Para piorar a situação, ninguém disse mais nada depois de Jorge "sentir muito" pelo ocorrido. Martina o observou com muita mágoa ou raiva; em minutos atrás ela disse que confiava nele. E agora, ela já não sabia o que dizer, não sabia o que pensar. Pepe se sentiu um pouco mal por tê-lo tratado daquele jeito, afinal, Pepe o havia criado. Criado Jorge para ser um vilão, mas Jorge também tinha escolhido ser um herói. E foi por esse motivo que Pepe, mesmo sem saber, havia desenhado a varinha quebrada, e desfeito o feitiço de Michelle. E, mesmo assim, Pepe tinha tratado Jorge, um de seus personagens mais poderosos, como um vilão. Isso fez ele se sentir péssimo por dentro, mesmo que por fora estivesse com muita raiva. - Mesmo que Jorge fosse um herói, e escolhido ser um, ele não estava agindo como um herói naquele momento. Lodovica preferiu não se intrometer naquele assunto. Ela sabia que Jorge não era de confiança, e agora mais do que nunca estava bem claro que ele não merecia ser um herói de verdade. Muito menos ser tratado como um. 

Ver todos com raiva e decepcionados, fez o próprio Jorge se sentir ainda pior. Ele só não havia contado nada porque sabia que seria tratado de forma ainda pior, e agora tudo estava péssimo.

Martina se aproximou de Jorge, olhando no fundo de seus olhos. Era possível ver a decepção dela, e isso só fazia com que ele se sentisse ainda mais culpado. Ela em tentativa de dizer alguma coisa para ele, desviou o olhar para a varinha que estava em suas mãos. Em seguida, com a voz mais firme que conseguia, ela voltou a olhar para seu rosto e falou:

— Você está expulso da Associação de Heróis. - Ouvir àquilo foi pior do que ser manipulado por uma vilã, pela segunda vez. Ele não conseguiu responder nada, apenas assentiu e baixou o olhar para suas mãos. - Vamos. -Ela disse para os outros. 

Todos a seguiram, em silêncio. O clima estava totalmente tenso. Todos tinham realmente acreditado que Jorge Blanco não era mais um vilão. Às vezes, não é necessário poderes para fazer ilusões. Antes que eles fossem, Jorge segurou o braço de Lodovica. 

— Lodo... - Ele não disse mais nada, seu olhar já dizia tudo. Ele pedia para que ela desse outra chance a ele, que ela o perdoasse. Apenas com o olhar.

Ela deu um risada irônica, e virou-se para ele.

— Sabe, Jorge Blanco, sinceramente: você só é meu irmão no título. Só é da minha família porque fomos criados pela mesma pessoa, nem ao menos na realidade nos conhecemos! Mas aqui -Ela apontou para suas veias no braço-, e nem aqui -apontou para seu coração-, você é o irmão. Você não é, e nem nunca será o meu irmão de verdade. Nunca será da minha família.

Ela seguiu os outros, ignorando todas as chamadas de Jorge. Lodovica o ignorou completamente. E no pior momento para Michelle falar em sua mente, ela falou:

"Não se preocupe, Precioso. Você só está cumprindo seu destino. Acredite, o melhor a se fazer agora, é aceitar. Você nunca foi um herói."

Todo o caminho foi silencioso. Pepe ainda estava tentando controlar a coisa de ver através das ilusões. Por toda a parte, ele via monstros, aliados de Michelle, e associados da P.B.S. Era incrível que os heróis de verdade eram poucos. Sempre eram poucos. Não haviam lamentos, mas todos sabiam que no fundo estavam péssimos por terem acordado da realidade daquela forma. Ruggero foi o único que pareceu forte o suficiente para não demonstrar reações. Todos os outros estavam sentindo a tristeza de alguma forma. Pepe, estava com muita raiva, sentindo toda a traição de Jorge. Lodovica, estava indiferente, Jorge nunca importou de qualquer forma. E, Martina, estava tentando se manter forte. Mas já era a segunda vez que isso acontecia. E de novo, ela estava segurando o choro.

O Mago Implacável levou todos para uma área isolada do Livro, onde não havia absolutamente nada. Uma área para treinamento de heróis, onde não havia nenhum tipo de distrações. Ele pediu para que todos se concentrassem no treino, porque tinham que dar o melhor deles, querendo ou não. Todos concordaram, apenas porque queriam esquecer toda o situação de Jorge. 

— Muito bem, ahn, Lodovica. - Ele começou. - Você será a primeira. 

Ela se levantou do chão, e cruzou os braços, resmungando alguma coisa. Ruggero sorriu e fez surgir um cronômetro no ar.

— Em que tipos de animais pode se transformar?
— Qualquer um que eu quiser. -Respondeu, sem muitas emoções. 

— Ótimo. Vamos ver. Eu vou falar um animal, e você vai virar esse animal. 

Ela revirou os olhos e se afastou um pouco. Pepe começou a prestar atenção nela. Se transformar em animais era uma habilidade que, provavelmente, todos gostariam de ter. Ligando o cronômetro, Ruggero começou.

— Você tem 0,5 segundos para se transformar. 

— Ah, claro! Porque agora sou o Flash! 
— As referências... -Pepe riu. - Como elas são incríveis! 

Ruggero respirou fundo e começou a falar, e em todos os animais, ela se transformava muito rapidamente. Lodovica conseguia se transformar quando quisesse. A única coisa que ela não tinha total controle, eram os sentimentos. Isso sempre atrapalhava, quando estava com raiva, sem querer se transformava em uma leoa. Quando estava cansada, em uma tartaruga. As emoções eram sua única fraqueza. A pantera do bem, se é que podemos assim dizer, se transformava em certo animais mais rápidos do que outros. Porém, de todas as formas, era bem rápida. 

— Um lobo. -Ele disse por fim. 

E foi isso o que aconteceu. Em pouquíssimo tempo, ela virou um dos personagens-animais que Pepe já havia desenhado algum dia. Lodovica agora era um lobo preto. Todo animal em que ela se transformava sempre eram negros, por suas próprias características. Lodovica tinha um cabelo preto que mostrava sua personalidade forte. No Livro dos Sonhos, seus olhos eram verdes, como os de Jorge. Fora do Livro dos Sonhos, eram cor-de-mel, às vezes pareciam até castanhos. A cada transformação, os olhos dela mudavam de cor. E agora, como um lobo, os olhos dela se destacavam totalmente, em um verde bem claro, por conta do pelo preto. Pepe ficou impressionado, lobos realmente era muito bonitos, ele sempre gostou de lobos. E ver um bem na sua frente, era incrível. 

— UOU. -Ele disse, boquiaberto. - Lodovica... 

— Se você disser que estou "gata" na minha forma de lobo, eu vou te atacar. -Avisou. 

Ele gargalhou e levantou as mãos. "Tudo bem, não está mais aqui quem falou". Ela se sentou, e lambeu o focinho. 

— Posso voltar ao normal agora, Pasquarelli? 
— Sim, mas seu treinamento ainda não acabou. 

Ela, em um grande Puff, voltou a ser uma garota normal. Um pouco revoltada, mas ainda sim, normal. Sem vestígios de nenhum animal interior. A não ser, é claro, panteras. Ruggero, então, parou o cronômetro. E observando bem a área, sorriu mais ainda.

— Vamos ver o quanto você é rápida. 

Enquanto Lodovica se preparava para o outro exercício de treinamento, Pepe sentou-se ao lado de Martina. Ela não disse uma palavra depois de expulsar Jorge da Associação de Heróis Maiores. O olhar dela estava distante, sua mente também. E ele estava disposto a arrancar pelo menos um sorrisinho dela. 

— Não vai treinar? -Perguntou, vendo ela voltar para realidade. Martina deu de ombros.
— Sou só uma auxiliar. -Ela olhou para Pepe. - Eu não participo de batalhas. Não preciso treinar. 
— Mas você também tem poderes. 

— Meus poderes são totalmente inúteis em situações como a que estamos lidando agora. Não preciso treinar. - Repetiu. 

Pepe olhou na direção que ela olhava. Não havia nada para olhar. Observando o rosto dela de novo, Barroso deu um breve sorriso, um tanto desanimado. 

— Me desculpa.

— Desculpa? -Ela perguntou, curiosa, olhando nos olhos dele. 

— É, eu... Não devia ter dito nada sobre Jorge daquela maneira. Você não deveria ter... Descoberto daquela maneira. Sei que Jorge é importante para você. Você é a Dina Weasley Falsa daquele Harry Potter Falso. 

Em outras ocasiões, ela teria socado Pepe. E agora ela não tinha força de vontade o suficiente para se irritar. Baixou a cabeça, e encarou o chão. 

— Desde... -Ela começou a dizer, olhando para suas mãos, não querendo olhá-lo no olhos. - Desde que me tornei Auxiliar, sempre prometi para mim mesma que seria forte, não importava a situação ou o problema, eu teria calma, e resolveria tudo. Eu não comecei sendo...
— Conselheira do Guardião, e blá-blá-blá. -Eles riram. 
— É. Tudo o que sou agora... Eu conquistei. Tudo o que tenho aqui foi porque eu lutei para conseguir. E eu sempre pensei que... Eu era forte. E que eu seria forte em qualquer situação. 

Pepe levantou as sobrancelhas. Começou a ouvir com mais atenção. Martina era realmente dedicada ao Livro dos Sonhos, e suas funções nele. 

— Aí... -Ela respirou fundo. - Jorge Blanco resolveu aparecer. Muitas vezes eu me fiz de forte. Prometi para mim mesma que não... 
— Se apaixonaria por ele? 

Ela assentiu, observando a expressão de Pepe. Ele estava como Ruggero agora, sem nenhuma reação específica. 

— Sim. E foi só quando Lodovica apareceu que... Eu vi que Jorge Blanco era importante para mim. E só quando Michelle o enfeitiçou eu realmente me toquei de que... - Ela parou de falar por uns segundos. Talvez fosse difícil para ela dizer tudo aquilo. Para qualquer pessoa que fosse, inclusive Pepe. - Não sou forte o suficiente para isso. Não para perdê-lo de novo. 

Pepe se surpreendeu com aquelas palavras. Na verdade, Martina o surpreendia cada vez mais. E agora, vendo o quanto ela não era tão chata quanto ele pensava, e que ela também tinha sentimentos, ele se arrependeu por julgá-la da forma que julgou. Para ele, antes Martina era daquelas que eram insuportáveis com qualquer coisa. Como uma verdadeira Hermione Granger. De repente sentiu uma vontade enorme de abraçá-la. Mas se conteve. Ele só conseguiu responder uma única coisa:

— Você conquistou tudo o que têm agora, você é super inteligente,  e extremamente poderosa, qual é!, você consegue controlar qualquer poder que quiser. Você luta com monstros e sabe tudo sobre qualquer coisa desse livro. Você faz qualquer herói daqui parecer um grande nada! Você é forte, sim, Martina. E é muito corajosa também. Já conseguiu lidar com a situação uma vez, e vai conseguir de novo. Eu sei disso. E tudo o que eu disse agora, tenho certeza de que a Elsa Maligna também sabe. 

Ela quase sorriu. Quase. Quando Pepe se levantou para se preparar para treinar também, ela o chamou. 

— Pepe. -Ele olhou para ela. - Obrigada. Suas referências idiotas às vezes fazem eu me sentir melhor. 

Ele sorriu. 

— É o que fazem os amigos. Zoeira a cada segundo.

Ele foi em direção de Ruggero, para treinar. Arrancando um sorrisinho bobo dela, sem querer. Missão cumprida.

Lodovica estava agora em uma quase estrada de corrida. Parecia uma, mas não era. Porém, não quer dizer que não poderia ser usada como uma. Agora, o que ela teria que fazer era: correr e se transformar enquanto corre. Não era nada tão difícil, era até bem fácil. Lodovica já tinha feito isso antes. Estalando o dedos, e apoiando suas mãos no chão, estilo atletas profissionais, ela deu um sorriso desafiador. 

— Estou pronta. 

O Mago Implacável usou seus poderes e, no fim da "pista de corrida", fez com que aparecesse alguma lembrança de Lodovica sobre Michelle. Bem parecido com uma ilusão, mas não exatamente uma. Ela teria que atacar a pantera do mal. Recomeçou o cronômetro e ela saiu em disparada. Mesmo humana, Lodovica corria na velocidade de uma pantera. E ela parecia não cansar tão facilmente. Olhando de longe, ela parecia gostar de usar os poderes que tinha. Pelo menos para Pepe parecia assim. Em alguns metros longe dos heróis, Lodovica usou seu poder de Filha de Tayla e se transformou em uma pantera. E correu ainda mais rápido. E quando tomou impulso para pular em cima de Michelle, a Pantera Negra Louca do Mal foi atingida por outro poder: Fogo. Ela virou cinzas. Lodovica caiu no chão com toda a força, e involuntariamente voltou a sua forma humana, gritou de dor. 

— Quem foi o idiota que... -Ela se levantou e olhou para ver de onde tinha vindo o poder. Era seu "irmão". Jorge Blanco, decidido a não desistir de salvar as pessoas, ao invés de matá-las. Ele segurou a irmã pelo braço, tocando na grama no chão. Usando seus poderes de Terra, fez Puff  e apareceu junto dos outros Heróis da Geração. Um teletransporte da terra. Bem útil.

— Ai, me larga, Jorge Blanco! -Lodoica gritou, se soltando brutalmente. - O que você está fazendo aqui?! Você foi expulso do grupo!
— Sei disso. -Ele olhou para todos. - Olhem, eu deveria ter contado eu sei. Eu... Só não consegui. Mas acreditem em mim!, eu não quero ser vilão outra vez, eu não VOU ser o vilão outra vez. Preciso que confiem em mim, só dessa vez. 

Martina voltou a ter raiva.

— Jorge Blanco, saia daqui! -Mandou. - Essa área é apenas para H-E-R-Ó-I-S! 

Ele parecia ter se recuperado do drama. Estava pronto para dar muitos argumentos. Ao invés disso, ele fez o mesmo Puff, agora com Martina. Eles foram para o outro lado daquela arena de treinamento. 

— Argh, Jorge, me leva de volta! Eu tenho que treinar.

— Daqui ninguém sai, até você me ouvir!

— A lei número 1 da Associação de Heróis Maiores diz que nem um herói, nem uma auxiliar, pode ter contato com um vilão fora da arena de combate. Me leva de volta, AGORA! 

Ele riu.

— Você é bem teimosa, não? 
— Talvez, mas não importa agora! Anda. Faz esse... Puff logo e me leva até os outros heróis.

— Não até você ouvir o que tenho para dizer. 

— Tudo bem, então eu mesma vou! 

Ela deu as costas e, dois passos depois, Jorge disse:

— Eu tentei contar, eu juro! -Falou, com lágrimas nos olhos. - Mas... Eu sabia que se contasse, ninguém confiaria mais em mim. 
— Ah, nossa, que contraditório! -Ela falou, revirando os olhos.
— Se... Ao menos eu puder mostrar que eu ainda posso ser o mesmo Jorge Blanco que você conheceu... 

Ela estreitou os olhos, aproximando-se dele, ela começou a ter outro surto de raiva.

— O MESMO JORGE BLANCO QUE EU CONHECI? -Gritou. - AQUELE JORGE BLANCO NÃO VAI MAIS EXISTIR! Aquele Jorge Blanco é do passado! Você nunca mais vai ser igual a ele! Eu... Eu confiei em você!, e olha como você me retribui! Se unindo àquela pantera DE NOVO!
— EU NÃO ME UNI A ELA!

— Mas você vai! -Ela continuou, sem diminuir o tom da voz. - Porque ela está controlando sua mente! 

Lágrimas começaram a sair, Martina não as limpou. Deixou que escorressem, estava concentrada de mais em gritar com ele. Jorge deu um passo à frente, talvez aquele fosse o último momento que ele teria com ela. Porque se continuasse do jeito que estava, ela iria matá-lo.

— Daqui a pouco... Você vai ter mais surtos de raiva, e vai começar a matar pessoas, e... Vai me ignorar! Ignorar todos os meus avisos, eu... Eu não vou ligar nem um pouco para você! Porque... Desde o começo eu falei para você não ir atrás dela, eu falei para você! Toda a confiança que eu tinha em você... Ela acabou. Acabou totalmente! Eu... Vá embora Jorge Blanco, você nunca mais pisar em qualquer área de heróis, entendeu bem? E se eu escutar que você tentou entrar em contato com qualquer pessoa que tenha a ver com o lado do bem, eu vou MATAR você, porque eu... EU ODEIO VOCÊ!  

Jorge a beijou. Ele não soube exatamente o porquê. Só o fez. Eles estavam bem próximos antes disso, e ele meio que se aproveitou. Martina tentou se afastar. Mas não conseguiu. Ela não queria se afastar, ela não queria que Jorge Blanco fosse um vilão. Não queria expulsá-lo. Não queria que nada do que aconteceu tivesse acontecido. Mais lagrimas escorreram, totalmente descontroladas agora. Ela não deixou que o momento durasse por muito tempo. Não podia deixar. Jorge ainda era um vilão. E, como Auxiliar e Conselheira do Guardião, Martina precisava cumprir todas as regras, mais do que nunca. 

— Vá embora, e nunca mais volte. -Mandou. 
— Martina...
— Eu não quero mais ouvir falar de você! 

Ele assentiu, antes de ir, a Auxiliar abriu uma das mãos, ainda olhando para ele. 

 - A varinha. 

Jorge a entregou. Nunca quis usá-la de qualquer jeito. Porém agora, ele estava sozinho na jogada. Porque de forma alguma, ele deixaria que fosse manipulado de novo. Ele nunca mais poderia vê-la novamente. Jorge Blanco estava proibido de ser um herói. Ele tinha estragado tudo. De novo.