O Destino do Príncipe escrita por Miahwe


Capítulo 10
Coelhos e um festival


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Desculpem a demora, mas aqui está mais um capítulo ^^, espero que gostem.
Perdoem-me quaisquer erros e vamos lá, boa leitura.



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Pela tarde ainda chovia, mas mesmo assim saiu em busca de algo para poder se localizar, uma aldeia ou até mesmo uma trilha seriam o bastante. Contudo não afastou-se muito da gruta com receio de acabar se perdendo.

Não encontrou nenhuma trilha ou se quer um transeunte. Nada além de mais raízes altas e mato fechado, samambaias e trepadeiras que penduravam-se em todo lugar formando cortinas e, infelizmente, havia escutado poucos barulhos de animais em decorrência da chuva.

 Voltou para a gruta com algumas frutas que achara no caminho e sentou-se no mesmo lugar de antes enquanto mastigava uma maçã. Sasuke se aproximou, vestia apenas a calça e o sobretudo da Akatsuki do oeste sem a túnica, está que foi feita de bandagem para a ferida da cintura e do braço.

Já fazia três dias que estavam ali.

— Não tem nenhum animal nessa floresta? Vamos morrer de fome comendo apenas frutas — o Uchiha falou sentando-se ao seu lado e pegando uma laranja.

— Provavelmente estão bem abrigados da chuva.

— Não vejo a hora dessa chuva parar. Deve de ter alguma aldeia por aqui ou vila.

            — Sasuke Uchiha... — Naruto murmurou e deu palmada na própria coxa.

            — O que foi? — o outro perguntou surpreso pela ação aleatória.

            — Eu sabia que já tinha escutado seu nome em algum lugar! — Naruto falou em um tom vitorioso. — Diga-me, você é o mesmo Sasuke Uchiha filho do rei Fugaku do Fogo e segundo na linha de sucessão do trono?

            — Co-como sabe disso?

            Naruto deu de ombros. — Não espere que eu vá lhe chamar de Vossa Alteza.

— Não me importo. Desde que saí do reino do Fogo pousei minha coroa.

            Naruto assentiu, mas de forma alguma estava curioso para saber o porquê. Na verdade para ele não se importava com o passado do Uchiha, assim como o seu próprio passado não interessava ninguém.

            Olhou para o lado sentindo-se observado e encarou Sasuke que o estava encarando com olhos estranhos. — O que foi? — Naruto perguntou com um tom quase arrogante.

            — Nada — Sasuke respondeu, balançou a cabeça e inclinou-se para pegar outra fruta. Os músculos dos braços tencionando com o movimento, os cabelos escuros em um balanço suave e então os olhos manchados o encararam com um ar de interrogação. Naruto tossiu constrangido.

            Que pensamentos foram esses?

Olhou em direção a entrada da gruta afastando os pensamentos que havia tido de Sasuke à segundos atrás. A chuva caía como uma cortina turvando a visão das árvores que os cercavam.

 Odiava esperar, odiava ficar parado, odiava aquela chuva por fazê-lo esperar e ficar parado. Precisava de algo para fazer, para se distrair, ficar ali confinado com aquele Uchiha tedioso o estava deixando maluco.

— Isso não teria acontecido se você não tivesse nos derrubado da encosta — reclamou para Sasuke sem saber o motivo da revolta. Estava tão quieto, sem barulho ou qualquer tipo de animação que estava começando a se sentir exasperado.

— A culpa é minha? Você que...

— Eu nada. Você que me segurou meu pé e me puxou.

— Você que me derrubou no chão! Se não tivesse me derrubado não teríamos caído! — O Uchiha falou enraivecido, mas Naruto não se importou com o tom da voz.

— Você podia ter nos derrubado de qualquer jeito.

— Como pode ter certeza? — Sasuke perguntou, os olhos encarando-o com intensidade. Por um segundo Naruto pensou ter visto eles cintilarem. O cabelo escuro do outro caia nos ombros levemente arrepiado e a franja cobria a testa e emoldurava o rosto cheio de arranhões.

— Por que foi você que nos derrubou, se não tivesse me agarrado, pelo menos eu não teria rolado.

— Eu estava me defendendo de seus socos, seu estúpido!

— Imbecil! — Naruto brandiu e socou o braço de Sasuke que descontou com a mesma intensidade.

Em segundos os dois estavam brigando trocando socos e tapas no chão frio e pedregoso.

— Faz três... — Naruto começou a dizer em meio a briga. —... dias que estamos aqui olhando um pra... o outro e conversando asneira e eu sou o único em condições de sair pra procurar alimento! Você... Ai! — exclamou quando lhe foi acertado um soco. — Você só reclama... e reclama...

— E você só sabe ralhar que é... — foi interrompido quando Naruto deu uma joelhada em seu barriga e o jogou para o lado — ... que é minha culpa termos caído! — pausa. — Estúpido!

Naruto subiu em cima do Uchiha e o segurou pelos pulsos prendendo-o no chão. Estava sentando em cima da pélvis de Sasuke uma perna de cada lado, tinha a consciência de que todo o trabalho que teve para tratar da ferida seria perdido se esmagasse a cintura do outro. — Chega — falou.

Sasuke o encarava com o cenho franzido e os lábios comprimidos com raiva, os olhos aos poucos foram substituindo tal sentimento por alguma coisa que Naruto não entendeu. Curiosidade? Não sabia dizer. Estalou a língua fazendo um barulho parecido com um “tsc” e saiu de cima do Uchiha.

— Vou procurar madeira seca e algum animal por aí — disse e saiu da caverna em ritmo de trote sem importar-se com a chuva.

 

***

 

            Tinha mandado as criadas embora mais cedo naquela noite. Vestiu-se com um pouco de dificuldades um vestido simples, a saia cinza tinha apenas duas camadas, um manto roxo de mangas compridas e largas estava amarrado no busto por um zigue-zague de cordões que deixava apenas a parte da frente da saia à mostra. Na cintura, por baixo do manto, uma faixa dava duas voltas firmes, tinha escondido uma de suas adagas ali para proteção pessoal. O cabelo comprido estava por baixo do manto, daquele jeito não haveria problemas quando subisse o capuz.

           Estava pronta assim que a lua subiu, esperava por Neji sentada na beira da cama. Ansiosa.

            Escutou vozes e burburinhos atrás da porta.

            Neji deve ter chegado.

            Levantou-se preparada, as mãos passeando pelas roupas ajeitando-as. As vozes cessaram e a porta abriu em uma brecha. — Vossa Alteza, Hinata? — A voz do guarda-costas invadiu o quarto.

           — Estou aqui, Neji — Hinata falou se aproximando, ele abriu mais a porta para que saísse. Usava roupas igualmente simples, apenas uma túnica, calça e botas. A espada estava na cintura juntamente com duas adagas, estás presas acima das nádegas em um X. Os cabelos compridos estavam escondidos como os seus, dentro do manto.

            — Vamos logo antes que os guardas voltem.

            Assentiu ansiosa e o seguiu pelos corredores tentando não fazer barulho. Neji andava na frente e parava em cada esquina dos corredores para ver se não vinha ninguém.

            Desceram escadas e viraram em vários corredores, por fim saíram pela cozinha saltando por cima de alguns empregados que dormiam agasalhados no chão. Do lado de fora, caminharam pelas sombras das torres e pontes, fora das vistas dos sentinelas que vigiam as ameias. Ao chegarem no portão da rainha, Hinata se surpreendeu por ver Sir Kou de guarda, Neji trocou algumas palavras com ele que fez um sinal para que dois guardas do portão abrissem uma pequena frecha para que os primos pudessem passar.

            Logo estavam andando pela cidade. Andar por aquelas ruas a pé era de certa forma diferente de andar a cavalo ou em uma liteira, era mais sujo e cheio de declives. Estavam andando pela rua do Furacão e logo depois virariam na rua do Ferro e Aço para depois se encontrarem com a população reunida na grande praça da Aurora.

            — Vai ser tão divertido! — Hinata exclamou deixando que a empolgação tomasse o lugar da ansiedade.

            Neji soltou um riso nasal sem mostrar os dentes. — Cuidado com os buracos, Vossa Alteza.

            — Pode chamar-me de Hinata, estamos só nós dois aqui — falou sorrindo timidamente e se apressou para alcançar o primo que estava à frente. — Você já veio em um festival desses? Sabe, como parte do povo... e não como um guarda.

            — Vinha muito quando era escudeiro em meus treze, catorze anos.

            — Espero que seja divertido desta vez.

            Neji assentiu concordando. — Lembre que não vamos poder ficar muito tempo.

            — Sim.

            Chegaram a praça em poucos minutos. Haviam luzes espalhadas por todo o local, barracas, pessoas e cheiros diferentes vinham em todas as direções assim como barulhos, estes últimos Hinata achou igualmente confortáveis. Queria ir em todas as direções, ver tudo e todos.

            — Quer comer alguma coisa? — Neji perguntou ao seu lado.

            — Sim.

            — Bem, então é melhor que eu entre na fila. Vou estar ali naquela barraca — disse apontando para um amontoado de pessoas. — Pode ir visitar o resto da feira, mas cuidado para não se perder e não deixe estranhos chegarem muito perto.

            Hinata assentiu e afastou-se do guarda-costas. Estar sozinha era um sentimento estranho, emanava responsabilidade e liberdade ao mesmo tempo. Gostou daquilo.

            Havia algumas barracas de jogos, onde várias pessoas se reuniam para assistir os jogadores competindo. No centro da praça havia um pequeno palco onde os homens lutavam corpo à corpo para tentar ganhar um prêmio. Hinata andou em todos os lugares e observou seu povo se divertindo, aquilo a deixava feliz, mas algo estava faltando e ela não sabia o que era.

            Havia crianças correndo de um lado para o outro, gritando e rindo, ziguezagueavam pelas pernas dos adultos e recebiam sermões, mas não pareciam se importar muito. Em um momento enquanto andava para uma barraca de jogos, uma criança veio correndo em sua direção e se escondeu atrás de si, segurando no manto e nas saias do vestido, quase a desequilibrando.

            — Me esconde — a criança pediu respirando pesado.

            Hinata virou a cabeça para encará-la e indagou: — Esconde-esconde?

            A menina negou balançando a cabeça. — Os adultos querem me bater.

            Franziu o cenho sem entender. — Você roubou algo? — Ela não respondeu e a princesa teve isso como um sim. Do jeito como a garota estava vestida, roupas sujas e pouco rotas; pés no chão, Hinata imaginou que ela não deveria ter dinheiro para comprar o que ela provavelmente roubou.

            Seus pensamentos foram interrompidos quando três homens se aproximaram, raivosos, olhando em todos os lados. Percebeu que era deles que a pequena se escondia quando ela apertou-se mais ainda entre suas saias. Apertou os lábios sem saber o que fazer. Tinha gastado o pouco dinheiro que havia trazido e não teria como pagar o quer que a menina tenha roubado. Isso era um problema, pois Hinata estava determinada a não deixar aquela criança, parte de seu povo, ser violentada.

           Colocou uma das mãos na cintura, por baixo do manto, sentindo a adaga dentro da faixa.

            Os homens procuravam ao seu redor e Hinata ficou paralisada. Não podia se mexer, nem correr, a garota apertava cada vez mais suas saias. Era inevitável, iriam vê-la se olhassem para suas costas. Apertou a adaga com a mão direita, puxou-a da faixa e a escondeu dentro da manga comprida do manto.

            — Ali está a ladrazinha! — um dos homens falou com a voz grave.

            Hinata virou para o homem, mantendo a menina nas costas.

            — Fique longe dela.

            — Não se meta, garota, dei-me essa gatuna, não merece sua misericórdia.

            As palavras engancharam na garganta. — Na-não... — Um dos homens segurou-a pelo punho em um aperto forte e pesado. Doeu. Hinata levantou o braço com a adaga para abaixar a manga do sobretudo e sem hesitar passou a lâmina no punho do homem que a soltou com um grito de susto e dor. Aproveitou e deu alguns passos para trás, a arma na defensiva. Adrenalina começando a correr pelo sangue e deixando eufórica.

            A menina tinha começado a chorar, mas não soltava seu manto do agarre.

            Outro homem, bem barbudo, foi até ela com um facão na mão. Hinata soltou o ar dos pulmões. Bloqueou o ataque com a parte mais larga e firme da adaga, não foi forte, ele não queria machucá-la, percebeu. O homem desferiu um outro ataque em direção a sua cintura, bloqueou novamente e aproveitando a abertura na esquerda, girou o quadril levantando a perna — firme — para dar um chute na coxa do homem, este que o impacto desequilibrou e caiu no chão. Hinata deu outro chute frontal no rosto e ele caiu de costas no chão.

            Então ouviu um grito e um homem havia caído no chão. Soube de imediato.

            Neji!

            O primo tinha uma feição irritadiça, trazia dois espetinhos em uma mão e com a outra segurou os cabelos do homem que havia derrubado, bateu a cabeça deste três vezes no chão até um pouco de sangue apareceu. Levantou e encarou o homem que Hinata havia cortado, este correu até Neji que abaixou em reflexo e o socou, logo abaixo das costelas com o dedos indicador e médio. O homem arfou e caiu no chão sem ar.  Caminhou até Hinata e olhou para homem no chão, este logo se apressou em se levantar e correr.

            O guarda-costas soltou um suspiro e olhou para Hinata. — Eles lhe machucaram?

            Balançou a cabeça em negação e guardou a adaga de volta, ao olhar ao redor viu que pessoas, várias pessoas haviam se reunido ao redor para testemunhar o confronto.

            ― O que vocês estão olhando? ― Neji perguntou com a voz barítono, alta e imperativa. ― Vão procurar o que fazer ― falou por fim e aos poucos as pessoas começaram a se desagarrar da plateia e a se espalhar pela grande praça.

            ― Sinto muito, eu não deveria ter ficado tanto tempo afastado...

            — Está tudo bem, Neji — Hinata falou e realmente estava. — Obrigada. – Sorriu. — Você chegou bem na hora.

            Mesmo assim Neji não pareceu muito contente com aquilo. Soltou um breve suspiro e estendeu um espetinho para a princesa.

            Hinata levou uma mão a cabeça da menina, como um aviso de que estava tudo bem. A garota soltou suas saias e Hinata agachou à sua frente, então sorriu e disse: — Tome. Pode ficar.

            A garotinha agradeceu pegando o espetinho sem conseguir esconder um sorriso e foi embora as pressas. Quando Hinata levantou para encarar o primo, viu que ele a olhava com o cenho franzido tentando entender o que realmente tinha acontecido, mas nada questionou.

            — Aqui — falou entregando o próprio espetinho a Hinata. — Acho que nunca vou parar de me surpreender com você — pausa. — Quer voltar ao castelo? Acho que depois disso o festival perdeu a graça.

            Hinata negou. — Ainda falta alguma coisa.

            — O que por exemplo?

            Hinata deu de ombros sem ter ideia do que responder e Neji olhou ao redor pensativo, então fez uma mesura a princesa e perguntou: — Gostaria de dançar?

            Um sorriso cresceu nos lábios de Hinata que aceitou o convite imediatamente. O guarda costas levou-a para uma roda onde os músicos estavam misturados com o público e tocavam violas, alaúdes, flautas e tambores. Casais dançavam no centro, não era uma dança organizada como tinham nos bailes do castelo, era algo que parecia não ter regras ou coreografia pronta, apenas entravam na roda e dançavam conforme achavam certo, sorriam e batiam palmas.

            Parece divertido.

            Assim que um casal saiu de braços dados da roda, Neji puxou-a pelo pulso a levando o centro do círculo. Segurou-a pelo dedo indicador e a fez rodopiar três vezes, depois colocou uma mão em sua cintura e ambos giraram pela roda de foram aleatória. Hinata via um sorriso nos olhos do primo enquanto dançavam sem compasso junto com a música animadora. Hinata escutava as vozes do povo e as palmas aplaudindo a dança. Sorria sem motivo e dava algumas risadas quando Neji a levava a fazer passos estranhos. Gostava de ser rodopiada e sentia-se feliz com a proximidade do primo naquele dança.

            — Não conhecia este seu lado — falou enquanto voltavam a roda para aplaudir por outros casais.

            — No castelo tenho que agir como guarda e manter minha postura como seu guarda-costas.

            Hinata não teve uma resposta para aquilo, a resposta de Neji havia despertando em si uma curiosidade sobre a verdadeira personalidade dele, queria conhecer mais o primo.

                                               ***

— Quinto dia perdidos — Menma balbuciava enquanto andavam.

Havia parado de chover e não perderam a oportunidade de sair da gruta enquanto o sol reinando no céu livre da incidência de nuvens cinzas. Caminhavam por quase duas horas procurando uma saída daquela floresta que parecia não ter fim.

— Acho que estamos andando em círculos — Sasuke comentou ao seu lado. Andava meio desajeitado, o corpo inclinado para um lado e uma mão apoiada na barriga por conta do corte. Menma parou de andar e virou para ele passando a mão nos cabelos emaranhados.

— Isso é um problema, tudo ao redor é igual. Tudo verde e marrom.

Olhou ao redor procurando algo bem visível, viu uma flor roxa nascendo no tronco de uma árvore. — Olha. Essa flor não pode estar em todo lugar.

Menma assentiu. — Vamos continuar em frente. Tentar chegar em um rio seria bastante útil.

— Sim — concordou e começaram a andar novamente.

Havia feito um pacto de paz com o novo companheiro que duraria até saírem dali, ou seja, iriam ajudar um ao outro. “Ali não eram inimigos”, tinha dito Menma quando ele acordou na gruta e nos últimos dia estavam pondo aquilo em prática.

— Ei! Está escutando isto?

Sasuke fechou os olhos apurando os ouvidos. Pássaros cantavam, havia barulhos de folhas sendo esmagadas, galhos sacolejando ao vento e lá no fundo escutou o barulho de águas batendo em pedras.

Uma correnteza; um rio.

— Vamos logo, estamos perto! — falou e seguiu cambaleando atrás de Menma.

Estava mais para um riacho, mas servia, a correnteza não era muito forte e água parecia boa pra consumo. Os dois se ajoelharam na margem pedregosa fazendo uma concha com as mãos e saborearam a água doce.

— Eu precisava muito disto! — Menma falou e mergulhou a cabeça dentro da água passando a mãos nos cabelos claros que voltaram lisos e limpos, caindo na testa e abaixo da orelha do rapaz, a água escorria pelo rosto e ensopava o manto cinza.

Sasuke o imitou. A água fria deu um choque gostoso em sua cabeça que aos poucos parava de pulsar. Passou uma mão rapidamente nos cabelos e no rosto para limpá-los e assim que sentiu falta de ar levantou a cabeça. A água que escorria da cabeça penetrou no manto umedecendo as costas.

Olhou para o sol e depois para Menma que limpava a espada na água corrente. — Acho melhor acamparmos aqui hoje.

Menma bateu a espada no ar tirando o excesso de água e a guardou na bainha atravessada nas costas. — Você fica aqui, eu vou procurar lenha seca e algo pra comer...

Achou melhor não discutir, conhecia seu limite e não aguentava mais andar com aquela dor se espalhando por sua barriga, mas gostaria de caçar e até mesmo procurar lenha, fazer algo útil e não parecer tão dependente.

Assentiu desgostoso confirmando e abriu o manto, tirando a ferida do aperto.

Menma voltou apenas quando o sol estava mostrando seus últimos raios, um pequeno fardo de lenha descansava nos braços e algo vinha pendurado na empunhadura da espada. Um coelho; carne. Sentiu a barriga dar um aperto e ficou feliz por saber que iria comer algo descente daquela vez.

Sasuke ficou com a tarefa de acender a fogueira com as pedras de fogo que achará enquanto o companheiro estava fora, este último cuidou da carne do coelho e a enfiou em alguns galhos, ensanguentada, fibrosa e aparentemente macia. Jogaram o couro fora para evitar mais mal cheiro e sentaram ao redor do fogo, com suas chamas bruxuleantes, observando a carne do coelho assar. 

Conversaram durante a degustação da carne e Sasuke riu com alguns comentários engraçados do outro. Estavam ficando mais próximos de certa forma e a conversa começava a fluir com mais naturalidade, afinal, era o quinto dia deles juntos tentando sair daquela floresta.

— Você não é tão chato quanto eu pensei — Menma admitiu terminando seu pedaço de carne, jogou o galho onde a carne estava espetada na fogueira e deitou no chão, fazendo os braços de apoiou para a cabeça.

— E você é mais estúpido do que eu imaginei — comentou brincalhão mastigando a carne, ela poderia ter um gosto mais comestível se fosse banhada em ervas.

Menma não deu resposta e por um segundo Sasuke pensou que o outro tinha ficado bravo, então, segundos depois ele pronunciou:

— Você tem algum objetivo? Tipo... Um sonho?

Maneou a cabeça pensando na pergunta. Um objetivo? Sasuke tinha um quando saiu do reino do Fogo, mas o havia perdido em algum momento durante a viajem. Pensar naquilo agora o trazia um sentimento incomodo de fracasso.

Não gostava de remoer aquilo, de certa maneira ele tinha tomado o caminho errado, não queria ter passado tanto tempo fora de casa, mas as circunstâncias em que se metera não tinham lhe oferecido muitas opções plausíveis. Desde que encontrou com Madara, ignorante e curioso por conhecer mais sobre tudo, Sasuke o tinha deixado convencer a entrar na Akatsuki do Oeste, com a promessa de que com aquele trabalho encontraria o assassino de sua mãe e rainha do Fogo.

— Tenho, mas acho que estou o perdendo — confessou. Deitando de lado para não machucar o braço ou o ferimento na cintura.

— Você não tem motivo para fazer o que faz?

O que eu faço?

— Todo mundo tem algum sonho que quer realizar e luta para que ele se torne realidade não importando o quão difícil ou longe pareça estar ― Menma continuou já que Sasuke não lhe deu resposta.

            Sasuke piscou tentando livrar-se das lembranças daquele dia fatídico. Todavia, não conseguiu e evitar lembrar dos gritos do lado de fora da carruagem naquela noite infeliz, do puxão que recebera no braço para sair da carruagem a força e da dor que sentiu ao cair dentro dos arbusto da floresta do Lume e então lembrou-se de...

            Não pense nisso agora.

— Você tem algum? ― inquiriu para tirar a atenção de si.

— Sim e vou realiza-lo custe o que custar — Menma falou. — Mas acho que vai demorar mais do que eu gostaria.

— O que você quer?

— Quero homens que lutem por mim.

O Uchiha franziu o cenho sem entender. — Para que quer um exército?

— Para pegar de volta o que é meu.

Sasuke não soube o que responder, foi uma resposta bastante aberta, não parecia que rapaz queria compartilhar totalmente o sonho com ele, então não insistiu.

Fechou os olhos e deixou-se enrolar pelo som do crepitar das chamas, pelo barulho das águas do riacho esbarrando contra rochas e pelo cantar de cigarras e grilos.

                                               ***

Naruto acordou mais tarde do que imaginava. A fogueira da noite passada não passada de um punhado de lenha enegrecida e cinzas e o sol estava alto e havia algumas nuvens no céu. Avistou o Uchiha estava sentado na beira do riacho tirando a túnica que o enrolava pela cintura. Piscou duas vezes e esfregou as mãos no rosto sonâmbulo.

Sasuke colocou a túnica de lado deixando as costas um pouco suja e aferida verde, por causa da pomada, à mostra. Os cabelos negros eram divertidos pelo vento e por algum motivo sentiu vontade topá-los, queria sentir a textura entre os dedos e...

Franziu a testa com os pensamentos e os afastou. Levantou-se pegando o manto que estava enrolado nos pés — havia-o feito de lençol.

— Quer ajuda para limpar isso ai? — perguntou se aproximando.

— Não, eu consigo limpar sozinho.

Assentiu com um bocejo. — Parece estar melhor. Vou procurar alguns coelhos e frutas.

— Certo.

Naruto deu as costas, pegou a espada no chão ao lado do lugar onde havia dormido e a prendeu nas costas, no lugar de costume. Entrou na floresta no mesmo ponto onde tinha pego o coelho da noite passada, provavelmente teria outros por ali também.

Devo estar ficando maluco de passar tanto tempo nesse mato com aquele rapaz, meus pensamentos são estranhos quando olho para ele.

Escutou um barulho à sua direita e parou interrompendo os pensamentos. Aproximou-se lentamente, tentando não pisar em uma folha ou galho secos. Ali havia um animal e provavelmente o que, futuramente, seria um bom almoço.

            Um crack soou debaixo de seu pé e logo em seguida barulhos de corrida.

            Merda!

            Correu em direção ao som, esperançoso de conseguir pegar o animal, desviou de árvores e galhos baixos prestes a degola-lo e continuou em frente. Então o barulho cessou. Naruto havia chegado em um tipo de campina, o mato chegava a sua cintura, uma vastidão verde clara contrastando com o azul do céu. O vento soprava calmamente brincando com seus cabelos e o manto. Era um lugar bonito.

                                                           ***

A ferida havia parado de latejar, Sasuke decidiu tirar a túnica que servia de bandagem e deixar que a ferida cicatriza-se naturalmente, assim como a do braço. Colocou os farrapos da túnica embrulhados no chão, despiu-se do manto, da calça e das botas e entrou no riacho.

            Quando os pés tocaram no solo do riacho sentiu a textura de pedras lisas, folhas e areia. Parou de andar assim que a água passou a cobrir seus cotovelos. Em certos momentos sentia o toque de galhos e folhas arrastados pela correnteza. Deixou que a água se encarrega-se de limpar sua feridas enquanto mergulhava e aproveitava a sensação de relaxamento que a água corrente trazia.

            O fato de Menma saber que era o segundo príncipe do Fogo trazia um certo incomodo. Algo entre desconforto, do rapaz saber algo sobre ele que poucos sabiam, e curiosidade, de saber mais sobre quem realmente era Menma. 

            Enquanto pensava um mar de pensamentos voltaram à sua mente e neles Menma era o centro e aquilo incomodava o Uchiha bastante. Às vezes ao vê-lo sentia uma vontade estranha de se aproximar mais, de tocar nele, e tal vontade aumentava conforme o tempo que passavam juntos.  A dois dias atrás começou a sentir as mãos suarem quando Menma o encarava, ou sorria de alguma piada que faziam nos momentos de descontração. Era um sentimento incomodo de certa forma.

            Um galho bateu em sua perna tirando-o dos pensamentos. Já estava ali dentro a muito tempo. Andou até a margem e saiu da água. Antes de vestir-se esperou um pouco para que o sol secasse o excesso de água em seu corpo. A ferida estava limpa da pomada e mostrava um aspecto avermelhado ao redor de onde a pele cicatrizava — úmida e com uma fina crosta vermelha escura. Não conseguia ver a do braço, mas esperava que estivesse tão boa quanto a da cintura.

            Estava amarrando as calças quando Menma chegou trazendo dois coelhos, segurados pelas orelhas em uma mão enquanto a outra apoiava um feixe de gravetos debaixo do braço. O observou enquanto colocava os corpos dos pequenos animais no chão ao lado de onde tinha dormido e jogava os gravetos no chão sem cuidado.

            Os olhos de ambos se cruzaram, o do Leste tinha um olhar determinado no rosto que acabou provocando um misto de ansiedade e tensão em Sasuke que abaixou, quebrando a troca de olhares, para pegar o manto que estava jogado no chão. Pedras eram esmagadas enquanto Menma caminhava. Quando Sasuke voltou a levantar a cabeça apenas sentiu o rapaz segurá-lo pela cintura, puxando-o ao encontro sem delicadeza, então outra mão segurou sua nuca e, antes que pudesse reagir, os lábios de Menma estavam sobre os seus, um toque quente e levemente úmido.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :p.
Beijos e até o próximo capítulo.
Gostaria de aproveitar e convidar você para lerem minha nova SasuNaruSasu, passa no século XIX e está cheio de aventura, ação e mistério, além de outros shippers e mais personagens ^^: https://fanfiction.com.br/historia/750728/Enamorei_a_Morte/



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