I Can Feel escrita por Cihh


Capítulo 9
Capítulo 9 - Toque a Chuva




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Saia e toque a chuva

Onde rosas acertam o chão

Saia e toque a chuva

Você tem que perseguir a tempestade

    (Touch The Rain)

 

POV Thomas

Dois dias se passaram desde que Isadora disse que sairia comigo se eu me resolvesse com Vanessa. E dois dias se passaram desde que eu resolvi as coisas com Vanessa. Pelo menos eu espero que tenha resolvido, nunca sei o que esperar dessa maluca.

Hoje, quinta feira, o mundo está literalmente acabando. A semana inteira o tempo esteve nublado e o céu, repleto de nuvens. E especialmente hoje a chuva resolveu cair mais cedo e mais forte que nos outros dias. Alex, sentado na carteira ao meu lado, olha intensamente para a janela, provavelmente esperando para ver quando o céu vai começar a desabar sobre nossas lindas cabeças. Bato os dedos impacientemente sobre a madeira da minha mesa, ignorando completamente o professor de biologia em pé em frente a lousa. Nessa escola existem somente duas salas de segundo ano, e o critério de separação dos alunos é de acordo com a nota de cada um. Marcos, Isadora e Evey estão na sala A, a dos nerds que tem média alta (não me pergunte a razão de Evey estar nela, eu também não sei. Será que a nota de educação física conta?). Eu, Alex e Nath estamos na sala B. Não que eu seja burro, longe disso (pelo menos não tão burro quanto Alex). Mas eu apenas não me esforço muito. Eu tenho que trabalhar para ajudar minha mãe com as contas, não posso me dar ao luxo de perder meu tempo estudando. E caso você esteja se perguntando como diabos eu estudo nessa escola de riquinhos mimados para caralho, saiba que logicamente é meu pai quem paga a mensalidade. Não por minha escolha, mas ele decidiu que tinha que pagar alguma coisa na minha vida. Não gosto de depender dele para nada, mas não tinha como eu mesmo bancar essa escola. E como essa cidade é relativamente pequena, não tinha muitas outras opções de escolas boas para eu me matricular.

Enquanto eu divago sobre minha questão financeira e o fato de ser um absurdo eu estar no mesmo patamar que Alex no quesito notas escolares, a luz da sala e dos corredores se apaga. Todos já esperavam por isso. A sala fica quieta (e escura) durante alguns instantes enquanto o professor sai da sala, até que, falando mais alto que o som dos trovões e da chuva forte caindo lá fora, o professor entra e diz que todo mundo está liberado. A luz acabou e não dá para ter aula desse jeito. Puxa, que pena. Troco um toquinho com Alex e jogo minhas coisas na mochila. Todo mundo sai da sala ao mesmo tempo, e nos encontramos com os nerds do A no pátio, que está apenas um pouco mais iluminado pelas aberturas nas laterais. Evey está, por alguma razão, extremamente molhada, com os cabelos ruivos pingando e com cara de brava. Isadora não está em nenhum lugar visível. Uma coisa que anda me incomodando muito nos últimos tempos é: Mateus está andando muito mais com a gente do que eu gostaria. Aparentemente, eu sou o único que se incomoda com esse fato. Quer dizer, Evey e Isadora estão andando mais com a gente, então faz sentido que ele fique conosco também. Mas isso ainda me incomoda. E ele está aqui agora, jogando um jogo portátil, sentado na mesa e com os pés apoiados no banco. Ele está com os óculos que costumava usar antes das férias, que o deixa com mais cara de nerd ainda. Ele olha para mim com o ar reprovador de sempre.

—Onde está Isadora? –Pergunto, tentando ignorar Mateus. Evey torce o cabelo molhado e Alex lhe entrega uma camisa xadrez para secá-los.

—Não sei. Achei que ela já tinha descido. –Ela troca um olhar nervoso com Mateus, que dá de ombros, aparentando não saber de nada.

—Gente, vocês conseguem ir para casa? –Pergunta Marcos, sempre se preocupando com todos.

—Eu não. –Evey diz, levantando a mão. Nath concorda com ela.

—Aposto que acabou a luz na maioria das casas também. Por que nós não vamos todos pra casa de alguém? –Alex sugere, procurando alguma coisa dentro da mochila. Todos parecem concordar.

—De quem é a casa maior? –Nath pergunta. -Alex? Não, Marcos?

—Provavelmente a de Isa. –Diz Mateus. –E deve ter luz lá também.

—Hum... É verdade. É um tanto afastado da escola. Acho que a gente pode ir pra lá. Mas seria bom se ela estivesse aqui pra gente perguntar. –Evey faz graça.

—Eu não vou poder ir. Tenho uns negócios para resolver em casa. Falando nisso... –Mateus pega o celular, checando as horas. –Vou indo nessa galera.

Ele joga a mochila sobre os ombros e sai correndo em plena chuva, e entra em um carro prata que para em frente a ele. Dou de ombros, secretamente satisfeito por ele ter ido embora.

—Vou procurar Isadora. –Declaro e saio de perto deles, tentar enxergar o pátio. Subo as escadas com cuidado... Onde será que ela está? Paro quando vejo um bolinho escurecido na escada. Um bolinho que poderia muito bem se tratar de uma pessoa imóvel, agachada e abraçando os joelhos. Me ajoelho em frente à Isadora, que parece estar tremendo. Ela está vestindo a saia do colégio e uma blusa preta fina. Será que está com frio? Envolvo-a com meus braços, tentando fazê-la parar de tremer. Fico surpreso quando sinto os braços dela passarem pelo meu quadril.

—Ei, você está bem? –Pergunto, ainda surpreso. Essa garota passou vários dias agindo bem friamente perto de mim, o que partiu meu coração.

Ajudo-a a se levantar e coloco minha blusa sobre seus ombros. Vejo que seu rosto está molhado. Seriam lágrimas? Com cuidado passo meu dedo por suas bochechas, secando-as.

—O pessoal estava perguntando por você. Acho que Evey ficou preocupada. –Digo, tentando fazê-la falar alguma coisa. Ela aperta minha blusa e começa a soluçar baixinho.

—Vamos sair daqui. –Seguro sua mão e a levo para o pátio, onde a maioria dos alunos já deu um jeito de ir embora. Nossos amigos estão discutindo quem vai no carro de quem e ninguém diz nada quando nós dois nos aproximamos.

—Isa, será que a gente pode ir pra sua casa? Tem alguém lá? –Evey pergunta delicadamente, não falando nada sobre ela estar estranhamente agarrada em meu braço.

Ela apenas concorda com a cabeça e coloca o capuz da minha blusa. Como se já estivesse decidido, todos, tirando eu e Isadora, se dirigem para o carro de Marcos. Eu e a garota ainda chorosa paramos bem onde o teto do pátio deixa de existir. A chuva ainda cai forte, e alguns pingos caem sobre nós. A luz ainda não voltou.

—Vamos lá. Você está bem? –Pergunto pela décima vez, tentando acalmá-la acariciando sua mão com meu polegar. Ela acena quase que imperceptivelmente, mas quando começamos a avançar pela chuva, seu rosto empalidece. Ninguém me explicou o que está acontecendo, mas já é possível ter uma ideia. Com cuidado pego ela no colo e ela enfia o rosto em minha camisa. Atravesso o estacionamento aberto rapidamente, abro o carro e a coloco lá dentro. Quando eu mesmo entro no carro, fecho a porta com força, me viro de costas e pego uma toalha no banco traseiro do carro.

Entrego a toalha para Isadora, que seca as gotas de chuva do rosto e do cabelo. Aperto sua mão mais uma vez antes de ligar o carro e partir para a casa da garota.

 

POV Alex

Thomas e Isadora chegam um pouco depois de todos nós. O carinha da portaria do condomínio de luxo nos deixou entrar depois de ver a cara sorridente de Evey e ligar para a casa. A porta da casa (detalhe: uma casa gigante, luxuosa, quase toda branca, com detalhes dourados na frente e algumas paredes de vidro) estava aberta. Mas nós ficamos parados na entrada coberta esperando pelos dois que faltavam. Quando Thomas saiu para procurar Isadora, Evey nos contou que a garota morria de medo de tempestades. Assim que ela sumiu Evey ficou um pouco preocupada, mas pensou que ela tinha voltado para falar com alguém ou parara pra ir ao banheiro. Mas como ela estava demorando muito, achou bom Thomas ter ido procurá-la. E ela realmente voltou pálida, com os olhos vermelhos (de chorar?) e segurando a mão de Thomas com força. Felizmente, ninguém comentou nada (obviamente que, nesse tipo de situação, o mais provável a dar uma bola fora seria eu mesmo, mas tive bom senso dessa vez). Isadora chega na frente de Thomas, aparentando estar mais calma. Ela sorri para nós e entra primeiro, subindo as escadas direto. A porta dá para uma sala bem grande, com sofás brancos e pretos, poltronas macias, uma televisão mais ou menos do tamanho da parede e algumas estantes com livros e objetos aleatórios. Está escuro, mas a televisão está ligada, o que mostra que ainda tem luz na casa. Um garoto de uns 15 anos está jogado em uma das poltronas, bebendo coca cola e assistindo a um jogo de futebol americano. Ele olha para nós quando entramos e dá um sorriso grande. Evey acena para ele.

 Thomas fecha a porta da sala, deixando todo o barulho da chuva do lado de fora. Alguns segundos depois uma outra garota loira, que também aparenta ser um pouco mais nova que a gente, entra na sala segurando um pote com pipoca. Ela para ao nos ver e franze a testa. Isadora aparece logo depois, descendo as escadas com roupas limpas e secas. E por último, um cara de uns 20 anos aparece de um corredor, olhando para nós com um pequeno sorriso. MEU DEUS DO CÉU, tem muita gente nessa sala!

Isadora suspira. –Oi gente. Esses são meus amigos Thomas, Alex, Marcos e Nathália. E esses são meus irmãos, Léo, o grandão ali, Seth, que está jogado na poltrona e Sarah.

Subitamente, todos começam a falar ao mesmo tempo.


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