   

               Aproveitando o momento de hesitação, Sasami corre por debaixo da mulher e foge do quarto. O desespero da criança não diminuiu a sua inteligência e ao sair fecha e tranca a porta de seu quarto. Batidas violentas são ouvidas atras da porta.

               -        Abra a porta, Sasami. Não tem para onde fugir.

               -        Cala boca, monstra! Eu descobrir um meio de acabar você e libertar a Mihoshi e minha irmã. Pode esperar.

               Uma risada horripilante surge atras da porta.

               -        Terás uma infeliz surpresa, Sasami.

               A garota treme, sente o coração gelar e afasta da porta. Os seus olhos procuram certo quarto, o da Ryoko. Ela vai correndo em direção ao quarto dela. E ao chegar lá, Sasami não bate na porta gira a maçaneta e entra.

               Ryoko dorme profundamente e é sacudida de forma violenta por Sasami. Os olhos da pirata espacial piscam e olham ao rosto angustiado da pequena princesa de Jurai.

               -        De novo, Sasami! Você está cansada de saber que...

               -        Ryoko, por favor! Um monstro dominou o corpo da Mihoshi e possuiu a minha irmã, me ajuda! Por tudo que é mais sagrado! Eu preciso de você!

               -        Calma, menina! Você deve ter tido um pesadelo.

               -        Eu não tive um pesadelo. Eu vivi um! - diz Sasami com lagrimas nos olhos.

               -        Tudo bem. Vamos ver isto, tá legal! Vou levá-la até a doutora Washu, está bem?

               A criança seca os olhos com a manga da camisola.

               -        Tá legal!

               -        Vamos atravessar umas paredes. Sorria, vai ser divertido.

               Sasami abraça no pescoço da pirata espacial que dá um salto e desaparece do seu quarto. Em seguida, surge na sala principal e vai em direção em uma porta que fica debaixo da escada. Quando as duas iam entrar no quarto de Washu, uma voz corta a sala.

               -        Olá, Ryoko!

               -        Kiyone! O que está havendo? Sasami está apavorada.

               -        Eu ouvi os gritos dela e vim ver o que está acontecendo. - e aproxima.

               -        Vou levá-la ao laboratório da Washu e assim ela vai ficar mais tranqüila, depois vou constatar o que disse.

               -        Claro. Eu estou curiosa, vou ajudá-la.

               -        Entre lá, Sasami. Eu e Kiyone vamos ver como está a sua irmã e Mihoshi, tá?

               -        Cuidado, Ryoko! Não deixe aquele monstro te dominar...

               -        Confie em mim, garota. - ela pisca o olho e abraça a pequena princesa. Sou mais durona que sua irmã.

               Um sorriso surge no rosto de Sasami e ela entra no quarto da cientista. Ryoko olha para Kiyone e diz:

               -        Sua parceira está com problemas... Está com sua arma?

               -        Estou sim. Mas acho que isto não será necessário.

               -        Também acho. Mais aquela garotinha não costuma mentir, por isso...

               Um bastão de energia surge na mão da pirata.

               -        Não vamos dar chance para o azar. Vamos, tira.

               As duas começam a subir as escadas lentamente, o ruído de estalos na madeira aumenta a tensão e a pirata olha, repentinamente, a mão esquerda.

               -        Kiyone, o corrimão está empoeirado. Parece um pó amarelo...

               A policial passa o dedo e cheira.

               -        Parece um tipo de farinha... - diz Kiyone. Por que não tira a luva e sente a textura?

               -        Eu não gosto de poeira ou qualquer tipo de sujeira. É melhor sacar a sua arma, pois estou tendo um mau pressentimento.

               De repente, no corredor dos quartos, surgem Ayeka e Mihoshi indo em direção de Ryoko. A pirata vai até elas.

               -        O que aconteceu, Ayeka? Sua irmã estava apavorada.

               -        Ela teve um pesadelo, só isso. Onde ela está?

               -        No quarto da Washu. Assim ela se sente mais segura.

               -        Sem duvida. - diz Ayeka - Sabe Ryoko... Com toda essa tensão me deixou sem sono. Que tal me dar àquela revanche, que você prometeu?

               -        Está a fim de levar outra surra, princesa?

               -        É. Sinto que dessa vez a sorte está do meu lado.

               -        Deixa que eu pego o baralho.

               -        Não precisa. Trouxe o meu. - disse a princesa -  Quer jogar, Kiyone?

               -        Por que não? Quer jogar, Mihoshi?

               -        Claro que sim. - diz com aquela risada estridente. Adoro jogar com a Ryoko, ela tão paciente...

               -        Desculpe, meninas. - diz Ryoko. Mas este jogo é pessoal. E só entre a princesa e eu.

               Os olhos de Ayeka brilham.

               -        Meninas, por que não preparam um suco para nós? Acho que vamos ter uma longa manhã.

               -        Ah, é! Já é de manhã. Tenho pena de você, sua boboca.

               Um pequeno sorriso surge no canto da boca da princesa.

               O jogo segue a uma hora e a partida está equilibrada. Porém, Ryoko vence na última rodada e comemora.

               -        Rá! Eu sabia que você não tem capacidade de me vencer.

              Estranhamente, Ayeka não reage às provocações de Ryoko.

              -         O que achou do Saqué? Estava bom?

              -         Claro. Sempre é bom beber em comemoração pela vitória em cima de uma otária! - risos.

              -         Sabe, Ryoko... Os verdadeiros otários são aqueles que pensam que são os mais espertos. - diz Ayeka com uma frieza assustadora. Como é o seu exemplo. O seu desejo de humilhar a sua rival foi tão grande que se esqueceu de raciocinar.

              -        Como assim?

              -        Desde quando Ayeka foi tão calma a ponto de não brigar com você durante uma hora?

              -        Nunca. - diz Ryoko séria e começando a entender que caiu numa armadilha. Que diabos são vocês?

              -        Somos o futuro e você faz parte dele.

              -        Desde quando?

              -        Desde primeiro gole de Saqué, querida.

              Neste momento, Ryoko começa a perder a consciência.

              No interior do quarto de Washu, Sasami fica apreensiva e chama a cientista. Ninguém responde. A pequena princesa olha assustada para porta que entrou. "Será que aquele monstro pegou a Ryoko?" Pensa a criança. Súbito, no fundo do quarto, que Washu chama de "corredor dimensional", uma linha amarela traça o ar e forma a figura de uma porta. Dali surge uma criatura de cor metálica e com aparência astronauta que provoca um grito em Sasami.

              -        Não tenha medo, criança. Sou eu, Washu.

              -        Pelas árvores sagradas de Jurai! Que susto!

              -        Vou ter que te examinar, querida.

              -        Por quê?

              A cientista, com uma voz de rádio AM, respira e fala sem nenhum tato.

              -        Tenho suspeita que tenha sido contaminada pelo fungo fantasma.

              A pequena princesa desaba em dor, lágrimas e agonia.

              -        Não! Não! - grita. É mentira! Não a minha irmã! Não!

              -        O que!? Ayeka foi contaminada?

              -        Eu não saiba! - grita Sasami. Eu juro que não saiba! Pedi para a Ryoko para ver o que estava acontecendo. Perdoa-me, Ryoko!

              -        Ryoko, também!?! Mas que droga!!! Quem mais estava com a doença?

              -        Mihoshi passou para a Ayeka... Ela agarrou a minha irmã e a beijou de um modo nojento. Queria passar para mim, eu fugi juro que fugi e ela não me pegou. Ninguém me tocou só a Ryoko. Só ela. Só ela. - diz em choque.

              -        Kiyone, Mihoshi, Ayeka e Ryoko. - diz Washu. Realmente estamos com problemas.

              -        Kiyone!? Ela também?

              -        Ela tentou passar a doença para o Tenchi, mas acho que o salvei. Foi pura sorte.

             -         A Kiyone estava com a Ryoko quando a deixei. - diz Sasami.

             -         Então já era. Não há nada que posso fazer.

             Neste momento, vai em direção da cientista, agarra o macacão metálico, como pegasse no colarinho e diz:

             -         Como assim já era!?! Você não vai buscar a cura?

             -         Sasami... Isto está além de minhas capacidades.

             A pequena princesa de Jurai a olha com ódio e diz:

             -         O que!?! Eu não acredito o que estou ouvindo! Você não vivia dizendo que é a maior cientista do Universo? Agora, prove!

             -         Sasami... Eu...

             -         A vida da minha irmã está em perigo, o que acha que eu faria? O que você faria se o seu filho estivesse nesta situação?

             A cientista abaixa a cabeça.

             -         Eu vou achar a cura. Nem que seja a última coisa que faça.

             A garota a larga.

             -         É assim que se fala! Onde está o Tenchi?

             -         Num quarto de quarentena, e é aonde irás, Sasami.

             -         Tudo bem. Vai ser bom conversar com Tenchi sobre o que estamos passando.

             Neste instante, Washu percebe o quanto Sasami amadureceu tão rapidamente. "O sofrimento nos faz crescer, querendo ou não." Pensa a cientista, enquanto acompanha a pequena princesa a seu quarto de isolamento.

             Depois de três dias, Washu retorna ao local de isolamento onde Tenchi e Sasami estão instalados. Separados por uma espécie de vidro, a cientista irá dar as noticias de suas pesquisas aos seus amigos.

             -         Tenho duas boas noticias e uma má. Quais vocês quem ouvir primeiro?

             O olhar dos isolados mostram uma curiosidade muito grande.

             -         Qual são as boas para variar. - diz Tenchi.

             -         Bem... A primeira boa noticia é que vocês não estão contaminados.

             -         Que bom. - diz Sasami com desanimo.

             -         A segunda e que essa doença é uma versão muito mais fraca da original e tem uma probabilidade maior de cura.

             O sorriso surge nos rostos de nossos heróis.

             -         Verdade, Washu?

             -         É claro! Para que mentiria?

             De repente, os dois olham um para o outro com receio e lembram como é a cientista. Com um temor na voz, Tenchi pergunta a mulher de longos cabelos vermelhos.

             -         Qual é a má?

             Washu dá um sorriso de canto de boca e coça a cabeça.

             -         Bem... Vocês sabem que o fungo fantasma tem um propósito original de contaminação de progressão geométrica? Esta variante tem um processo de contaminação diferente. É a progressão aritmética. Isto é possível somente em casos de contato físico.

             -        Está certo. E daí? - diz Tenchi com impaciência.

             -        Descobri que o fungo foi feito em laboratório e é operado por princípio nano - métrico de contaminação em massa. É tecnologia de guerra. Eu não sabia que o império de Jurai tinha este tipo de coisa.

             -        Mas, Washu, o que é "princípio nano - métrico de contaminação"?

             -        Tenchi, imagine que você quer controlar ou matar um determinado grupo de pessoas que é contrário as suas idéias. Você programa os nano - fungos para seus propósitos e pronto. Fim dos seus problemas.

             -        Espere aí! Você está dizendo que essa doença é programada?

             -        Isso mesmo, Tenchi. Como robôs.

             Sasami com olhar de preocupação diz:

             -        Você disse que o império de Jurai tem este tipo de arma. Quer dizer que eles são os responsáveis por isso?

             -        Sim.

             -        Quer dizer que eles querem nos matar ou controlar? - pergunta Sasami.

             -        A questão é delicada. A intenção não era deliberada contra as princesas ou contra os potenciais herdeiros, mas a programação dos nano - fungos são em relação às recordações e experiências. Na memória dos robôs estão o objetivo de atingir os centros de informação do cérebro e controlar todos aqueles que tiverem qualquer tipo de contato com uma determinada entidade.

             -        Controlar pessoas que encontraram com alguém, é isso?

             -        Exatamente, Sasami! Pelo que vi no programa original é para segurança do próprio mundo que esta entidade tenha sido abrigada. Ordem da antiga imperatriz de Jurai.

             -        Espere! A última imperatriz de Jurai foi na época da Inazi. Eu não acredito! - diz Sasami. Não me diga que essa doença foi programada para controlar uma futura tentativa de fuga de alguém presa ou exilada?

             -        Correto. - responde Washu. Obviamente que eles previam a possibilidade que caísse num mundo e ela usasse o referido planeta para se vingar do império de Jurai.

             -        Afinal de contas, de quem vocês estão falando? - pergunta Tenchi.

             A cientista aproxima do vidro e diz com relativa curiosidade.

             -        Não é obvio? Estamos falando da Yugui.

                                          Fim do primeiro capítulo.

 


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, os nossos heróis terão que enfrentar os seus amigos e tentar libertar uma antiga inimiga. Será que serão capazes de curar todos e controlar os impulsos infantis de Yugui? Todas estas perguntas serão respondidas em:

Sem necessidade de demônios adormecidos.



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