O Livro dos Sonhos escrita por IsabellaMaria02


Capítulo 27
Capítulo 27 - Lodovica, a garota-pantera, é mais assassina do que parece


Notas iniciais do capítulo

Oiii, povooo! Tudo bem? Eu estou BEEEM depressiva com esses capítulos (preparem o core :v), mas espero que gostem! Apesar dele ser um pouco UOU, ainda é um dos meus favoritos! Boa leitura :3

~ Isabella M.



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Pepe estranhou a pergunta. Martina às vezes o deixava nervoso, ele nunca entendeu direito o porquê, porém de qualquer forma aquela pergunta era bem estranha. A resposta era óbvia, pigarreando, ele respondeu:

— Ah... Porque você é minha Auxiliar. - Pepe explicou, afastando-se de Martina. - Mesmo que você seja chata de vez em quando, acho que é meu dever como herói te ajudar, quando você precisar também.

Ela cruzou os braços, desconfiada.

— Não há mais nenhum motivo? -Perguntou. Pepe revirou os olhos.
— Não, por qual outra razão seria, Martina? Eu criei Michelle, ela te enfeitiçou, você é minha Auxiliar. Eu te salvei. Foi o certo a se fazer. Mas, por que está fazendo essa pergunta? Tenho certeza de que você também faria o mesmo!

Martina mudou de expressão rapidamente. Antes ela parecia raivosa, como se fosse matá-lo, como se aquela briga resultasse em outra morte, também nada divertida. De repente, Martina pareceu se esquecer do motivo pelo qual estavam discutindo, parecia confusa, pensativa e preocupada com algo. Ela apenas assentiu e se afastou dele, encarando o chão, pisoteado por milhares de monstros há minutos atrás.

— É... Eu faria. -Respondeu. 
— Qual a curiosidade em saber disso? -Barroso repetiu a pergunta. Ele estava realmente curioso para saber o motivo da pergunta. Mesmo que já tivesse suas teorias sobre o assunto. Ela o ignorou, e Pepe se dando por vencido por ela não querer responder, a seguiu e os dois foram até a vítima novamente, em silêncio. Martina se irritou de novo por Pepe não conseguir ajudá-la direito, mas se forçou a permanecer calada.

O resto da tarde foi assim. Martina e Pepe, vagando por toda a extensão do Livro dos Sonhos, cuidando de machucados de pessoas inocentes, quase brigando. Ainda estavam irritados um com outro, e não falavam nada. Só trocavam olhares nervosos e discutiam com o olhar. "Não está fazendo isso certo!", Martina arregalava os olhos e movimentava os braços bruscamente. "Vamos falar sobre isso de novo?", Pepe bufava e estreitava os olhos. Às vezes ele fazia errado de propósito para irritá-la ainda mais. E, de vez em quando, o Herói da Geração se pegava rindo dela sem querer. - Vê-la nervosa ao seu extremo era engraçado, Martina se segurava para não estrangulá-lo. E sabendo que Martina não faria nada por Pepe ser um dos poucos heróis que, até agora, não havia sido manipulado, ela se obrigava a se controlar e não ter outros surtos de raiva. Nem sempre dava certo e ela gritava com ele. Pepe gargalhava da brincadeira de mal gosto que estava fazendo, e fazia referências idiotas e caretas, arrancando risadas e sorrisos dela, mesmo que ela não quisesse (Toda vez, Martina resmungava e segurava o riso. Não dava para ficar brava com Pepe por muito tempo, isso a deixava louca!).

O sol estava quase se pondo. Os dois voltaram para a torre, após terem ajudado o máximo de pessoas que conseguiram. Estavam cansados. Para ajudar algumas pessoas, tiveram que usar seus poderes e isso cansava um pouco. Caminharam o dia inteiro praticamente, correram de monstros, se esconderam de monstros... Pepe treinou um pouco de seus poderes, nada muito exagerado, eles estavam sem tempo para fazer qualquer coisa, para qualquer treino. Entretanto, nunca é demais treinar por mais cinco minutos, não é? Ele estava conseguindo controlá-los um pouco melhor.

Chegando de volta à torre, viram Diego rindo, não uma risada animada, mas uma risada irônica. Ele e Ruggero ainda estavam tentando consertar os estragos da prisão dos monstros. Sabiam que não daria certo, não sem o poder de Mercedes. Não sem ela ali. Ela era a única que tinha a chave, e ela havia feito Puff junto com a fadinha. Era lamentável ver a situação em que estavam, porém não tinha nada a se fazer. A única coisa a se fazer era... Aceitar que as coisas estavam péssimas, e tentar melhorá-las. Seguir em frente. Com uma prisão ou não, aqueles monstros precisavam ser detidos, Michelle precisava ser detida também. Todos ali eram a única solução para que tudo voltasse a ser o que era. O Livro dos Sonhos tinha que voltar ao normal. Ou tudo ficaria ainda pior.

Pepe preferiu não se intrometer naquilo, ou estragaria tudo ainda mais. Ele só piorava tudo, de acordo com Martina. E preferia não provar aquela suposição. Então, foi em direção da saída, que dava em uma estrada para o coração da floresta, sem dizer nada. Ele preferia ficar lá. Pepe se sentia melhor naquela floresta. Desde que não ficasse muito longe estaria tudo bem. E foi o que aconteceu. O Herói da Geração ficou apenas em frente à torre, quieto, pensando em tudo o que lhe havia acontecido.

Ele mal tinha chegado no Livro dos Sonhos e tudo passou por seus olhos.  E muito mais apareceria também. Monstros, mortes, guerras, machucados feios, poderes e heróis extremamente poderosos... Não podia negar, Pepe se sentia culpado por tudo. Michelle fora criada por ele, e tudo o que estava acontecendo era por culpa dela. Indiretamente era culpa dele.

Jorge Blanco, um dos poucos heróis que ele havia criado, fora manipulado, se apaixonado por Martina e os dois não poderiam ficar juntos por culpa de Pepe. Se a Pantera Negra Louca do Mal nunca tivesse sido criada, Jorge talvez nunca fosse manipulado. Ele não perderia a confiança de Martina e os dois não precisariam se afastar. Desde que o conhecera, Pepe viu o quanto ele gostava da Auxiliar e não estava sentindo-se nada heroico por destruir uma quase relação entre os dois. 

E ainda tinha Lodovica. Ela mostrou desde o começo ser corajosa, ser decidida. Ser uma Ladra de Batatas. Mostrou para Pepe, mesmo que quase nunca conversassem ou tivessem algum contato de verdade, o que era realmente necessário para ser um herói ou heroína de verdade. Era estranho, mas ele sentia isso nela, apenas ao olhá-la. Pepe viu em Lodovica a força, a coragem, a dedicação que um herói precisa ter. Não era simplesmente ir e salvar o mundo. Isso qualquer um pode fazer, qualquer um é capaz de ajudar ao outro. Mas um herói de verdade, como Lodovica vinha demonstrando aos poucos, mostrava valores preciosos. Ela não tinha medo de nada, não ajudava ninguém esperando algo em troca. A garota-pantera não se importava nem um pouco em ser totalmente sincera e verdadeira com Pepe ou com outros heróis. Ela tinha poderes que qualquer um sonhava em ter, e isso aparentemente não importava para ela. No fundo, o que realmente importava era como ela reagia em relação àquilo. "Se você quer ser um herói, seja um herói de verdade. Faça o que acha certo, não importa quem você é, ou que você tem. No futuro, o que vai realmente importar é em como você escreveu sua história.", a garota dissera uma vez em uma pequena conversa dos dois. Não durou nem dois minutos de conversa, porém foi a partir dela que Pepe começou a reparar no jeito em que ela via a coisa de ser uma heroína.

Obviamente ele se sentia ainda pior por ela. Praticamente todos ali sabiam que Lodovica tinha seus dias contados. Lodovica parecia não se importar com aquilo, parecia até tranquila com o assunto "morte escrita". Aquilo o fazia se sentir um grande idiota. Ela só tinha o destino "já escrito", porque Pepe o havia criado daquela forma. A futura morte de Lodovica era por culpa dele. De mais ninguém, de nenhum vilão, de nenhum herói, de nenhum guardião. Dele. E saber disso era pior do que qualquer manipulação e qualquer morte.

Pensar em tudo aquilo o estava deixando maluco!, Pepe preferiu parar de pensar tanto e ficar apenas observando a floresta, praticamente destruída por conta da fuga dos monstros. Ela acalmava, mesmo no estado em que estava. O garoto observou tudo com atenção, sem pensar em mais nada. Apenas vendo a beleza natural que o Livro dos Sonhos tinha. Em seguida, olhou para suas mãos, os personagens que havia criado. Heróis e Vilões Maiores. Alguns, juntos de Michelle, planejando a guerra. Outros, apenas ali, sem se mover, como se não quisessem ajudar nenhum dos dois lados. E o restante, tentando ser forte o suficiente para vencer os vilões.

Ouviu passos atrás dele e olhou para trás. Lodovica deu um sorrisinho.

— Você deveria tentar esfriar um pouco a cabeça. - Falou, sentando-se ao lado dele.

Pepe examinou seu olhar, sereno, tranquilo. Ela era muito bonita, não podia negar. O Herói da Geração nunca soube realmente que cor eram os olhos dela, eles mudavam de cor toda hora. De castanho escuro, para um verde bem claro, de vez em quando ficavam amarelados, após transformações que exigiam muitas mudanças em seu corpo. Às vezes, Lodovica parecia uma vampira, as características dos animais que ela se transformava sumiam aos poucos. Quando virava pantera, de vez em quando as presas de felino permaneciam, dependendo do tempo em que ela se transformava. De qualquer forma, ela ainda era bonita. Agora, seus cabelos estavam parecidos com as penas de falcão, o animal em que estava transformada há pouco tempo. Mas seus olhos estavam em um verde bem chamativo, extremamente claro. Seus dentes caninos estavam maiores do que deveriam ser. Pepe preferiu não ficar reparando muito naqueles detalhes, um pouco assustadores, e olhou para a floresta.

— Tem como ficar calmo em uma situação como essa? -A única coisa que ele conseguiu dizer. Ela riu, os dentes caninos aumentando mais um pouco. 
— Bem, se pressionar demais nunca é bom. 
— Não estou me pressionando! Tá, talvez só um pouco..., mas são os outros quem me pressionam mais. Eu não posso fazer nada. 
— E que tal não ligar para o que elas pensam? Acredite, essa técnica é bem útil! - Pepe riu. 
— É bom ver que deixei um legado de ironia e sarcasmo em todos os personagens que criei. -Ele ironizou. Ela riu.
— Você é corajoso. -Lodovica disse. - Sabe... Criar uma vilã e depois tentar detê-la, ha, ha! Bem coisa de louco mesmo.
— Não é tão divertido quanto parece, acredite! -Ele gargalhou.

A garota-pantera olhou para a Lua e olhou para ele novamente, quase com medo.

— Já está anoitecendo. Acho que você não vai querer ficar aqui comigo por muito mais tempo.
— E por que não? Qualquer lugar aqui é melhor do que lá dentro da torre. Vão começar a gritar comigo por não estar fazendo nada, e nenhum de nós quer outra discussão, quer?
— Está generalizando, mas eu sei que está falando de Martina. 
— Não estou falando só dela! Estou falando de todos. Todos lá dentro querem que eu consiga ser sério, e levar coisas a sério, como os treinos e toda essa bagunça de guerra. Mas, qual é, isso nunca vai acontecer! Nunca levo nada a sério. 
— Se não levasse, não estaria tão preocupado. -Retrucou. 

— Qualquer um se preocupa quando a palavra "guerra" está no assunto de uma conversa. Não sou uma exceção nisso.

Lodovica não respondeu. Olhou para o outro lado da floresta e ficou parada, sem mover um músculo, alerta. Pelo que Pepe pôde entender, ela estava escutando alguma coisa. Se apoiou em quatro e rosnou.

— É melhor você sair daqui se não quiser ficar traumatizado. -Sussurrou.
— Quê? -Perguntou ele, no mesmo tom que ela.

A garota apontou para a Lua com a cabeça.

— Anoiteceu. 
— E daí? -Ela revirou os olhos. 
— Você me criou, e não sabe nada sobre mim?! -Reclamou. - À noite eu sou pantera, à noite eu vivo como uma pantera. E panteras caçam à noite. 
— Tipo a Princesa Fiona? À noite ogra, de manhã garota? 
— É quase isso. Agora, saia daqui! 
— Mas eu quero ver!

Ela inclinou a cabeça, pelos começaram a nascer nas laterais de seu nariz, os dentes começaram a ficar ainda mais ameaçadores. E um rabo comprido começou a surgir. Ficou confusa, ignorando a coisa de estar se transformando. Parecia acostumada com aquilo. Lodovica fez uma careta.

— Quer me ver caçar? -Perguntou, estranhando o pedido. Logo os cabelos pretos começaram a se alongar, e se envolveram por todo o seu corpo. E, em pouco tempo, ela ficou coberta de pelos felinos. - Trabalho sozinha. Agora vaza, antes que eu perca meu jantar. 
— Eu vejo de longe! -Ele implorou. - Por favor, eu faço qualquer coisa para não voltar para lá!

Lodovica bufou. Voltou à posição em que estava, alerta e escutando cada passo de sua presa.

— Tudo bem, mas fique bem longe. -Sussurrou, ainda alerta. - Bem longe mesmo! 
— Você mal vai perceber minha presença. 
— Ótimo.

Ela, se transformando totalmente em pantera, mandou que Pepe fosse para perto de uma pegada feita por um gigante ao longe, e que ficasse lá, sem dizer um pio, sem respirar, sem se mexer. Logo, a garota começou sua caça noturna.

A muito metros de distância estava um cervo comendo da grama do Livro dos Sonhos. Ela, com precisão e astúcia, caminhou lentamente em direção ao animal. Conforme a garota caminhava, mais fome ela sentia, seus extintos de pantera aumentavam. A cada passo, Lodovica ficava cada vez menos humana, e mais como uma pantera. Com os ouvidos e olhos aguçados, foi aos poucos se abaixando e indo para mais perto do jantar. Dando um passo de cada vez, em um ritmo obtido com rapidez em pouco tempo, uma adaptação precisa em sua transformação de garota para felino, ela ficou em uma boa distância do cervo. Agora era hora de agir. A presa não podia vê-la, estava totalmente escuro agora, a única luz era a da Lua que brilhava como nunca, e refletia sua luz acima das folhas das árvores. Se preparando para dar o ataque, Lodovica se agachou na grama, e tomou um impulso e saltou para cima do animal, cravando suas garras nas costas do jantar. O cervo que comia tranquilamente, percebeu sua presença e quando tentou se defender, ou fazer qualquer outra coisa, era tarde demais. A pantera abocanhou seu pescoço e o pressionou cada vez mais forte. Seu jantar, mesmo lutando contra a morte, e se mexendo bruscamente, foi parando de lutar aos poucos. Sua força acabando, sua respiração parando, estava morto. Lodovica, então, com seu focinho cheio de sangue, começou a comer, arrancando a pele com os dentes, enormes e assustador, e engolindo junto da carne fresca do cervo. Como se aquilo sempre tivesse sido normal a ela.

Pepe correu até ela, com os olhos arregalados.

— Eu vou ter que dormir de luz acesa a partir de hoje. -Ela estava concentrada demais no jantar para prestar atenção nele. Engoliu mais um pedaço da barriga do cervo. Olhou para Pepe e o ignorou. Não era preciso ter uma boa visão noturna de pantera para reparar que ele estava com medo de se aproximar dela novamente.

"Caso você não saiba, sou uma pantera de verdade, agora. Eu não falo". Ela olhou para Pepe, porém logo se debruçou sobre o cervo e continuou comendo.

— Ah... -Pepe engoliu em seco. - Olha só, isso é muito estranho. Eu... Acabei de ouvir sua voz na minha mente?

Ela, como uma pantera, não demonstrou expressões faciais, mas se pudesse estaria fazendo uma careta bem feia. Entretanto, sua parte pantera falava mais forte à noite. E, com seu extinto animal, ela via a Pepe como "próximo na lista". Ele meio que estava correndo perigo.

"Você me criou. Temos ligações como 'personagem e autor'. Isso é tão comum entre a geração P.B.S que é incrível que você ainda não sabia disso!", a pantera falou. Pepe realmente escutava uma voz em sua mente. Seus poderes estavam sendo usados sem ele nem saber. O garoto não disse mais nada, apenas olhou assustado para ela.

"Relaxa, Pepe, eu não vou matar você! Isso seria canibalismo!", ela se deitou na grama, saboreando a carne. "Minha metade pantera está mais forte, porém ainda sou uma humana, Okay? CARA, eu vou vir caçar aqui mais vezes! Nunca vi carne mais macia!"

— Se você está dizendo, vou acreditar em você. -Pepe comentou, olhando para o animal morto. - Você não tem pena de caçar? Quero dizer, com sua metade humana. A metade pantera nem deve ter sentimentos, eu acho.

Lodovica rosnou, saboreando sua refeição cada vez mais.

"Como humana, me sinto a pior pessoa de todas. Sempre fui do tipo 'os animais merecem respeito!'", os olhos dela pareciam os de um gato gigante. Eram incríveis olhos verdes, como os de antes, mas agora não demonstravam nada. "Minha alimentação tem mudado radicalmente desde que me descobri meia-felino. De qualquer forma, eu ainda preciso comer, então..."

Ele assentiu. Ser humana e pantera ao mesmo provavelmente era uma coisa difícil. Se adaptar a dois tipos de mundo completamente diferentes um do outro provavelmente também deveria ser difícil. E Lodovica parecia aparentemente bem com a situação em que se encontrava. Ele preferiu não pensar muito em uma vida selvagem como a de Lodovica. Então apenas ficou observando ela comer. E tendo cada vez mais certeza de que não dormiria direito naquela noite. 

Alguns minutos se passaram, e ele escutou Martina o chamando.

— Pepe, Diego quer falar com a gente. 
— Ah, mas o cervo já está quase acabando! Deixe eu terminar de ver ela comer! -Pediu. Martina hesitou.
— Essa foi uma das frases mais estranhas que você disse. Deixe Lodovica aí, ela não vai voltar a ser uma garota tão cedo. Venha, é um assunto urgente.
— Argh, tudo bem. -Barroso se levantou e a olhou uma última vez. - Você é a heroína mais assustadoramente legal que eu já vi.

Ele sorriu, e foi até sua Auxiliar. Os dois entraram para a sala principal da torre e se sentaram em um dos sofás de lá. Logo, Pepe percebeu que uma garota estranha estava lá. Ela parecia nervosa e preocupada, como todos também estavam naquela sala. O que era bem compreensivo, já que faltavam heróis para deter Michelle. Só tinham três heróis que pareciam estar, praticamente, livres da coisa de não estar servindo à Michelle. Um Mago do Tempo, uma garota-pantera, e um ilustrador ex-vilão. A visão poderia até ser relativa, mas na opinião de Pepe, talvez eles não conseguissem ser a solução para todos os problemas. E isso era o que mais o preocupava desde sempre: não ser bom o suficiente para ajudar o Livro dos Sonhos.

 Diego estava lendo um papel qualquer, parecia ser uma carta. Todos esperavam em silêncio para que ele começasse a falar. A cada segundo, o Guardião conseguia ficar com uma expressão ainda mais indecifrável. Aquilo estava começando a assustar Pepe. Os dois minutos que Dominguez lia o papel, pareciam horas. Muitas horas. Aquele silêncio era angustiante, ele queria logo ouvir o que tinha para ouvir e depois voltar a ver Lodovica devorar um cervo. (Pepe nunca fez sentido). 

O Guardião baixou a carta e olhou para todos. Não sabia exatamente o que dizer, ou como dizer, mas ele precisava. 

— Ah... Vamos começar com as apresentações! -Ele apontou para a garota que estava lá e ela começou a falar, não muito animada.

— Bom, não podemos perder muito tempo com isso. -Ela esfregou os olhos. Pepe reparou que tinha olheiras e machucados no rosto, como Mercedes, quando a fadinha era insultada. Provavelmente a garota, de uma voz tão irritante quanto a Consciência de Pepe, fora insultada também. Provavelmente também estava fraca. O Herói da Geração começou a prestar mais atenção no que ela dizia: - Sou Alba Rico Navarro, uma Fada do Norte, a última fada que não está no lado inimigo. Consegui me salvar da perseguição dos monstros... Antes de toda essa confusão, eu poderia ser chamada de representante de Mercedes. Alguns diziam que éramos melhores amigas, mas não sei dizer ao certo esse fato. A questão é que com sua ida, sou uma quase substituta para o caso da prisão dos monstros. Tenho uma outra chave para o cadeado, porém não tenho poder suficiente para isso. Foi por isso que Diego os chamou aqui. Temos contas a resolver. 

Pepe mordeu a língua para não dar um apelido idiota àquela fada também. Ele tinha certeza de que seria visto como "bobo", como sempre. E mesmo que fosse, ele sabia que às vezes a zoeira tinha que ser guardada para depois. Preferiu não dizer nada e continuar quieto, no canto dele. Estava evitando ao máximo outras confusões por motivos sem importância. - Diego estalou os dedos e segurou a carta novamente. Sem olhar para ninguém, ele começou a lê-la.

"Essa carta é aos Heróis do Livro dos Sonhos,

Desde minha ida ao hospital, muitas coisas têm acontecido ao Lado Negro da Força. E eu presenciei de tudo aqui. Como já havia ocorrido antes, fui enfeitiçado para servir à Michelle. Nesse meio tempo, o feitiço foi desfeito pelo cara mais engraçado e bem-humorado de todos, Pepe Barroso Silva, novo Herói da Geração. Meus sentidos voltaram ao normal, contudo é óbvio que ainda há meios de me fazer permanecer onde estou, por obrigado. 

Eu não vim pedir perdão a ninguém, estou fazendo isso por escolha própria. Só quero mantê-los avisados de que a pantera está cada vez mais poderosa, e cada vez mais ambiciosa. O que quer dizer que vocês, heróis, precisam ter a mente concentrada naquela batalha, que está cada vez mais próxima. Digo isso porque há pouco tempo fui mandado para o Portal de Entrada e Saída da Realidade. Milhares de fadas estavam lá, no estado máximo de manipulação, o que, graças a Pepe, nunca estive, por um triz. Michelle controlava cada movimento e pensamento delas. Eram como um enorme exército de zumbis. Todas usavam seus poderes máximos, sem poder ver nada da maneira que realmente é, a magia de ilusão dos monstros têm ficado absurdamente mais poderosas também. 

E então, Michelle se aproximou de mim, eu era o único ali que não estava controlado depois dela. Ela não me atacou, não me enfeitiçou. Apenas olhou em meus olhos e disse: '... Não se sinta mal por tudo isso, Precioso. Chegou a hora de todos aqui tirarem suas máscaras.' E então eu presenciei àquilo. Um brilho ainda maior do que o Livro dos Sonhos emite, o maior centro de poder do livro. O que Michelle sempre sonhou em encontrar, as fadas conseguiram achá-la. Todas elas conseguiram. Enterrada na terra, estava a flor. A rosa mais rara de todo o mundo, um azul marinho tão escuro que a chamamos de preta. Sinto em dizer, é oficial: Michelle encontrou a última Rosa Negra. Amanhã de manhã, ela vai adquirir seu poder máximo. Não posso ser o herói que eu sempre quis, mas todos vocês podem. Eu acredito em vocês.

De seu antigo Herói da Geração, Jorge Blanco."

Lodovica já havia acabado de fazer sua refeição noturna quando começou a chover. Se estivesse sendo humana, teria se preocupado em ficar debaixo de alguma árvore, ou qualquer proteção. Porém como pantera, isso era completamente irrelevante. Se levantou do chão e foi até seu lago. Bebeu água, como costumava fazer quando comia algo, mesmo humana. Sua audição aguçada fez com que ela escutasse algo. O almoço do dia seguinte, talvez. Seguindo o mesmo ritual da última caça, ela caminhou até os barulhos que escutava, e com rapidez tomou impulso para capturar a presa. 

Seus sentidos humanos voltaram a aparecer normalmente. Eles tomaram conta da pantera. Ela voltou a raciocinar, mesmo que ainda não pudesse falar nada. Apenas observou os olhos de Jorge Blanco, verdes como os dela, assustados e surpresos como os dela. Ele deu um meio sorriso e logo o desmanchou.

— Lodovica! -Ele disse, as gotas da chuva caindo em seu rosto, a garota-pantera com todo o peso de suas patas em cima dele. Jorge não se importava com aquilo: ela estava ali! Lodovica, sua irmãzinha revoltada, o havia encontrado. Ele tinha certeza, e fazia questão, de que o encontro não fosse por acaso: - Eu nunca tinha te visto em sua forma totalmente pantera, é muito linda.

Jorge sorriu, estava feliz e encharcado. Lodovica saiu de cima dele aos poucos, e se sentou. Sabia que o Harry Potter Falso não iria fugir. Ele se sentou no chão, a observando maravilhado. Em outras ocasiões, sentiria medo. Mas agora só sentia alegria por vê-la ali. Moveu suas mãos lentamente para perto dela, com receio. Devagar, ele tocou os pelos de sua cabeça. Ela ficou imóvel, não o atacou. Era a forma de dizer a ele que se, mesmo que não quisesse, ela se importava um pouco com ele. "Estou te mantando vivo, isso já é um grande passo entre nós, Jorge", ela falou na mente dele, como havia feito com Pepe. Mais do que Lodovica e Pepe, como autor e personagem, Jorge e Lodovica tinham uma ligação ainda maior. Eles eram irmãos. 

— Ah, eu agradeço muito! Como o Pepperoni disse, estar vivo é bem divertido! -Ele alargou ainda mais o sorriso. Jorge estava muito emocionado ao ver sua irmã ali. Vê-la pela última vez. A acariciou, e a pantera pareceu gostar do carinho. Se fosse uma gata, teria ronronado. - Lodo...

Ele deixou que lágrimas caíssem. Mesmo com a chuva, Lodovica viu que ele estava chorando. Jorge respirou fundo. 

— Me desculpa, por tudo! Você é uma garota incrivelmente independente, como humana e pantera! Eu errei em tentar te proteger. -Lodovica balançou o rabo no chão, enquanto Jorge continuava acariciando-a. - Eu nunca fui o herói que você merece, e sinto muito por ser o vilão que você não merece. Eu só... Não consigo pensar em te perder. Você é minha única família. 

Mais lágrimas caíram. Lodovica estava impossibilitada de demonstrar emoções. Entretanto, Jorge sabia que ela estava mostrando suas emoções com os olhos. Os olhos dela sempre diziam tudo. Com as mãos trêmulas, ele continuou.

— Eu te decepcionei, Lodovica. Mas Michelle prometeu que não faria nenhum mal a você se eu fizesse o que ela pedia. Eu não quero fazer isso, não quero! Mas é por você! - Ele parou de acariciá-la, e a abraçou. Envolveu seu pescoço enorme em seus braços e afundou seu rosto nos pelos negros dela. - Amanhã de manhã, eu vou acionar o poder da Rosa Negra, os monstros, as fadas enfeitiçadas... Todos vão ceder seus poderes à Michelle. Ela vai ter o controle do Livro dos Sonhos.

Lodovica rosnou. O que queria dizer que ela começou a ficar surpresa, junto dele. 

— Por favor, me perdoa! -Ele pediu. - Mas eu prometi a mim mesmo que se pudesse impedir sua morte, eu impediria. E é o que estou fazendo. Eu não posso perder você! Eu... Eu te amo, Lodovica! Você é única por quem eu sou capaz de fazer qualquer loucura para proteger! 

Ele a abraçou ainda mais fortemente. Os sentidos humanos de Lodovica estavam a mil. Ela estava confusa. Ela confiava nele. 

Os dois ficaram ali, na chuva, abraçados. Uma coisa que nunca se passou. Os dois nunca tinham se abraçado. Aquilo significava muito para os dois. E nada mais importava. Não importava o lado em que estavam, quem eram, o que tinham feito de errado. O que importava agora era que eles estavam ali, juntos. Como irmãos. Foi aí que Lodovica realmente percebeu: Jorge Blanco era digno de ser chamado de irmão. 


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Notas finais do capítulo

Só quero dizer que AMEI escrever essa cena da Lodo e Jorge, e quero dizer que ainda vai rolar muuuuita, com tudo e com todos! O próximo capítulo e o outro (28 e 29), vão ser os que eu mais me esforcei para escrever! Eu realmente espero que tenham gostado da história até aqui, porque, a partir do próximo vocês vão começar a ter surtos de surpresa huehue :V O que acharam o capítulo? Deixem a opinião de vocês nos comentários! U.U

~ Isabella M.



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