I Can Feel escrita por Cihh


Capítulo 46
Capítulo 46 - Tudo Sobre Você




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Ontem você me perguntou

Algo que pensei que você sabia

Então te disse com um sorriso

É tudo sobre você

     (All About You)

 

POV Isa  

A véspera de Natal seria em dois dias. Mas eu não estava nem um pouco animada. Thomas não se comunicava há dias e até mesmo Max parecia estar me evitando. Evey havia chegado agora de sua viagem pela América do Sul e não tinha muito tempo para falar comigo, já que estava uma bagunça na casa dela, que ia receber toda a família no Natal. Matt tinha ido viajar com Mia para Salvador e Nath estava muito ocupada curtindo o tempo com sua irmã Fernanda, que foi para o Brasil passar o fim de ano. Ou seja, eu estava me sentindo completamente sozinha. Decido sair de casa um pouco para fazer algumas compras. Pode ser que eu achasse presentes bem legais para meus amigos. E eu também tinha que comprar os presentes de Natal de Luke e dos meus irmãos. 

Vou para meu quarto e coloco uma calça jeans cinza justa e algumas camadas de blusas quentinhas, já que estava bem frio nessa época do ano. Penteio o cabelo e pego uma mecha bem fina para fazer uma trança no lado direito. Passo uma maquiagem leve e, por alguma razão, coloco no pescoço a corrente onde está o anel de Thomas. Saudade, acho. Então saio de casa. 

  

Fui para o maior shopping da cidade para ter certeza de que ia achar os presentes certos para todo mundo. Comprei para Luke um óculos de sol caro que ele disse que precisava e uma case para seu notebook recém-comprado, especialmente para fazer os trabalhos de faculdade. Para Evey um óculos para neve, já que eu sabia que o dela havia quebrado na Argentina e mais um conjunto de roupas para mergulhador. Para Alex um amplificador de som portátil bonitinho e pra Nath uma nécessaire, que enchi com alguns produtos de maquiagem. E roupas para Marcos, Matt e Max. Nos seguintes estilos: social, geek e punk. Max havia dito que uma garota chamada Miranda, a mesma que estava na foto de Thomas, tinha ido morar com ele e aparentemente os dois estavam apaixonados. Eu sinceramente não entendi direito. E achava muito estranho que a garota que todo mundo achava estar namorando Thomas agora estava morando no mesmo teto que Max. Mas Max disse que ela fora praticamente mantida prisioneira pelo pai durante a vida inteira, então achei válido comprar algumas lembrancinhas dos Estados Unidos e um livro de viagens para ela. Para Léo uma dessas canetas super chiques que só gente velha e rica usa pra escrever, já que ele estava para se formar na faculdade e iria ajudar meu pai com os negócios, para Seth um uniforme do seu jogador preferido do Bayern e uma bola de basquete oficial, e para Sarah, utensílios de cozinha super estranhos e úteis, um livro de receitas de doces e alguns lacinhos novos para ela enfeitar os cabelos. Gastei bastante dinheiro. Mas ainda faltava o presente de Thomas. Foi nessa hora, quando faltava quinze minutos para o shopping fechar, que eu vi.   

Um garoto muito parecido com Thomas olhando a vitrine de uma loja de joias. Ele estava de costas para mim, mas o porte e o cabelo pareciam bem familiares. Fiquei olhando-o para ter certeza de que era ele, mas o garoto entrou na loja e não virou o rosto para mim. Eu poderia ficar ali esperando o garoto sair, mas eu só tinha quinze minutos para comprar mais um presente. Desisti. Provavelmente não era Thomas. Ele não viria para os Estados Unidos sem me avisar, e aparentemente me odiava. Fui em busca do presente.   

Acontece que não achei nada. Com apenas os quinze minutos faltando para escolher um presente para Thomas, não consegui chegar a uma conclusão. Eu não sabia nem se ele ainda queria falar comigo. Seria certo comprar um presente para ele? Não sei, mas parecia mais errado não comprar. Mas no fim saí do shopping sem nada para ele. A véspera de Natal seria amanhã, e eu tinha que planejar como ia passar o dia. Provavelmente vou acordar ao meio dia, comer os restos de comida de Felipe que estão na geladeira, embalar todos os presentes e escrever cartões bonitinhos, vou ligar para todos os meus amigos e familiares (até os que eu não gosto tanto) para desejar feliz Natal e na hora da ceia, vou esquentar o peru e o macarrão com queijo e comer um pouco. Vou ver os poucos fogos e dormir. Esse é o planejamento que fiz durante todo o caminho até o apartamento de Luke. Porém, assim que entrei todo o meu planejamento foi por água abaixo. 

  *****

POV Thomas  

Cheguei no apartamento de Luke às dez e meia com a caixinha contendo um novo anel e um buquê de flores na mão. O porteiro deu uma olhada e disse que o senhor Lucas havia liberado minha entrada e que eu podia subir, mas que ele interfonou e não tinha ninguém no apartamento. Fiquei pensando se Isa estava fora ou se ela realmente não iria voltar, mas subi mesmo assim. Eu iria esperar. 

A porta estava destrancada e as luzes da cozinha acesas, mas realmente não tinha ninguém no apartamento. Era um apartamento médio, com uma boa sala, uma sacada com uma vista bonita, sala de jantar, cozinha e um corredor para os quartos e banheiros. Simples, mas moderno. Não fiquei inspecionando a casa, só sentei no sofá e fiquei esperando, pensando no que eu iria falar quando visse Isa. Claro, durante todo o voo e todo o caminho até o shopping fiquei pensando sobre isso, e tinha feito vários rascunhos de falas, mas nada parecia bom o suficiente. Comprei um anel de prata com uma pedra brilhante no centro, bem discreto. O buquê era variado, com várias flores de cores vivas. Eu esperava que Isa fosse gostar. Eu estava nervoso. Ainda tinha uma grande chance de Isa me odiar e me expulsar do apartamento assim que me visse. Começo a entrar em colapso quando ouço passos no corredor do lado de fora e a porta se abrindo. 

Levanto-me rapidamente e olho para Isa, que me olha tão surpresa que deixa cair alguns dos pacotes que estava segurando. Verdade seja dita, nós só ficamos cerca de dois meses sem nos vermos, mas a única coisa que eu quero é abraça-la. Tocá-la para me certificar de que ela é real. Mas não o faço. Eu sei que Isa deve estar me odiando por... Todas as merdas que eu fiz. Então eu espero. 

—Thomas, o que... o que você tá fazendo aqui? –Ela se abaixa para pegar uma das sacolas que caíram, mas acaba deixando cair mais algumas. Percebo que ela está com o punho cerrado, como se estivesse fazendo muita força (para não me bater, talvez?). Vou até ela e empurro para trás as sacolas que ela se atrapalha para arrumar. 

—Oi Isa. –Falo baixinho. –Eu vim te ver. 

Os olhos dela começam a se encher de lágrimas e eu fecho os meus olhos. Vim para consertar as coisas. Mas não posso lidar com mais disso. 

—Não chore. Não chore, por favor. Eu não quero te fazer sofrer. Olha, eu trouxe essas coisas para você. Eu posso deixar aqui e ir embora. Posso levar tudo embora, se você quiser. Só não fique triste. Posso voltar para o Brasil amanhã se você não quiser me ver, mas... Não fique triste por minha causa. –Eu falo. –Me desculpe.

—Você veio. –Ela sussurra e de repente me envolve em um abraço. Passa os braços ao redor do meu pescoço e apoia o rosto em meu peito. Prendo a respiração quando sinto o corpo dela tremer, sinalizando o início definitivo do choro. Isa é pequena e quentinha. E encaixa eu meus braços como se fossem feitos para isso. Hesitando, enlaço a cintura dela e dou um beijo demorado em sua bochecha. 

—Está tudo bem. –Eu sussurro para ela. Minha camiseta já está ficando molhada pelas lágrimas. –Isa, está tudo bem. 

Ela passa a mão pelos olhos úmidos e se afasta de mim. –Por que você veio?   

—Soube que você ia passar o Natal sozinha. Trouxe isso. –Lhe estendo a caixinha com o anel e o buquê de flores. 

Ela pega as duas coisas e as deixa no sofá. Foca o olhar em mim. –Por que você veio? –Ela pergunta de novo. 

—Não ia deixar você passar o Natal sozinha.   

—Achei que você estivesse namorando. –Ela franze a testa, como se os últimos momentos não tivessem acontecido. 

—Não estou.   

—Uma garota atendeu seu telefone. Vocês dormiram juntos?   

—Não, eu nem sei quem era aquela garota. Juro!   

Ela abaixa o olhar e se deixa cair no sofá. Me agacho para ficar na altura dos olhos dela.   

—Isa. Eu estou aqui. Você não está feliz? Vamos ficar juntos. 

—Eu não sei. Estou... Surpresa.   Estava me sentindo tão sozinha.

—Eu não vou te deixar sozinha. Nunca mais vou te deixar sozinha. Mas... me dê mais uma chance. Só mais uma. –Eu peço e pego uma de suas mãos. –Eu nunca quis te magoar. Desde que te conheci, só pensei em como eu tinha sorte em ter uma garota bonita e legal como você ao meu lado. Eu sou um merda e sei que não te mereço, mas é com você que eu quero ficar.  

—Você ainda quer ficar comigo? Depois de tudo o que fiz?   

—Você não fez nada. –Falo baixinho e levo a mão dela até meus lábios.  

—Eu te ignorei por tanto tempo e te tratei mal.   

—Não importa. Eu fiquei horas pensando no que te dizer quando eu te encontrasse, mas não importa mais. A única coisa que eu quero fazer é te perguntar: posso ficar?   

Ela morde o lábio e eu pego a caixinha com o anel de prata. Coloco o anel delicadamente no dedo anelar dela e entrelaço nossos dedos. 

—Podemos tentar... –Ela sussurra olhando fixamente para mim. 

Sorrio e passo o dedo pelo rosto dela. –Eu sei que pode parecer um pouco estranho. Mas eu vou tentar ser o melhor namorado. Eu prometo.  

Ela olha para baixo e fico com medo que ela vá começar a chorar novamente. –Achei que você me odiasse. 

—Eu? Você sabe que eu não seria capaz de fazer isso. Eu que achei que você não queria mais nada comigo. 

—Mas você veio mesmo assim. 

—Eu vim. Max que ia vir passar o Natal aqui, mas ele não pôde. Achei que ia ser a oportunidade para a gente se resolver. Mesmo se você me enxotasse daqui eu ainda tinha que tentar. Não ia conseguir esperar mais um mês para falar com você. Eu estava com tanta saudade... 

—Eu também. Eu devia te odiar. Mas eu não consigo. Não consigo mais. –Ela olha para o anel em seu dedo e eu me aproximo para tirar o cabelo dela da frente do seu rosto. 

Isa se levanta, pega as sacolas que estava segurando e coloca todas em uma poltrona da sala, depois pega as flores e coloca dentro de um vaso com água na mesa de jantar. Então olha para mim. 

—Onde estão suas coisas? 

—Que coisas? –Pergunto me sentando no sofá baixo. 

—Suas roupas. 

—Ah, estão no hotel. 

—Hotel? –Ela pergunta confusa. –Você não vai ficar aqui? 

—Max já tinha feito a reserva, então eu pude ficar lá.  

—Hum... –Ela franze a testa e abre a geladeira. Depois volta com uma bebida de café e achocolatado. Ela me entrega um copo e se senta na minha frente no sofá. 

—Você está comendo bem? –Pergunto vendo ela tomar um gole da bebida doce. 

Ela dá de ombros. –Normal. 

—Normal pra você é não comer bem. Você sabe. 

—Estou comendo como uma pessoa normal. Depois do desmaio Luke sempre se certifica de que eu estou comendo bem. 

Dou um pequeno sorriso. –Pelo menos ele cumpre o que promete. 

—Você vai ficar aqui até quando?  

—Volto dia 3. Depois disso meu estágio começa e eu tenho que estar no Brasil. Mas eu vou continuar te esperando. –Pego a mão dela e lhe dou outro beijo. 

—Sobre a aposta... –Ela começa a falar, mas eu a interrompo com uma careta. 

—Vamos esquecer isso. Sim? Foi um erro. A única coisa boa nessa aposta foi que eu te conheci por causa dela. Mas isso é passado. 

—Tem certeza? 

—Eu já tinha te falado. A aposta não significou nada. Desde que eu fiz esse acordo com Alex eu mudei. Mudei muito. Hoje eu sei que foi uma babaquice sem tamanho. 

—Foi mesmo. –Isa diz e toma mais um pouco da bebida. –Mas eu te perdoo. 

—Verdade? 

—Sim. Mas você precisa me prometer que a partir de agora vai se esforçar ao máximo para isso dar certo. –Ela diz passando os braços pelo espaço entre nós. –Por que eu achei que fosse morrer de tanto chorar quando a gente terminou. 

Sorrio para ela. –Você tem a minha palavra. Eu também me desesperei. Viu? Se você e eu ficamos assim depois do término é porque não era pra gente terminar. 

—Se a gente não terminasse eu ia me sentir usada. Como se você tivesse namorado comigo realmente só para me levar para a cama. –Ela diz e eu me encolho. 

—Desculpe por isso também. Eu estava completamente bêbado quando falei. Se serve de consolo, eu passei o dia seguinte inteiro de frente para o vaso. 

Isa prende uma mecha de cabelo atrás da orelha e cruza os braços para mim. 

—Você é tão linda. Já disse isso? 

—Você diz isso toda vez que me vê. 

—É porque eu me sinto na obrigação de dizer sempre. Até você acreditar em mim. 

Ela sorri pela primeira vez desde que cheguei. Ela olha para a estante da sala e franze os lábios. 

—Está ficando tarde. Você vai ir sozinho até seu hotel a essa hora?  

—Tenho que ir. 

—Não é perigoso? E se começar a chover? Está muito frio. 

—Mas eu tenho que ir até lá. 

—É longe?  

—Um pouco. Uns vinte minutos a pé. 

—Mas... 

—Eu volto aqui amanhã de manhã. E passo o dia com você. 

—Por que você não dorme aqui?  

Levanto as sobrancelhas. –Dormir aqui? Minhas coisas estão no hotel. 

—A gente vai lá depois e pega. –Ela faz um bico e eu abro um grande sorriso.  

—Você quer que eu fique?  

—Quero. Mas você dorme aqui. 

—Na sala?  

—No sofá. –Ela da uma risadinha. 

—Tudo bem. Eu fico então. 

 

Eu não me importei em dormir no sofá da sala. Estava satisfeito. Isa me perdoou e depois do longo período de sofrimento e arrependimento, conseguimos reatar o namoro. Estava feliz. Confesso que achei que esse encontro seria mais conflituoso, mas aparentemente nenhum de nós dois estava mais aguentando essa situação. Isa me deu um travesseiro e uma série de cobertores para eu dormir confortavelmente no sofá. Ela me entregou tudo vestindo um pijama de frio e me deu um beijo rápido de boa noite. Devo ter ficado sorrindo feito um idiota enquanto jogava tudo no sofá e tirava a camiseta para dormir. Me deitei e dormi facilmente já que estava cansado por causa da viagem.

A chuva fina que caía lá fora quando me deitei evoluiu para uma tempestade com o passar das horas. Eu já estava dormindo quando um trovão me acordou. Penso em Isa e me levanto do sofá em um pulo. Vou até o quarto que ela está dormindo e abro a porta, encontrando a garota em posição fetal com as mãos nos ouvidos e os olhos fechados.

—Isa? –Chamo baixinho. Ela abre os olhos e tira as mãos dos ouvidos. –Venha cá.  

Eu tento fazê-la se levantar, mas ela se recusa a sair da posição de bolinha, então pego-a no colo e a levo até a sala, onde o barulho é menor. Enrolo ela em um dos cobertores e a deito no sofá. Deito-me ao lado dela e a abraço com força. Isa não diz nada. Então dormimos.  


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